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Visando a realização dos objetivos anteriormente dispostos, o desenho de pesquisa aqui apresentado está em conformidade com o modelo de pesquisa baseado no estudo de caso. Compactuamos com a seguinte definição:

O estudo de caso é uma abordagem qualitativa à pesquisa na qual o investigador irá explorar um sistema limitado (um caso) ou múltiplos sistemas limitados (casos) ao longo do tempo, através de uma detalhada e profunda coleta de dados, envolvendo múltiplas fontes de informação e reportará, ao final, a descrição do caso (...). (Creswell, 2007; 73)

Ademais, entre os diferentes tipos de estudo de caso, utilizaremos a abordagem do estudo de caso instrumental, onde após apresentaremos um problema real (as dificuldades encontradas ao desenvolvimento de um processo de integração) iremos selecionar um caso emblemático acerca da questão (Dinamarca).

Dessa forma, esta pesquisa irá se constituir através da junção de métodos – dentro de uma estrutura qualitativa – capazes de contribuir com a realização dos objetivos propostos, a saber: (i) sociologia histórica; e (ii) a investigação causal weberiana.

Sociologia Histórica

Ao analisar o caso selecionado, esta pesquisa pretende se utilizar da (i) sociologia histórica, movimento que vem se proliferando nos estudos recentes da política internacional, como método de análise. Ao se basear no uso de estudos históricos para gerar explicações às transformações de longo alcance, capazes de enquadrar o fato social a um nexo amplo, a sociologia histórica irá se constituir como uma ferramenta de extrema importância nesta pesquisa, nos ajudando a compreender as transformações da política dinamarquesa ao longo dos anos. Na essência, a sociologia e a história, em termos de suas preocupações fundamentais, têm como foco o mesmo objetivo: compreender a ‘ação social’ por meio do entendimento do processo de ‘estruturação social’ em uma determinada ordem cronológica.

Originada como uma subdisciplina da sociologia, a sociologia histórica buscou adicionar elementos históricos nas metodologias e construções teóricas para o entendimento da realidade social. De forma geral, conforme apresentado por Gerard Delanty e Engin Isin (2003), a sociologia histórica apresenta, como uma de suas características definidoras, a preocupação com a formação e a transformação da modernidade. A instrumentalização desta abordagem ocorreria no uso de estudos históricos com o objetivo de gerar explicações às transformações de longo alcance, capazes de compreender o fato social em um encadeamento

amplo, usando como ferramenta teórica de pesquisa as tradições sociológicas, tais como a marxista, a durkheimiana, a weberiana, entre outras.

A suposição na qual a sociologia histórica parte reside no entendimento de que grande parte dos problemas enfrentados pela sociologia devem ser resolvidos historicamente. De acordo com Philipe Abrams (1982, ix-x) isso não significa meramente dar um ‘contexto social’ na pesquisa, ou dar um ‘fundo’ histórico para um trabalho sociológico, nem mesmo o mero intercambio entre as duas disciplinas. A sociologia histórica apresentar-se-ia, então, como uma reformulação mais radical dos problemas, ao procurar modificar de forma mais profunda a abordagem da análise científica, por meio de um reconhecimento de que as duas disciplinas estão tentando fazer a mesma coisa e empregando lógicas compatíveis de explicação.

Tal perspectiva sustenta-se na alegação de que estes dois campos do saber, a sociologia e a história, apresentam similaridades em suas preocupações fundamentais, ou seja, possuem o mesmo objetivo enquanto disciplinas: compreender a ação humana por meio do entendimento do processo de estruturação social em uma ordem cronológica estabelecida.

A mesma preocupação encontra-se no trabalho de Raymond Aron (2002, p. 47-69). Para o sociólogo francês, a pura descrição, ou narração, de uma cadeia de fatos históricos não é capaz de analisar e explicar a realidade social, sendo assim, nenhum conhecimento dito científico “pode limitar à descrição e à narrativa". Dessa forma, a importância destas "lições [obtidas através de uma abordagem histórica, empírico-descritiva] não pode ser mantida se elas não forem inseridas numa teoria que abrange o antigo e o novo, identificando elementos constantes para elaborar o inédito, em vez de eliminá-lo".

Ao se deparar com tal realidade, Aron irá demandar a necessidade de uma análise sociológica nas relações internacionais, contudo, sem o detrimento da perspectiva histórica. Desta maneira, o autor irá defender o uso da sociologia-histórica para a compreensão dos fenômenos internacionais, como o instrumento intermediário, necessário e indispensável, entre a teoria (geral) e a descrição pura do evento.

Ao imergir a análise sociológica na história, Aron impede que sua forma de análise teórica torne-se demasiadamente determinista e abstrata; e por se recuar perante ao quadro histórico, Aron também evita o erro de afirmar que as relações internacionais não apresentam padrões recorrentes de comportamento (Frost, 1997, p. 159).

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Em conformidade com o que já fora exposta nesta seção, a nossa pesquisa pretende utilizar-se da (ii) investigação causal weberiana (Weber, 1999; Aron, 2008) ao analisar o caso empírico proposto. Assim, iremos procurar compreender o caso dinamarquês através da identificação de suas causalidades históricas e de suas causalidades sociológicas – “A primeira determina as circunstâncias únicas que provocaram um certo acontecimento. A segunda pressupõe a determinação de relação regular entre dois fenômenos”. (Aron, 2008: 744) Com isso, ao identificarmos o que é de peculiar do caso, poderemos apresentar causalidades possivelmente regulares em mais de um caso. O desenvolvimento da teoria acerca da integração diferenciada5 irá nos auxiliar na identificação das causalidades sociológicas.

Ademais, o estudo empírico terá como base uma análise documental de fontes primárias e secundárias, bem como através de entrevistas informais realizadas com atores relevantes à temática da pesquisa.