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CAPÍTULO 2 CAMINHOS METODOLÓGICOS

2.2 O CONTEXTO DA PESQUISA

2.2.2 Perfil dos participantes

Os participantes da pesquisa foram as crianças da Fase 6, ou seja, do último ano da Educação Infantil de um Centro Municipal de Educação Infantil de uma cidade do interior de São Paulo. A turma era composta por 25 crianças, sendo um público predominantemente masculino. A respeito dessas crianças é importante ressaltar que, exceto duas delas, as demais passaram a frequentar a unidade escolar desde a sua inauguração em meados de 2014. Além disso, durante os dois anos e meio em que ali permaneceram, essas crianças sempre estiveram juntas em uma mesma turma, isso ficou bem evidente, desde o início de 2016, época em que iniciamos a nossa geração de dados, pois as mesmas demonstravam uma grande afinidade entre si, brincando com todas as crianças, inclusive com as duas crianças que chegaram na escola em 2016.

No entanto, chamamos a atenção para o fato de que nesta descrição abordaremos os dados referentes a apenas 22 dessas crianças, ou seja, aquelas que permitiram a divulgação dos dados gerados, assinando o Termo de Assentimento. É digno de nota que este somente foi assinado, após a autorização, dos respectivos responsáveis pela criança, premitida por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Assim como o total de crianças da turma, as que participaram da geração de dados formaram um grupo em que houve o predomínio de meninos, quase o dobro em comparação às meninas.

Gráfico 6 - Gênero das crianças participantes da pesquisa

Apesar da quantidade de dados disponíveis no PPP da escola de 2016 e que contribuiu para a descrição do contexto de pesquisa, consideramos importante definir também a profissão e/ ou ocupação dos pais dessas crianças. No entanto, esses dados que seguem são referentes aos pais da turma que participou da geração de dados e não das crianças da escola toda como foi observado nos gráficos anteriores.

A respeito da profissão e/ ou ocupação das mães, há uma grande diversidade, com uma incidência maior de mães que se declaram “Do lar”, ou seja, não exercem função remunerada, dedicando-se aos afazeres domésticos e à família:

Gráfico 7 - Profissão/ Ocupação da mãe

Fonte: Elaborado pela autora

Esse gráfico quando associado ao gráfico 4 - escolaridade da mãe traz indícios que nos ajudam a entender o motivo da participação das mães ser mais efetiva que a dos pais nas atividades realizadas em casa: algumas delas dispõem de mais tempo com a criança. Além disso, o fato de terem uma escolarização maior que a dos pais favorece o desenvolvimento de condições mais adequadas e propícias à leitura do livro de literatura infantil da escola com e para a criança.

Quanto aos pais notamos, por meio do acesso às fichas de matrículas das crianças, uma grande variedade de profissões e ocupações exercidas, não sendo nenhuma delas repetida. No entanto, destaca-se o fato de que seis deles não declararam a função exercida. Durante todo o tempo em que convivemos com essas crianças, foi possível saber,

através de seus relatos, que esses pais cuja ocupação/ profissão não estava preenchida na ficha de matrícula não viviam na mesma casa que elas.

Gráfico 8 - Profissão/ Ocupação do pai

Fonte: Elaborado pela autora

A descrição do contexto da pesquisa evidencia a diversidade de crianças e famílias atendidas pela unidade escolar, seja com relação ao nível socioeconômico, quanto ao grau de escolaridade.

Trazemos, a seguir, um gráfico das crianças participantes de nossa pesquisa embasado nas hipóteses de escrita de Ferreiro e Teberoski (1986):

Gráfico 9 - Hipóteses de escrita das crianças (início e fim do ano letivo)

Vale lembrar que, embora a concepção de escrita dessas autoras seja diferente da que adotamos neste estudo, o gráfico nos possibilita ter uma visão fotográfica, ou seja, estática do desenvolvimento das crianças com relação à escrita no início e no final do ano leitvo. Nesse gráfico destacamos que das 22 crianças que participaram da pesquisa, uma delas havia iniciado o ano letivo em outra escola, por isso, o gráfico revela as hipóteses de escrita de 21 crianças, em fevereiro de 2016 e, em dezembro do mesmo ano, aparecem 22 hipóteses de escrita, ou seja, uma a mais.

O gráfico que acabamos de observar mostra tais hipóteses de escrita e revela como a turma da Fase 6 da Educação Infantil avançou nessas hipóteses. No início do ano, as crianças estavam divididas entre as duas primeiras hipóteses, com uma concentração maior de crianças na hipótese considerada mais inicial. Por outro lado, no fim do ano, nenhuma delas mais se encontrava nessa hipótese e, ainda que algumas tenham permanecido na hipótese de escrita silábica, ao analisar individualmente suas produções de texto, dados não revelados nesse gráfico, é possível observar que nenhuma delas ficou estacionada na mesma hipótese de escrita, considerando que há algumas subdivisões dentro de uma mesma hipótese.

No entanto, lembramos que, ainda que esse gráfico permita uma visualização a respeito de um suposto momento estático dentro do desenvolvimento das hipóteses das crianças com relação ao código escrito, de acordo com a perspectiva aqui assumida, que considera o processo discursivo da escrita (SMOLKA, 2003), sabemos que a aprendizagem das modalidades oral e escrita da linguagem é um processo bem mais abrangente e complexo como veremos ao longo das análises deste estudo. De acordo com os referenciais teóricos em que nos fundamentamos, esse processo é histórico, cultural e social e, por isso, deve considerar as múltiplas identidades e as múltiplas práticas de letramentos, visando garantir uma Educação Infantil de qualidade a todas as crianças sem que isso signifique impor um modelo autônomo de letramento (STREET, 2013).

Veremos no desenvolvimento deste estudo, segundo a perspectiva discursiva que adotamos, mais detalhes a respeito dessas múltiplas identidades das crianças e das múltiplas atividades de tradução literária que elas puderam vivenciar. Voltamos nossa atenção, a seguir, para a professora da turma que, como já dissemos é também a pesquisadora deste estudo.

Sou formada no Magistério pelo antigo Centro de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), licenciada em Letras, especialista em Educação Infantil e Literatura e Mestre em Linguística. Minha pesquisa de Doutorado, também na área da LA, voltada para a sua prática pedagógica, mais especificamente, o processo de

desenvolvimento das modalidades oral e escrita de crianças da Fase 6 da Educação Infantil, evidencia o meu papel de professora enquanto agente de letramento (KLEIMAN, 2006) que considera que aprender a ler e escrever é um processo de construção identitária da criança, mas também do professor.

Em meus 17 anos de experiência de sala de aula, no momento em que os dados foram gerados, sempre busquei trabalhar em conjunto com outros professores, desenvolvendo projetos queeu acreditava serem os mais produtivos, pois, possibilitavam uma maior articulação entre os mais diversos conteúdos, o envolvimento das famílias e, principalmente, o desenvolvimento de atividades mais significativas para as crianças por envolverem a brincadeira (VIGOTSKI, 2007).

Acerca da turma, eu estava bastante receosa, no início do ano letivo, pois nunca havia lecionado para uma turma tão indisciplinada. As primeiras gravações de áudio das atividades ficaram bem danificadas, pois as crianças falavam simultaneamente e, algumas ainda gritavam, para mostrar a sua participação e até impor a sua opinião.

Seja como professora seja como pesquisadora, o planejamento de atividades para o desenvolvimento de projetos como o Sacolinha da Leitura, que analisaremos com mais detalhes adiante, foi uma tarefa difícil, considerando que dentre os objetivos almejados estava o de dar voz às crianças, permitindo que elas se envolvessem em múltiplas práticas de letramento, transitando por diferentes gêneros discursivos de forma autônoma. Nesse sentido, veremos em nossa análise como o embasamento em diferentes campos teóricos foi fundamental para estabelecer um diálogo e desenvolver atividades que envolvessem as crianças de forma participativa, considerando tanto o papel da brincadeira (VIGOTSKI, 2007) quanto da linguagem numa perspectiva discursiva (SMOLKA, 2003).

Um dos maiores obstáculos nesse processo foi criar as condições necessárias e adequadas para o desenvolvimento de atividades de tradução literária que envolvessem os livros de literatura infantil. No entanto, veremos que, ao trabalhar numa perspectiva de linguagem dialógica construída e constituída no processo de interação com as crianças e com artefatos culturais como os livros de literatura infantil, meu intuito como professora foi favorecer a participação ativa das crianças em diversos eventos de letramento num processo que envolveu a subjetivação na linguagem, assim como a construção e transformação das múltiplas identidades das crianças.

Assim, tendo apresentado o contexto de pesquisa com um breve perfil da escola, da turma participante da geração de dados e da professora, passamos para a

apresentação dos instrumentos e procedimentos que foram utilizados na geração e na análise dos dados desta pesquisa.