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Perspectivas do Regime Próprio de Previdência dos Servidores Públicos

Sobre as perspectivas do Regime Próprio de Previdência do Servidor Público, pode-se destacar a convergência das regras que definem os regimes próprios de previdência social para uma unidade cada vez mais próxima do regramento que regula o Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Nesse sentido, a Emenda Constitucional nº 20/1998, bem como a Emenda 41/2003, vêm tratando da instituição de regime de previdência complementar aos servidores públicos, de maneira que o valor das aposentadorias e pensões do regime próprio seja baseado no teto do Regime Geral de Previdência Social, sendo que, a contribuição se dará no montante de 11% sobre o mesmo valor teto supracitado.

Primordialmente, vale destacar, o ensinamento de Dias e Macêdo (2010, p. 192):

Ressalta-se que não é submissão do servidor às normas do Regime Geral de Previdência Social, mas unicamente do teto desse Regime de Previdência no Regime Próprio. O servidor público continuará tendo os seus direitos regulados pelo art. 40 da CF, apenas submetendo-se ao limite de contribuição e percepção de benefício do Regime Geral. Em resumo: teríamos o Regime Próprio de Previdência Social limitado ao teto do Instituto Nacional do Seguro Social.

Diante disso, com as transformações trazidas pelas Emendas Constitucionais, a questão da regulamentação posterior, por lei ordinária de iniciativa do poder Executivo, conforme transcrição a seguir:

Artigo 40 – Constituição Federal de 1988:

[...]

§ 14 - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, desde que instituam regime de previdência complementar para os seus respectivos servidores titulares de cargo efetivo, poderão fixar, para o valor das aposentadorias e pensões a serem concedidas pelo regime de que trata este artigo, o limite máximo estabelecido para os benefícios do regime geral de previdência social de que trata o Art. 201.

§ 15. O regime de previdência complementar de que trata o § 14 será instituído por lei de iniciativa do respectivo Poder Executivo, observado o disposto no art. 202 e seus parágrafos, no que couber, por intermédio de entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública, que oferecerão aos respectivos participantes planos de benefícios somente na modalidade de contribuição definida.

§ 16 - Somente mediante sua prévia e expressa opção, o disposto nos §§ 14 e 15 poderá ser aplicado ao servidor que tiver ingressado no

serviço público até a data da publicação do ato de instituição do correspondente regime de previdência complementar.

Freitas (2012, p. 113) comenta, em análise ao Projeto de Lei 1992/2007 que versa sobre a instituição da previdência complementar (fundos de pensão) dos servidores, que: “a implantação da previdência complementar do servidor público terá como consequência a extinção gradual do atual regime de previdência que garante a integralidade dos benefícios pagos aos servidores.”

Ademais, complementando o exposto anteriormente, Leonardo Alves Rangel (2005, p.01):

Pode-se afirmar que a previdência complementar dos servidores públicos, prevista na Emenda Constitucional nº 41, terá duplo caráter a partir do momento de sua implantação. O primeiro será a complementação das aposentadorias dos servidores públicos que forem legalmente afetados pelo teto de pagamento de benefícios; outro será a formação de uma poupança de longo prazo que poderá servir como fonte de financiamento para investimentos de longa maturação, o que é de extrema importância para o desenvolvimento do país.

Recentemente, em 30 de abril de 2012, foi sancionada a Lei 12.618/2012 que, conforme ementa, “institui o regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo.”

Para a efetivação da Lei faz-se necessária a criação dos Fundos de Previdência Complementar. O Funpresp-jud, criado pela Resolução Nº 496, de 26 de outubro de 2012, publicado no Diario da Justiça Eletrônico do Superior Tribunal Federal, e está vinculado ao STF. Já o Funpresp-exe, criado pelo Decreto nº 7.808, de 20 de setembro de 2012 e está vinculado no âmbito do Poder Executivo. Importa destacar que, o Funpresp-leg será vinculado ao funpresp-exe, conforme destaca Doris Peixoto, em entrevista publicada no site Agência Senado, notícias da Redação do Senado:

Os servidores do Legislativo vão poder aderir à Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe). A decisão foi anunciada nesta sexta-feira, em entrevista à TV Senado, pela diretora-geral do Senado, Doris Peixoto, que aguarda apenas a regulamentação do Funpresp-Exe pelo Ministério do Planejamento para formalizar a adesão. O Decreto

7.808/2012, assinado pela presidente Dilma Rousseff no dia 20, ao criar a Funpresp-Exe, já prevê a possibilidade de adesão àquele fundo dos servidores públicos do Senado, da Câmara dos Deputados, do Tribunal de Contas da União (TCU), do Ministério Público da União e do Conselho Nacional do Ministério Público.

Ademais, o funcionamento dos fundos ainda depende do cumprimento de vários requisitos, como a elaboração de seu estatuto, a celebração de convênios e a própria autorização para operar. O prazo estipulado é janeiro de 2013.

Concluem os autores Castro e Lazzari (2008, p. 129):

Os entes que chegarem a instituir fundo de previdência complementar terão que conviver, durante longo período, com uma duplicidade de situações: de um lado, os ocupantes de cargos públicos que ingressarem antes da instituição do fundo de previdência complementar, que continuarão recolhendo contribuição sobre a totalidade da remuneração auferida e terão direito a benefícios cujo valor máximo será a própria remuneração do cargo, e o teto de remuneração da Administração Pública a que pertence; de outro lado, os que ingressarem após a instituição do fundo, que contribuirão sobre a remuneração, desde que esta não ultrapasse o valor-teto fixado para o RGPS, e receberão benefícios calculados por média, com valor máximo igual do RGPS. Ou seja, essa nova condição se assemelha praticamente em tudo a condição dos segurados do RGPS, salvo pela inexistência do “fator previdenciário” sobre aposentadorias voluntárias no serviço público.

Enfim, o Regime Próprio dos Servidores Públicos terá que se adaptar às novas alterações, essencialmente no que diz respeito à previdência complementar e, com isso, aos Fundos de Previdência criados para esse fim, de maneira que cada servidor público ingressante no serviço público a partir de então, possa garantir, minimamente, uma aposentadoria digna, uma vez que a contribuição sobre o teto do Regime Geral de Previdência Social não perfaz o valor que, anteriormente, serviria de base para a sua aposentadoria, qual seja, um valor conforme a média do seu salário de contribuição.

CONCLUSÃO

Ao finalizar o presente trabalho monográfico concluí-se que os servidores públicos possuem regras especiais para obtenção de sua aposentadoria. Nesse sentido, prevalecem as normas constantes na Constituição Federal de 1988, especialmente em seu artigo 40, caput e parágrafos.

A legislação brasileira sempre garantiu regramento especial para os servidores públicos, aos quais garantia-se o direito de obtenção da aposentadoria com regras mais atrativas do aquelas alcançadas aos trabalhadores da iniciativa privada. Essa sistemática foi inclusive mantida e confirmada pelo texto original do art. 40 da CF/88. Ocorre que, a partir do final da década de 90 do século XX, o referido artigo sofreu inúmeras alterações, especialmente a partir das Emendas Constitucionais nº 20/1998, nº 41/2003 e nº 47/2005, bem como com o advento de regras transitórias e definitivas, que passaram a regular o regime próprio de previdência dos servidores e os requisitos levando em consideração, especialmente, a data de ingresso dos servidores na Carreira Pública e, também, da data em que foram preenchidos os requisitos para a concessão da aposentadoria, sempre respeitando o direito adquirido frente às novas alterações constitucionais.

Todas as reformas determinadas pelas citadas Emendas Constitucionais buscaram aproximar as regras que definem o Regime Próprio de Previdência Social dos Servidores Públicos das regras que disciplinam o Regime Geral de Previdência Social, demonstrando que o sistema previdenciário brasileiro aproxima-se da unificação dos diferentes regimes.

Na perspectiva das mudanças futuras e já legalmente definidas encontra-se a previdência complementar do servidor público. Inicialmente os servidores públicos federais experimentarão tal sistema, com a definição de regramento específico e a criação dos Fundos de Previdência Complementar. Por fim, a aposentadoria ‘especial’ dos servidores públicos está se aproximando e se assemelhando ao regramento da aposentadoria do Regime Geral de Previdência Social.

REFERÊNCIAS

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_____. Decreto nº 7.808, de 20 de setembro de 2012. Cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo - Funpresp-Exe, dispõe sobre sua vinculação no âmbito do Poder Executivo e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 21 set. 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Decreto/D7808.htm>. Acesso em 30 out. 2012.

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_____. Lei nº 12.618, de 30 de abril de 2012. Institui o regime de previdência complementar para os servidores públicos federais titulares de cargo efetivo, inclusive os membros dos órgãos que menciona; fixa o limite máximo para a concessão de aposentadorias e pensões pelo regime de previdência de que trata o art. 40 da Constituição Federal; autoriza a criação de 3 (três) entidades fechadas de previdência complementar, denominadas Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe), Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Legislativo (Funpresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário (Funpresp-Jud); altera dispositivos da Lei no 10.887, de 18 de junho de 2004; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, disponibilizado 30 abr. 2012, publicado 02 mai. 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12618.htm>. Acesso em: 30 Out. 2012.

______. Resolução Nº 496, de 26 de outubro de 2012. Cria a Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Judiciário – Funpresp-

Jud, dispõe sobre sua vinculação ao STF e dá outras providências. Diário da justiça Eletrônico, Brasília, DF, disponibilizado 26 out. 2012, publicado 29 out. 2012. Disponível em: <https://www.stf.jus.br/arquivo/djEletronico/DJE_20121026_213.pdf.> Acesso em: 30 out. 2012.

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