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André Köhler e José Carlos Durant definem turismo cultural em dois conjuntos diferenciados. Um deles é compreendido pelos aspectos da oferta, que está basicamente ligado ao “desfrute turístico de equipamentos e atrações previamente classificados como culturais: sítios e centros históricos, festivais, gastronomia local, centros de interpretação patrimonial, mercados tradicionais, museus” (KÖHLER; DURANT, 2007, p.188) e etc. Esse conjunto se mostra amplamente relacionado ao que falávamos anteriormente, quando o turista participa intensamente dessas estruturas “sacralizadas” como cultural.

O outro conjunto apresenta a noção de que o turismo cultural advém da demanda, colocando no turista a incumbência de definir o tipo de turismo que ele realiza. Afinal, o traço mais marcante desse conjunto são as motivações e as percepções do viajante, “não são os atributos de espaços ou objetos, mas as interpretações dadas à experiência turística, que definem se ela pode ou não ser classificada como cultural” (KÖHLER; DURANT, 2007, p. 187). A atribuição de significado aos objetos e espaços como uma experiência histórica e cultural é definida pelo sujeito que o acessa, mesmo que esses espaços e objetos tenham sido previamente classificados como tal. Sendo assim, o turista pode entender sua vivência de modo diferente do proposto (KÖHLER; DURANT, 2007, p. 188).

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), turismo cultural está majoritariamente ligado às motivações do turista em visitar espaços culturais e/ou participar de atividades com essa temática (RICHARDS, 2009, p. 1). Ao meu ver, fica entendido que o sujeito é motivado a procurar espaços que foram previamente classificados como atividades culturais, o que acaba por misturar os dois conjuntos definidos por Köhler e Durant. Richards apresenta uma discordância a essa classificação dizendo que essas motivações podem ser secundárias, evidenciando que há dois perfis de turistas culturais. Existem os “aficionados por cultura”, que desejam consumir especificamente manifestações culturais, e os que são definidos como “acidentais”, pois em suas viagens participam de atividades culturais que encontram casualmente (RICHARDS, 2009, p. 1 apud PEREZ, 2009, p. 126).

Outros autores que também fazem uma classificação sobre os perfis de turistas culturais são Bob Mckercher e Hilary Du Cros (apud PEREZ, 2009, p. 126; KÖHLER; DURANT, 2007, p. 194-195). Eles definem cinco tipos de indivíduos que praticam turismo cultural, e para isso utilizam dois parâmetros para avaliá-los. Um ligado à importância e motivação em visitar/participar da atração/atividade cultural, e outro relacionado ao envolvimento com a experiência realizada.

1. Turista cultural motivado: Motivação cultural central e experiência profunda.

2. Turista cultural inspirado: [Alta motivação cultural, porém] Experiência mais superficial.

3. Turista cultural esporádico: Inexistência de motivação cultural central e de experiência profunda.

5. Turista cultural acidental: Nada motivado culturalmente. Participa nalguma experiência de turismo cultural de forma superficial. (PEREZ, 2009, p. 126)

É importante lembrar que a classificação dos turistas culturais especificamente é alheia à definição tipológica expressa na relação entre o viajante e seu anfitrião de turistas em geral, mas que se complementam. Para este presente trabalho, considerarei dois tipos de classificações. Primeiro a de Erick Cohen (apud PEREZ, 2009, p. 44), que divide os turistas em dois grandes grupos: viajantes institucionalizados e não institucionalizados. Os viajantes institucionalizados apresentam perfis de turismo de massa, individual ou coletivo, ambos utilizam agências de viagens com roteiros prontos e têm uma vivência mais distanciada e contemplativa. O segundo grupo, por sua vez, são identificados como drifters ou exploradores. Ambos planejam suas próprias viagens e fogem do turismo de massa, um ficando pelas periferias e ambientes exóticos desses destinos, e o outro fugindo totalmente desses lugares massificados. Os drifters imergem completamente na cultura anfitriã, enquanto os exploradores o fazem de forma mais superficial. Esse segundo grupo, dos viajantes não institucionalizados, é o que mais se aproxima da figura do mochileiro.

A segunda definição de turistas que usaremos é a de Feifer (1985 apud PEREZ, 2009, p. 47), que classifica um perfil pós-turista. “O pós-turista é para este autor alguém que pensa que tudo é possível de ser visitado, não apenas o considerado “típico”, não apenas a “fachada” mas também os “bastidores” de uma cultura ou destino turístico” (PEREZ, 2009, p. 47). Jacobsen complementa essa classificação criando uma categoria chamada de antiturista, um indivíduo que

não se considera turista quando pratica turismo, distancia-se do turista convencional física e conceptualmente, não recomendam muito a outros os

destinos visitados – para não saturar e destruir a tranquilidade e

encantamento do lugar –, e pensam que as possibilidades de desfrute

diminuem com a presença de turistas. (PEREZ, 2009, p. 48)

Surge, portanto, uma relação muito próxima com o tipo de experiência que todas essas variedades de turistas desejam ter. A partir de então, Perez apresenta um conceito de transição entre um modelo de turismo fordista e o pós-fordista:

O modelo turístico fordista (Vera, 1997) caracterizava-se pela

especialização sectorial a partir de recursos naturais como a praia ou a montanha e por uma oferta homogénea na qual o destinatário era visto como uma massa uniforme sem diversidade e singularidade. [...] Face ao

modelo fordista, o modelo turístico pós-fordista (Donaire, 1998) nasce da crise da homogeneização e uniformização dos destinos turísticos. Daí que a oferta comece a singularizar-se e crie produtos específicos para segmentos específicos de turistas. (PEREZ, 2009, p. 127)

Os viajantes agora querem viver o inusitado, ter uma experiência diferente das experiências que outros tiveram, e o que em muito facilita essa diversificação e particularidade da vivência é que “não há como duas pessoas passarem pela mesma experiência, pois cada experiência resulta da interação entre o palco do evento (como uma peça teatral) e do palco de cada mente (PINES II; GILMORE, 1998, p. 89, tradução dos autores)” (NASCIMENTO et al., 2012, p. 145).

Richards assegura que “as pessoas [também] querem aprender algo durante suas visitas, particularmente sobre o que é característico do lugar que estão visitando” (RICHARDS, 2009, p. 3), dentro disso há uma necessidade de aprender sobre a cultura do outro. Então, “de acordo com Paulo Mello (2008), um produto cultural pode satisfazer necessidades ligadas às emoções e sonhos, ou seja, a cultura é um dos pilares da Economia de Experiência (SOARES, 2009)” (NASCIMENTO et al., 2012, p. 146) – o que apresenta novamente a cultura como simples produto utilizado pelo turismo para proporcionar ao turista aquilo que as narrativas criadas o incitaram a sonhar.