• Nenhum resultado encontrado

3 REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 Pesquisa em Educação

Mudanças têm ocorrido no cenário da pesquisa educacional no sentido da melhoria de sua qualidade devido ao fato de que em Educação, sua expansão se deve principalmente ao aumento dos cursos de pós-graduação, assim como nas mudanças em abordagens metodológicas, segundo André (2007, p. 121).

Para a mesma autora, os temas e os enfoques se ampliam e diversificam. Os temas que nas décadas de 60-70 tinham foco na situação controlada de experimentação (laboratório), nos

anos de 1980, vão sendo substituídos pelos que investigam o processo. O estudo que antes se preocupava com fatores extraescolares no desempenho dos alunos, deu lugar ao peso dos fatores intraescolares, surgindo estudos relacionados ao cotidiano escolar, ao currículo, as interações sociais no ambiente escolar, as formas de organização do trabalho pedagógico, a aprendizagem da leitura e da escrita, a disciplina e as relações em sala de aula, a avaliação. Questões gerais vão dando lugar aos componentes locais específicos.

Quanto aos enfoques, André (2007, p. 121) ao citar Gatti (2000), afirma que no início dos anos de 1980 propagava-se a metodologia de pesquisa-ação como crítica às soluções técnicas que até então eram utilizadas para resolver variadas controvérsias que surgissem no campo da Educação.

Nos anos de 1980 e 1990, os temas e referenciais se tornaram mais complexos e consequentemente as abordagens metodológicas, para acompanharem essas mudanças, ganharam força os estudos qualitativos. Estudos que, segundo André (2007, p. 121-122), “(...)

englobam um conjunto heterogêneo de métodos, de técnicas e de análises, que vão desde os estudos antropológicos e etnográficos, às pesquisas participantes, os estudos de caso até a pesquisa-ação e as análises de discurso, de narrativas, de histórias de vida”. As pesquisas

são voltadas para a análise de situações reais do dia-a-dia da escola.

(...) nos últimos anos tem havido uma grande valorização do olhar “de dentro”, fazendo surgir muitos trabalhos em que se analisa a experiência do próprio pesquisador ou em que o pesquisador desenvolve a pesquisa em colaboração com os participantes. (ANDRÉ, 2007, p. 122)

Quando o pesquisador é sujeito direto de sua pesquisa, sua proximidade com o estudo torna-se mais significativa, pela possibilidade de analisar e refletir sobre suas vivências juntamente com os pares.

E as principais características deste tipo de pesquisa, segundo Flick (2009, p. 207), “dizem respeito ao fato de o pesquisador mergulhar de cabeça no campo, que observará a

partir de uma perspectiva de membro, mas deverá, também, influenciar o que é observado graças a sua participação”.

A possibilidade de influenciar nas observações direciona a uma dimensão interativa da situação por estabelecer relações com os pares e provocar uma ação e uma reação ao processo de formação, mediado pela grande variedade de pontos de vista.

Segundo Vianna (2003, p. 50), nessa modalidade de pesquisa, o observador faz parte do evento que está sendo pesquisado. Essa técnica “permite a observação não apenas de

comportamentos, mas também de atitudes, opiniões, sentimentos, além de superar a problemática do efeito do observador”. Para o mesmo autor, a finalidade da observação

participante é produzir verdades tanto no campo teórico, quanto no prático, tendo por base as realidades vivenciadas no dia-a-dia.

A observação participante deve ser entendida como um processo: o pesquisador deve ser cada vez mais um participante e obter acesso ao campo de atuação e às pessoas. A observação deve, aos poucos, se tornar cada vez mais concreta e centrada em aspectos que são essenciais para responder às questões da pesquisa. (VIANNA, 2003, p. 52)

Para Bogdewic (1999) apud Vianna (2003, p. 57), a observação participante nem sempre oferece os resultados desejados, embora seja uma técnica que exige muito do pesquisador. Todavia, segundo Vianna (2003, p. 58), para que os resultados sejam ricos e deixem transparecer a essência da pesquisa, o observador deve apresentar algumas qualificações, quais sejam, a de ser uma pessoa aberta a possibilidades outras, inusitadas, mas compreender que existe uma infinidade de subsídios que podem surgir no trabalho de campo.

Para isto é de se considerar o nível de consciência do inacabamento do ser humano pelo observador, que, de repente, intervém, e inusitadamente se abre a novas possibilidades, o que torna sua observação valiosa, não só para si, mas quem da pesquisa participa.

A escolha desse método torna viável nossa pesquisa, pois objetiva conhecer uma determinada realidade, cujos dados encontram-se no nosso local de trabalho, qual seja, a escola em que atuo. A pesquisa se desenvolveu com a participação de professores(as) e equipe pedagógica envolvidos na mesma realidade e que igualmente procuraram resultados para resolver um problema real.

Para Brandão (1984, p. 11), nesta modalidade de pesquisa, “pesquisadores e

pesquisados são sujeitos de um mesmo trabalho comum, ainda que com situações e tarefas diferentes”. Até então, pesquisadores e pesquisados ocupavam posições opostas, devido o

trabalho científico ser dividido, colocando de um lado os pesquisados e do outro, o pesquisador como produtor do conhecimento. Dessa concepção surgem sinais de crítica e o reconhecimento de que pesquisados são:

pessoas reais, muito mais do que categorias abstratas de ‘objetos’, que parecem descobrir, com a sua própria prática, que devem conquistar o poder e serem, afinal, o sujeito, tanto do ato de conhecer de que têm sido o objeto, quanto do trabalho de transformar o conhecimento e o mundo que os transformaram em objetos. (BRANDÃO, 1984, p. 11)

Brandão (1984, p. 11) menciona o Instituto de Ação Cultural (IDAC), criado por Paulo Freire em Genebra, que abre novos caminhos para a educação. Tal instituto traz um texto, cujo tema dispensa maiores discussões: “Pesquisa Social e Ação Educativa: conhecer a realidade

para poder transformá-la”. Assim, aumenta a crítica da pesquisa acadêmica, em que a equipe

do referido instituto afirma a inutilidade social de boa parte da pesquisa, assim como sendo a causa dos seus maus usos políticos.

Quanto a terminologia, Brandão (1984, p. 15) chama atenção para as diferentes denominações que tem a pesquisa participante, cujas mudanças são justificadas por procederem de diferentes origens e práticas, mas que parecem apontar para um mesmo horizonte. Assim sendo, no decorrer de diversas leituras serão encontradas denominações tais como: “Observação Participante”, “Investigação Alternativa”, “Pesquisa Participante”, “Investigação Participativa”, “Auto-senso”, “Pesquisa Popular”, “Pesquisa dos Trabalhadores”, “Pesquisa-Confronto”.

Quanto ao caráter político da atividade científica, Freire (1984, p. 36) faz a seguinte reflexão: “A quem sirvo com a minha ciência? Esta deve ser a constante a ser feita por todos

nós”. Para o mesmo autor, ao fazer pesquisa há certo aprofundamento do conhecimento de

quem dela participa. Ao fazer pesquisa alternativa, os participantes educam, se educam em conjunto com os grupos envolvidos e ao mesmo tempo estão fazendo pesquisa novamente. Isto porque “pesquisar e educar se identificam em um permanente e dinâmico movimento”.

Participar da pesquisa exige, naturalmente, mais conhecimentos, pela necessidade de argumentação. A necessidade de um aporte teórico sólido vai aos poucos moldando o pesquisador, até que ele se conscientize da sua permanente busca, seja por meio de leituras de artigos acadêmicos da área, seja na troca de conhecimentos junto aos participantes da pesquisa.

A pesquisa acadêmica, por sua vez, ao permanecer excessivamente ocupada com as formalidades de sua natureza, e beneficiar apenas uma minoria, sem retorno à maioria da população, não parece ser a melhor forma de estudar os problemas que dizem respeito aos conflitos disciplinares existentes nas escolas. Diferentemente dela, a pesquisa participante tem caráter democrático e tende a estudar os problemas que têm relação direta com os anseios e a realidade do pesquisador.

A pesquisa acadêmica e suas convencionais técnicas de pesquisa predispõem a uma forma de conhecimento codificado de acordo com regras do mundo universitário sem retorno em direção ao povo. De acordo com esse tipo de crítica, a pesquisa acadêmica é pouco utilizada concretamente, só serve para a obtenção de títulos entre uma pequena minoria privilegiada. A PA

[Pesquisa-ação] e também certas formas de PP [Pesquisa participante] seriam um meio de melhor adequar a pesquisa aos temas e problemas encontráveis no seio do povo. (THIOLLENT, 1987, p. 87)

A seguir enumero as etapas que conduziram essa pesquisa: 1) Planejamento: definir o contexto e delimitar o problema

2) Preparação: Buscar, identificar, selecionar a literatura de apoio concernente ao assunto 3) Definir objetivos da pesquisa

4) Formular um plano de intervenção

4.1 Verificar as possibilidades de realização;

4.2 Discutir com os pares, e com o orientador, considerando minhas vivências como pesquisadora e, com essas pessoas fixar o que será realizado;

4.3 Ação coletiva, que irá gerar dados e resultados. Os próprios pares da realização serão convidados a refletir sobre ela e emitir avaliações, opiniões e sugestões para próximas ações.

5) Análise de dados

5.1 Com a análise dos dados e das situações vividas nas ações de intervenção, será feita crítica à viabilidade e efetividade do plano de intervenção;

5.2 Reelaborar tal plano, tendo em vista o que foi aprendido com a primeira realização.

Assim, nossa construção, reconstrução e desconstrução junto com professores(as) e pessoas do grupo gestor deve ser significativa e profunda, pois trata-se de um interesse comum que possa contribuir eficientemente na delicada questão de formação de pessoas.