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A presente pesquisa tem caráter exploratório, o que permitiu uma visão geral acerca da Política de Cotas na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A UFRN é sediada em Natal e é uma instituição de grande porte e de destaque, tendo sido avaliada pelo MEC nos anos de 2012 e 2013 como a melhor universidade do Nordeste, estando entre as três mais bem avaliadas no ano de 2014 e 2015, e na 4º posição no ano de 2016. Em 2017, a publicação

britânica “Times Higher Education” apresentou a UFRN como uma das universidades brasileiras a integrar o ranking internacional das mil melhores instituições de ensino superior.

Conta com 5 campus, quatro deles no interior do estado, 102 cursos de graduação presenciais e 10 a distância, bem como 27789 alunos matriculados, de acordo com dados de 2017. Os cursos oferecidos têm duração de 3 a 6 anos, o de menor duração referente ao Bacharelado em Ciência e Tecnologia e o de maior tempo correspondendo ao curso de Medicina. Em relação ao acesso de alunos cotistas, de acordo com relatório elaborado pela Comissão Própria de Avaliação desta universidade, 30% dos alunos que ingressaram na UFRN entre 2013 e 2015 o fizerem através de cotas.

Para que os objetivos da pesquisa fossem atingidos, foi feito o levantamento de dados sobre a implementação da política de cotas e dos processos seletivos dos anos de 2013 a 2015, anos seguintes a implementação da política de cotas, e a respectiva reserva de vagas para alunos beneficiados por esta. Além disso, foram solicitados ao setor de dados abertos da Superintendência de Informática da UFRN (SINFO/UFRN) dados sobre a entrada, status da matrícula, desempenho acadêmico, acesso a bolsas de monitoria, pesquisa, extensão, apoio técnico e aos auxílios oferecidos pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, que gerencia a política de AE da universidade, também dos alunos ingressantes entre 2013 e 2015. Tivemos acesso ainda às respostas do Cadastro Único, questionário socioeconômico respondido de forma voluntária e pré-requisito para a solicitação das bolsas e auxílios oferecidos pela instituição, dos alunos que aderiram a este e que fazem parte do recorte estudado.

A maior parte das informações utilizadas nas análises são públicas e podem ser acessadas/solicitadas por qualquer cidadão ao setor específico da universidade, setor de dados abertos da SINFO/UFRN. Já as respostas do Cadastro Único são consideradas sigilosas e para ter acesso a estas, além da autorização da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis, foi necessário a assinatura de um termo de sigilo por todos os pesquisadores que tiveram acesso a estes dados.

Os dados a serem analisados foram assim definidos visto que de acordo com Maciel, Lima e Gimenez (2016), deve-se entender o acesso, objetivado pelas políticas afirmativas, como participação na educação superior, o que implica além do ingresso, na permanência, conclusão e formação de qualidade desse nível de ensino. E de acordo com Saviani (2010), a qualidade das IFES, que vinculam ensino, pesquisa e extensão, é nitidamente superior à das universidades particulares. Além disso, como já apresentado, a dimensão relacionada a ensino, pesquisa, extensão e bolsas da avaliação institucional externa realizada pelo SINAES nas instituições de ensino superior possui o maior peso entre todas as dimensões.

Pesquisa e extensão têm sido vinculadas, conforme Hering e Honorato (2014), à permanência nas instituições de ensino superior. Além disso, Honorato e Heringer (2015) apresentam que o acesso a esse tipo de atividade pode se relacionar a maiores oportunidades de adquirir conhecimentos e habilidades demandadas no processo de inserção profissional. A importância das atividades complementares, aqui consideradas como monitoria, pesquisa e extensão, e assim denominadas por não serem obrigatórias para a conclusão dos cursos, é também percebida como importante pelos discentes, como demonstrado por Barbosa (2015) ao pesquisar a percepção de estudantes de pedagogia da UFRJ sobre o que é importante para a formação profissional.

Já a AE tem sido considerada imprescindível para as políticas de inclusão social das instituições de ensino superior, visto que busca ampliar as condições de permanência, minimizar os efeitos das desigualdades e reduzir os índices de retenção e evasão. Neste sentido, analisando o fenômeno e a literatura compreendemos que as atividades mencionadas contribuem para a permanência para além da questão financeira, interferindo positivamente na integração ao ambiente acadêmico e na qualidade do ensino oferecido.

O status nos permitirá averiguar os índices de conclusão e desligamento dos discentes ingressantes, bem como ter indícios acerca do tempo que os discentes permaneceram nos

cursos; já o desempenho acadêmico possibilitará a análise do quanto os estudantes estão conseguindo desenvolver os conhecimentos e habilidades medidos nas avaliações propostas. As atividades complementares, vinculadas à permanência nas instituições, bem como os efeitos positivos nos coeficientes de rendimento mostrarão se esse efeito pode ser observado na instituição. E assim, poderemos caracterizar e analisar a trajetória acadêmica dos discentes.

Para estas análises, com o intuito de comparar a trajetória acadêmica dos discentes cotistas e não cotistas utilizamos os dados de todos os discentes da universidade, regulares, vinculados a cursos presenciais e que ingressaram na instituição entre 2013 e 2015. Da mesma forma, escolheu-se trabalhar com os dados dos alunos ingressantes entre 2013 e 2015, os três anos seguintes a implantação da política de cotas, pelo fato de neste período encontrarmos alunos que tinham a possibilidade de já ter concluído seus cursos, já que como mencionado os cursos da universidade tem duração de 3 a 6 anos e os índices de conclusão foi um dos focos da nossa análise. Trabalhamos com os alunos cotistas que acessaram a universidade a partir das reservas de vagas estabelecidas pela Lei 12711/2012.

E apesar de no ano de 2015 a UFRN ter adotado o argumento de inclusão regional, que visou estimular o acesso dos estudantes que residem no entorno dos locais de oferta dos cursos da UFRN no interior, e entendermos a sua importância, por se tratar de outro tipo de ação afirmativa não será incluído em nossa análise. Além disso, foram retirados da análise os discentes matriculados em cursos a distância, visto que estes possuem dinâmica distinta dos cursos presenciais e que não será tratada neste trabalho.

Em relação ao desempenho acadêmico, de acordo com o novo regulamento de graduação da UFRN, publicado em 2013, são calculados seis índices numéricos para avaliação do rendimento acadêmico acumulado do estudante, a Média de Conclusão (MC), a Média de Conclusão Normalizada (MCN), o Índice de Eficiência em Carga Horária (IECH), o Índice de Eficiência em Períodos Letivos (IEPL), o Índice de Eficiência Acadêmica (IEA), e o Índice de

Eficiência Acadêmica Normalizado (IEAN). O MC, MCN, IEA e o IEAN são considerados os principais, já que focam no desempenho acadêmico dos discentes, ou seja, as notas, e o IECH e IEPL são definidos como índices auxiliares, à medida que avaliam a eficiência com que os alunos usaram os recursos da universidade. Neste sentido, os índices auxiliares são maiores para aqueles que tiveram poucos insucessos e utilizaram menos períodos letivos para a conclusão dos cursos.

Para o cálculo de todos os índices não são contabilizadas as notas das disciplinas nas quais os discentes foram reprovados. No entanto, estes componentes são levados em consideração no cálculo dos índices de eficiência. O MC é a média do rendimento acadêmico final obtido pelo estudante nos componentes curriculares em que obteve êxito, ponderadas pela carga horária discente dos componentes. Neste sentido, utiliza em seu cálculo apenas as notas dos alunos das disciplinas que foram concluídas com sucesso. Já o MCN é o MC normalizado, ou seja, a comparação da média do aluno com as médias dos concluintes do curso nos últimos 5 anos. O IEA, por sua vez, é o MC com índices de eficiência, visto que engloba em seu cálculo o MC, o IECH e o IEPL. Decidimos, portanto, utilizá-lo nas nossas análises por acreditarmos que os índices de eficiência podem nos dar indícios da trajetória acadêmica dos discentes, para além das notas das disciplinas.

A partir de pesquisas nos sites da Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) e da antiga Comissão Permanente de Vestibular (COMPERVE), atual Núcleo Permanente de Concursos, foram selecionados os documentos relativos às discussões, implementação das ações afirmativas na UFRN e reserva de vagas. Tivemos acesso, além dos editais dos processos seletivos e termos de adesão ao Sisu referentes aos anos analisados, ao relatório “Política de Acesso à UFRN: Estudo e Proposições”, bem com dados diversos dos discentes que entraram na universidade e participaram do vestibular, antigo processo seletivo da universidade utilizado

até 2013, disponíveis no Observatório da Vida do Estudante Universitário, um centro de informações estatísticas sobre os estudantes universitários presente no site da COMPERVE.

Após análise dos documentos, os dados recebidos da SINFO/UFRN, referentes ao semestre letivo 2017.2, foram inseridos em banco de dados eletrônicos de um software estatístico, especificamente o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), e utilizada estatística descritiva para análise dos mesmos. Além do cálculo da distribuição, medianas, médias e desvio padrão dos dados analisados, foram utilizados os teste Qui-quadrado, para as variáveis categóricas, e o teste de Mann-Whitney, para as variáveis numéricas, visto que nenhuma delas apresentou distribuição normal. Consideramos nas análises diferenças significativas ao nível de p ≤ 0,05. Vale salientar que foram levadas em consideração, para a realização da pesquisa, as normas regulamentadoras da Resolução nº. 510 de 07 de abril de 2016, que dispõe sobre as normas éticas aplicáveis às pesquisas em Ciências Humanas e Sociais.