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Esta pesquisa possui como foco o estudo de aspectos do cotidiano da sala de aula, caracterizando-se como uma pesquisa etnográfica. “A Etnografia é a arte e a ciência de descrever um grupo humano – suas instituições, seus comportamentos interpessoais, suas produções materiais e suas crenças” (ANGROSINO, 2009, p. 30). O estudo do comportamento humano revela como as pessoas convivem umas com as outras em determinadas circunstâncias. Diante da complexa convivência social na atualidade, torna-se necessária a pesquisa sobre as relações estabelecidas em coletividade, para que se conheçam suas causas e efeitos. A Etnografia é uma maneira de se estudar as sociedades e seus comportamentos; através dela, é possível estabelecer padrões comportamentais a partir da análise de dados coletados in loco observados pelo etnógrafo.

A escola é um espaço sociocultural onde se desenvolvem comportamentos e relações cujos reflexos se percebem nos resultados da aprendizagem dos alunos. No que diz respeito à

pesquisa etnográfica na escola, André (1995, p. 28) destaca que “Se o foco dos interesses dos etnógrafos é a descrição da cultura (prática, hábitos, crenças, valores, significados) de um grupo social, a preocupação central dos estudiosos da educação é com o processo educativo”. Nota- se, dessa forma, que há uma distinção entre o estudo etnográfico em seu sentido estrito, adaptando-o a uma condição peculiar que é o espaço escolar. Essa diferença faz com que certos requisitos da pesquisa etnográfica como, por exemplo, uma longa permanência do pesquisador em campo, não sejam necessários.

A pesquisa científica no ambiente escolar proporciona um entendimento aprofundado sobre os mecanismos de aprendizagem através da compreensão da dinâmica das relações e interações cotidianas. Como afirma André (1995, p. 42),

Para que se possa aprender o dinamismo próprio da vida escolar, é preciso estudá-la, atitudes, com base em pelo menos em três dimensões: a institucional ou organizacional, a instrucional ou pedagógica e a sociopolítica/cultural. Essas três dimensões não podem ser consideradas isoladamente, mas como unidade de múltiplas inter-relações, através das quais se procura compreender a dinâmica social expressa no cotidiano escolar.

Dessa forma, compreende-se que a pesquisa na escola não deve ser um mero registro da sua rotina, mas uma forma de discutir e revelar suas práticas, contribuindo para a evolução do processo de ensino-aprendizagem. Para isso, é necessário que sejam adotadas perspectivas teóricas definidas, com técnicas que ajudem a captar o dinamismo cultural em suas múltiplas possibilidades, apontando contradições e indicando possíveis norteamentos que contribuam para otimização da aprendizagem.

De acordo com o método de observação adotado, uma pesquisa etnográfica pode ser ética, quando o observador mantém distanciamento do fenômeno observado, ou êmica, em que há convivência entre o pesquisador e o fenômeno, de modo que haja uma interação entre eles. Assim, de acordo com essa definição, trata-se de uma pesquisa etnográfica de observação êmica, tendo em vista que o próprio pesquisador faz parte do corpo docente do local da pesquisa. Diante do objeto desta pesquisa (a interação conversacional através dos gestos batutas), deduz-se que a integração entre sujeito e observador contribui para a fidedignidade da pesquisa, reduzindo o distanciamento e facilitando a naturalidade do fenômeno observado. Entretanto, essa situação também traz o risco de se ter uma visão incongruente do objeto de pesquisa, como diz Minayo (2002, p. 68):

Quanto maior for a familiaridade que o pesquisador tenha com aquilo que ele está pesquisando, maior poderá ser sua ilusão de que os resultados sejam óbvios numa primeira visão Essa ilusão pode nos levar a uma simplificação dos dados, nos conduzindo a conclusões superficiais ou equivocadas.

É importante que o pesquisador conheça de fato o seu objeto de pesquisa, assim como o contexto, para facilitar o acesso às informações. No entanto, não se deve deixar levar pelas impressões, o pesquisador tem que se utilizar de métodos e técnicas de observação que possam descrever fidedignamente o objeto, de modo a evitar conclusões indevidas.

Quanto à abordagem, esta pesquisa caracteriza-se por ser qualitativa, já que está direcionada à interpretação da convivência humana a partir de situações reais de interação social. Segundo Minayo (2002, p. 21-22), a pesquisa qualitativa se define como aquela que opera com processos e fenômenos que não podem ser “quantificados”, reduzidos a “variáveis”, ou melhor, a parâmetros e critérios positivistas revestidos de uma formulação matemática. Assim, a análise dos gestos batutas na interação entre professor e aluno deverá ser feita a partir de situações comunicativas específicas que sugerem interpretações voltadas a esclarecer relações da convivência humana.

Para fazer uma análise da gestualidade do professor em sala, adotou-se a pesquisa do tipo etnográfico, que “se caracteriza fundamentalmente por um contato direto do pesquisador com a situação pesquisada, permite reconstruir os processos e as relações que configuram a experiência escolar diária” (ANDRÉ, 1995, p. 41). Esse contato favorece não somente a constatação de relações não aparentes no dia a dia escolar, como também a descoberta de outras situações que se desvelam através da pesquisa. Na concepção de Severino (2007, p. 119-120), a etnografia na escola

[...] visa compreender, na sua cotidianidade, os processos do dia-a-dia em suas diversas modalidades. Trata-se de um mergulho no microssocial, olhando com uma lente de aumento. Aplica métodos e técnicas compatíveis com a abordagem qualitativa.

No que diz respeito ao objetivo, é uma pesquisa que está caracterizada pelo seu interesse prático, no sentido de que aspectos da linguagem humana serão descritos e analisados e “tem como objetivo a identificação, registro e análise das características, fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou o processo” (NETTO, 2008, p. 29), tomando como orientação o método hipotético dedutivo, em que se parte de hipóteses levantadas a partir da observação do pesquisador para a análise dos dados, a fim de se chegar a conceitos e regras gerais.