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2.6 Nas Trilhas Metodológicas da Pesquisa

2.6.4 Perspectiva da Análise da Pesquisa

Analisei os “achados” do campo investigativo a partir da compreensão das mensagens oriundas da mídia escrita (jornal) e dos depoimentos relacionados ao objetivo e às questões a investigar. Procedi a interpretação por meio da análise de conteúdo. Pires (2002, p. 193), fazendo referência à Bardin explica que

a finalidade de qualquer análise de conteúdo é a de interpretar, isto é, de atribuir significação às características observadas/descritas nas mensagens comunicacionais, isto só é possível através do exercício da inferência, operação lógica que implica extrair consequências ou admitir proposições a partir de sua relação com outras já conhecidas.

Foi neste sentido, ou seja, dando sentido aos dados que na primeira fase desta etapa, organizei o material (jornais e entrevistas), principalmente os trechos significativos à pesquisa (extraídos do material empírico produzido, representando as unidades de registro e de contexto). Sendo assim, com uso do lápis de cor, agrupei (por cores diferentes para cada grupamento) as Unidades de Registro81. O segundo momento foi contextualizar cada grupamento a partir de seu significado para a pesquisa. Por fim, elaborei a análise, conforme Capítulo III, através de uma “narrativa histórica”, fazendo e refazendo os grupamentos.

É bom esclarecer que a utilização da Análise de Conteúdo, seguindo a orientação de Bardin (s/d), representou neste trabalho, apenas a técnica para agrupar os dados e, então, dar sentido a eles. Por isso, percebi no estudo, que há uma comunicação entre emissor e receptor no tocante à mensagem que circulava nos jornais da época, bem como, comunicação na veiculação da equipe de futebol da fábrica (Confiança). Decifrar esses signos e códigos constituiu a tarefa da análise de conteúdo. Articulei os dados, no seu sentido qualitativo, com o referencial teórico, tentando responder às questões investigativas, ou seja, indo além das aparências do

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que está sendo comunicado, ampliando o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando ao contexto cultural, unindo o concreto (dados empíricos) com o abstrato (o olhar dos sujeitos a partir das entrevistas), o geral (aspecto macroeconômico) e o particular (ADC em Aracaju), ou seja, a teoria e a prática numa relação indissociável.

CAPÍTULO III

ANALISANDO: DA FÁBRICA AO CAMPO [...], TECENDO

SEUS FIOS HISTÓRICOS

Vimos como a maquinaria aumenta o material humano explorável pelo capital, ao apropriar-se do trabalho das mulheres e das crianças, como confisca a vida inteira do trabalhador, ao estender sem medida a jornada de trabalho, e como seu progresso, que possibilita enorme crescimento da produção em tempo cada vez mais curto, serve de meio para [...] explorar cada vez mais intensamente a força de trabalho

(KARL MARX, 1996 p. 477).

Aqui, inicia-se uma “trama” na tentativa de compreender o fenômeno estudado. Trata-se então de uma análise que envolve o conteúdo nas suas diversas manifestações/expressões, seja a partir dos recortes dos jornais, seja a partir dos depoimentos dos sujeitos históricos, mediados a partir de uma base conceitual que se configura entre o “objeto” e o “sujeito”. Enfim, trata-se do momento que se caracteriza por buscar dar sentido aos dados empíricos e conceituais.

A análise de conteúdo, que configura esta etapa da pesquisa, visa ultrapassar o senso comum e adotar uma reflexão crítica frente aos documentos (jornais) e entrevistas, a partir do contexto que emergiram a investigação. Não quero entendê-la “deslocada” da realidade, nem tão pouco de uma interpretação estruturada de dados, ou seja, pretendo fazer da análise de conteúdo, como sugere Bardin (s/d), não apenas uma técnica de interpretação, mas um conjunto de estratégias que visam contribuir para desvendar além do simplesmente aparente.

A partir deste entendimento, compreendo que a análise não representa um momento à parte da investigação, mas que se integra à discussão em torno do objeto/fenômeno, pois, não a vejo separada da concepção de mundo exposta na literatura, nem dos aspectos metodológicos, expostos no método. Tudo, nesta

investigação, se entrelaça. Não há, portanto, uma fragmentação do conhecimento, pois, aqui há uma situação que é una e múltipla, local e universal.

Neste aspecto, após a fase de “descoberta” no campo quando se deu a captura das informações - nos jornais e também, a partir dos entrevistados – passei a sistematizar essas fontes. Registrei os aspectos que estabelecem um ponto de conexão entre o concreto – no campo – e os seus significados). Portanto, para identificar o contexto destes registros, ou melhor, compreender a codificação e os seus significados, faz-se necessário esclarecer, previamente, os seguintes aspectos:

- ao me referir à História, encontrei subsídios que explicam a criação do clube, como também o contexto da cidade (Aracaju); dos bairros (de ricos e pobres); da economia do Estado (Sergipe); dos “Patronos” (capitalista) dos clubes; da perspectiva moderna influenciada pela Europa e Estados Unidos; do profissionalismo “oculto” do futebol; da função da fábrica numa relação ideológica com o esporte;

- ao me referir à Mercadoria, estabeleço relações que explicam o esporte enquanto um bem cultural dotado de valor e no fetiche que se materializa nas relações sociais; no trabalho que incorpora os bens simbólicos; no processo de alienação que se sujeita o trabalhador; no processo de semi-formação do homem na sociedade capitalista; na renda advinda do espetáculo esportivo;

- ao me referir ao Espetáculo, busco esclarecer não só sua representação enquanto “show” do jogo esportivo, mas também, significados do modelo de sociedade que estava se configurando; da mercadoria enquanto “bem cultural”; da política pública na construção de “espaços de lazer”; nos jornais (mídia impressa); na construção do espetáculo esportivo;

- Por fim, ao me referir sobre a Mídia, há o entendimento dos meios de comunicação (jornal, rádio, televisão); da criação de órgãos ligados ao esporte (ACES); da criação do espetáculo e dos ídolos do esporte; da promoção e divulgação dos torneios esportivos; do “agendamento” como forma de informar e garantir o público esportivo; como meio de propagação dos bens da cultura (Indústria cultural).

Para o desenvolvimento das reflexões, envolvi esses achados em temáticas (buscando a compreensão dos seus significados) que simbolizam a construção, que é apresentada em forma de “narrativa histórica”, ou seja, no “tecer

os fios da história” dialogando com a base teórica e metodológica adotada para reflexão.

Sendo assim, apresentarei a análise, a partir do surgimento da Associação Desportiva Confiança e, ao ir “tecendo os fios” de sua história, relacioná-lo com o seu contexto cultural, político, social e econômico, numa relação indissociável com a prática (da vida), no sentido de estabelecer classificações do campo de investigação. Com isso, quero dizer, que as representações sociais82, numa perspectiva dialética marxista, compreendem a vida material dos sujeitos históricos que fazem parte de nossa investigação.

Portanto, elaborei temáticas que emergiram de toda construção teórica, metodológica e do campo83 e que se relacionam entre si, sendo apresentadas na forma de tópicos:

1 - Associação Desportiva Confiança: Algumas Épocas Antes...!; 2 - Confiança: A História Continua, Tecendo a História;

3 - “A História Que Não se Conta...!”;

4 - O Profissionalismo “Oculto” do Confiança;

5 - ”Da Fábrica ao Espetáculo do Confiança: Um Casamento Feliz Com a Mídia;

6 - O Espetáculo: do Confiança ou da Sociedade?!; 7 - Nessa História, o Espetáculo Gera Renda; 8 - Criação dos Estádios/Mercados;

9 - O Confiança na Mídia: Considerações Históricas entre 1949 e 1966.

Para identificação acerca dos depoimentos, usei E97, para referir aos

entrevistados do trabalho monográfico84, realizado em 1997. Os sujeitos desta pesquisa foram: E97-1 - Rubens Chaves (filho do dono da fábrica Confiança e foi

Diretor do Clube); E97-2 - Sávio Garcez (Escrevia crônica sobre a história do

Confiança); E97-3 - Viana Filho (Jornalista e um dos historiadores do futebol

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Minayo (1996) – Explica que Representações Sociais é um termo filosófico que significa a reprodução de uma percepção anterior ou do conteúdo do pensamento e nas ciências sociais, são categorias de pensamento, de ação e de sentimento que expressam a realidade. Assim, numa perspectiva marxiana, o pensamento e a consciência, são determinados pelo modo de vida dos indivíduos, ou seja, pelo modo de produção de sua vida material. Portanto, é importante entender, historicamente como o campo investigado foi determinado pelas condições de existência – classes – em um dado período histórico, na sociedade capitalista.

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Campo - Espaço social de relações objetivas e subjetivas.

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sergipano); E97-4 - Odisseu85 (conheceu vários operários que trabalharam na fábrica);

E97-5 - José Walkírio (foi Presidente do Clube na década de 50/60); E97-6 - Marcos

Prado Dias (Médico do Confiança na década de 60/70). Os entrevistados no período atual do trabalho são identificados por E04, sendo os seguintes: E04-1 -

Wellington Elias (Cronista esportivo, atua no rádio e na televisão como comentarista); E04-2 - José Eugênio (Cronista esportivo, um dos fundadores da ACES

e hoje é o atual presidente da Associação Sergipana de Imprensa); E04-3 - Vilder

Santos (Jornalista, ligado ao rádio e conhecedor da história do futebol em Sergipe); E04-4 - Luiz Manoel (Foi jogador profissional e integrou a equipe do Confiança na

década de 60 e hoje é funcionário público federal).