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As relações de força que levavam aos processos de personificação da empresa percorriam todo o corpo social; e, segundo a forma como essas forças, visíveis e invisivelmente negociadas, eram circuladas, elas se efetivavam numa amplitude que escapava aos tratados políticos.

A personificação consistia no uso de apropriações estéticas e na utilização de artefatos para estabelecer um sistema ritual de produção de realidade que, ao envolver a produção de relações cordiais, mirava sedução e fascinação para a troca de bens simbólicos. Isso encontra Freitas (1997; 1999), e assim como os trabalhos dessa autora, os resultados da etnografia apontam refrações entre perfeição, personificação e família.

Na tentativa de personificação, as empresas se utilizam de muitos atributos humanos e incorpora-os aos seus discursos, nos quais elas aparecem como perfeitas e capazes de restaurar a perfeição perdida daqueles que ela elegeu como seus membros. (FREITAS, 1999, p. 43)

A personificação enquanto prática cotidiana tinha pelo menos três sentidos: um consistia na representação de vida humana à instituição abstrata; em outro sentido, os diretores executivos corporificavam-na, representando em si mesmos a manifestação identitária da empresa; e no terceiro, a perspectiva de instituição abstrata que necessitava de uma existência corpórea via sujeito o fazia personificar a empresa de tal maneira que ele assumia para si características da empresa, objetivando-se a partir disso.

Enquanto ente com forma de vida, a empresa tinha sentidos de pessoa. Existiam significações sobre a existência de um corpo imerso em padrões estéticos e sobre traços de personalidade. No âmbito das significações dos diretores, além de “bela”, a empresa possuía caráter, comportamentos padrão, medos, angústias, qualidades e defeitos; a empresa era simbolizada com personalidade, perfil emocional, perfil psicológico e comportamento sociológico. Enfim: ela era dotada de características típicas de seres humanos.

A principal representação corpórea da empresa estava estritamente vinculada a perspectivas estéticas, no sentido de beleza física – um conteúdo de referência da empresa.

(32) As pessoas que chegam aqui admiram a beleza física da empresa. Falam com a gente que isso aqui não parece empresa, parece um parque. Eles dizem que a gente tem muita sorte de fazer parte disso aqui, que deve ser muito bom trabalhar aqui. Todo mundo acha a empresa muito bonita. [...] E não é só aqui dentro não, tem até gente que vem de fora para ver a beleza da empresa (ALICE HUNT. Fragmentos de enunciações reproduzidas em diário de campo)

180 (33) As pessoas vinham de fora nos visitar. A Dunamis era referência, era modelo. Foi considerada a melhor empresa do Brasil para se visitar. Vinha gente do exterior. O povo ficava impressionado com a beleza, a qualidade, a eficiência dos processos. A gente era melhor em tudo, esse era o nosso posicionamento, era ser melhor em tudo. É isso que a gente sempre buscou, é isso que a gente quer. (AUGUST WALKER. Fragmento de enunciação reproduzida em diário de campo)

Existia um padrão discursivo sobre a estética da empresa que construía a significação de “beleza física”. O compartilhamento social da “beleza física” colocava-a na posição de saber constituinte do acervo de conhecimento social. Além disso, essa significação servia como argumento simbólico para a constituição imagética do “modelo de perfeição”.

Além da realização de uma reificação objetiva da empresa como um ente corpóreo, haviam representações sobre traços de personalidade:

(34) Ela [a empresa] é igual a mim. Temos a mesma personalidade. Ela também é certinha, como eu. A gente é super preocupada com o social, e fazemos nossa vida para atender às pressões da sociedade. Isso é difícil, e facilita estar ao lado de alguém que é parecida comigo (ALICE HUNT. Fragmento de entrevista).

(35) A [nome da cadela] apareceu aí na portaria. Tava desnutrida, magrinha. A Dunamis ficou sensibilizada e

resolveu adotar ela. Deu comida, daquelas cara. Era de qualidade. Levou no veterinário e tudo. Gastou um

dinheirão. Hoje ela tá aí, forte. Viva. Ela [a cadela] retribui a Dunamis vigiando tudo. Ela ajuda os vigias do turno da noite. [...] Isso mostra como a Dunamis é caridosa (ALICE HUNT. Enunciação reproduzida em diário de campo. Meus grifos).

A figura de linguagem prosopopeia (ou personificação) utilizada repetidamente pela gerente de gestão de pessoas para estruturar suas enunciações é um explícito exemplo da prática cotidiana dos diretores que atribuem sentimentos e ações próprias dos seres humanos ao Ser inanimado Dunamis. Outro vestígio disso é a referência dispensada à empresa em que o substantivo nome próprio é precedido de artigo definido feminino (“a Dunamis”). Muito raramente algum diretor se referia à abstrata organização produtiva por meio de termos tais como a empresa, a firma ou qualquer coisa nesse sentido. O gênero feminino pode ser por causa do substantivo comum empresa ser por eles considerado um substantivo feminino – isso talvez explique as significações de filha e não de filho.

O outro sentido da personificação está na característica de instituição abstrata inanimada:

(36) As pessoas não fazem negócio com a empresa, fazem negócio comigo. É meu nome que está em jogo. Se produzirmos um produto ruim, não é a empresa que está entregando, sou eu (AUGUST WALKER. Fragmento de enunciação reproduzida em diário de campo).

(37) É a minha imagem que está em jogo, é o meu caráter, a empresa sou eu. Ninguém tem em mente uma empresa; os negócios são feitos comigo. Uma empresa é abstrata demais, ampla demais, com limites difíceis demais de serem definidos para que seja possível conceber um negócio com uma empresa (JACK KEEFER. Fragmento de enunciação reproduzida em diário de campo).

Pactos tácitos íntimos, simbólicos, entre sujeitos eram formados a partir dos pactos formais necessários para a realização de comércio (troca de bens) entre a Dunamis alguns indivíduos (clientes, funcionários, prestadores de serviços) e outras instituições abstratas representadas por sujeitos que a compunham (por exemplo: concorrentes, concomitantes, fornecedores, clientes). A existência objetiva dos pactos de comércio só era possível mediante a personificação da organização abstrata em um sujeito, que então passava a falar por ela, a agir em nome dela e a tomar

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decisões no lugar dela. Manifestações disso podem ser vistas nos discursos dos diretores sobre a empresa, a maioria deles estruturado por pronomes na primeira pessoa, às vezes no plural, às vezes no singular (o fragmento 013 ilustra isso).

A empresa só podia fazer isso ou aquilo, tal como discursivamente era comum reificarem-na, a partir da influência dos diretores naquilo que eles chamavam de seu território. Isso significa que os limites e os alcances da atuação da empresa estavam condicionados ao escopo e espaço de atuação daqueles signos de sua corporeidade. Nesse sentido, pode-se dizer que a empresa não existia sem a figura do diretor, e sem que ele ocupasse ou construísse um

território. Isso significa que a objetivação da empresa era devida, pois, mais do que à sua planta produtiva, senão

principalmente ao sujeito trabalhador, e mais especificamente ao diretor, que era seu símbolo de existência. A projeção social da ação da empresa sobre a ação dos diretores é que lhe possibilitava ter manifestação física ou atuação objetivada (o reconhecimento social da personificação é evidência disso).

A relação entre representação da capacidade de ação da empresa e seu consequente reconhecimento social de agente levava também à perspectiva de que o sujeito existia porque corporificava a empresa.153 Os sujeitos utilizaram elementos da empresa como argumento de justificação de suas posições de sujeito no mundo. Isso significa que um sujeito só era diretor porque possuía um território que materializava a existência da instituição abstrata, porque personificava e representava a organização. E os sujeitos se realizavam enquanto sujeitos a partir da posição de diretor executivo.

Em suma, assim como a empresa não existia sem a figura do sujeito (diretor) e sem o território que ele ocupava, o sujeito também não existia sem a empresa e sem o território que ela o permitia ocupar. E quanto maior fosse sua capacidade de agente em função de dar existência à empresa, mais densa era a fusão entre empresa e sujeito em um único Ser, e maior era a dificuldade de dissociar vida pessoal de vida no trabalho. Esse mostrou ser um comportamento que não era exclusividade dos diretores.

Nos fragmentos 029 e 018 percebe-se a utilização de pronome pessoal do caso reto na primeira pessoa do singular para cumprir uma estratégia de persuasão colocando o enunciador como agente de operações que geralmente eram significadas à instituição abstrata. A constituição de discursos em que o sujeito se posicionava com capacidade de ação em substituição à instituição abstrata evidencia que a personificação, enquanto efeito de projeções e representações, poderia ter, pelo menos na maior parte das vezes, duas funções simbólicas importantes para os diretores: (a) faziam da empresa um Ser que cada um individualmente gostaria de ser porque (b) assumiam características dela como estratégia de aproximação (simbólica) daquilo que manifestavam verbalmente querer ser (a personificação por algum motivo autorizava-lhes a utilizar as características do Ser Dunamis como argumento de justificação de suas próprias realidades).

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Tal como o jogo de truco propiciava ao jogador uma apropriação estética de si mesmo (SANTOS, 2011a),154 permitindo-o simbolicamente ser aquilo que gostaria de ser, a identificação com a empresa, manifesta na encarnação dela em si mesmo, permitia aos membros da diretoria executiva apropriar esteticamente de si mesmos, aproximando-se daquilo que gostariam de ser. Consoante com aquilo que Flusser (2007) chama de “capacidade para a imaginação”, a personificação, que incluía a encarnação/corporificação, excitava um processo imagético cujo resultado era a produção e a realização de um personagem próximo a um “eu” idealizado pelo diretor. Ao personificar a empresa sobre si mesmo, ao dar-lhe corporeidade por meio de seu próprio corpo, cada diretor executivo simbolicamente aproximava-se do seu “eu ideal”.

A personificação e corporificação eram, portanto, estratégias cotidianas de habitar ludicamente o mundo desejado. Argumentos e justificações estéticas, sejam da existência do Ser Dunamis ou da personificação e corporificação da empresa, possibilitavam-lhes apropriar de si mesmos e do mundo, uma apropriação subjetiva, não racional, não utilitária, tanto mais intuitiva e poética.155

Enquanto sentido de realidade para os diretores, a personificação e a corporificação eram um operador de identidade e de representações coletivas da sociedade ou de grupos específicos.156 Sua composição era efeito da refração de práticas, experimentações, posições, espaços e apropriações que se implicavam mutuamente para a produção de significados nesse sentido.

(38) Minha história? Minha vida? Essa é fácil de responder. É treze anos de Dunamis. Fiz isso minha vida inteira. Eu sou isso aqui. (BRUCE. Fragmento de entrevista)

Alice Hunt acreditava que para os diretores vida pessoal e vida profissional haviam se tornado uma coisa só: (39) Os diretores no começo eram pessoas simples. Foram aprendendo a gostar de coisas caras e chiques aqui dentro. Foi o Keefer que ensinou isso pra eles. Hoje, quando saem daqui, quando estão em casa acabam mantendo o padrão Keefer, acabam exigindo lá fora as mesmas coisas que exigem aqui dentro. Chegam em restaurante e querem o mesmo luxo que eles têm aqui dentro. O padrão de qualidade das coisas deles acabou sendo o padrão de qualidade, que é alto, que o Keefer exige aqui dentro. (Fragmento de enunciação reproduzida em diário de campo)

Eram fugazes as distinções que tinham sobre a realidade pessoal (externa ao ambiente de trabalho) e a realidade profissional. Elas faziam junções tão densas entre elas, que no final das contas elas acabavam se tornando uma só; e com predomínio da vida no trabalho. Símbolo disso é a transposição para a vida social dos mesmos padrões exigidos na

154 Segundo Flores-Pereira (2007), a dimensão estética busca conhecer a experiência sensória. Diferencia-se da dimensão simbólica, já que esta

foca no desvendamento de significados e associações simbólicas.

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Na visão de Enriquez (1974), esse movimento imagético tratar-se-ia da fantasia do ego único: como resposta à ruptura do sujeito colocada por um outro, o ego serviria de cobertura ao sujeito, substituindo o seu “eu” através da fixação imaginária que favoreceria a formação de um ego

ideal (representação da pessoa enquanto onipotência narcísica).

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Dandridge, Mitroff e Joyce (1980) discutem símbolos materiais que contribuem nesse sentido. Eles citam produtos da empresa, logomarca, crachás, broches, prêmios etc.

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empresa,157 padrões esses necessários para suprir as exigências de eficiência e qualidade assumidas como critério de verdade.

Um diálogo que tive com August Walker e uma cena dele que presenciei ajudam a entender os significados que permeiam os sentidos relacionados à perspectiva de personificação. Em uma das pescarias que participei, em certo momento de uma conversa com ele, perguntei-lhe o que era importante em sua vida. Era uma pergunta genérica para não direcioná-lo a qualquer tema, tal como trabalho, família, dinheiro, poder ou o que quer que seja. Eu acreditava que sem apontamento algum ele iria dizer o que lhe fosse mais importante, porque primeiro recorreria às suas concepções e verdades de mundo, às estruturas de sua realidade. Prontamente, o que sugere que não houve tempo de empregar cálculos utilitários ou racionalizações para coordenar um discurso orientado para determinados efeitos, ele me respondeu com o mesmo sorriso e aparente ar de tranquilidade que lhe era costumeiro: “ter respeito, visibilidade, fazer a empresa crescer, fortalecer a marca; fazer a empresa ser modelo, referência. É ter orgulho da empresa [silêncio]”. E quando o perguntei sobre algo ruim em sua vida, ele focou no processo de falência, dizendo: “perdi minha identidade [silêncio]. Tudo o que construí... tudo o que sou”.

Já na ocasião de uma, parafraseando-o, “feira de negócios do setor” (um evento de âmbito nacional em que estavam representadas por seus funcionários diversas empresas do segmento produtivo em que a Dunamis atuava), August conversava com mais quatro pessoas, quando uma delas lhe perguntou “quem é você?”. Subitamente ele respondeu: “a Dunamis”.

Vejamos a estrutura do discurso desse sujeito: (a) Crescer, fortalecer a marca e fazer a empresa ser modelo e

referência, conforme se pode notar no fragmento 018, era o discurso de Jack Keefer sobre a empresa e seu futuro; (b) Ele recorreu somente ao seu papel de diretor, colocando esse papel como elemento central de sua subjetividade na ocasião da pergunta sobre quem seria ele. O posicionamento do papel de diretor como eixo de sua vida era para mim vestígio de que a realidade era uma só, de que ela era uma fusão entre vida pessoal e vida no trabalho, em que esta última era priorizada em detrimento da outra.

Estou descrevendo o comportamento de August Walker para retratar como, de um modo geral, os diretores significavam a si mesmos como sujeitos, isto é, tinham como ponto de partida para os sentidos sobre si seus papéis dentro da organização abstrata. Quero dizer que conceber seu “eu” a partir do ator social diretor executivo não era exclusividade de August. Os membros da direção executiva de um modo geral se concebiam dessa maneira, obviamente de distintas maneiras, pois as realizações de objetivações eram sempre convenientes e coerentes às subjetividades. Contudo, as distinções estavam restritas à assunção da vida no trabalho como eixo central.

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Alguns relatos sobre viagens de finais de semana demonstravam que, na prática cotidiana, não havia diferenças de comportamento entre o pai e o diretor, ou o esposo e o diretor. Exemplo disso foi o relato de Manuel de Oliveira durante um almoço de uma segunda-feira, em que ele descreveu uma exigência que havia feito à sua esposa. Ele reconheceu que havia transposto padrões das relações de trabalho para sua relação conjugal, perplexo com seu comportamento, ele atribuiu-o ao cansaço do dia a dia de trabalho ao afirmar estar precisando de férias. A justificativa para a necessidade de férias foi “eu já num tô conseguindo diferenciar uma coisa da outra”.

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Com base nas discussões de Foucault (1966) e Ruiz (2004) poder-se-ia dizer que a junção entre Ser abstrato e Ser subjetivo, a fundição de um no outro, as imbricações entre sujeito e empresa (a ponto de um embasar a existência do outro) permitia aos diretores executivos tanto transporem aquilo que gostariam de ser para a empresa quanto assimilar representações do que a empresa era para si mesmos. Então, na prática, o efeito da personificação era a produção simbólica de si mesmo.

Em função da personificação, as características da empresa eram transmitidas àqueles que a representavam simbolicamente, as atribuições das características e do caráter da instituição eram transferidas às características e caráter daquele seu representante – o reconhecimento social auxiliava esses movimentos. Temos aí movimentos biopolíticos e individualizantes de poder. A experiência de fornecer um corpo à empresa acontecia por meio de processos de apropriações estéticas, em que o resultado era uma apropriação estética de si mesmo a partir de elementos da empresa – principalmente através de características da empresa, a exemplo da perfeição, que serviam como argumentos simbólicos para objetivarem a si mesmos em sentidos coerentes com aquilo que acreditavam que deveriam ser.

A percepção do mundo enquanto processo estético evoca uma compreensão por meio do prazer – o prazer dessa experiência realizava imaginariamente vivências ritualísticas, mitológicas e fantásticas. Além disso, Martin (2002) explica que a experiência estética modifica aquele que a realiza ao permitir explorações do objeto estético cujos efeitos são fundações implicadas por descobertas. Isso quer dizer que ela é produtora não somente de conhecimento ou de compreensão, como também implica de maneira razoável na realidade. Além disso, infere identidade na vivência da experiência (LINSTEAD; HÖPFL, 2000; WITZ et. al., 2003).

O efeito das experiências e explorações estéticas, mesmo que não se tratassem de uma experiência de gozo, era uma convicção naquela realidade; convicção esta que sedimentava normalidades éticas introduzidas a partir do referencial conceitual de beleza estética.

O resultado final da apropriação estética de si mesmo a partir de elementos da empresa era a fundição de um no outro, que permitia aos diretores executivos atenderem a uma série de interesses e ambições. Por exemplo, uma vez que se confundiam com a própria empresa, então, se a empresa era caridosa ou bela, por dedução lógica eles também seriam, ou pelo menos seriam os responsáveis pela realização fantástica de algo caridoso e belo. Isso significa que, no fundo, um dos efeitos da personificação era a constituição identitária do próprio sujeito via objetivação imagética de sentidos e significados atribuídos à empresa.

As práticas cotidianas relativas à construção simbólica empresa modelo são exemplos disso. A partir do momento que a Dunamis era considerada “perfeita”, e que existia a personificação da Dunamis para si, estabelecendo um movimento de apropriação estética da instituição abstrata para o sujeito “diretor”, simbolicamente acontecia a autodenominação de perfeição para este diretor. Ou seja, ele se significava perfeito porque era a personificação, no

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sentido de corporeidade, de uma empresa considerada perfeita. Ao personificar a empresa, ao fornecê-la objetivação, ele não distinguia suas características das características da empresa; eram um só – fundiam-se.

Isso significa que ao apropriar-se de um ente perfeito, e compreender a si mesmo como sendo esse ente, a não distinção entre sujeito subjetivo e instituição abstrata, revelada pela junção de ambos em um único ente, isto é, em si próprio, desnuda o movimento imagético de se entender como perfeito, e, pois, de “autoendeusamento”, ou “poderoso”. A construção de empresa perfeita, portanto, era conveniente aos diretores no sentido de realização, no duplo sentido do termo, do “eu ideal” de cada um deles.

Em função da personificação, as atribuições das características e do “caráter” da instituição eram transferidas às características e caráter daquele seu “representante” simbólico, compondo-o enquanto sujeito. E características desse sujeito eram atribuídas à instituição abstrata, compondo, assim, um “caráter”, uma personalidade à instituição abstrata. Assim, status e glamour atribuídos à “empresa”, por exemplo, acabavam sendo atribuídos àqueles que simbolicamente davam-lhe existência material. E status e glamour atribuídos àqueles que simbolicamente davam-lhe existência material, acabavam sendo atribuídos à “empresa”.

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