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2   O Estado Desenvolvimentista: uma revisão conceitual 18

2.2   Tipologias de Estado desenvolvimentista 22

2.2.5   Perspectivas de desenvolvimento: desenvolvimentismo brasileiro no século

As duas últimas décadas do século XX foram “[...] decisivas na produção de mudanças que levaram à ruptura com o antigo modelo do nacional- desenvolvimentismo” para as sociedades da América Latina (DINIZ, 2007, p.19). Nessas duas décadas, houve mudanças de grande amplitude, devido a muitos fatores, externos e internos. A autora cita fatores como as sucessivas crises internacionais; a pressão do FMI e do Banco Mundial, além daquela de outras agências multilaterais; a globalização; a queda do socialismo; e o fim da Guerra Fria como os fatores mais importantes das mudanças nos anos 1980. Especialmente na América Latina, tiveram grande impacto nas políticas desenvolvimentistas os ajustes que o Banco Mundial e o FMI encorajaram os países a implementarem. Ao mesmo tempo, a terceira onda de

democratização começou, em âmbito mundial, a qual se destaca pelo resultado político da construção de uma ordem democrática mais estável. Houve uma ruptura com a tradição autoritária; consequentemente, emergiram a tolerância ao dissenso e o respeito à negociação política. Porém, no Estado brasileiro, “[...] persistem alguns desafios que não podem ser subestimados” (DINIZ, 2007, p. 23), após essa transição e a subsequente implementação de alguns dos conceitos liberais ortodoxos do Consenso de Washington.

É possível afirmar que, hoje em dia, existem três modalidades de déficits sociais que impedem o Estado democrático e desenvolvimentista de se realizar no Brasil: o déficit de inclusão social; o déficit de capacidade de implementação do Estado e o déficit de accountability, que a autora define como “expandir e tornar efetivos os mecanismos de controle das políticas governamentais” – o quais fortaleceriam os mecanismos de responsabilização pública dos governantes diante da sociedade (DINIZ, 2007, p. 23-24).

Esses déficits servem como prova de que a “virada institucional” brasileira está “ainda por vir”. (BALESTRO, 2011, p. 95) “Um dos desafios institucionais do Estado brasileiro para desempenhar seu papel de liderança em uma estratégia nacional de desenvolvimento é a construção de uma governança que permita a colaboração entre as agências governamentais [...]” (BALESTRO, 2011, p.95).

Embora talvez seja necessária uma mudança maior na estrutura política econômica para “a chegada do capitalismo brasileiro a um novo patamar“ (BALESTRO, 2011, p. 99), algumas políticas implementadas no novo século podem ser entendidas como políticas de largo alcance, que buscam mudanças na arena do desenvolvimento tecnológico brasileiro.

O Estado desenvolvimentista tem uma crescente importância para manter uma economia bem-sucedida. Afirma Evans (2008), “Se o Estado desenvolvimentista foi importante para o sucesso econômico do século XX, será muito mais importante para o sucesso do século XXI.”10 (EVANS, 2008, p. 13). As instituições públicas precisam agir agressivamente para realizar produtividade potencial e, também, para alcançar novos patamares de bem-estar que a economia do século XXI tem como providenciar (EVANS, 2008).

Porém, no caso da maioria dos países, alcançar um novo patamar exige uma transformação das instituições do Estado. Como visto aqui, o Estado

10 Tradução nossa. Texto original: “If the developmental state was important to 20th century economic success, it will be much more important to 21st century success.”.

desenvolvimentista, em todas as suas formas, traz alguns assuntos problemáticos. Após a crise de 2008, esses problemas só foram magnificados. No caso da Europa, o Estado não tem a capacidade de resolver disputas entre sindicatos e firmas; o Estado de bem- estar social, embora ainda vivo, precisa de um suporte maior. Como coloca Visser (2006), os pilares do modelo de relações sociais na Europa mal estão aguentando ficar em pé.

Nos Estados Unidos, o Estado desenvolvimentista existe e funciona: facilita inovação e novos desenvolvimentos tecnológicos. Porém, não se consegue espalhar as ações do Estado, pois vai contra a lógica do fundamentalismo do mercado. Isso, em essência, resulta num Estado desenvolvimentista, mas não democrático; o povo não tem escolha sobre o tipo das ações desenvolvimentistas do Estado, porque essas ações são ocultas. A natureza oculta do Estado desenvolvimentista norte-americano resulta numa queda do Estado bem-estar do país. O discurso predominante é um discurso de fundamentalismo, de independência do governo e uma crença na ideia de “pull oneself up by one’s bootstraps”, ou seja, cada um se vira sozinho.

No Brasil, algumas políticas mostram a existência de um novo modelo de desenvolvimentismo no Estado; porém, não é possível alcançar um novo patamar de desenvolvimento se não se lidar com pelo menos três déficits sociais existentes no país. O Estado precisa enfrentar seu histórico, tanto da época autoritária quanto da época neoliberal predominada pelo Consenso Washington.

3 Ciência sem Fronteiras: uma política de um estado

desenvolvimentista?

Como um programa que, segundo o site institucional, “[...] busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional.” (CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS, grifo nosso), o CSF personifica uma iniciativa de um Estado desenvolvimentista. O Programa é uma iniciativa conjunta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação (MEC). O Programa tem a previsão de conceder 101 mil bolsas até 2015 para “[...] promover intercâmbio [...] com a finalidade de manter o contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação.” (CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS, grifo nosso). O Programa também tem a finalidade de atrair pesquisadores de outros países interessados em se estabelecer no Brasil ou fomentar parcerias com os pesquisadores brasileiros nas áreas mencionadas. O CSF também oferece oportunidades para pesquisadores de empresas receberem treinamento no exterior. A formação de recursos humanos em si é um requisito básico para o desenvolvimento da ciência e tecnologia no país; a competitividade global do Brasil somente melhora se o país for produtor de conhecimentos e tecnologias. Todos os objetivos mencionados aqui são plenamente compatíveis com aqueles de um Estado desenvolvimentista. Pelo Programa CSF e o resultante treinamento técnico, o Estado brasileiro busca o aumento do desenvolvimento tecnológico e da inovação no país.