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e a pertença a um corpo coletivo que partilha, regula e defende e exercício da função e o acesso a ela, além da definição de um saber necessário que resulta em um

EDUCAÇÃO INFANTIL E NA ALFABETIZAÇÃO

4) e a pertença a um corpo coletivo que partilha, regula e defende e exercício da função e o acesso a ela, além da definição de um saber necessário que resulta em um

reconhecimento de um saber que o legitima.

Os descritores propostos por Roldão (2005) permitem a compreensão de trabalhadoras e trabalhadores docentes com base em um conjunto coeso de proposições que podem permitir melhor compreensão da constituição da profissionalidade. Nos últimos anos tem se propagado os estudos a respeito do processo de profissionalização de professoras e professores. Cruz (2012) em sua tese de doutoramento apresenta um compilado de definições sobre a variedade de perspectivas epistemológicas de análise da profissionalidade.

A profissionalidade é construída desde a formação inicial até o fim da carreira docente e sua discussão nos ajuda a compreender como diferentes elementos subjetivos em relação com a objetividade se estruturam. Os marcos regulatórios ao qual professoras e professores estão imersos trazem importantes elementos do trabalho docente, como por exemplo, a intensificação a desvalorização e as marcas do gênero. Procuramos compreender a profissionalidade em sua dimensão crítica, entendendo que professores e professoras a constroem estabelecendo relações dialéticas entre diferentes instâncias, por meio da objetividade e subjetividade.

A profissão docente e as mediações presentes nas relações de gênero vivenciadas por professoras e professores desde a formação inicial até a prática efetiva da docência não fazem parte de um processo natural, mas são fruto de relações históricas, culturais,

econômicas e sociais marcadas por concepções de homem/mulher, educação e sociedade desenvolvidas no decorrer do tempo. Nesse sentido em acordo com Cruz (2012) consideramos a necessidade de analisar o processo de formação docente de forma contextualizada, o que torna possível superar concepções normativas que influenciam na constituição do trabalho docente, para que professoras e professoras possam agir de maneira consciente e intencional na intervenção e modificação das formas que a categoria de professoras e professores estabelece suas relações nos espaços sociais de construção e de legitimação da profissão docente. Para tanto, nos basearemos no conceito de Profissionalidade com o objetivo de identificar como pedagogos do gênero masculino iniciantes/ingressantes vivem e interveem na profissão, pensam e agem em frente as demandas sociais e profissionais na construção do trabalho docente.

Situamos a profissionalidade em uma relação estabelecida pela tríade: Profissionalização, Profissionalismo e Profissionalidade. a) Profissionalização como o conjunto de ações historicamente situadas que definirão parâmetros para o exercício profissional docente. b) Profissionalismo ao remeter a aspectos que são aderidos ou referendados pelos sujeitos que exercem a profissão docente de modo a definir um status social que dê legitimidade a profissão que exercem e c) Profissionalidade como maneira de retratar as formas subjetivas que os profissionais vão se constituindo na relação com os processos sociais externos instituintes da profissionalização. Ao assumir diferentes significados, a depender de contextos, países e principalmente de referências teóricas, podemos identificar o conceito de profissionalidade como em constante construção.

Diferentes autoras/autores discutem o conceito de profissionalidade entre elas/eles Barisi (1982), Bourdoncle (1991), Dubar (1997), Sarmento (1998), Sacristán (1999), Ramalho, Nuñes e Gauthier (2004), Cruz (2012), Roldão (2005), essa discussão teórica busca a afirmação da especificidade docente frente as demais práticas educativas e profissões. Sendo assim a profissionalidade discutida para o melhor entendimento da profissão docente, o que nos remete como necessária uma boa compreensão dessas bases teóricas para que o conceito não seja usado de forma vazia e descontextualizada.

Para iniciar a discussão da profissionalidade consideramos necessário o resgate de problemáticas a respeito da profissão, campo profícuo de debates por diferentes óticas e aprofundamentos, associado à ocupação, competência técnica, manutenção do monopólio de saber, mobilidade social, ideal de serviço e a graus de especialização. Dos embates entre as diferentes correntes de estudos sociológicos emergiram alguns

elementos de consenso. Entre eles Cruz (2012) cita três: especialização do saber, formação intelectual em nível superior e ideal de serviço. A autora chega a conclusão que as profissões não podem ser vistas e analisadas apenas sob esses três aspectos, entendendo que esse ―tipo ideal de profissional‖ não entenderia a profissão como ―um grupo social organizado e reconhecido que ocupa uma posição específica de prestígio na sociedade.‖ (CRUZ, 2012, p. 71) A autora define que profissão expressa uma função social, que define para si um conjunto de saberes de alto grau de especialização, saberes que são estabelecidos ao longo do processo de formação sob a organização de diversas formas próprias de controle do seu exercício. Sendo assim, podemos acrescentar que tais saberes identificam e autenticam cada profissão, assumindo suas especificidades como forma de legitimação e conservação do status de profissão.

A profissionalização apresenta-se aqui como outro elemento da tríade que compõe a profissionalidade, por considerar o histórico de deslocamento da atividade docente, anteriormente concentrada nas mãos da igreja, para o controle do Estado, que ao assumir a responsabilidade pela implantação de um sistema de ensino foi incumbido de planejar, executar e avaliar todo o processo educacional, bem como fornecer a formação de um corpo docente capaz de executar ações que convergissem as exigências do trabalho em um contexto capitalista. Embora tenha se efetivado como conquista significou também a perda do controle sobre o trabalho e a convergência de professoras e professores como funcionários do Estado e assalariados.

Cruz (2012) destaca duas importantes dimensões na constituição da profissionalização docente, sendo elas: i) a formulação de um conjunto de saberes e técnicas, associadas aos saberes teórico-científicos, necessários ao conjunto de ações a serem desenvolvidas na profissão docente. ii) A dimensão que diz respeito aos valores e normas deontológicas que expressam uma relação estreita entre a identidade profissional e o projeto de escolarização da nação. A profissão docente nessa perspectiva estaria ligada não só aos limites internos da atividade, mas também a um contexto geral de vida em sociedade.

A profissionalização se apresenta em diferentes dimensões e relações com cada profissão. Na profissão docente se difere por possuir elementos que são necessários para constituir a função docente, o que inclui conhecimentos específicos, sentimento de pertença a um grupo profissional e até mesmo a presença de processos de proletarização e desvalorização do trabalho docente. Nesta direção atrela-se ao conceito de

profissionalismo, como as características que compõem o profissional formado por suas competências, habilidades éticas e responsabilidades do seu campo de trabalho.

Para Bourdoncle (1991) a profissionalização possui dimensões interdependentes que não estão sob hierarquia, mas que se constituem como processo de apropriação do sujeito do seu campo profissional. Uma dessas dimensões se manifesta na relação entre profissionalismo e profissionalidade. Libâneo (1998) questiona que para atingir um ensino de qualidade é necessário na formação docente a articulação desses dois conceitos, conceituando o profissionalismo como

compromisso com o projeto político democrático, participação na construção coletiva do projeto pedagógico, dedicação ao trabalho de ensinar a todos, domínio da matéria e dos métodos de ensino, respeito à cultura dos alunos, assiduidade, preparação de aulas etc (p. 90). Garcia (2010) entende que o conceito de profissionalização está atrelado ao de profissionalismo

entendido, nesse caso, como a capacidade dos indivíduos e das instituições de desenvolver uma atividade de qualidade, comprometida com os beneficiários da mudança, num ambiente de colaboração. Os estudos sobre o profissionalismo levaram em consideração a necessidade de reprofissionalizar a função docente e perceberam que a ampliação das funções é positiva, representando um sintoma claro de que os docentes são capazes de realizar funções que vão mais além das tarefas tradicionais centradas nos alunos e restritas ao espaço físico da aula. (p. 36)

Entretanto, acreditamos que o profissionalismo não se reduz a fazer bem o que sabe, mas também possuir um grau instrumental e de especialização dos conhecimentos exigidos pela profissão. Logo, entendemos que mesmo ao considerar conceitos como profissão, profissionalismo e profissionalização de forma interligada, precisamos ainda do conceito de profissionalidade para atender as especificidades do trabalho docente não abarcadas por esses conceitos.

Assim tomaremos o conceito de profissionalidade docente, que destaca o movimento da profissão docente, na perspectiva de Cruz (2017)

situada no contexto de formulação da categoria trabalho como con- dição ontológica de constituição do ser social que por meio do trabalho modifica a natureza e a si próprio, tanto como indivíduo singular, mas, principalmente, como gênero humano construtor de uma historicidade que é passível de compreensão em sua trama de relações e de, por essa mesma capacidade, transformação. Assim, a profissionalidade guarda em sua conceituação a possibilidade de ao se desenhar os modos como o trabalho docente é desenvolvido enquanto atividade criadora imaterial – quando não se separa o produto do

processo – apontar para especificidades de uma atividade laboral diferenciada das demais atividades educativas que não têm uma ação intencional sistematizada, tal como o ensino foi se configurando no contexto da sociedade capitalista. Tais especificidades manifestam-se por indicar como um exercício dito profissional constitui-se de contradições, ambivalências que expressam um movimento de lutas políticas, econômicas, sociais e culturais. (p. 35)

Tal perspectiva compreende o trabalho enquanto atividade intencional que permeia a ação docente de professoras e professores, que se organizam no contexto do capital enquanto grupo profissional, tomando a profissionalidade enquanto dimensão e expressão da atividade realizada no exercício do trabalho docente.

Neste sentido fizemos a opção de apresentar os dados da empiria em uma perspectiva de diálogo das formas de constituição da profissionalidade docente no e pelo trabalho, considerando diferentes aspectos e elementos dessa construção. Ratificamos aqui a compreensão de Cruz (2017) para o presente estudo sobre a profissionalidade, considerando que essa expressa importantes elementos articulados, por professoras e professores em uma relação objetiva e subjetiva que são compartilhadas por pares.

Essa relação entre objetividade e subjetividade indica também que a profissionalidade é marcada por modelos sociais do ser professor e a caracterização da atividade profissional a ser exercida pelos sujeitos. É construída num processo dinâmico em que tal atividade, ao integrar instrumentos e meios, revela-se como social, na medida em que pode ser síntese de múltiplas relações sobre o que é o ser docente e qual é a sua função na sociedade. (CRUZ, 2017, p. 58)

A autora sintetiza seu pensamento por meio de um esquema síntese, o qual o presente estudo buscou se organizar, destacando quatro dimensões de construção da profissionalidade: 1) Ação com finalidades marcadas pelas múltiplas determinações do capital no trabalho; 2) Contexto de realização do trabalho; 3) Conhecimentos teórico- práticos da profissão; 4) Fundamentos ontológicos, axiológicos e epistemológicos da função docente.

Figura 1: A Construção da Profissionalidade Docente

Elaboração: Cruz (2017)

Alicerçados e a partir da conceituação apresentada de profissão, profissionalização e profissionalidade, apresentaremos aspectos que estruturam a profissionalidade de pedagogos do gênero masculino encontrados a partir da sistematização dos núcleos de significação por meio da empiria. Os eixos estruturantes da construção da profissionalidade são assim mediados pelas categorias trabalho e gênero objetivando compreender o processo de construção da profissionalidade de pedagogos do gênero masculino em sua condição enquanto iniciantes em um contexto da educação infantil e da alfabetização:

O trabalho docente: ambiguidade, resistência e gênero – compreendendo que o trabalho docente se constitui mediado pelas marcas da ambiguidade do trabalho de professoras e professores entre o profissionalismo e a proletarização. O aspecto contraditório da escola que se apresenta enquanto um espaço de reprodução da hegemonia dominante, mas também com diferentes elementos de resistência. E o gênero em uma perspectiva relacional, compreendendo as influências desta categoria não só na constituição do grupo profissional docente, mas também das continuidades, rupturas e permanências que tomam as ações de professoras e professores no processo de trabalho docente.

O contexto de realização do trabalho: as marcas sociais, políticas e culturais da Educação Infantil e da Alfabetização. – diferentes contradições são identificadas a

partir da presença de pedagogos do gênero masculino em uma etapa feminilizada (educação infantil) e femininizada (alfabetização-anos iniciais), novamente o gênero se apresenta como importante categoria de análise nos processos de constituição da profissionalidade, não só de professores como também de professoras, considerando uma perspectiva relacional.

O processo de inserção: ser iniciante e suas diferentes variáveis – em diálogo com a empiria destacamos o aspecto da temporalidade da carreira ao problematizar a respeito desses pedagogos em sua condição como professores iniciantes. O processo de inserção vem sendo um elemento de estudo de diferentes autores, mas de acordo com as pesquisas prévias realizadas no estado do conhecimento, não tem apresentado um recorte das contradições e mediações de gênero no processo de inserção. Neste sentido destacamos alguns elementos de compreensão presentes no assumir a profissão: os elementos-pré-profissionais e relacionais de constituição da docência, e as problematizações a respeito da condição de ser homem em um espaço de atuação majoritariamente feminino.

A função docente: entre a afirmação e o esvaziamento – em um campo de disputa pelos objetivos da educação, pela perspectiva de formação de professores pela prática ou pela práxis, os estudos a respeito dos conhecimentos teórico práticos e da função docente carecem de maior atenção na luta política pela afirmação da atividade de professoras e professores. Reconhecendo tal atividade enquanto ação intencional de ―ensinar algo a alguém‖. Para tanto partimos das contribuições de Roldão (2005), Curado Silva (2008) e Saviani (1997) na afirmação da função docente, discutindo a respeito das questões de gênero e o esvaziamento da ação de professoras e professores, principalmente ao se considerar aspectos relativos ao cuidar, educar e a questão da autoridade. Assim, de que forma os pedagogos entrevistados se afirmam na ação de ensinar como mecanismo de defesa, limitação e permanência frente as dificuldades e concepções em torno do cuidar e educar?

Figura 2: Estruturantes da profissionalidade docente do pedagogo do gênero masculino

Elaboração: Sousa, 2017

Os eixos estruturantes emergiram do diálogo da teoria, do estado do conhecimento e do método de análise da empiria, a partir dos pré-indicadores, indicadores, foram gerados os núcleos de significação, da fala dos sujeitos participantes da pesquisa organizamos o método de exposição com o objetivo de compreender o complexo de complexos que mediam a construção da totalidade do que é ser professor do gênero masculino na condição de iniciante na educação infantil e na alfabetização, a construção de sua profissionalidade.

3.1 - O trabalho docente: ambiguidade, resistência e gênero

Entre as lutas históricas da profissão docente está a construção de uma identidade profissional que se distancie de atividades não docentes, o afastamento do ideário sacerdotal e a luta por melhores condições de trabalho e salários. Portanto, destacamos a análise do trabalho docente permeada e a partir de uma base material econômica, política, histórica e cultural com vistas a não cair na armadilha de responsabilizá-los e culpabilizá-los das contradições advindas do processo de profissionalização. Hypolito (1991) ao discutir as categorias de análise do processo de trabalho na escola destaca três elementos que contribuem para sua explicação:

1) A resistência: a escola está permeada por elementos contraditórios próprios