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Apesar de que, no Brasil, tenha se instituído desde 1934, o futebol profissional em Sergipe somente foi oficializado em 1960. É com o Confiança que encontrei indícios da profissionalização, antes mesmo desta data (1960). Não apenas por formar a equipe a partir da Fábrica, mas, sobretudo, pelas condições em que isto se deu. Podem ser citados, como exemplo disso, a contratação do que

simboliza toda dimensão que representou e representa a sua história. Pois, entendemos que esta

existia de melhor, para administrar o futebol, como também, a disponibilidade de materiais (em abundância), o tratamento com os jogadores, exigindo resultados e posturas profissionais, a construção de seu próprio Estádio (primeiro clube na capital), em pouco tempo de existência. Assim como também o posicionamento do Sr. Joaquim Ribeiro, ao contratar árbitro de futebol de fora do Estado, para abrilhantar o espetáculo, comandando o Clube como se estivesse comandando a Fábrica, instituiu assim, um pensamento profissional, mesmo numa época ainda amadora.

Os estudos de Ribeiro (1997), evidenciam que a relação Joaquim

Ribeiro/Clube não se deu de forma tão desinteressada. Ou seja, à medida que o

clube aparecia no contexto sergipano e nordestino, aparecia também e de forma “conjugal”, o espectro da fábrica de tecidos. Antunes (1994, p. 106), explica que, “o prestígio da empresa, não era totalmente dependente do desempenho da equipe de futebol, podia, em parte, ser favorecido por ele. Afinal, o clube era uma espécie de cartão de visita da empresa”.

– Descontentamento nas hastes do Confiança

“Corre com insistência, que vários craques do Confiança abandonarão [...] Clube, em virtude da “dureza” como são tratados [...]”. Diário de Sergipe. 20/10/1949.

E97-1 – Bicho é uma instituição criada no Brasil errada, porque na Europa

não tem, você ganha o seu salário para trabalhar. Você pode, ao término do campeonato, ter uma premiação, se for o campeão. Aqui a obrigação de dar o bicho por vitória é o que quebrou os clubes, [...]. Tem outra coisa chamada luva, [...] faz o contrato tem que dá luva, [...]. Dizem que a carreira de jogador de futebol é curta, só que estão quebrando os clubes todos e os presidentes, em desespero, compram tudo e depois não pagam nada. Não tem dinheiro para pagar o salário, quanto mais essa outra parte. O Confiança [...] era uma equipe profissional para época.

E97-5 – [...] o Dr. Joaquim era um industrial, como industrial ele dirigia

profissionais. [...] apesar de ser um homem amante do amadorismo, pensou profissionalmente.

E04-3 - [...] Dr. Joaquim, buscava os jogadores, dando bons empregos na

fábrica, bons salários, então o clube sempre teve grandes jogadores. Mesmo na época do amadorismo era já era um clube com muita feição profissional.

Associação não veio apenas figurar no cenário esportivo, veio marcar posição, GRANDE.

E04-4 - Eles davam condições, quando tinha jogos importantes eles

concentravam, alugavam chácaras [...]. E tinha o campo ali. Naquela época, [...] o Confiança tinha uma estrutura melhor.

E97-6 – O Roberto Santos, funcionário antigo da fábrica, ele era o elo de

ligação, quando ele sentia que o Dr. Joaquim estava meio desanimado, [...], ele estimulava. Dizia para o Joaquim que o Clube está trazendo a divulgação para o nome da fábrica (grifo meu), enfim, começou com Roberto Santos a idéia e ele sempre cuidava do campo, cuidava prá não faltar material esportivo. Já havia a visão que o retorno, quer queira ou não já estava vindo. Por isso, que de um tempo prá cá algumas pessoas já começaram a colocar propaganda em troca dessa divulgação da publicidade, então eu acho que o Confiança hoje representa mais ainda, principalmente quando ele começa a fazer uma campanha muito boa, você chega na Paraíba, Recife todo mundo conhece o Confiança, quem é o Confiança? da fábrica Confiança, essa divulgação mereceria, por parte da fábrica, maior apoio. De trazer atletas, contratar. Eu acho que é importante uma coisa até de marketing da própria fábrica, se ele se destaca cada vez mais, a nível nacional é bom prá fábrica. E ninguém vai pode desvincular.

O futebol vai ganhando expressão/expansão no Brasil e em Sergipe. Verifica-se que se tornou uma das grandes opções de lazer, principalmente nos centros urbanos, devido à possibilidade de sua prática, sem necessariamente ter que disponibilizar recursos financeiros, ou seja, os jovens, adultos, trabalhadores, passaram a praticá-lo e também a assisti-lo. Depois, o futebol virou um espetáculo muito apreciado, capaz de atrair milhares de pessoas dispostas a pagar. Assim, se deu na Inglaterra e assim se deu no Brasil.

A princípio desenvolvido como um esporte amador e modelador do caráter pelas classes médias da escola secundária, foi rapidamente (1885) proletarizado e portanto, profissionalizado; [...]. Com a profissionalização, a maior parte das figuras filantrópicas e moralizadoras da elite nacional afastou-se, deixando a administração dos clubes nas mãos de negociantes e outros dignitários locais, que sustentaram uma curiosa caricatura das relações entre classes do capitalismo industrial, como empregadores de uma força de trabalho predominantemente operária, atraída para a indústria pelos altos salários, pela oportunidade de ganhos extras antes da aposentadoria (partidas beneficentes), mas, acima de tudo, pela oportunidade de adquirir prestígio (HOBSBAWM apud PRONI, 2001 p.27).

Esta análise de Eric Hobsbawm refere-se ao caso do futebol inglês e que deu origem a uma nova luta de classes (disputa ideológica). Guardadas as suas

proporções, aqui no Brasil e em Sergipe, em especial, não foi muito diferente uma vez que o futebol local, era praticado por uma elite e que depois, se popularizou. E neste aspecto, o Bairro simbolizava um momento de extensão das folgas, das brincadeiras e com isso, compunha um grupo que ia prestigiar seu clube (futebol) – torcidas – assistindo as partidas de futebol. É nesse contexto, entre torcedores e clube que a imprensa “aproxima” – para mediar – seus “apaixonados” torcedores.

O regime profissional, mesmo que seja de “fachada”107 passa a ser melhor aceito, devido ao processo de mercantilização da cultura nas cidades (Aracaju). É neste sentido que os meios de comunicação passam a alcançar as camadas populares, ou melhor, a intermediar o processo de acesso destas ao espetáculo esportivo.