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4 O CENÁRIO, OS ATORES E O ROTEIRO

4.2 Perfil dos estudantes quanto ao uso de tecnologias

A forma como os estudantes interagem e usam as tecnologias digitais no seu dia a dia pode apresentar indícios sobre como eles relacionam essas tecnologias aos processos de ensino e aprendizagem. Em busca de informações que pudessem ajudar nessa caracterização foi realizado um questionário sobre o perfil tecnológico dos alunos. Esse questionário foi respondido por 87 dos 112 alunos matriculados na disciplina. Nessa seção apresento algumas das questões colocadas e as respostas do grupo de alunos a elas.

A Figura 7 apresenta os dados sobre quantos alunos têm seu próprio computador. Essa é uma informação relevante, pois pode indicar a dependência ou não dos laboratórios dos polos para a realização das atividades do curso, como leituras, produções de textos e utilização de software de geometria dinâmica.

Figura 7 – Porcentagem de alunos que tem computador próprio

Fonte: O Autor (Apêndice D)

Mais de 90% dos alunos afirmam ter seu computador pessoal, ou seja, tem disponível em seu ambiente doméstico, parte importante dos recursos necessários para realização das atividades do curso. Como grande parte do curso é realizado por meio de interações online, o acesso à internet em casa também é um fator muito importante para a autonomia dos alunos quanto ao curso, entretanto o questionário não continha uma questão acerca desse acesso.

Uma questão direta acerca de onde o aluno acessa as atividades do curso foi colocada no questionário, e suas estatísticas de suas respostas estão apresentadas na Figura 8. Levando em consideração que os alunos poderiam acessar o curso de diferentes lugares, foi dada a liberdade para marcarem no questionário mais de uma opção.

Figura 8 – Computador que utiliza para as atividades do curso

Fonte: O Autor (Apêndice D)

Esses dados indicam que muitos de fato utilizam mais de um computador para acessar e desenvolver as atividades do curso. Quase a totalidade dos alunos que tem computadores pessoais utilizam os mesmos para esse fim. Entretanto cerca de

um terço dos alunos utilizam computadores também no trabalho e no laboratório de informática do polo.

Esses números nos ajudam a ver como é importante para esse grupo de alunos, que fazem seu curso a distância, o acesso ao material do curso e as interações em diversos espaços físicos. São dados que indicam uma autonomia de parte dos alunos quanto aos seus estudos, não estando dependentes somente do polo presencial para a realização das atividades.

Além de questionar os alunos acerca de onde realizam as atividades do curso, julguei importante conhecer seus hábitos tecnológicos cotidianos. O acesso à informação é sempre ampliado a cada nova tecnologia desenvolvida e a Figura 9 traz os dados sobre os meios de comunicação que esse grupo de alunos utiliza para tal. Essa questão foi colocada como múltipla escolha, de forma que apenas um meio de acesso à informação pudesse ser marcado e assim oferecer informações sobre qual a principal mídia utiliza pelos alunos.

Figura 9 – Principais meios de acesso à informação

Fonte: O Autor (Apêndice D)

As respostas indicam a importância da Internet em sua vida cotidiana. Mais de dois terços dos alunos questionados responderam que tem na rede mundial a principal fonte de informação, mais que o dobro da televisão. Na questão não foi colocada a especificação sobre qual o tipo de informação que é buscada na rede, mas chamo atenção para o fato de ela estar em destaque como principal mídia para acesso à informação.

A perspectiva de seres-humanos-com-internet, já colocada por Borba, Malheiros e Amaral (2011) se vê colocada aqui como uma possibilidade real nesse cenário. Não é possível desconsiderar a influência do acesso à rede na forma como

essas pessoas produzem conhecimento. A internet para eles não é somente o suporte para a realização do seu curso, mas parte do seu dia a dia.

A importância da rede na forma como o conhecimento desse grupo de alunos é produzido fica mais clara ao observarmos as respostas dadas à questão sobre a atitude que tomam quando tem uma dúvida em Matemática. A Figura 10 traz os dados das respostas a essa questão, para qual havia a liberdade de marcar mais de uma opção.

Figura 10 – Atitudes que alunos tomam quando tem dúvidas em matemática

Fonte: O Autor (Apêndice D)

Mais de 70% dos alunos afirmam que procuram na Internet a solução do problema ou informações que possam auxiliar na sua resolução. Entretanto chamo atenção ao fato de que a Internet não é a única fonte à qual os alunos recorrem. Seus cadernos, anotações de aulas ou livros também são consultados por quase metade dos alunos, e a busca por auxílio presencial de um tutor, professor ou colega também tem grande destaque entre as atitudes tomadas.

Já a procura por ajuda de um professor, tutor ou colega via internet é pouco explorada. Apenas um quarto dos alunos recorre a ela. Aqui a Internet não aparece como substituta de nenhuma das fontes de informação anteriores, mas como um primeiro recurso assim que surge a dúvida. Talvez a dificuldade de se comunicar matematicamente via internet, aliada a facilidade de encontrar resultados em buscas na rede possam ser um dos maiores motivos para explicar esse comportamento.

Podemos entender um pouco melhor esse comportamento observando os dados das respostas dos alunos a uma questão sobre quais recursos tecnológicos utilizam para aprender matemática. A Figura 11 traz os dados relativos a essa resposta, na qual mais uma vez foi dada a liberdade de marcação de várias opções,

de forma a oferecer dados sobre as diversas experiências que os alunos poderiam ter tido ao aprender matemática com tecnologias.

Figura 11 – Tecnologias digitais que utilizam para aprender

Fonte: O Autor (Apêndice D)

O recurso tecnológico mais utilizado pelos alunos que responderam as questões são as enciclopédias online e outros sites de conteúdos matemáticos, seguido da utilização de ferramentas de busca como o Google. O destaque a esses dois recursos pode indicar a utilização da internet como um livro de matemática gigante, onde as respostas podem ser encontradas pesquisando por palavras- chave.

O comportamento de buscar respostas no Google esteve presente no desenvolvimento das atividades em grupos pelos alunos, o que será mais bem detalhado capítulo de análise de dados. A partir dessas buscas, os alunos chegam a páginas com textos semelhantes aos dos livros didáticos, e algumas vezes a definições distintas de um mesmo objeto matemático, como chegou a acontecer nos dados que apresentarei posteriormente. As ferramentas de busca utilizam algoritmos que levam em consideração quantidade de acessos e de ligações para outros sites que uma determinada página contém e apresenta como primeiros resultados em geral os mais populares. Nesse caso, a validação se o conteúdo presente na página está correto ou não precisa ser feita pelo próprio usuário.

Os softwares de geometria dinâmica surgem em destaque entre os demais. Isso faz sentido, uma vez que os alunos estão cursando uma disciplina que fazia uso desse tipo de recursos frequentemente. Entretanto, ferramentas de construção de gráficos, planilhas eletrônicas e sistemas de computação algébrica também são conhecidos e utilizados por uma parcela dos alunos.

Lembro que essa não é uma pesquisa quantitativa e que os dados das respostas dos questionários são apenas uma parte de um todo analisado a partir do ponto de vista da produção de conhecimento e dos processos de investigação matemática. Não temos aqui uma amostra consistente ou mesmo um procedimento de análise quantitativa que dê conta das respostas dos questionários. A intenção em buscar compreender o perfil de uso de tecnologias pelos alunos vem como uma vontade de conhecer melhor quem são os atores que participam da atividade investigativa, cuja analise é apresentada no próximo capítulo.

Observando os dados do questionário em conjunto com o acompanhamento dos alunos durante o semestre na disciplina e as respostas às questões colocadas no fórum de discussão, posso considerar que esses alunos utilizam computadores constantemente em casa e em outros ambientes, como no trabalho e no laboratório de informática do polo presencial. Eles têm na Internet sua principal fonte de informação e recorrem a ela assim que têm uma dúvida em matemática. Além disso, o uso de tecnologias digitais parece fazer parte do seu processo de aprender matemática, seja por meio de pesquisas na internet ou por utilização de software matemático, como os de geometria dinâmica.

Esses alunos estão no quinto período do seu curso a distância. Há pelo menos dois anos e meio utilizam a Internet para estudar e se comunicar em suas disciplinas. Nesse texto não tenho o interesse de estabelecer uma compreensão acerca do uso de tecnologias no curso como um todo, mas os dados apresentam indício de que depois desse período realizando o curso de Licenciatura em Matemática a distância, grande parte dos alunos integram tecnologias digitais nas suas práticas de aprendizagem. Conjecturo que isso pode trazer reflexos em suas práticas de ensino, já que são futuros professores de matemática.

Para os interesses dessa pesquisa é importante ressaltar que são alunos que estão acostumados a utilizar a internet para pesquisar sobre conteúdo matemático, assim como para se comunicar acerca desse mesmo tipo de conteúdo. Além disso, considero que estão familiarizados com o uso de software de geometria dinâmica para construções geométricas. Esses fatores são importantes para a realização da atividade investigativa que foi proposta a eles. Saber da sua familiaridade com as tecnologias utilizadas na atividade proposta ajuda a compreender a forma como lidaram com as explorações e questões investigativas, que serão apresentadas ainda nesse capítulo.

Além de compreender o perfil tecnológico dos alunos da disciplina, é preciso entender como eles se relacionam entre si, com o professor e com o conteúdo abordado na mesma. Para isso apresento a dinâmica com a qual os alunos participam da disciplina, realizando as atividades e se relacionando entre si e com o professor.