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Persuasão e teorias atuais sobre o receptor

No documento tese Adinan Carlos Nogueira com júri (páginas 61-64)

2.3 Persuasão

2.3.2 Persuasão e teorias atuais sobre o receptor

Para Wolf (1995, p. 30), citado por Dalmonte (2006, p. 7), “a ideia de dominação ou persuasão exercida pelos media continua presente nos estudos, mas agora, ao invés de uma especulação sobre as capacidades dominadoras, fala-se de um modelo empírico-experimental”. Desse modo, o receptor já não é mais visto como um ser atomizado e sem expressão, porém como indivíduo marcado por diferenças individuais, de extrema importância para a construção dos processos persuasivos.

Dessa maneira, os próprios meios media evoluíram e trouxeram as várias teorias de persuasão à tona. Neste novo cenário, há uma valorização das motivações presentes no indivíduo e o efeito não é mais algo externo ao universo do receptor, como na teoria hipodérmica, por meio das alegorias da agulha ou bala mágicas. Mas, sem dúvida, a mudança de perspectiva toma forma de fato a partir daquilo que Wolf (1995 apud Dalmonte, 2006, p. 8) define como “abordagem empírica de campo” ou “dos efeitos limitados”. Pensar a comunicação, na atualidade, configura-se numa atividade ainda mais complexa, visto que distintas lógicas podem se fazer presentes num espaço que outrora se imaginava delimitados à relação emissor-receptor. O princípio da comunicação de massa, dessa forma, é modificado, visto que um emissor não fala mais para “todos” os receptores, indistintamente, mas

estabelece uma relação dialógica com grupos de interesse (Dalmonte, 2006).

O sentido e os efeitos nascem da interação entre os textos e os papéis assumidos pelas audiências (Cajazeira, 2013). A denominação de receptor é entendida como um dispositivo que capta mensagens, resultando uma audiência sujeita a dois aspectos: ao condicionamento, em uma relação de causa e efeito, com ênfase nos estudos referentes às respostas aos conteúdos violentos dos meios; e à modelagem, que tem como princípio o processo de aprendizagem observacional por meio de modelos (McQuail, 1993; Nightingale, 1999). Nessa perspectiva, é o receptor que passa a determinar, primordialmente, o processo de recepção. A recepção passa agora a enquadrar a oferta comunicativa. O ponto de partida do modelo de Katz, por exemplo, é a ideia do receptor como usuário ativo dos meios massivos. A relação entre mensagem e seus efeitos é sempre mediada pela variável do uso. Os usuários percebem os meios como alternativas funcionais que podem ser usadas para obter satisfação ou gratificação, rompendo o paradigma de que o receptor pode ser analisado como passivo (convencional) ou ativo (dentro da teoria de usos e gratificações) (Juárez, 1989; Silva, 2006).

Diversas pesquisas apontam que as mensagens mais persuasivas são aquelas com recomendações explícitas e aquelas que usam uma narrativa para transmitir a mensagem (O’Keefe, 2016). Na área de saúde, em especial, acredita-se que quanto mais detalhadas e específicas forem as recomendações, maior será o sucesso da mensagem, uma vez que o receptor se sentirá apto a modificar seu comportamento seguindo as recomendações dadas pelo anúncio passo a passo.

Mesmo assim, segundo Prati et al (2001) apud O’Keefe (2016), as mensagens com narrativas são ainda mais persuasivas do que as didáticas – isso em um estudo que observou as percepções de risco e eficácia em campanhas de vacinação contra a gripe. Narrativas têm uma vantagem persuasiva que varia de caso para caso, mas que, geralmente é causada pelo grau de identificação do receptor com os personagens da narrativa, por quanto o receptor se deixa envolver pela mensagem, pela natureza do meio, entre outros. Isso pode ser visto em especial nas mensagens que unem entretenimento e educação.

Outros fatores que podem caracterizar a relação entre o indivíduo e os media são: a vontade de se expor aos media ou não, o interesse em obter a informação passada por ela, a exposição seletiva, tendências pessoais, percepção seletiva e memorização seletiva. Nessa envergadura da teoria funcionalista está a hipótese dos usos e gratificações. Essa hipótese baseia-se na capacidade, embora limitada, de ação do indivíduo sobre a comunicação, uma vez que ele é capaz de selecionar o que vai ver, de acordo com seus interesses e motivações. O ponto central é a motivação para tal escolha. Segundo McQuail (1993, p. 318) “o postulado

básico é de que os membros da audiência fazem uma escolha consciente e motivada entre canais e conteúdos oferecidos”.

McQuail (1993), ressaltando o paradigma que permeia a comunicação além do clássico emissor/receptor, comenta que:

A pertinência da tradição investigativa dos “usos e gratificações” descansa sobre o fato de que seus praticantes têm adotado uma atitude contrária à noção de uma audiência passiva que implica uma quantidade de suposições e para os quais há uma chave, a saber, que as audiências realizam uma seleção consciente e motivada entre os canais e os conteúdos que lhes oferecem (McQuail, 1993, p. 299).

Assim, percebe-se que a hipótese de usos e gratificações se foca num diálogo necessário entre produtores e receptores, sendo que esses últimos passam a ser vistos como base nas suas motivações para aderir ao processo comunicacional.

Sobre o receptor, manifesta-se O’Keefe (2016), salientando que há três pontos importantes envolvendo-o: as diferenças individuais, estados transitórios do receptor e modos de influenciar a susceptibilidade do receptor para a persuasão. As diferenças individuais precisam ser percebidas pelo emissor, pois elas estão associadas à literacia. O autor também reforça a importância dos estados transitórios dos receptores que são o humor e a reatância (estado motivacional que é despertado quando a liberdade de uma pessoa passa a ser ameaçada ou eliminada). A teoria da reatância prediz que quando as pessoas recebem mensagens persuasivas que elas interpretam como ameaças a sua liberdade de atitudes, elas tentam reafirmar sua liberdade mantendo suas posições iniciais, ou de maneira mais provocativa, mudando suas opiniões e atitudes em uma direção oposta à posição defendida na mensagem, uma troca denominada efeito bumerangue. Tais atitudes induzidas por reatância devem ser mantidas com o passar do tempo, a menos que as ameaças à liberdade de atitudes sejam removidas. Se tais ameaças são eliminadas, as pessoas podem ser mais favoráveis à posição de uma mensagem. Há quatro elementos importantes para a teoria de reatância: a liberdade percebida, a ameaça à liberdade, a reatância e a restauração da liberdade. Liberdade não é uma consideração abstrata, mas sim um sentimento associado a comportamentos reais, incluindo ações, emoções e atitudes.

Para se atingir melhor o receptor, necessita-se observar a mensagem não verbal que, de acordo com Ellis e Beattie (1986) apud Corcoran (2007), contém os seguintes elementos: a) Prosódia: inclui entonação e ritmo e podem influenciar o modo como o remetente entrega a mensagem e o receptor interpreta; b) Paralinguística: inclui expressões vocais, mas não verbais; estes podem alterar o modo como as mensagens são transmitidas em particular em

relação às características prosódicas; c) Cinestesia: inclui a linguagem corporal, contato visual, postura ou gestos, ficar de pé; d) Recursos de suporte: que inclui fatores como a aparência.

O’Keefe (2016) reforça que os fatores da mensagem precisam estar agrupados em três grandes categorias: a estrutura da mensagem e o formato, o conteúdo da mensagem e as estratégias de ordem ou solicitação. Certamente, se essas categorias forem associadas às de McQuail (1993) e Corcoran (2007), é preciso também levar em consideração para quem a mensagem está sendo enviada.

Como se percebe, a saúde precisa de estratégias de comunicação para que se consiga atingir as metas de uma mensagem persuasiva, com apelos e abordagens diferenciados quanto aos objetivos, linguagem e público receptor. Logo, o processo de persuasão trata dos efeitos que a mensagem ocasiona no receptor, que são relevantes e úteis para a meta desejada pela fonte. Alguns critérios para que isso seja possível são: 1) a relevância dos efeitos para o objetivo da fonte; 2) a instrumentalidade da persuasão, ou seja, o meio ou ação para se alcançar a meta; a ação pode ser de adoção, permanência, dissuasão e descontinuidade; 3) a

importância das mensagens, podendo estas serem verbais, não verbais ou a combinação de

ambas; 4) o envolvimento da escolha, isto é, a ilusão da escolha e; 5) a natureza pessoal e interpessoal da persuasão, lembrando que a fonte desenvolve uma mensagem para atingir meta envolvendo mais de um receptor (Tonani & Carvalho, 2008).

No documento tese Adinan Carlos Nogueira com júri (páginas 61-64)