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4.1 DESCREVENDO OS SUJEITOS DA PESQUISA

4.1.3 Perfil profissional na Saúde da Família dos enfermeiros, médicos e

O perfil profissional dos enfermeiros, médicos e odontólogos da ESF, todos preceptores do PET-Saúde de Natal (RN), consistiu, de modo geral, em profissionais com carga horária semanal de trabalho de 40 horas, dedicação exclusiva junto à estratégia, tempo de trabalho na Saúde da Família variando de 02 a 11 anos, tendo realizado curso introdutório ao adentrar nesse campo, e cursos de atualização.

A tabela 3 registra a carga horária dos sujeitos pesquisados por categoria profissional. Depreendeu-se que enfermeiras, médicos e odontólogos alegaram o cumprimento da carga horária de 40 horas semanais.

Tabela 3: Categorias profissionais da pesquisa em relação à carga horária de trabalho na

Estratégia de Saúde da Família.

Profissão Carga horária 40 horas n % Enfermeiro 05 100 Médico 05 100 Odontólogo 05 100 Total 15 100

Souza e Roncalli (2007), em seu estudo sobre a incorporação da saúde bucal no PSF no Estado do Rio Grande do Norte, detectaram contradições quando se confrontam dados a respeito da jornada de trabalho contratada em relação à jornada cumprida entre os profissionais de odontologia, mostrando que 80% dos odontólogos eram contratados com 40 horas semanais de trabalho, sendo que 40% não a cumpriam. Dentre os que afirmavam cumpri-la, mais da metade morava no município no qual estava trabalhando.

No tocante à jornada de trabalho dos enfermeiros e médicos na ESF, o estudo de Cotta et al. (2006) revelou que apenas 50% de cada categoria cumpria a carga horária de 40 horas semanais, enquanto os demais 50% trabalhavam seis horas por dia.

Provavelmente, além da questão da residência fixa no município, a questão salarial pode interferir no cumprimento da carga horária, o que, por sua vez, intervém no estabelecimento de vínculo com a comunidade, bem como no desenvolvimento das atividades de prevenção de doenças, promoção e reabilitação em saúde.

Nas falas abaixo, revelam-se as opiniões contraditórias de dois profissionais acerca da influência da carga horária de 40 horas semanais nos seus processos de trabalho:

O ponto forte é... exatamente esse, que a equipe de saúde é... tem um horário de trabalho, não é? Em que ela possa estar um horário atendendo na unidade e o outro horário fazendo visita domiciliar. (Anita Mafalti)

E, assim, esse horário da gente é muito... é o dia todo, né? E é muito desgastante, muito desgastante. (Djanira da Motta e Silva)

A tabela 4 ilustra o tempo de trabalho dos profissionais, participantes da presente pesquisa, na ESF. A maioria das enfermeiras (60%) trabalha na ESF em torno de 7 a 11 anos, enquanto que 03 médicos (60%) e 04 odontólogos (80%) apresentavam um tempo de serviço nessa estratégia entre 2 e 6 anos.

Tabela 4: Categorias profissionais em relação ao tempo de trabalho na Estratégia de Saúde da

Família.

Profissão

Tempo de Saúde da Família Total

2-6 anos 7-11 anos 12-16 anos

n % n % n % n %

Enfermeiro - - 03 60 02 40 05 100

Médico 03 60 01 20 01 20 05 100

Odontólogo 04 80 01 20 - - 05 100

Total 07 46,7 05 33,3 03 20 15 100

Inferiu-se que os achados sobre a predominância dos enfermeiros no setor público teve como justificativa os incentivos e benefícios, como melhores salários e promessas de capacitação, oferecidos na época da implantação do PSF. Estas condições levaram muitos a abdicar das suas áreas de atuação para trabalhar no programa.

Em relação aos médicos e odontólogos, salienta-se que o baixo tempo de vínculo com a ESF pode estar relacionado à questão salarial e à carga horária, sendo uma exigência o

cumprimento da carga horária de 40 horas semanais por salários nem sempre satisfatórios e compensatórios frente às demandas que o trabalho exige. Outro fator que deve ser considerado são as condições de trabalho oferecidas, as quais, geralmente, não permitem o desenvolvimento de uma prática adequada, frustrando diversos profissionais e levando-os a abandonar a ESF.

O gráfico 6 revela que 13 (86,7%) profissionais entrevistados cursaram o introdutório à ESF, sendo 04 (80%) enfermeiras, 04 (80%) médicos e 05 (100%) odontólogos. Apenas 02 profissionais não o realizaram. Evidenciou-se que a maioria dos trabalhadores que integram a ESF, além de capacitados e treinados para a realização das competências próprias de cada um em tal âmbito, também possuem condições para a preceptoria no PET-Saúde.

Gráfico 6: Distribuição das categorias profissionais da pesquisa em relação à realização de

curso introdutório à Estratégia de Saúde da Família.

O gráfico 7 registra a participação em cursos de atualização realizados a partir da ESF. Sendo assim, os 06 cursos mais referidos pelos sujeitos da pesquisa foram: Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST/HIV) e Hanseníase, confirmados, cada um, por 06 participantes; Saúde da mulher e Saúde do idoso, por 04 participantes, cada qual; Tuberculose e Capacitação em Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), referidos por 03 participantes, cada um.

Gráfico 7: Distribuição dos principais cursos de atualização, realizados a partir da Estratégia

de Saúde da Família, referidos pelos profissionais da pesquisa.

Concorda-se que os cursos de atualização e capacitação são considerados valiosas ferramentas na educação dos profissionais, proporcionando-lhes “reciclagem” dos conhecimentos, oportunizando o aprendizado de novas temáticas transversais, como ocorreu no caso da pandemia com a gripe causada pelo vírus H1N1, e ainda um estímulo para continuar estudando e descobrindo novos saberes e práticas, constatados nos depoimentos a seguir:

E eu acho que assim... que essas capacitações também teriam que acontecer mais. (Yara Tupinambá)

Capacitação tem que ser contínua, né? Educação continuada. Isso aí ajuda, fortalece, melhora a auto-estima dos profissionais. (Zina Aita)

Eu acho que podia ter mais capacitação também, né? Que já houve mais capacitação pra os profissionais, né? Às vezes, tem pra algumas categorias e não tem pra outras e, assim, a gente... eu pelo menos aprendi muito ralando, muito no dia-a-dia, eu aprendo muito no dia-a-dia. Porque a gente não tem muita opção, não tem muita capacitação, não tem. É tudo muito difícil. E quando vem, já vem muito direcionado. Eu sinto falta disso. (Djanira da Motta e Silva)

Ressalta-se que a participação em cursos de atualização gerou um momento de reflexão e angústia por parte dos entrevistados, pois muitos relataram que a oferta de tais cursos vem rareando e se tornando cada vez mais escassa principalmente a partir de 2009.

De acordo com os dados da tabela 5, percebe-se que 08 dos 15 profissionais das USFs pesquisadas dedicam-se exclusivamente à ESF, sendo 02 enfermeiras, 02 médicos e 04 odontólogos. No entanto, salienta-se também que 07 dos 15 profissionais, dentre eles 03 enfermeiras, 03 médicos e 01 odontólogo, possuem outro vínculo empregatício além da ESF. Destaca-se, inclusive, um médico com três vínculos (ESF, rede hospitalar pública e

consultório privado). A tabela abaixo esclarece detalhadamente o tipo de instituição e de vínculo que os profissionais enfermeiros, médicos e odontólogos detem além da ESF.

Tabela 5: Categorias profissionais da pesquisa em relação à existência ou não de outro

vínculo empregatício. Possui outro vínculo empregatício Tipo de Instituição

Tipo de vínculo Enfermeiro Médico Odontólogo Total

n % n % N % n %

Não 02 25 02 25 04 50 08 100

Sim Público Atenção Básica - - 01 100 - - 01 100

Rede ambulatorial - - - - 01 100 01 100 Rede hospitalar 01 33,3 02 66,7 - - 03 100

Consultório - - - -

Ensino 01 100 - - - - 01 100

Privado Atenção Básica - - - -

Rede ambulatorial - - - -

Rede hospitalar - - - -

Consultório - - 01 100 - - 01 100

Ensino 01 100 - - - - 01 100

Infere-se que a existência de outro vínculo empregatício entre os profissionais da ESF pode estar associada à questão salarial, conforme dito anteriormente, até mesmo com relatos dos próprios sujeitos, evidenciando a necessidade de outro emprego para garantir a manutenção familiar.

Analogamente, a pesquisa de Machado et al. (2000) verificou que 45,5% dos médicos e 25,8% dos enfermeiros pesquisados possuíam outro vínculo empregatício no setor público, e cerca de 20% dos médicos já haviam atuado em PSF de outros municípios.

4.2 ANÁLISE DAS FALAS DOS PROFISSIONAIS DA ESF NA PESPECTIVA DO