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Perspetiva institucional dos ucranianos em Portugal: visão da dirigente do CPR

Foi realizada uma entrevista à Dr.ª Maria Teresa Tito de Morais Mendes, Presidente da Direção do CPR, de modo a ser captada a sua perspetiva acerca das razões que explicam os pedidos de asilo ucranianos para Portugal e qual o impacto do conflito neste sentido. Procurou-se também compreender qual o padrão das redes sociais formadas pelos requerentes de asilo ucranianos em Portugal e, além disso, de que forma o CPR tem potenciado o aumento da rede formada por aqueles, bem como a sua integração.

A realização desta entrevista teve como propósito a produção de informação mais fidedigna, visto que é confrontado o ponto de vista institucional com o dos requerentes de asilo entrevistados (capítulo 5).

Refletindo primariamente acerca das razões que explicam os pedidos de asilo ucranianos em Portugal, nomeadamente a partir de 2015, quando se verificou a chegada da grande vaga de requerentes de asilo ucranianos (cerca de 368), a Presidente da Direção do CPR explica alguns dos motivos que os levam a escolher Portugal:

Considerando os pedidos de asilo da população ucraniana efetuados inicialmente (2015) face ao presente (2017), a Dr.ª Maria Teresa Tito de Morais Mendes ressalta que estes têm diminuído, ocorrendo também alterações nos motivos que os justificam. Nesse sentido, a Presidente da Direção do CPR menciona:

Chegados a Portugal, os requerentes de asilo ucranianos usufruem do suporte de conterrâneos, nomeadamente de familiares e amigos. Na perspetiva da Presidente da Direção do CPR, estes apoiam-se numa rede social mais concentrada, ou seja, nas ‘social bonds’ (referidas por Ager & Strang, 2008), que os auxiliam na integração. A mesma refere:

“Procuraram talvez países que já conheciam. Porque muitos dos que vêm para cá, já

tinham estado até como imigrantes ou tinham familiares em Portugal. Portugal é assim um país que lhes é mais familiar para pedirem proteção internacional”.

“Agora sobressaem mais as necessidades económicas face às de proteção, nomeadamente a necessidade de reconstrução das suas próprias vidas. A fundamentação dos pedidos até tem vindo a ser mais fraca e tem havido mais recusas do que anteriormente na apreciação dos pedidos”.

98 Apesar da comunidade imigrante poder fornecer apoio, não podem ser forçadas as relações sociais dos requerentes de asilo e refugiados. A Dr.ª Maria Teresa Tito de Morais Mendes sublinha a soberania dos requerentes e a delicadeza que é necessária para se lidar com esta situação.

Quanto às instituições que os requerentes de asilo contactam através do CPR, a Presidente da Direção do CPR refere que os requerentes são encaminhados para outros atores do grupo operativo mediante a fase em que se encontra o seu processo. Os solicitantes de asilo lidam diretamente com o CPR, no entanto são encaminhados para o SEF sempre que seja necessário, para o ISS quando o pedido de asilo é aceite e para a SCML quando o pedido é declinado, ficado um destes dois últimos atores responsáveis pelos mesmos, após o CPR.

Deste modo, quando os requerentes de asilo ficam a cargo do ISS, são distribuídos aleatoriamente pelas regiões no território nacional, independentemente do facto de terem amigos ou conhecidos; no entanto, quando ficam a cargo da SCML, permanecem em Lisboa. No seguimento, quando questionado à Dr.ª Maria Teresa Tito de Morais Mendes se as conexões sociais estabelecidas pelos requerentes ucranianos influenciam a escolha do local de habitação (municípios) após abandonarem o CAR e começarem a ser apoiados pelo ISS, a Presidente da Direção do CPR refere o seguinte:

E, completa:

Os atores referidos são as principais ‘pontes de ligação’ fornecidas através do CPR; no entanto, os requerentes de asilo também contactam frequentemente com o Instituto do

“Têm um suporte que muitos refugiados não têm, porque é uma comunidade já maior, do que por exemplo os Sírios e os Iraquianos, que não têm uma rede familiar ou de amigos e têm mais tendência a sair do país do que os ucranianos (…) É preciso e é vantajoso que haja uma comunidade que já conhecem e que ajudam a abrir portas para os recém-chegados para uma maior integração”.

“Eles quando saem do CPR são apoiados pela Segurança Social e durante o tempo que estiveram cá (três, quatro meses) não têm tempo suficiente para fazer essa escolha por eles e a Segurança Social distribui os mesmos aleatoriamente. Não vai procurar os sítios onde estão os ucranianos”.

“Caso os requerentes se autonomizem mais depressa, aí através das redes sociais eles próprios podem ir para uma região, no entanto prescindindo do apoio da Segurança Social”.

99 Emprego e Formação Profissional, sendo para tal encaminhados pelo Gabinete de Inserção Profissional do CPR. A Dr.ª Maria Teresa Tito de Morais Mendes menciona que o estabelecimento de parcerias e redes de contactos com outros atores em prol da integração é fulcral para apoiar devidamente os requerentes de asilo e refugiados. No entanto, a mesma denota que:

Deste modo, apesar de ser positivo para os requerentes de asilo ucranianos terem apoio dos conterrâneos estabelecidos em Portugal, observa-se alguma carência de suporte institucional ao estabelecimento dessas redes, fator visível no modo aleatório como os requerentes são distribuídos pelas regiões. Além disso, verifica-se também a necessidade de criação, através do CPR, de mais parcerias e ‘pontes de ligação’ entre os solicitantes de asilo ucranianos e outros atores.

“O trabalho em parceria é fundamental para uma boa integração e muitas vezes as organizações fecham-se um pouco pelo muito trabalho que têm e não trocam boas práticas umas com as outras por falta de tempo ou competitividade devido aos financiamentos reduzidos”.

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