• Nenhum resultado encontrado

1. EMPATIA

2.1. Depressão

2.1.2. Teorias sobre a depressão

2.1.2.2. Perspectiva cognitiva

A visão psicanalítica sobre a depressão deixa subentendidas as distorções cognitivas que podem ocorrer em função de aspectos da dinâmica afetiva inconsciente da personalidade. Partindo de outro vértice teórico, a abordagem cognitiva também salienta a importância dessas distorções na psicogênese dos estados depressivos.

De acordo com a revisão de Knapp e Beck (2008) o modelo cognitivo teve origem com as pesquisas de Aron Beck sobre os processos psicológicos da depressão. A experiência de Beck com a Psicanálise foi importante para o desenvolvimento posterior das estratégias e conceitos da Terapia Cognitiva. Algumas das formulações freudianas que fundamentaram as idéias cognitivistas foram: a idéia da estruturação hierárquica da cognição em processo primário (inconsciente e pautado em fantasias e desejos) e processo secundário (pensamentos acessíveis à consciência e pautados pelo princípio de realidade) e a idéia de que os sintomas são baseados em idéias patogênicas recalcadas. Ao longo de sua carreira profissional, Beck identificou-se com psicanalistas como

Alfred Adler, Harry Sullivan e Karen Horney, que enfatizavam a importância de se entender e lidar com as experiências conscientes, bem como tratar os significados atribuídos pelos pacientes aos eventos de sua vida. Visto desta forma, “a teoria

cognitiva, com seu foco nos processos intrapsíquicos, e não no comportamento observável, é mais um legado da teoria psicanalítica, embora os procedimentos terapêuticos sejam mais semelhantes à terapia comportamental” (p.57).

No trabalho de revisão citado anteriormente, tem-se que a explicação proposta por Beck para os sintomas depressivos centra-se nas distorções cognitivas que levam o indivíduo a interpretações tendenciosas das situações. Tais interpretações são ativadas por pensamentos negativos de si mesmo, do mundo e do futuro. Essa é a tríade de pensamentos negativos que compõe o que Beck denominou de tríade cognitiva da

depressão. Tais pensamentos encontram-se nas fronteiras da consciência e, portanto,

ocorrem de maneira automática, sem reflexão e consideração da realidade. Embora muitos desses pensamentos não cheguem a ser totalmente conscientes, as pessoas podem ser treinadas a monitorá-los e a submetê-los ao teste da realidade a fim de modificá-los.

Na raiz dessas interpretações automáticas distorcidas estão pensamentos disfuncionais mais profundos, chamados de esquemas ou de crenças nucleares. De acordo com Clark, Beck & Alford (1999, citado por Knapp e Beck, 2008), os esquemas são “estruturas cognitivas internas relativamente duradouras de armazenamento de

características genéricas ou prototípicas de estímulos, idéias ou experiências que são utilizadas para organizar novas informações de maneira significativa, determinando como os fenômenos são percebidos e conceitualizados” (p. 57). Os esquemas são

sociais. Posteriormente eles continuam funcionando como uma lente para enxergar as experiências ao longo da vida. Isso ocorre porque os esquemas trazem um nível de carga emocional associado a eles. Um esquema fortemente investido de afeto será mais estável e influente nos julgamentos e ações do indivíduo.

Dentre os pensamentos disfuncionais mais comuns engendrados por esquemas Knapp e Beck (2008) destacam oito categorias, a saber: 1) catastrofização – pensar sempre que o pior vai acontecer sem levar em consideração outros desfechos; 2)

emocionalização – quando o raciocínio lógico é turvado pelas emoções e estas guiam a

interpretação da realidade; 3) polarização – quando os eventos ou pessoas são percebidos de maneira absoluta do tipo ou isso ou aquilo; 4) abstração seletiva – quando somente um aspecto da situação é considerado; 5) leitura mental – presumir, sem evidências, o que os outros estão pensando, desconsiderando outras hipóteses possíveis; 6) rotulação – colocar um rótulo rígido nas pessoas ou situações; 7)

minimização e maximização – quando as características positivas em si e nas situações

são minimizadas enquanto os aspectos negativos são maximizados; e 8) imperativos – visão extremista que se prende sempre ao modo como as coisas deveriam ser ao invés de aceitá-las como são.

Estes pensamentos distorcidos estão inevitavelmente atrelados à percepção do indivíduo em relação a sua auto-eficácia. Segundo Pajares e Olaz (2008), este é um conceito da teoria social cognitiva, proposto por Bandura para se referir às crenças do indivíduo em sua própria capacidade para organizar as experiências e executar ações apropriadas para atingir objetivos específicos. Essas crenças na competência pessoal formam a base para a motivação humana, o bem estar psicológico e as realizações pessoais. Os estados emocionais constituem uma fonte importante de influência sobre a

auto-eficácia. Quando diante de uma tarefa, as pessoas têm pensamentos negativos ou duvidam de suas capacidades, as reações afetivas despertadas podem reduzir a percepção de sua auto-eficácia, aumentando ainda mais a ansiedade que acaba levando a um desempenho inadequado. Dessa forma, pode se criar um círculo vicioso, cujos fracassos sucessivos reforçam cada vez mais a descrença do indivíduo em suas capacidades, favorecendo a instalação do que Seligman (1976, citado por Pajares & Olaz, 2008) chamou de desamparo aprendido, característico dos estados depressivos.

De maneira análoga ao que foi salientado anteriormente com relação às teorias Psicanalíticas, parece plausível supor que nos estados depressivos tais distorções cognitivas podem comprometer a utilização das capacidades empáticas, na medida em que a discriminação de aspectos da realidade interna e externa tende a estar comprometida.

Considerando os componentes da empatia propostos por Davis (1983), podemos hipotetizar que a tomada de perspectiva e a consideração empática estariam comprometidas na depressão, pois estes componentes falam justamente da capacidade do indivíduo se descentrar de seu próprio Eu e checar a realidade social. Em contrapartida, seria esperado que angústia pessoal (sentimento de mal estar subjetivo diante do sofrimento do outro) estivesse aumentada e a fantasia também, uma vez que esta última lida com a dimensão do outro imaginário sem necessariamente levar em consideração suas demandas reais.