• Nenhum resultado encontrado

Abreviaturas e símbolos % – Percentagem

2. Revisão da literatura

2.2 O estudo do jogador

2.2.2 Perfil fisiológico

A intensidade média exigida num jogo de andebol foi apontada por Michalsik (2004) como sendo correspondente a 69% do VO2máx. Porém, é fisiologicamente inviável manter uma intensidade média elevada durante um longo período de tempo de jogo, devido à fadiga. Daí que expressar a intensidade do esforço imposto pelo jogo por um valor médio durante o tempo em que este se desenrola, signifique uma perda de informação específica sobre o mesmo. Efectivamente, num jogo de andebol os períodos de grande intensidade que, frequentemente, constituem as partes mais atractivas e

decisivas do mesmo, caracterizam-se pela acumulação elevada de lactato, que é exemplificada por valores individuais entre 9 e 11 mmol.l-1 (ver ponto 2.1.2.2). Por esta razão, os jogadores intercalam estes períodos taxados acima de 90% do VO2máx, com outros de intensidade reduzida (abaixo de 60% VO2máx), permitindo a remoção deste metabolito do sangue e dos músculos em exercício (Michalsik, 2004).

Em desportos de natureza intermitente, verifica-se uma correlação significativa positiva entre o VO2máx dos jogadores e a distância total por eles percorrida num jogo (Bangsbo, 1994d; Smaros, 1980). Foi igualmente constatada uma concordância entre a classificação das equipas e os valores médios de VO2máx das mesmas, tendo as equipas de melhor nível competitivo apresentado valores mais elevados neste parâmetro (Apor, 1988; Wisloff, Helgerud, & Hoff, 1998). Wisloff et al. (1998) referem que uma vantagem, em termos médios, de 6 ml.kg-1.min-1 de capacidadede trabalho aeróbio, poderá ser similar a ter mais 1 jogador em campo. Adicionalmente, o estudo de Helgerud et al. (2001) mostrou que um aumento de 11% no VO2máx, permitia aumentar a intensidade do jogo em 5% e a distância percorrida num jogo de futebol em 1800 m (correspondentes a mais 20% da distância total percorrida), mostrando igualmente um aumento de 23% nas acções em torno da bola, e 100% de aumento no número de sprints realizados.

A importância do estudo do VO2máx no âmbito das modalidades de esforço intermitente prende-se também com a sua associação a níveis mais elevados de depósitos de glicogénio, maior mobilização e utilização das reservas lipídicas, a uma elevada taxa de recuperação que permite atrasar o aparecimento da fadiga e que igualmente possibilita a realização de maior número de sprints, a participação num maior número de fases decisivas do mesmo e maiores distâncias percorridas (para ref.’s ver Hoff, 2005). Por estas razões, o VO2máx é considerado um factor determinante da performance aeróbia e relevante para o rendimento no jogo.

Este indicador da capacidade do organismo para produzir energia aeróbia a uma taxa elevada (Bangsbo, 1994d), tem também sido estudado em andebolistas.

Os valores encontrados na literatura podem ser consultados no Quadro 7.

Quadro 7 – Valores de consumo máximo de oxigénio (VO2máx) em andebolistas seniores masculinos. Os valores são média e desvio-padrão.

Estudo Amostra VO2máx

ml.kg-1.min-1

Denis (1977) 12 nível regional francês 53.4±5.77 Delamarche et al. (1987) 7 2.ª divisão francesa 58.3±5.3 Soares (1988) 5 guarda-redes 1.ª divisão portuguesa 49.1±4.33 Czerwinski (1991) selecção nacional polaca 63.5 Garcia Cuesta (1991) 16 selecção nacional espanhola 59.4±5.72 Jensen e Johansen (1994) 20 selecção nacional dinamarquesa 56 (49-65) Santos (1991) 10 1.ª divisão portuguesa 43.8 Rannou et al. (2001) 10 nível nacional francês

7 nível internacional francês

57.7±3.1 58.7±0.9 Michalsik (2004) 16 1.ª divisão dinamarquesa 55.4

Excluindo os resultados de dois estudos, um dos quais especificamente referente aos guarda-redes, os dados apresentados parecem sugerir que aos andebolistas é solicitada uma elevada potência do metabolismo aeróbio, com valores médios de VO2máx de 57 ml.kg-1.min-1. Estes valores, embora dentro da amplitude reportada para futebolistas de elite (55-68 ml.kg-1.min-1) (Davis, Brewer, & Atkin, 1992; Reilly, 1994; Wisloff et al., 1998), são substancialmente inferiores aos registados em fundistas (90 ml.kg-1.min-1) (Hoff, 2005), o que evidencia um papel relevante, mas não decisivo deste parâmetro na performance no jogo.

Apesar de Michalsik (2004) não ter encontrado diferenças significativas entre posições, facto provavelmente originado pelo reduzido tamanho amostral, aceita-se uma possível expressão diferencial em função do papel desempenhado pelo jogador no jogo.

Diferenças nas características das amostras e dos protocolos de avaliação usados podem parcialmente explicar os valores extremos. A utilização de protocolos distintos quanto à duração dos patamares ou inclinações seleccionadas, pode influenciar o resultado final (Astrand & Rodahl, 1986). O tipo de ergómetro escolhido pode igualmente fazer variar os dados obtidos. Davis (1995) refere que os valores obtidos em cicloergómetro são cerca de 10% mais baixos do que os registados em tapete rolante.

Contrariamente a outras modalidades como o futebol (Bangsbo, 1994d; Smaros, 1980), não está provada a existência de uma relação directa entre o VO2máx e a performance no jogo (Delamarche et al., 1987). Neste estudo, os jogadores que exibiam os valores mais elevados neste indicador, não eram necessariamente os mais activos durante o jogo.

Para além do VO2máx, a investigação tem também incidido sobre outro factor limitador do rendimento neste âmbito: o limiar anaeróbio. Efectivamente, o nível de prestação do atleta no jogo é condicionado pela capacidade para manter o esforço numa percentagem elevada do VO2máx, sem no entanto, permitir uma elevação excessiva dos valores de lactato (para ref.’s ver Hoff, 2005). Por esta razão, para avaliar a performance neste âmbito, os doseamentos sanguíneos deste metabolito revestem-se de grande utilidade no delineamento de testes, nomeadamente nos de terreno.

Numa amostra de 47 andebolistas alemães seniores masculinos, 17 dos quais pertencentes à selecção nacional de 1992 e os demais às melhores equipas da 1.ª divisão nacional alemã, Santos (1995) avaliou a capacidade aeróbia dos sujeitos através do limiar láctico das 4 mmol.l-1 (Heck et al., 1985). Os atletas pertencentes à selecção nacional alemã obtiveram valores de velocidade no limiar mais elevados (3.71±0.28 m.s-1) comparativamente aos restantes andebolistas testados (3.52±0.35 m.s-1), sendo a diferença encontrada estatisticamente significativa. Estes dados juntamente com os do VO2máx, parecem assim sugerir que de uma forma geral, os andebolistas de melhor nível evidenciam níveis superiores de resistência, expressa tanto em função do VO2máx como do limiar anaeróbio.