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Tendo em vista o exposto, a pesquisa aqui descrita tem por objetivo apresentar contribuições científicas significativas acerca das dificuldades encontradas por um processo de integração – mais precisamente, aquele que tivera início na Europa após o término da II Guerra Mundial –, sendo tais obstáculos relacionados a questões envolvendo a defesa da autonomia nacional, bem como da identidade nacional, ao menos no plano do discurso. Através de um estudo de caso, o da Dinamarca, pretendemos compreender os desafios impostos tanto para constituição de uma integração regional, quanto aos desafios impostos por este processo à esfera nacional.

De forma sistematizada, temos por objetivo entender os motivos e as condições, que exerceram significativo impacto na construção de uma política dinamarquesa reticente com o processo de integração da Europa. Para tal, delimitando a abordagem apresentada pela pesquisa, procuramos compreender em que medida a percepção de uma alternativa nórdica à Europa impactou na construção do, então chamado, ‘dilema de integração dinamarquês’.

Deste modo, esta pesquisa pretende apresentar respostas satisfatórias para as seguintes perguntas fundamentais:

I. Quais fatores podem ser considerados para compreender os motivos pelos quais a Dinamarca - tanto sua elite política, bem como grande parcela de sua sociedade – possui uma política reticente em relação ao desenvolvimento de elementos supranacionais no processo de integração da Europa?

II. Qual é o papel da questão nórdica neste processo? Em que medida o entendimento de comunidades conflitantes contribuiu para o desenvolvimento de uma atitude reticente com o desenvolvimento da Comunidade Europeia/União Europeia?

III. Devido às mudanças conjunturais oriundas do término da ‘ordem’ vigente durante o período da Guerra Fria, como a relação entre os pilares da política externa e de segurança da Dinamarca – o atlântico, o europeu e o nórdico – passa a ser compreendido?

Em conformidade com as perguntas de pesquisa levantadas, este trabalho irá apresentar as subsequentes hipóteses, a serem refutadas ou comprovadas:

a. Demonstraremos a importância de alguns fatores para a construção deste ‘dilema’ enfrentado pela Dinamarca no processo de integração europeia. Em conformidade com a abordagem da sociologia histórica, iremos buscar na construção do Estado moderno dinamarquês elementos que possam elucidar o entendimento acerca do desenvolvimento deste seu ‘dilema de integração’. Para tal, buscaremos demonstrar como a construção moderna da Dinamarca é o resultado de um processo de desmembramento de uma grande potência do norte europeu, cujo resultado final encontra-se em sua atual posição como ‘small state’. Argumentaremos que o grande evento que caracteriza o entendimento moderno do país, a guerra de 1864 contra a Prússia e a Áustria, e a consequente perda dos ducados ao sul do país para a Alemanha unificada por Bismarck, é de extrema importância para a compreensão da política dinamarquesa para a Europa desde o término da II Guerra Mundial, em 1945. Ademais, em conformidade com a pergunta central da pesquisa, é após 1864 que um sentimento pan-Nórdico ira se fortalecer no cenário político dinamarquês.

b. Iremos argumentar que a questão nórdica é de extrema importância para a compreensão da atual política dinamarquesa para a Europa. Embora desde os anos 70 a ideia de uma real ‘alternativa nórdica’ à Comunidade Europeia deixou de existir, a questão nórdica fora de extrema importância para o desenvolvimento da política europeia da Dinamarca, pautando as ações do país em relação ao processo de integração da Europa.

c. Durante a Guerra Fria, a interpretação dominante residia no entendimento de que os três pilares da política externa e de segurança da Dinamarca – a saber, o atlântico, o europeu e o nórdico – representavam acordos institucionais necessários para cumprir com diferentes funções, bem delimitadas e excludentes, e que, dessa forma, não seria possível a junção destes pilares em uma única instituição internacional. Com isso, podemos afirmar que neste período havia uma relativa ‘disputa’ entre estes pilares, caracterizado pela ideia de ‘or Nordic, or EC2, or NATO3’. Com o término da Guerra Fria e o avanço do processo da integração europeia, grande parte da literatura irá afirmar que o eixo nórdico perdeu sua devida importância. Contudo, pretendemos apresentar argumentos que colaboram com a ideia de que após o término da Guerra

2 Sigla correspondente à Comunidade Europeia, em inglês.

Fria a posição ‘or Nordic, or EC, or NATO’ fora modificada para um arranjo ‘Nordic, EU4 and NATO', tendo o pilar europeu adquirido um caráter centralizador.

Desta maneira, a pesquisa aqui apresentada tem por objetivos secundários:

i. Apresentar um estudo empírico detalhado de um caso emblemático de Estado-nação membro de um processo de integração que possui restrições, ao menos no plano formal, ao desenvolvimento institucional da organização – em conformidade com os receios apresentados no início do desenvolvimento dos estudos teóricos acerca da integração, por Karl Deutsch, Ernest Haas e Amitai Etzioni.

ii. Através do estudo do caso dinamarquês, pretendemos contribuir empiricamente para os estudos acerca da conceptualização de ‘comunidade de segurança’, conforme estabelecido por Karl Deutsch. A literatura sobre o assunto trata os países nórdicos como um dos poucos casos emblemáticos de uma ‘comunidade de segurança’ e, ademais, a União Europeia como um exemplo mais recente do mesmo fenômeno. A posição da Dinamarca, como uma ‘ponte’ entre as duas Comunidades, irá favorecer o entendimento deste fenômeno.

iii. Mapear o desenvolvimento e construção dos fluxos da política externa e de segurança internacional da Dinamarca, em ambos os intervalos históricos analisados, ou seja, o período da Guerra Fria, bem como o seu estágio subsequente.

iv. Através do estudo do caso dinamarquês, pretendemos contribuir para a ‘comprovação’ e/ou ‘refutação’ de princípios teóricos desenvolvidos por uma perspectiva científica preocupada em compreender as diferenciações nacionais apresentadas ao longo do processo de integração, chamadas de ‘integração diferenciada’ (differentiated integration).