• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II. O Turismo em Espaço Rural (TER), em Portugal

2.3. Perspectivas sobre as características do TER, em Portugal

2.3.2. O perfil dos proprietários

A análise do perfil dos proprietários das unidades de turismo rural tem sido apresentada em vários estudos. A este respeito podemos referir que a maioria das unidades de TER são exploradas pelo respectivo proprietário, o qual é também responsável pelo seu funcionamento. Outra particularidade diz respeito ao facto dos proprietários terem a sua origem nas mesmas regiões de inserção das respectivas casas, com a excepção da região do Alentejo, onde “cerca de três quartos das casas estão a cargo de forasteiros, maioritariamente originários da região de Lisboa e Vale do Tejo”. Curiosamente, na região Norte, 81,1% das unidades de TER estão na posse de indivíduos que têm origem nesta região. No entanto, tal como verificámos anteriormente, relativamente às motivações e atitudes dos proprietários das unidades de TER, podemos concluir que estes “não são um grupo homogéneo” (Silva, 2006:17-21).

Não obstante a heterogeneidade dos proprietários, identificamos alguns aspectos comuns que permitem definir o seu perfil. Assim, em termos de caracterização etária podemos referir que a maioria dos promotores possui uma idade acima dos 50 anos. Moreira (1994) identificou uma média etária de 55.2 anos, o que na sua visão é considerado compreensível na medida em que estes indivíduos têm mais possibilidades de aceder ao património de TER, comparativamente aos de idades mais jovens.

Segundo Silva (2006) o grupo etário mais representativo é o que possui idades entre os 45 e 60 anos, sendo que 50,3% dos responsáveis pelo funcionamento das unidades são do sexo feminino. Esta ligação das mulheres à actividade turística, no espaço rural, é uma situação comum a muitos outros países e encontra-se relacionada com o facto de muitas das tarefas relativas ao acolhimento dos turistas serem uma continuidade das suas habituais responsabilidades (Ribeiro, 2003 citada por Silva, 2006; Sparrer, 2005). De acordo com um estudo desenvolvido por McGehee e Kyungmi (2004) na Virgínia (E.U.A) relativo às motivações para o agro-turismo, por parte das famílias de agricultores, os autores concluíram que as principais motivações são de ordem económica e sociocultural, sendo as mulheres as principais operadoras das empresas. Contudo, podemos referir resultados diferentes, verificados no caso do Alentejo (Merino e Soares, 2006) e do Parque Natural de Montesinho (Silvano, 2006) onde a maioria dos proprietários são do sexo masculino.

Em termos socioeconómicos os promotores de TER, em Portugal, apresentam frequentemente uma situação económico-profissional e cultural bastante superior à média. Na perspectiva de Moreira (1994) esta característica possui ligações com a questão patrimonial. Neste sentido, o autor refere que a “propriedade patrimonial e o nível sociocultural dos proprietários” têm forte influência no desenvolvimento do turismo rural português. Considerando as respectivas profissões e ainda uma elevada qualificação académica, Moreira conclui que os proprietários de TER se enquadram num elevado padrão económico. Verificou assim que grande parte dos proprietários (40%) possuía profissões que requerem licenciatura (engenheiros, professores, etc.). Esta situação foi confirmada por outros estudos (Silva, 2006; Silvano, 2006; Merino e Soares, 2007), segundo os quais a maioria dos responsáveis possui habilitações académicas de nível superior; Silva (2006) identificou que 55,7% dos indivíduos se incluem nesta situação. Dada a grande diversidade profissional, Moreira (1994) agrupou as várias profissões, onde é possível destacar as “profissões científicas e liberais” (com 41,2%) e ainda o grupo “donos de empresas” (com 17,5%), que inclui os empresários, comerciantes e agricultores. Os trabalhadores por conta de outrem também merecem referência, representando 12,5% do total. Neste ponto, Silva (2006:19) concluiu também que 51,9% dos responsáveis pelas unidades de TER, a nível nacional, “exercem profissões intelectuais e científicas, sendo a segunda categoria mais representada a dos agricultores e criadores de animais”.

Verificamos assim que, em termos de ocupação profissional, os proprietários de TER se dedicam a outras actividades, em que a actividade turística ocupa uma posição secundária funcionando quase como um hobby. De acordo com a investigação de Moreira (1994), a presença do proprietário da casa verifica-se durante os períodos da actividade turística, em 76,8% dos casos, daqueles que responderam. Nalgumas situações são substituídos por outros (empregados, familiares, caseiros, amigos ou vizinhos). Deste modo, nem sempre se verificam as relações entre os proprietários e os turistas que marcam este tipo de turismo. Curiosamente, nas conclusões de Silvano (2006) destaca-se o facto de nenhum dos promotores exercer qualquer actividade ligada à agricultura, enquanto ocupação profissional; bem como a não dedicação exclusiva à actividade turística.

61 actividade agrícola. Trata-se de uma circunstância também identificada noutros países, sendo referida por Sparrer (2005), cujo estudo incidiu sobre o turismo rural na Galiza. Neste caso, a autora refere mesmo a clara separação entre os proprietários, o espaço rural e a agricultura, os quais “no viven e no proceden del espacio rural e tampoco participan en la vida rural.”

Atendendo ao conjunto de características expostas, Moreira (1994) conclui que o turismo rural é uma actividade que “começou pelo topo da pirâmide social e está longe ainda de se estender a estratos sociais mais próximos da base”. Para o autor, esta situação é “paradoxal”, se considerarmos os princípios e grandes objectivos do TER, enquanto actividade complementar para o rendimento dos agricultores. Verifica-se pois uma necessidade de alargar os benefícios gerados pelo TER aos pequenos e médios agricultores e proprietários rurais, ou seja, aqueles que supostamente mais necessitam deles.

No que concerne ao envolvimento das famílias ou agregados familiares na actividade turística, verifica-se uma fraca participação. Com efeito, apenas um reduzido número de unidades beneficia da participação dos filhos dos proprietários, ao nível da oferta de serviços turísticos (Moreira, 1994).

Outra particularidade dos promotores de TER diz respeito à falta de experiência no sector turístico e uma ausência de visão para o turismo (Silvano, 2006). De acordo com a análise de Silva (2006) apenas 36,9% dos responsáveis possuíam conhecimentos prévios da actividade turística antes de iniciarem a sua actividade.

De um modo geral, os proprietários de unidades de TER em Portugal possuem uma atitude positiva e de satisfação face à actividade turística. Moreira (1994) salienta que as perspectivas dos proprietários, relativamente ao futuro do turismo rural, são consideradas bastante satisfatórias; em que a grande maioria (72,2%) manifestou uma opinião positiva sobre o futuro do TER. No entanto, as opiniões sobre a satisfação económica não se revelaram tão optimistas, visto que 45,6% estavam moderadamente satisfeitos e 18,8% se mostraram insatisfeitos com os resultados económicos. Assim, o envolvimento na actividade turística acaba por produzir alguns efeitos benéficos para os seus promotores. A pesquisa desenvolvida por Silvano (2006:144) permite concluir que os promotores inseridos na área do Parque Natural de Montesinho destacam a “satisfação e realização

pessoal”, como o aspecto mais importante decorrente da sua actividade. Este indicador encontra-se relacionado com o “convívio e troca de experiências e conhecimentos com os visitantes, isto é com um motivo social e cultural”. Outro aspecto considerado relevante corresponde ao “maior conforto material” proporcionado pela actividade turística, o que revela satisfação, motivação e interesse pelos benefícios económicos gerados pelo TER. A análise das diversas características dos proprietários e das unidades de TER, por tipo de modalidade, no estudo de Moreira (1994) permite ainda concluir que são os proprietários do Turismo de Habitação aqueles que apresentam melhores condições socioeconómicas, os “mais esperançados no futuro do TER e os menos entusiasmados com os proventos económicos daí originários”. No que concerne ao Agro-turismo salienta-se o facto de os seus proprietários estarem mais satisfeitos economicamente com a actividade turística, mas pelo contrário, são aqueles que têm menos esperançaquanto ao futuro, o que poderá estar relacionado com as suas idades menos jovens (Moreira, 1994:168).

Em síntese, podemos referir que as unidades e os proprietários de TER, em Portugal, possuem algumas características comuns às existentes noutros países. Não obstante, é possível identificar algumas particularidades que permitem distinguir a realidade do turismo rural português, quando comparado com outros países europeus. Na perspectiva de Kastenholz (2002) o produto de turismo rural, em Portugal, encontra-se menos desenvolvido, quando comparado com outros países; por outro lado, verifica-se uma menor ligação à agricultura e uma pequena representatividade do Agro-turismo, com a contrapartida da oferta de alojamento em edifícios históricos e em contextos físicos que denotam elevados padrões de qualidade. A autora acrescenta ainda o facto do produto TER ser frequentemente conotado com uma imagem de qualidade, comparativamente com a imagem de um produto mais económico, noutros países. Esta qualidade é de alguma forma controlada e garantida pela existência de uma classificação oficial e regulamentação própria, no nosso país. Verifica-se também uma falta de complementaridade e diversidade do produto, patente na limitada oferta de serviços complementares ao alojamento, tal como verificámos anteriormente; caracterizando assim um produto reduzido ao aspecto do alojamento e consequentemente, pouco integrado no contexto económico, social e cultural do território em que se insere.

63