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Capítulo I. O turismo rural

1.3. Turismo Rural: objectivos e caracterização

1.3.2. O turismo rural a nível internacional

Apesar da dificuldade em quantificar a sua dimensão, em termos mundiais, pode dizer-se que o turismo rural representa um mercado turístico em crescimento. A Organização Mundial de Turismo (OMT) (2004) estima que o número de turistas que viajam com o objectivo de procura do turismo rural represente três por cento de todos os turistas internacionais, a nível mundial, com perspectivas de crescimento assinaláveis. Na sua publicação sobre as tendências do turismo mundial para 2020, a OMT destaca que, apesar de não se esperar um número massivo de turistas neste segmento e a oferta ainda ser relativamente limitada, o crescimento do turismo rural apresenta-se como uma clara tendência, prevendo-se um aumento da oferta deste tipo de produtos nos próximos anos. De acordo com as mesmas previsões, estima-se que a procura do turismo rural esteja a crescer a um ritmo de seis por cento ao ano (OMT, 2004) o que revela um crescimento mais rápido do que o turismo mundial, em geral, que se prevê ter uma taxa de crescimento anual de quatro por cento, entre os anos de 1995 e 2020 (OMT, 2007).

Estas previsões de crescimento do turismo rural assumem particular relevância na Europa, onde a transformação do espaço rural teve início há umas décadas atrás e tem sido acelerada pelo processo de integração na União Europeia. O turismo rural pode produzir

31 um contributo muito válido para as economias rurais e produzir diversos benefícios. Para além disso, a Europa também dispõe de grandes oportunidades para o turismo rural, em virtude da sua riqueza e diversidade de recursos (história e arqueologia, cultura, paisagens, etc.) (OMT, 2004).

De acordo com Davidson (1992) o turismo nas áreas rurais “tem uma longa história na Europa”, em que as primeiras viagens para estes espaços estariam associadas a antigas rotas comerciais, peregrinações e ainda motivos de saúde, relacionados com as termas romanas. A Europa ocupa assim, uma posição de destaque sendo “líder no mercado de turismo rural, a nível mundial”, dada a sua grande riqueza cultural – monumentos, aldeias, sítios históricos, etc. (Edmunds, 1999 citado por Kastenholz, 2002).

Contudo, a oferta de turismo rural na Europa não é homogénea, assumindo várias formas e diferentes definições (Moreira, 1994, Kastenholz, 2002, Sparrer, 2005). Esta problemática dificulta estudos comparativos e resulta essencialmente dos vários significados de “rural” (Kastenholz, 2002). Para Moreira (1994) as dificuldades de sistematização e comparação devem-se a três factores principais: a existência de diferentes noções de espaço rural, a diferentes quadros jurídicos relativos às actividades turísticas e ainda a diferentes políticas existentes em matéria de turismo rural.

Apesar das diferenças entre os países, verificamos que o desenvolvimento do turismo rural na Europa está relacionado com alguns objectivos comuns, nomeadamente no que concerne à sua visão enquanto estratégia de desenvolvimento rural. Alguns países (França, Alemanha, Áustria e Grã-Bretanha) possuem uma grande experiência na oferta e procura de turismo rural, possuindo uma oferta diversificada e madura; enquanto noutros (Espanha e Portugal) a sua implantação é mais recente e por vezes, limitada à oferta de alojamento. Verifica-se ainda uma grande ligação à actividade agrícola nalguns tipos de alojamento, os quais proporcionam aos turistas a possibilidade de participação activa ou observação das actividades agro-pecuárias. Nestes casos, o agro-turismo representa uma fonte de receitas complementar para os agricultores. Esta modalidade de alojamento assume diferentes terminologias e pode encontrar-se em vários países, como por exemplo: na França (La

Ferme Auberge e Campig à la Ferme), em Espanha (Catalunha - Casas de Pagés), na

Alemanha, Áustria e Suíça (Ferien auf dem Bauernhof) e em Portugal com o Agro-turismo (Sparrer, 2005).

Para além desta associação à agricultura, o turismo rural também tem sido visto como uma estratégia para recuperar o património construído, através da oferta de alojamento em edifícios de relevante valor histórico e arquitectónico (antigos edifícios que pertenceram à nobreza e ao clero), tais como: no caso galego – o grupo A, que inclui mosteiros e casas grandes; na cadeia francesa Relais et Châteaux, que inclui alojamento de luxo em castelos; no caso dos Manor Houses Hotels, da Irlanda (antigos castelos e mansões nobres) e ainda o “Turismo de Habitação”, em Portugal – antigas casas nobres e solarengas (Sparrer, 2005). Na perspectiva de Godinho (2004:91), o turismo rural surgiu na Europa com o objectivo essencial de “travar o despovoamento, preservar a paisagem rural, salvar um certo tipo de agricultura familiar, manter um equilíbrio ambiental saudável e proporcionar a solvência económica de milhares de famílias”. A autora acrescenta que, actualmente, o turismo rural constitui uma importante realidade em termos económicos, sociais e culturais para alguns países europeus, com “mais de 200 000 casas e 2000 000 de camas”.

Para este crescimento e evolução dos produtos de turismo rural, na Europa, muito têm contribuído os fundos comunitários disponibilizados pela Comunidade Europeia. Estes fundos têm sido concedidos às regiões menos desenvolvidas e constituem um apoio para o desenvolvimento económico, através de diversos programas de âmbito nacional e regional. Um dos programas mais importantes no apoio ao desenvolvimento do turismo rural é o Programa Leader (Ligação Entre Acções de Desenvolvimento da Economia Rural). Este programa tem a particularidade de envolver diversos agentes locais em projectos inovadores, sendo considerado uma excelente abordagem de cooperação e participação da comunidade, num sentido “bottom up” (Edmunds, 1999).

Não obstante o facto de não pretendermos desenvolver uma análise intensiva do turismo rural da Europa, podemos referir o caso de França enquanto caso de sucesso nesta matéria. Com efeito, segundo Kastenholz (2002) a França representa um dos primeiros países envolvidos no turismo rural e onde se desenvolveu uma importante marca representada por uma organização nacional – Gîtes de France. Tendo sido criada em 1951, esta organização tem assumido um papel determinante ao nível do desenvolvimento do turismo rural em França e oferece uma vasta gama de serviços e produtos turísticos. As suas funções repartem-se pelo apoio e informação que proporciona aos seus membros, contribuição para

33 ainda um importante papel ao nível da comercialização e distribuição dos produtos. Deste modo, funciona também como operador turístico e agência de viagens, na criação e comercialização de produtos de férias e na oferta de um sistema de reservas. De um modo geral, a oferta divulgada por esta organização consiste num produto integrado que inclui alojamento em várias modalidades, restaurantes rurais, com gastronomia local e diversas actividades de animação, incluindo também programas de férias para crianças. Em suma, o sucesso deste produto em França explicado pela vasta experiência na oferta e pela grande procura leva a que o caso francês seja “frequentemente referido como um modelo exemplar de organização e promoção do turismo rural” (Kastenholz, 2002:50).

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