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A pergunta de partida e os objectivos geral e específicos

Sendo uma investigação, por definição, algo que se procura, o caminho que nos leva desde a formulação de uma ideia sobre o que iremos estudar, até delimitarmos o objecto de estudo, é muitas vezes incerto e hesitante. A escolha de um tema está na maioria das vezes associada ao interesse que o investigador possa ter por determinadas matérias, no entanto, este é apenas o primeiro passo de vários que temos que percorrer até chegarmos às hipóteses que de facto irão corroborar ou não a teoria avançada.

Seguindo esta mesma ideia, Quivy (1998) defende que o investigador deve escolher um primeiro fio condutor materializado numa pergunta de partida, o que nem sempre se torna evidente. O mesmo autor esclarece que para obtermos uma boa pergunta de partida, sobre a qual se centrará o estudo, terá que ter três qualidades: clareza, exequibilidade e pertinência. A clareza da pergunta depende da sua precisão e concisão, a exequibilidade do carácter realista do trabalho que pretende desenvolver e a pertinência diz respeito ao registo em que a mesma se enquadra.

Os primeiros três Capítulos desta dissertação assentam em três teorias que interligadas justificam a pergunta de partida. No primeiro Capítulo avançámos com a ideia de sistema turístico, defendido por vários autores, e sem o qual a presente investigação não faria sentido, uma vez que propomos analisar os impactes que uma atracção turística poderá ter noutras actividades ligadas ao sector turístico. O segundo Capítulo vem justificar o uso do património enquanto recurso turístico, sendo que, a evolução sócio- económica das sociedades, ocorrida durante o século XX, contribuiu para uma mudança de paradigma no que diz respeito ao sector turístico, com a proliferação de novos produtos, adaptados às novas motivações turístico-culturais. De um turismo de massas, homogeneizado, “fordista”, passámos para um turismo de carácter cultural, onde o genuíno, o autêntico e o singular imperam. No terceiro Capítulo, são analisados os vários processos que transformam aquilo a que, no Capítulo antecedente, chamámos de recurso turístico, num produto turístico, pronto a ser visitado. O produto turístico,

arranque” para o desenvolvimento de regiões sem vocação turística, mas que encontram neste sector uma forma de colmatar os défices sócio-económicos provocados por conjunturas adversas. Regiões desprovidas de propensão turística podem, servindo-se do seu património e por conseguinte daquilo que têm de mais singular, desenvolver novas formas de receitas através do turismo, que, devido à sua interactividade com outros sectores, poderá provocar uma repercussão positiva a vários níveis da economia.

Podemos esquematizar a ideia que aqui pretendemos desenvolver:

Figura 14: O TEMA OU PERGUNTA DE PARTIDA

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Fonte: Elaboração própria

Analisando o esquema anterior podemos constatar que o mesmo em muito se assemelha a um alvo, sendo, neste caso, o centro a atracção turística. Partimos do pressuposto que é a partir dela que os restantes conceitos se encadeiam e é na associação dos três que reside a pergunta de partida do presente estudo: Uma atracção turística cultural, sendo parte integrante de um sistema turístico, poderá contribuir para o desenvolvimento económico de uma determinada região?

Foi com base nesta pergunta, nesta delimitação do objecto de estudo que procedemos a uma mais aprofundada análise bibliográfica do tema proposto, que resultou nos três

medida que fomos explorando os estudos existentes sobre esta problemática, sobressaíram alguns assuntos que também se afiguraram como pertinentes para o tema proposto, nomeadamente o conceito de turismo cultural, ou o conceito de sistema de gestão operativo, que do nosso ponto de vista se revestem de importância para o actual estudo. Esta etapa da investigação permitiu que “o investigador tomasse consciência de aspectos do problema a que não era forçosamente sensível à partida”(Quivy, 1998).

Partimos do pressuposto, defendido no primeiro Capítulo desta dissertação, de que uma atracção, cuja definição desenvolvemos na secção 3.2 do Capítulo III, é uma das componentes do sistema funcional do turismo, composto também por serviços, infra- estruturas, mecanismos de promoção, sistemas de informação, transportes e, claro está, turistas (ver figura 1, Capítulo I). Esta atracção, enquanto parte integrante de um sistema, terá forçosamente influência nas outras componentes. No estudo que propomos desenvolver, não será analisada esta interacção face a todos os componentes enumerados, mas apenas nas respeitantes às infra-estruturas (alojamento e restauração). Esta limitação deve-se, essencialmente, ao facto de não existirem dados susceptíveis de serem trabalhados e à limitação temporal imposta para a execução desta dissertação que não permite, no tempo concedido, arquitectar métodos próprios e válidos cientificamente para obter os dados em falta, assunto discutido na secção 3.4.2 do Capítulo III.

No trabalho que aqui desenvolvemos centrámos a atenção nas atracções turísticas de índole cultural. Tal delimitação deve-se, essencialmente, ao facto de acreditarmos que é no património de determinadas regiões, que estas encontrarão o produto turístico a ser comercializado e que lhe servirá de “motor de arranque” económico (ver secção 3.4.1 do Capítulo III). Em regiões, principalmente do interior de Portugal, onde o turismo tem uma história recente e onde outros sectores dominaram em tempos em que a conjuntura económica o permitia, será o património, a característica que a distingue das demais. Esta delimitação deve-se também ao facto de se ter assistido nas últimas décadas a uma subida exponencial na procura de produtos deste tipo (ver quadro 2, Capítulo II). Já em 1990 a Comissão Europeia indicou o turismo cultural, que está associado a este tipo de atracções (ver secção 2.3 do Capítulo II), como área chave para o desenvolvimento

Cultural, de 1999, como um capital económico essencial para numerosos países e regiões. Não pretendemos, de forma alguma, justificar com o presente estudo que os turistas que procuram este tipo de atracções praticam apenas este tipo de turismo, mas sim defini-lo como um prolongamento das práticas culturais durante as férias. Acreditamos que as atracções turísticas de índole cultural, terão um papel preponderante no que diz respeito à deslocação de turistas dos pontos centrais do turismo português para outras regiões onde o mesmo não tem qualquer tradição. Para tal, será também necessário termos certezas quanto ao tipo de atracção que estamos a estudar.

De acordo com vários autores referenciados na secção 3.2 do Capítulo III, uma atracção turística poderá ser classificada de várias formas, segundo as características que possui ou de acordo com a perspectiva que lhe é dada pela parte do visitante. Uma atracção primária, por exemplo, segundo a classificação de Gunn (1993), e de Mill e Morrison (1984), é aquela que tem atractividade suficiente para ser o ponto de partida para as decisões de visita e uma atracção secundária, por não ter poder de atracção suficiente, inclui-se, habitualmente, em circuitos ou é um local de passagem para outras atracções de carácter primário. Esta classificação reveste-se de importância quando o objectivo é definir o tipo de atracção que estamos a estudar e no âmbito do desenvolvimento da região onde a mesma se insere.

A gestão operacional da atracção, essencial para o seu bom funcionamento, é outro factor que poderá reflectir-se no número de visitas e por conseguinte no desenvolvimento económico da região. A inexistência de uma gestão de espaços, de pessoas e de toda a logística inerente a este processo (ver secção 3.3.1, Capítulo III) impossibilita a visita, ou torna-a mais penosa. O processo de transformação que ocorre entre uma oferta potencial e uma oferta efectiva é a chave que permite o seu desenvolvimento turístico. A gestão poderá existir mas ser ineficiente, não estando neste caso a atracção a ser explorada da forma mais optimizada. Esta problemática, desenvolvida no Capítulo III, é crucial no estudo que aqui desenvolvemos pois acreditamos que sem uma boa gestão operacional, uma atracção turística não terá a repercussão esperada no sistema turístico em que se insere.

Com um quadro conceptual e teórico bem definido e delimitado, foi-nos possível, partindo da pergunta inicial genérica, chegar aos objectivos geral e específicos do presente estudo. Face à teoria acima exposta o objectivo geral desta dissertação é identificar a atracção turística cultural como factor propiciador de desenvolvimento económico-turístico da região onde se insere. Para melhor operacionalizarmos o objectivo dividimo-lo em outros mais específicos. Assim, e para que possamos identificar o tipo de turistas propenso a visitar este tipo de atracção, temos como primeiro objectivo especifico (1) conhecer as principais características e motivações do visitante das atracções culturais identificando-o como consumidor do tipo de turismo cultural, de forma a obtermos mais informação sobre o tipo de atracção que estamos a estudar, iremos (2) classificá-la. Pretendemos ainda, face ao exposto no Capítulo anterior, (3) identificar, em termos de procura, se existe uma boa percepção e classificação no que diz respeito à gestão operacional da atracção e, finalmente, de forma a obtermos alguns dados respeitantes ao desenvolvimento regional que a mesma poderá exercer, pretendemos (4) avaliar os impactes directos, a nível de alojamento e restauração, produzidos pelos visitantes da atracção, na região onde esta se insere.