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Peso, sacrifício e justificativa

No documento Senhor, Senhor página 3 (páginas 39-42)

Participante: Joaquim, sabe uma coisa que eu entendi, é quando você fala o quanto estamos dispostos a abrir mão das coisas para ter toda essa percepção mesmo de vida. Aí, disso, fica tão pesado às vezes, tão difícil porque a gente coloca a questão do sacrifício, um peso. E eu tenho percebido na minha vida que quanto mais leve eu coloco isso, – é tão difícil te explicar porque essa é a minha experiência, não tem como falar muito – mas quando tudo fica mais difícil e consigo colocar leveza, eu fico toda vez mais eu e Deus.

Veja, você falou duas palavras interessantes: o peso e o sacrifício.

Participante: quando tiro o peso e sacrifício e coloco a leveza, sinto que não há necessidade de sofrer.

Deixa eu falar rapidinho sobre isso. Perder alguma coisa – sim, porque o que estamos conversando hoje é sobre perder. Para ficar bem claro.

Você tem que perder coisas que tem hoje para poder reformar- se. Quando falei que tem que abrir mão de algo, disse que precisa perder alguma coisa. Agora, quanto a viver isso como algo pesado ou como sacrifício, isso só acontece quando o que é perdido é considerado como importante.

Vou dar um exemplo. Falo muito da questão da maternidade. Na verdade não apenas eu, mas todos os mestres falam da questão da maternidade. Cristo foi bem claro: “eu vim para colocar pai contra

filho, filha contra mãe”. Ele não veio para unir família nenhuma.

Quando falo sobre esse assunto seguindo o que os mestres ensinaram, as pessoas dizem: “mas, Joaquim, vou abrir mão de meu

filho?” Olhe o despossuir sendo vivido com sacrifício. Porque essas

vivem dessa forma? Porque para elas a maternidade é importante. Será que a maternidade é importante para todos? Claro que não. Para alguns é mais fácil abrir mão desse elemento material. Portanto, o despossuir a maternidade só é sofredor para aquele que a acha importante, para aquele que acha que essa função humana é mais importante que sua espiritualidade, ou seja, para aquele que acha que é um humano que tem experiências espirituais.

Para esses, o despossuir da maternidade pesa mesmo. Isso porque dão importância ao fato de serem mães.

Portanto, dentro do processo de reforma íntima conseguir amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, ser feliz independente do acontecimento da vida, o peso das coisas acontecerá se você se deixar levar pelo valor de importante que a mente dá a alguns elementos da vida. Por isso, é preciso trabalhar esse valor, esse peso.

Por isso comecei falando nessa nossa conversa sobre a realidade: você não é um humano que tem um espírito, mas um espírito que tem um humano. Não começando a ver as coisas deste mundo a partir deste prisma, ou seja, não priorizando as coisas espirituais, você não consegue nada. Tudo será pesado, sacrificado e isso acabará com a sua felicidade, com o sentir-se amado por Deus. Aí, nada vai ser feito.

Participante: quando você dá vazão a seus impulsos, mesmo tendo esse entendimento, fere, agride os outros. Então, fico pensando na prova daquele espírito...

Sim, é a prova de quem recebe.

Participante: ...mas, como é que ele vai reagir? Quando faz a ação tem consciência, tem o entendimento que justifica o ato. Mas, será que apenas se justificar resolve?

Sim, o humano quando usa um ensinamento se justifica. Aliás, muitas vezes se justifica até colocando Deus como justificativa. Sobre isso deixe-me falar uma coisa.

A questão da evolução espiritual consiste em universalizar-se. Trata-se do ser um com todos. Atingir o que Cristo ensinou: “tudo está

pronto, eu e Deus somos um”. É a partir disso que afirmo que a

elevação espiritual consiste em unir-se com o todo.

Só que essa busca de universalizar-se tem um detalhe interessante: ela é a coisa mais individual que existe; você só pode fazer a sua. Por isso, precisa se dedicar exclusivamente à você mesmo para fazer a sua.

Se o outro se justifica, se não faz a reforma, problema é dele. Isso não anula a sua prova: amar o que ele está fazendo. Saiba que jamais alguém fará algo na sua frente que você não tenha pedido para receber. Portanto, se o outro se justificou, foi você que pediu para receber aquela ação.

Se ele fez, era para você e você pediu. Era a sua hora de fazer a prova. Se o outro não aproveitou a oportunidade dele, problema é dele.

Quando começamos esse trabalho, disse assim: você precisa ajudar os outros, por isso dê a mão a eles. Agora, se os outros ficarem lhe puxando para trás, largue a mão deles e vá embora. Faça isso, porque senão ficam os dois para trás.

Portanto, esqueça os outros e concentre-se apenas em si mesmo. Se o outro se não fizer, o problema é dele.

Participante: se você no coração está desligado da personalidade que está falando, passou na prova.

Isso, cuide de você mesmo. O problema dele é dele.

Sabe, tem muito missionário vivendo personalidades que fazem coisa erradas para ver se vocês vão julgar os outros com a trave que cobre o seu olho. São pessoas que vivem à margem do que é socialmente aceito por vocês para ver se no momento da ação deles, ou seja, da sua prova, vão julgar ou cuidarão apenas de si mesmos.

Um grande exemplo disso se chama Judas. O Papa o considerou recentemente um traidor que não deve ser perdoado. Só que a esse mesmo Judas Cristo disse o seguinte no fim da Santa Ceia: “vai lá, amigo, faça o que você tem que fazer”. O mestre o chamou de amigo, mas o Papa de traidor.

No documento Senhor, Senhor página 3 (páginas 39-42)