• Nenhum resultado encontrado

permaneceram os mesmos, sem modificações

apreciáveis. Igualmente não

sofreram alterações,

nesse período, a organização

do trabalho, de caráter

artesanal, e os métodos de

construção, baseados em

86

de público permitiriam aplicações análogas. Mas, em outros casos, a mediação tecnológica se manifesta na existência de um novo personagem, o especialista. Não se trata de um homem de ciência, mas sim de um técnico que pretende elevar a sua experiência prática (técnica) à categoria de ciência (tecnologia). É a téc- nica querendo pensar a si mesma.

Ao longo do sofisticado desenvolvimento tecnológico do século XX, surgiu a necessidade de colaboração com esse novo personagem, bastante estranho para as concepções arquitetônicas de outras épocas. Os especialistas se intrometem, inevitavelmente, no pro- cesso de criação do arquiteto. O problema se torna como alargar esse momento de intimidade com cria- ção para poder englobar os saberes tecnológicos for- necidos pelos especialistas. A concepção do arquite- to coordenador de equipes multidisciplinares é uma resposta que aproxima Levi a Gropius.

O desdobramento do trabalho do arquiteto num tra- balho coletivo não se limita a colaboração com espe- cialistas de outras áreas. Giorgio Ciucci aponta a alta frequência de trabalhos em grupos de arquitetos no entre-guerras italiano43. Também Mario Lupano obser-

va a existência de uma tendência anti-individualista,

tanto nas concepções urbanísticas de Piacentini, quan- to na sua metodologia de trabalho. A colaboração en- tre arquitetos num mesmo projeto parece ser possível e desejável, na Itália desse período, somente devido a existência de um consenso abrangente sobre a con- cepção do trabalho arquitetônico. Até então a experi- ência de equipes na Itália se limitava ao mestre e seus aprendizes de oficio, estrutura básica das antigas aca- demias de belas-artes. Está ainda por ser feita uma pesquisa que identifique as contribuições individuais nos trabalhos desses grupos, mas diversas lideran- ças são facilmentente identificáveis. O papel destaca- do dessas lideranças sugere a dúvida sobre o quanto a concepção acadêmica, dos mestres e seus discípu- los, conseguiu ser alterada em favor de uma concep- ção de colaboração e coordenação igualitária.

Em 1956 Levi volta a discutir a natureza do trabalho do arquiteto:

(…) o arquiteto não é um especialista. Tanto se es-

tende, porém, o seu campo de ação, que ele não

pode dispensar, no desenvolvimento do seu traba-

lho, da colaboração de inúmeros especialistas. Na

expressão de Gropius, ‘o arquiteto é um coordena-

dor, cuja missão é unificar os inúmeros problemas

O primeiro desdobramento não era mais novidade. A

introdução de uma metodologia analítica de ensino de arquitetura foi estabelecida ainda no começo do sécu- lo XIX, transformando o exercício da composição num conjunto de regras de projeto. Seguindo essa direção a projetação se aproximaria de uma metodologia ob- jetiva, que gradualmente deveria substituir a sua base empírica por uma mais próxima ao trabalho científico. A objetividade científica que se pretendia atribuir ao projeto arquitetônico teria como decorrência lógica a possibilidade de substituição do seu sujeito. O indiví- duo/artista poderia transformar-se em coletivo/grupo de trabalho. Seria nesse quadro que tomaria força a concepção do arquiteto como coordenador de equi- pes interdisciplinares.

Um segundo desdobramento deveria ocorrer direta- mente nas duas áreas orgânicas da arquitetura: a téc- nico-funcional e a técnico-construtiva. Entretanto, nes- tes casos, a ciência é mediada pela tecnologia. Poucas foram as oportunidades em que o conhecimento cien- tífico pôde fornecer diretamente novos métodos para atender, com maior eficiência, as demandas funcio- nais. A acústica tornou-se o melhor exemplo, espe- cialmente pela sua capacidade de sugestão formal ao projeto. Condições de visibilidade, insolação, fluxos

De todas as artes, a arquitetura é talvez a que neces-

sita hoje de conhecimentos científicos mais extensos

e variados e, só nesse ponto, se justifica a expres-

são ‘arquitetura é arte e ciência’. Digo hoje, porque a

construção antigamente obedecia a um número re-

lativamente reduzido de regras, mais ou menos em-

píricas, transmitidas de geração a geração e que se

conservaram quase imutáveis durante séculos. Com

o progresso das ciências e com o advento dos labo-

ratórios de pesquisas, bem como da produção em

série, realizaram-se, nesse particular, modificações

que alteraram consideravelmente a vida do homem.

42

É clara a necessidade de mudança da abordagem na maneira empírica de conhecer o aspecto construtivo e funcional da arquitetura. A transmissão de geração a geração de um número relativamente reduzido de regras, mais ou menos empíricas vigorou, como vimos anteriormente, até o período de sua formação. Levi expressa aqui um juízo sobre a maneira como seus professores adquiriram sua capacitação técnica. A nova abordagem deveria ser estruturada em razão das características apresentadas pela nova condição científica.

87

mais nenhum traço metafísico na idéia artística, tra- ço este que ainda sobreviveria em Corbusier e estaria presente nos procedimentos projetuais de Rino Levi. acaso que a primeira citação mais explicita seja uma

definição do que é o arquiteto, que aponta para a sua própria dissolução numa equipe.

Anos antes deste depoimento, em 1948, a longa des- crição feita por Levi do processo de projetação de um hospital já se referia a uma coordenação metodológica, onde o arquiteto pouco aparece pois seria o seu coor- denador. Entretanto, sua ação especifica ainda existe: é a forma, que “unifica” todas as resoluções dos pro- blemas enfrentados47. Na definição de Gropius, do ar-

quiteto como “coordenador”, este trabalho do artista que realiza a síntese entra em crise.

Gropius propõe uma nova unidade, que supera a sepa- ração clássica entre o artista e a natureza. Para Argan, esta nova unidade entre o “eu-todo” faz desaparecer a concepção clássica da “arte como representação idealizada de uma natureza contraposta”48. O homem,

sujeito artista ou fruidor, estaria incluído na unidade das coisas e dos fenômenos. A diferença com o pen- samento purista expresso por Le Corbusier e Ozanfant radical:

A natureza é um fato exterior ao homem, é múlti-

Documentos relacionados