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4 HISTÓRIA DA ENAP NO DESEMPENHO DE SEUS PAPÉIS COMO

4.3 DIÁLOGO TEÓRICO-EMPÍRICO: TENTATIVA DE REVISÃO DO CONCEITO

4.3.4 Tema: Pesquisa e Difusão

Este tema foi recorrente na fala dos sujeitos como um elo fraco da história da ENAP. Percebeu-se que este tema remetia os entrevistados à imagem do que a ENAP deveria ser do que necessariamente ao que a ENAP é com relação a produção de conhecimento para a gestão pública.

A outra função da pesquisa, se nós olharmos a história dele, eu acho que assim, há altos e baixos com alguma produção em algum momento, mas não é o forte da ENAP, a identificação da ENAP externamente, e nem no reconhecimento interno e nem no reconhecimento externo como uma instituição altamente produtora de pesquisa Na área de pesquisa o que foi feito esteve mais associado com os assuntos relacionados com as próprias escolas de governo e com capacitação, e alguma pesquisa, algum esforço aqui interno, ao longo dos anos, foi feito para estudar a própria carreira dos gestores

Mais recentemente, a área de pesquisa que foi ,nos últimos dois anos para cá, foi reorganizada e ganhou mais dinamismo, reforçou o quadro com gente nova. E aí, uma das linhas de pesquisa é carreiras, cargos e carreiras da administração pública. Então existe algum movimento nessa direção, agora.

Assim como o ensino aplicado foi identificado pelo entrevistado como o tipo de ensino mais adequado aos servidores públicos em atividades de governo, a pesquisa voltada para a investigação de respostas e soluções foi também identificada como a mais indicada para a produção de conhecimento voltado para as questões da gestão pública. Mais uma vez os entrevistados preocuparam-se em diferenciar o papel da universidade e das escolas de governo, contudo admitem que parceira e cooperação entre essas instituições é saudável e desejável.

Compreendeu-se, a partir das falas dos entrevistados, que pesquisa (aplicada) foi um elo fraco na trajetória da ENAP e ao mesmo tempo foi considerado como um papel importante para o desempenho da Escola de Governo.

Para Jesus e Mourão (2012), o quadro próprio de professores possivelmente trará mais consistência ao projeto de desenvolvimento de pesquisas conjuntamente com o departamento de estudo de casos, fornecendo novos conhecimentos para o ciclo de conhecimento organizacional.

Compreendeu-se na narrativa desta pesquisa e da revisão teórica, considerando as experiências nacionais e internacionais, que a constituição de um corpo docente próprio não é um elemento que define uma escola de governo, contudo há de se reconhecer que este é um aspecto que varia de acordo o escopo de atuação de cada escola, pois este é um item importante para a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu, se consideramos a legislação educacional brasileira.

O tema do compartilhamento e difusão do conhecimento como marca na história da ENAP foi também recorrente na fala dos sujeitos da pesquisa ENAP, sendo que esse papel foi melhor desempenhado pela Escola que a pesquisa.

a escola se justifica também porque ela é a agregadora de conhecimento e com isso, difusora de experiências. Ela consegue trazer as competências para dentro dela, e ao mesmo tempo, repassar esses conhecimentos e difundir esses conhecimentos pelo resto da máquina pública.

Nota-se que os entrevistados consideram relevante e pertinente a “preocupação e a capacidade [que a ENAP teve] de ir buscar novas referências para compartilhar com os diversos órgãos”. Além disso, foi narrado com uma qualidade a “uma preocupação que a ENAP sempre teve de traduzir e publicar livros de referência”.

Mesmo não investigando particularmente as atividades de pesquisa e difusão, Jesus e Mourão (2012) contribuem para a discussão deste tema, quando investigam a gestão do conhecimento nas escolas de governo, em particular, analisam o estudo da ENAP.

As variáveis de pesquisa (capital humano, conhecimentos tácito e explícito, tecnologia da informação e processos organizacionais) analisadas no estudo de caso sobre a ENAP, possibilitaram aos autores chegarem as seguintes conclusões:

 a) a rotatividade do capital humano interfere no processo de criação e desenvolvimento do conhecimento organizacional. Isso porque os níveis de variação do capital humano na ENAP são expressivamente altos até o ano pesquisado, 2005;

 b) um quadro de servidores públicos bem estruturado, no que diz respeito à carreira sólida, e bons salários, poderiam contribuir para a manutenção e perenidade da política da organização;

 c) um quadro mínimo de professores seria de notável importância para o desenvolvimento de pesquisas e alinhamento do projeto pedagógico da escola com a missão organizacional;

 d) a TI diminui a perda de conhecimento na organização mesmo com a alta rotatividade de funcionários, hipótese confirmada segundo os conceitos de Marchand e Davenport (2004) e Silva (2004);

 e) parte dos funcionários é resistente aos fluxos de atividades da organização. Segundo Jesus e Mourão (2012) para a estrutura organizacional de uma escola de governo manter um ciclo de desenvolvimento do conhecimento organizacional saudável e rentável para a organização, é necessária a perenidade do capital humano, corpo docente institucional minimamente estruturado, processos organizacionais bem definidos e ambiente focado na pesquisa e na alta produtividade acadêmica/profissional.

Para Amaral (2004), a ENAP é reconhecida como detentora de um saber próprio, distinto do que possuem as instituições acadêmicas. Esta expertise caracteriza-se pelo fato de que, sem perder as referências teóricas, a ENAP retém e fundamenta-se em uma memória institucional (nacional e internacional), o que permite melhor compreender situações concretas e identificar experiências promissoras e alternativas de solução dos problemas públicos.

Para cumprir o seu propósito, a atuação das Escolas de Governo exige a ampliação da capacidade de prospecção, produção e difusão de conhecimento que favoreça a capacidade de decisão do governo e de articulação de ações estratégicas.

A importância de compreender a história das organizações, também pode interessar ao campo prático, pois aos programas de desenvolvimento de lideranças cabem focar em formação e desenvolvimento de competências gerenciais sobre os processos de nascimento e crescimento de cada organização. Em outras palavras, de acordo com Salama (1994), dever-se-ia dar mais ênfase a fatores internos, tais como: o que sabemos sobre o processo histórico de uma organização em particular? Ao invés de analisarmos somente os aspectos externos, o que sabemos sobre a situação do mercado ou sobre os aspectos do meio?

Salama (1994) acolhe uma analogia entre os teóricos organizacionais e os antropólogos. Ambos precisam estudar as características particulares de cada grupo e seu modo específico de vida e prestar atenção no que diferencia uma organização de outra, a fim de compreender por

que (sobre)vivem de maneiras diversas, sinalizando que uma organização não é totalmente dependente da trajetória e nem totalmente criadora da trajetória. Talvez em nossa ansiedade para encontramos generalizações, os estudiosos da organização tenham ignorado o elemento mais importante - a história da organização.

5 HISTÓRIA DA ENAP E AS COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS