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CAPÍTULO II – A PERTURBAÇÃO DE HIPERATIVIDADE E DÉFICE DE

2.2. Perspetiva atual da definição do conceito PHDA

A PHDA é a perturbação mais estudada dos últimos 20 anos no campo da psiquiatria infantil e, segundo a investigação científica, é uma perturbação neurobiológica inata e transmitida, em grande parte, geneticamente (Scandar, 2007). Atualmente, existem três grandes perspetivas, relativamente à definição da perturbação e das suas formas de diagnóstico, sendo elas: a Americana, a Francesa e a da Organização Mundial de Saúde. No entanto, é a Associação Americana de Psiquiatria que mais se tem destacado na investigação da PHDA.

A identificação e atuação precoce poderão marcar toda a diferença na vida de quem sofre esta perturbação. Contudo, o diagnóstico pode não ser tarefa fácil, pois pode haver situações em que os indivíduos não manifestem as dificuldades características, nomeadamente quando se encontram em situações de grande interesse e envolvimento pessoais (Taylor, 2007). Uma das particulares da PHDA é a elevada comorbilidade com outras perturbações psiquiátricas ou neurológicas, designadamente, e segundo Benassini (2005, citado por Ramalho, 2009), com as Perturbações Específicas do Desenvolvimento (onde estão implícitas as Perturbações de Aprendizagem, Leitura, Cálculo, Escrita, Habilidades Motoras e as de Comunicação/Linguagem), Perturbações Emocionais (onde estão implícitas as Perturbações Depressivas e de Ansiedade) e, por último, com Perturbações de Conduta e de Adaptação Social (onde estão inseridas as Perturbações de Conduta Desafiante e Oposicionista), o que condiciona, em muitos casos, o diagnóstico e a definição de um plano terapêutico (Barkley, 2006).

É comum os pais verificarem, como característica mais proeminente, a elevada variabilidade diária destas crianças. As características da PHDA são alteráveis entre si e entre as crianças. É invulgar descobrir um sujeito com todas as características de hiperatividade e/ou de défice de atenção (Moreira, 2009).

Assim sendo, existem subtipos de PHDA, conforme o padrão sintomático predominante nos últimos seis meses, de acordo com APA.

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Para o diagnóstico é fundamental que a criança apresente os sintomas antes dos sete anos, com a duração de pelo menos seis meses. Os sintomas devem manifestar-se em vários contextos de ação da criança, como por exemplo, na escola e em casa. Os sintomas de falta de atenção, impulsividade e hiperatividade devem ser muito evidentes pela sua frequência, gravidade e intensidade. Os comportamentos das crianças com PHDA causam problemas graves em contextos múltiplos.

Segundo Neto (2010), a PHDA é um distúrbio neuro-comportamental caracterizado pela falta de atenção e concentração, impulsividade, agitação motora excessiva, instabilidade de humor e dificuldades em exprimir-se.

Neste Manual DSM-5 foram poucas as modificações ao diagnóstico da PHDA, de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1 – Critérios diagnósticos DSM-5

A. Um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade- impulsividade que intervém no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2):

1. Desatenção: Seis (ou mais) dos

sintomas descritos a seguir, com persistência de pelo menos

seis meses, num grau

contraditório com o nível do

desenvolvimento e com

impacto negativo direto nas

atividades sociais e

académicas/profissionais: para adolescentes mais velhos e adultos (dezassete anos ou mais), são necessários pelo menos cinco sintomas.

(Denote-se que os sintomas não são apenas uma manifestação de comportamento opositor,

desafio, hostilidade ou

dificuldade para compreender tarefas ou instruções).

a. Com frequência não dá atenção a

detalhes ou comete erros por distração em atrefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (por exemplo: negligencia ou deixa passar detalhes, o seu trabalho é pouco rigoroso).

b. Frequentemente apresenta dificuldade

em conservar a atençãona realização das tarefas ou atividades lúdicas (por exemplo: dificuldade de se manter atento durante as aulas, conversas ou leituras prolongadas).

c. É frequente parecer não ouvir quando

alguém lhe dirige a palavra dirtamente (por exemplo: parece estar com a

cabeça longe, mesmo na ausência de

qualquer distração).

d. Com frequência não segue instruções

até ao fim e não consegue acabar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (por exemplo: começa as tarefas, mas rapidamente se dispersa e desorienta).

e. Apresenta frequentemente dificuldade

na organização de atrefas e atividades (por exemplo: dificuldade em gerir tarefas sequenciais; dificuldade em manter materiais e objetos pessoais ordenados; trabalho desorganizado e

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desleixado; má gestão do tempo; dificuldade em cumprir prazos).

f. Com frequência evita, não gosta ou

resiste ao envolvimento em tarefas que exijam esforço mental prolongado (por exemplo: trabalhos escolares ou lições de casa, no caso das crianças e adolescentes; preparação de relatórios, preenchimento de formulários e revisão de trabalhos extensos para adolescentes mais velhos e adultos).

g. Perde frequentemente materiais necessários para tarefas ou atividades (por exemplo: materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras,

chaves, documentos, óculos,

telemóvel…).

h. É frequente distrair-se com estímulo

externos (para adolescentes mais velhos a adultos, pode incluir pensamentos não relacionados).

i. Esquece frequentemente atividades

quotidianas (por exemplo: realizar tarefas, obrigações para adolescentes mais velhos e adultos, responder a ligações, pagar contas, manter horários agendados).

2. Hiperatividade e impulsividade: seis (ou mais)

dos sintomas que a seguir se apresentam, com persistência de pelo menos seis meses, num grau contraditório com o nível do desenvolvimento e com impacto negativo direto nas

atividades sociais e

académicas/profissionais: para adolescentes mais velhos e adultos (dezassete anos ou mais), são precisos pelo menos cinco sintomas.

Os sintomas não são só uma

manifestação de

comportamento opositor,

desafio, hostilidade ou

dificuldade para entender

tarefas ou instruções).

a. Frequentemente mexe ou bate as mãos

ou os pés outorce-se na cadeira.

b. Levanta-se com frequência da cadeira

em situações em que se espera que fique sentado ( por exemplo: sai do seu lugar na sala de aula, no escritório ou noutro local de trabalho ou em qualquer outra situação que obrigue a permanecer nomesmo local).

c. Corre ou sobe às coisas frequentemente

em situações em que isso não é apropriado. (Nos adolescentes ou adultos, este sintoma pode limitar-se a demosntrações de inquietude).

d. Geralmente não é capaz de brincar ou de

se envolver calmamente em atividades lúdicas.

e. Frequentemente “não pára”, atuando

como se estivese “com o motor ligado” (por exemplo: não consegue ou sente-se desconfortável por ficar parado muito tempo no mesmo lugar).

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g. Com frequência responde antes que a

pegunta tenha sido acabada (por exemplo: termina frases dos outros, não consgue esperar pela sua vez de falar).

h. Geralmente tem dificuldade em esperar

pela sua vez (por exemplo: aguardar numa fila).

i. Interrompe ou intromete-se com frequência (por exemplo: mete-se nas conversas, nos jogos…; usa as coisas de outras pessoas sem autorização. Os

adolescentes e adultos podem

intrometer-se ou assumir o controle sobre as atividades dos outros).

B. Diversos sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade já se encontravam presentes antes dos

doze anos de idade.

C. Vários sintomas de desatenção ou hieratividade-impulsividade subsistem em dois ou mais ambientes

(por exemplo: em casa, na escola, no trabalho; com amigos ou parentes; noutras atividades).

D. Há provas claras de que os sintomas intervêm no funcionamento social, académico ou profissional ou

de que atenuam a sua qualidade.

E. Os sintomas não aparecem unicamente durante o percurso de esquizofrenia ou outro distúrbio psicótico

e não conseguem ser explicados por outro distúrbio mental (por exemplo: distúrbio do humor,

perturbação de ansiedade, distúrbio dissociativo, distúrbio da personalidade, intoxicação ou abstinência de substância).

Fonte: (Adaptado de APA, 2013 pp. 59-60)

Perante a lista de dezoito sintomas, nomeadamente nove de desatenção, seis de hiperatividade e três de impulsividade, manteve-se inalterada em relação à edição anterior.

O número de sintomas referidos do qual se faz o diagnóstico, também permaneceu o mesmo (seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade- impulsividade), sendo que no caso de adultos, este número modificou-se para cinco sintomas, tornando-se um novo critério. A lista de sintomas de desatenção e hiperatividade-impulsividade compreende o critério A. O critério B, que determina a idade de início dos sintomas, teve alterações, uma vez que anteriormente era necessário demonstrar que os sintomas estivessem presentes antes dos sete anos de idade. O limite da idade foi modificado para doze anos. Os critérios C e D permanceram sem alterações

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significativas. No que diz respeito ao critério E, este teve alterações, podendo neste momento fazer o diagnóstico de PHDA, também em caos de um quadro de Autismo.

Nos dias de hoje os psicólogos, psiquiatras, médicos e outros clínicos consideram que a PHDA assenta em três problemas fundamentais: na dificuldade que o indivíduo tem em manter a atenção, atividade excessiva e controle ou inibição dos impulsos. Barkley e outros profissionais acham que os indivíduos que apresentam esta problemática podem apresentar dois problemas adicionais: instabilidade constante em dar respostas a determinadas situações escolares e dificuldades em seguir normas, regras e instruções (Barkley, 2002).

De acordo com Antunes (2011), no que diz respeito à PHDA, pais, professores e “media” enfatizam a questão da hiperatividade, isto é, da agitação motora. Não se nega que este seja um problema essencial e, na maioria das vezes a face mais visível da disfunção. No entanto, é de salientar que a maior parte das vezes, a agitação motora resulta da incapacidade da criança em se concentrar numa atividade. Deste modo, indica uma dificuldade na seleção dos estímulos relevantes, em manter a atenção orientada durante um determinado período de tempo. Por outro lado, a criança hiperativa ao iniciar a adolescência pode permanecer desatenta e impulsiva, existindo no entanto uma melhoria em função do avanço da idade.