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CAPÍTULO 3 – ADICONANDO IGUARIAS À RECEITA PARA O

3.1 Pesquisa Qualitativa e aspectos teórico-metodológico da pesquisa

efeitos da educação sobre os processos de biografização no campo de tensão entre as disposições e condutas individuais e os âmbitos estruturais da socialização” (DELORY-MOMBERGER, 2008, p. 25), com ênfase nas histórias de vida, na vertente da pesquisa narrativa (auto)biográfica.

3.1 Pesquisa Qualitativa e aspectos teórico-metodológico da pesquisa (auto)biográfica

A pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, pois, durante o seu desenvolvimento, tem-se o intuito da obtenção de dados descritivos mediante o contato direto e interativo de quem pesquisa com o objeto de estudo. Neste tipo de trabalho, o pesquisador procura entender os fenômenos segundo o olhar do colaborador da situação investigada e, assim, realizar uma interpretação do fenômeno investigado.

De acordo com Bogdan e Biklen (1994) a abordagem qualitativa “procura investigar os fenômenos em toda a sua complexidade e em seu contexto natural”. Aqueles autores apontam que tal abordagem possui características que a tornam descritivas, pois, o investigador analisa os dados coletados em toda sua riqueza respeitando, tanto quanto o possível, a forma em que estes foram registrados ou transcritos (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p. 16).

As principais características dos métodos qualitativos são: a imersão do pesquisador no contexto e a perspectiva interpretativa de condução da pesquisa. Ou seja, na pesquisa qualitativa, o pesquisador é um interpretador da realidade. Os tipos de pesquisa que normalmente adotam uma abordagem qualitativa são:

investigação etnográfica, fenomenológica, interpretativa, estudo de caso, estudo de campo, investigação naturalista, simbólico-interacionista (descritiva). E as ferramentas mais utilizados são: observação, entrevista, grupo focal e análise documental. (BOGDAN E BIKLEN, 1994) Além dos tipos de investigações supramencionados, incluímos a pesquisa (auto)biográfica. (DELORY- MOMBERGER, 2012)

Os caminhos metodológicos empregados para alcançar os objetivos da pesquisa comungam do pensamento de Delory-Momberger (2012), em que retrata a postura da Pesquisa (Auto)biográfica que é

a de mostrar como a inscrição forçosamente singular da experiência individual em um tempo biográfico se situa na origem de uma percepção e de uma elaboração peculiar dos espaços da vida social. (DELORY- MOMBERGER, 2012, p. 524)

A Pesquisa (Auto)biográfica trata da abordagem teórico-metodológica que implica em dimensões narrativas produzidas simultaneamente e de forma articulada ao longo das pesquisas. Essas dimensões dizem respeito às fontes de informações, ao registro do percurso, que é constitutivo da produção de informações e ao modo de produzir conhecimento. Isso ocorre, uma vez que as informações dos sujeitos das pesquisas são produzidas, de forma reflexiva, a partir das narrativas escritas pelo pesquisador. Desse modo, o texto narrativo consiste no que Delory-Momberger (2012) chama de epistemologia da Pesquisa (Auto)biográfica.

A abordagem metodológica, que descreverei aqui, ajuda nos caminhos que levam a responder aos objetivos desta pesquisa, pois, nas palavras de Kater (2004), é sempre útil revisitar a memória pela qual fomos criados, a fim de refletir mais criticamente sobre as representações que fazemos hoje de nós e do que nos cerca, conhecendo as referências que nos intermedeiam dos fatos e das pessoas, descobrindo as sutilezas de funcionamento dos mecanismos que agem em nós quando atuamos, também, profissionalmente. (KATER, 2004, p. 45)

O que constitui o projeto epistemológico da Pesquisa (Auto)biográfica, abordagem metodológica utilizada para esta pesquisa, é a “constituição individual” do sujeito. De acordo com a autora, o objeto de estudo da Pesquisa (Auto)biográfica se inscreve em uma das questões centrais da antropologia social buscando compreender “como os indivíduos se tornam indivíduos?”. Essa temática convida outras áreas do conhecimento a desdobrar outras questões que tratam da

complexidade das relações dos indivíduos e suas inscrições nos contextos históricos, sociais, culturais, linguísticos, econômicos e políticos. (DELORY- MOMBERGER, 2012. p. 523)

Os desenvolvimentos teóricos mais recentes da Pesquisa (Auto)biográfica, propostos por Delory-Momberger (2006; 2008; 2011; 2012), têm se baseado em histórias de vida, narrativas (auto)biográficas. Assim, a Pesquisa (Auto)biográfica é relevante para se compreender as posições e papeis ocupados pelos indivíduos na estrutura social. Portanto, reconstruímos o sentido de nossas as vidas narradas no momento em que relacionamos o mundo com as nossas construções biográficas e os compreendemos nas relações de ressonância com a nossa própria experiência biográfica. (DELORY- MOMBERGER, 2008. p. 40-59)

Para a autora, a forma de expressão mais imediata para demonstrar a representação mental, pré-escritural de uma biografia são as narrativas. A autora esclarece que os princípios do discurso narrativo consistem em organizar a sucessão dos fatos, as sintaxes das ações e das funções, a dinâmica transformadora entre sequências de aberturas e de fechamento dos acontecimentos, além de orientar quanto aos objetivos do sujeito em narrar determinados fatos. Nesse sentido, a narrativa apresenta-se como a linguagem do fato biográfico, como o discurso no qual escrevemos nossa vida.

Assim, ao narrar a sua própria história, o indivíduo age e produz ação. E essa ação deixa rastros de conhecimentos produzidos e de experiências adquiridas. Portanto, no ato de contar a sua história é possível produzir narrativas formativas refletidas no texto. O relato não é somente o produto de um ato de contar, ele tem também o poder de produzir efeitos sobre aquilo que relata.

A identificação e o tratamento cruzado desses relatos permitem tornar legíveis os princípios estruturais que organizam o percurso de autoformação de quem narra, ao mesmo tempo em que dão conta de sua singularidade. A história de vida que se desenvolve pela narrativa (auto)biográfica no ato de narrar é o momento em que o sujeito forma-se, elaborando e experimentando a sua história de vida, por meio da inteligibilidade biográfica, refletindo sobre como esse sujeito apreende e compreende sua vida ao recontá-la (DELORY- MOMBERGER, 2008. p. 57-138). O objetivo da narrativa (auto)biográfica não é apenas descrever fatos narrados pelo sujeito da pesquisa, e muito menos “reduzir a narrativa a premeditados interesses do pesquisador, mas seguir os personagens procurando as formas de existência do

narrador”. Porém, vale destacar que nem toda entrevista narrativa é (auto)biográfica, pois a entrevista narrativa (auto)biográfica incide no sujeito, no ato de contar, compreender o seu próprio processo de formação tornando-o o que ele é hoje – suas “figurações que representam sua existência [...], pois o homem escreve no espaço a figura de sua vida”. Por meio da figuração do sujeito, ou seja, das representações de si nos contextos sociais podemos compreender, na sua história de vida, como este sujeito se constrói com o ambiente e no qual se encontra essa figuração (DELORY-MOMBERGER, 2008, p. 35).