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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 PERFIL DOS GESTORES

Nos últimos tempos vários são os estudos acadêmicos voltados para a caracterização do perfil da agricultora familiar nas diversas regiões brasileiras, com o intuito de melhor compreender a lógica e dinâmica utilizada pelo agricultor e sua família na gestão do empreendimento. Tais estudos buscam ainda entender de que forma o agricultor organiza seu sistema de produção frente ao mercado econômico. Partindo deste contexto, buscou-se caracterizar primeiramente, o perfil dos agricultores de sua mão de obra familiar, isto porque, de acordo com diversos autores, como por exemplo, Ploeg (2000), Shultz (1965), Castro (1977), os empreendimentos familiares tem como característica principal a administração pela família; e neles o agricultor mora e trabalha diretamente com sua família (com ou sem auxílio de terceiros).

Para GASSON e ERRINGTON (1993) essas características se transformam no "tipo ideal" de agricultura familiar. Estes autores, em síntese descrevem seis características básicas de certo comportamento do agricultor. São elas:

a) a gestão é feita pelos proprietários;

b) os responsáveis pelo empreendimento estão ligados entre si por laços de Parentesco;

51 O processo de produção é modelado a fim de comportar tanto quanto possível os interesses e

c) o trabalho é fundamentalmente familiar; d) o capital pertence à família;

e) o patrimônio e os ativos são objetos de transferência inter-gerencial no interior da família;

f) os membros da família vivem na unidade produtiva.

De acordo com tais características, adotou-se de alguns indicadores para identificar no município pesquisado o perfil do segmento populacional pesquisado. Tais como: a) identificação do estado civil; b) moradia; c) ocupação em outras atividades fora do estabelecimento; d) experiências profissionais; e) qualificação e grau de escolaridade.

Assim, de acordo com os resultados, nos estabelecimentos que fornecem leite para a cooperativa, houve uma totalidade (100%) de respostas para as seguintes afirmações: ser casado, residir nos estabelecimentos com a família e não trabalharem em outra atividade fora do estabelecimento. Os gestores afirmaram ainda (91%), que estão na atividade leiteira há mais de dez anos. Muitos destes completaram dizendo que se encontram na atividade desde criança.

Os resultados para os estabelecimentos que não fornecem leite para a cooperativa, não diferenciaram, isto é, a maioria (91%) dos gestores também declarou ser casado, morar (100%) com a família na residência e não ter outra ocupação fora do estabelecimento, além de estar há mais de dez anos na atividade leiteira.

Na Tabela 2, pode-se observar o perfil dos gestores, segundo o grau de escolaridade. Os resultados da tabela apontam diferença (95% de confiança) estatisticamente significativa, levando a deduzir que os gestores cooperados são mais escolarizados do que os não cooperados. Verifica-se que dentre os níveis de

escolaridade apresentados, a resposta mais predominante (53%; 87%) nos dois grupos de estabelecimento, foi para a série “primária”.

Apesar do baixo grau de escolaridade ser uma das limitações para a busca da potencialidade nos empreendimentos, percebe-se que a capacidade dos gestores em inovar através de experimentação e aprendizagem coletiva por conhecimento tácito é certa. Essa capacidade se explica da seguinte forma, “Como na agricultura a produção é largamente dependente da natureza e se assenta em deseconomias de escala52, somente os próprios produtores-trabalhadores conseguem fazer ajustes constantes nos processos de produção” (SCHNEIDER, 2008, p. 15).

Tabela 2: perfil dos gestores segundo a escolaridade e tipo de estabelecimento. Fornecem leite para a

cooperativa Não fornecem leite para a cooperativa Unaí/MG

número (%) número (%)

Sem instrução*** 6 19% 2 9%

Primário*** 17 53% 20 87%

Fundamental ou mais*** 9 28% 1 4%

Fonte: pesquisa de campo Unaí, 2010.

***, ** e *, indica diferença significativa entre os grupos ao nível de 95%, 90% e 80% de confiança, respectivamente.

Autores como, Gomes (1999), Oliveira (2003), Queiroz. Batalha (2005), Dutra (2006) apontam que apesar da experiência de vida destes produtores, a baixa escolaridade dificulta significativamente:

a) o processo de inovação tecnológica no estabelecimento;

b) interfere em uma análise mais detalhada do ambiente no qual o gestor está inserido;

52 Deseconomia de escala diz respeito ao aumento de custo. Quanto este aumento é maior que

o aumento de produção, de modo que o custo médio por unidade produtiva aumenta (Mc. GUIGAN,

c) influencia a tomada de decisão e as escolhas que possibilitam a inserção de novas perspectivas de vida por meio de diferentes alternativas de produção.

Na Tabela 3, são representados os resultados sobre o grau de participação dos gestores em cursos de capacitação. Verifica-se que nesta tabela, o comportamento dos gestores dos dois grupos de estabelecimentos, é estatisticamente diferente, o que pode estar sinalizando uma melhor capacitação/qualificação53 dos gestores que fornecem leite para a cooperativa. Apesar da maior participação dos cooperados em cursos de capacitação, o grau de participação ainda é baixo, somente 40% deles participam de alguma atividade de capacitação. Foi relatado por estes gestores que todos os cursos que participaram foram promovidos pela cooperativa local.

Fonte: pesquisa de campo Unaí, 2010.

***, ** e *, indica diferença significativa entre os grupos ao nível de 95%, 90% e 80% de confiança, respectivamente.

Já nos estabelecimentos que não fornecem leite para a cooperativa, o resultado sobre a participação em cursos de capacitação parece ser mais preocupante, isto porque, todos (100%) os gestores afirmaram não participar de cursos de capacitação.

Sabe-se que existe uma série de fatores que afetam significativamente o desempenho eficiente dos empreendimentos rurais, em particular os da agricultura

53 Curso de ordenha, vaqueiro, inseminação artificial em bovinos, gestão administrativa.

Tabela 3: participação dos gestores em cursos de capacitação. Fornecem leite para a

cooperativa Não fornecem leite para a cooperativa Unaí/MG

número (%) número (%)

Sim*** 13 41% - -

familiar. Muitas vezes esses fatores fogem ao controle do agricultor (mesmo daqueles com maior qualificação), mas outros como, por exemplo, a gestão da produção está sob o seu controle. Acredita-se que uma das formas de minimizar e/ou neutralizar desempenhos ineficientes de produção da agricultura familiar, seja por meio de aprimoramento em cursos de capacitação direcionados ao contexto que se vivencia. Talvez seja esse contexto, o principal (d)estimulador do público envolvido – o agricultor familiar - na maioria dos casos, os cursos oferecidos já são modelados a uma realidade que não se adéqua às necessidades do agricultor familiar (SOUZA FILHO, 2005).