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1.4 Marco de luta pelo fim da violência contra a mulher

4.1.1 A pesquisa qualitativa

Segundo GASKELL (2002), a pesquisa qualitativa refere-se:

[...] a entrevista do tipo semi-estruturada com um único depoente (a entrevista em profundidade). O ponto de partida é o pressuposto de que o mundo social não é um dado natural, sem problemas: ele é ativamente construído por pessoas em suas vidas cotidianas, mas não sob condições que elas mesmas estabeleceram. Assume-se que essas construções constituem a realidade essencial das pessoas, seu mundo vivencial (GASKELL, 2002, p. 64).

A pesquisa qualitativa tem por objetivo apresentar uma amostra do espectro dos pontos de vista. Segundo o autor (2002) o “pesquisador deverá usar sua imaginação social científica para elaborar a seleção dos depoentes, sejam quais forem os critérios para a seleção dos entrevistados, os

procedimentos e as escolhas devem ser detalhadas e justificadas” (GASKELL, 2002, p. 70).

ALVES-MAZZOTTI e GEWANDSZNAJDER (1998, p. 163) afirmam que a pesquisa qualitativa possui características multimetodológicas, utilizando-se de uma variedade de procedimentos e instrumentos para a coleta dos dados. Portanto, foi nesse sentido que lançamos mão desse procedimento para a realização das entrevistas com os moradores do bairro Vila Terezinha.

4.2 Campo de investigação

MINAYO (2004, p.53), explica que o campo de pesquisa consiste no recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estruturada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objetivo de investigação.

O bairro escolhido foi Vila Terezinha por que é onde atuo como Assistente Social e coordenador de um núcleo de atendimento social às famílias carentes. Também é percebido através dos atendimentos grande incidência de violência contra a mulher.

Além destes motivos, a opção pelo bairro Vila Terezinha se deu por já atuar há cinco anos como Assistente Social e, portanto, considerar-me pertencente ao bairro, até pelo fato de integrar o quadro de membros da Igreja Presbiteriana Independente de Vila Terezinha, onde é a sede do NAPSF – Núcleo de Atendimento Psicossocial á Família – Comunidade e Justiça.

Nesse bairro conheço e sou reconhecido por pessoas e isso permite o acesso mais fácil ao bairro e às informações ali contidas, pois inspiro confiança e isso na periferia é de extrema importância.

4.2.1 Relatos sobre Vila Terezinha

O bairro, desde sua formação, passou por várias mudanças, urbanizando-se. Hoje conta com algumas facilidades sociais de atendimento à população como UBS, terminal de lotação, Creche, Centro Cultural, Mercados, Igrejas, Padarias, Escolas, Rádio Comunitária, Associação de moradores. No ano de 2003 foi inaugurada a UBS Vila Terezinha.

Vila Terezinha é um bairro marcado por ganhos e perdas. Neste capítulo faremos breve apresentação do bairro. Para realizarmos sua descrição usaremos como fontes de informações o Jornal Cantareira, jornal de circulação no mês de julho de 2003 no bairro, informações concedidas pela Subprefeitura e uma base de dados concedida pelo IBGE.

De acordo com relatos de moradores ao Jornal Cantareira, o bairro de Vila Terezinha tem sua história marcada por muito sofrimento, luta e mobilização de pessoas.

Os moradores do bairro estiveram sempre presentes nas lutas por estrutura básica: luz, água, transportes, escolas, creches. No início a presença das lideranças da Igreja Católica foi importante para a organização popular (Jornal Cantareira, 2003).

Segundo o jornal a história do bairro inicia em 1958 com a abertura do loteamento Vila Terezinha, localizado na região noroeste da capital. A Gleba de terra pertencia à família De Nigri e sócios. O loteamento abria a possibilidade das famílias abandonarem a condição de moradia de aluguel e realizarem o sonho da casa própria.

Na época do loteamento as famílias que adquirissem um lote de terra recebiam no ato da compra mil tijolos que garantiam a construção de 2 cômodos.

Os primeiros moradores foram a família do Sr. Antonio, conhecido como Gaúcho; do Sr. Benedito, o mineiro; do Sr. João Galvão, o Baiano e a do Sr. Enéas, o Pernambuco. Esses primeiros moradores enfrentaram vários problemas e dentre eles destaca-se o transporte para o Centro da cidade. A ida para o trabalho era muito difícil.

Na época do loteamento havia um único meio de transporte. O Pau de Arara, caminhão adaptado com bancos em sua carroceria que fazia ponto na praça da Igreja da Brasilândia. De acordo com relatos dos moradores ao Jornal Cantareira só haviam dois caminhos para entrar no bairro até 1970. O primeiro era o trilho Lázaro Amâncio conhecido anteriormente como Servidão Pública e o segundo era a Rua Nair de Campos, por onde o caminhão de gás abastecia os moradores. Nessa época também os moradores utilizavam cavalos para chegarem até o ponto mais próximo que estava localizado na Praça João Kaiser, na Brasilândia, para embarcar em um ônibus. Quem não se utilizava desse meio de transporte percorria todo o projeto a pé.

Após anos de luta e caminhada a pé ou no lombo de um cavalo entravam as primeiras lotações que percorriam o trajeto Vila Terezinha até a Praça João Kaiser.

Dna. Arcanha relata as dificuldades que os moradores enfrentavam para conseguir transporte coletivo para trabalhar.

A gente pra tomar um ônibus era ela na Brasilãinda pra ir trabalhar, saia daqui quatro horas amaçando barro, pegava um sapato velho que não prestava, ponhava no pé, ia até a Brasilãinda, chegava na Brasilãinda já levava um outro sapato na sacola, pegava aquele sapatinho calçava e ia pra cidade pra ir trabalhar. Foi muito sofrida a minha vida aqui, muito sofrida mesmo.

A manchete do Jornal ainda aponta outras lutas travadas pelos moradores em busca de melhorar a vida no bairro. No loteamento não havia água, nem luz. A água era retirada de minas d’água, a luz era de velas ou lampiões de querosene, relatou um morador ao repórter do Jornal Cantareira.

Nos anos 60, acrescenta outro morador, iniciou-se a luta por água encanada, rede de esgoto, energia elétrica, abertura e pavimentação das ruas, escolas públicas, postos de saúde, creches e segurança.

Para Dna. Arcanha, moradora no bairro há quase 50 anos. Oriunda da Bahia chegou em 1964.

Eu Morais, quando cheguei aqui em 1964 foi um sofrimento pra mim, aqui nós não tinha água, para ir pegar água ia ali na bica, lavar roupa. Trabalhava a semana inteira, quando era no sábado e domingo eu ia lavar roupa numa bica que tinha ali. Dna Arcan

4.3 Critérios para seleção

Utilizando-se do roteiro de perguntas, as entrevistas foram agendadas conforme a disponibilidade das pessoas. As entrevistas foram realizadas no geral na sede do NAPSF – Núcleo de Atendimento Psicossocial à Família – Comunidade e Justiça por solicitação dos próprios moradores. Após a transcrição e leitura de todas as entrevistas passamos para a etapa da análise, uma etapa longa e demorada. Embora as questões tenham observado o mesmo roteiro, a sua duração variou de morador(a) para morador(a), conforme as características pessoais, a responsabilidade com os afazeres cotidianos, a disponibilidade para responder as questões, o envolvimento com a temática e o ambiente no qual nos encontrávamos.

O processo de seleção dos entrevistados se dão seguindo o que pede Gordim (1975), apud Rosa e Arnoldi (2008):

a) Seleção de entrevistados mais capazes e dispostos a dar informações relevantes;

b) Seleção dos entrevistados que deverão ter a melhor relação com os entrevistadores;

c) Verificação a delimitação do tempo e lugar mais apropriados para a Entrevista

Para Valles (2000, p. 218), apud Rosa e Arnoldi (2008), precisa levar em conta os contatos e a apresentação, como uma das etapas principais da Entrevista.

A primeira aproximação entrevistador-entrevistado é de fundamental importância, pois dela pode depender todo o desenvolvimento da Entrevista.

Em relação ao número de entrevistas, decidimos entrevistar 30 moradores do bairro Vila Terezinha, independentemente se fossem homens ou mulheres. Desses 30 moradores, 29 foram entrevistados seguindo um roteiro de perguntas e 1 foi solicitado um relato sobre a história do bairro. Os cinco primeiros moradores foram escolhidos por manter uma relação maior com o pesquisador. Os demais foram indicados pelos cinco primeiros, sendo que depois um foi indicando o(a) outro(a).

Apresentamos, a seguir, o questionário elaborado e utilizado por ocasião das entrevistas aos moradores. Com o questionário saímos em busca dos moradores em suas residências.

1 – Você conhece ou já ouviu falar na Lei Maria da Penha?

2 – Você está ciente da decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a Lei Maria da Penha?

3 – Como é seu relacionamento com os seus vizinhos? 4 – Você se incomoda com a violência no bairro?

5 – Você se incomoda quando presencia brigas de casais?

6 – No bairro Vila Terezinha existe muita violência contra a mulher?

7 – Você acredita que em briga de marido e mulher não se deve meter a colher?

8 – Você acha que mulher tem que apanhar? Por que? 9 – Qual o seu conceito de violência contra a mulher?

10 – Você acredita que o homem tem direito de espancar a esposa?

11 – Você acredita que os moradores podem diminuir os índices de violência contra a mulher no bairro Vila Terezinha?

12 – Quais iniciativas existem no bairro Vila Terezinha com objetivo de refletir sobre a diminuição das incidências de violência contra a mulher?

13 – Qual a sua reação ao presenciar um morador do bairro espancando uma mulher? Seja ela, sua mulher, sua filha e/ou uma moradora do bairro?

14 – Você se incomoda em ouvir as pancadas e os gritos de socorro de uma vizinha?

15 – Qual o conceito de comunidade que você conhece?

16 – Quais fatores dificultam a diminuição das incidências de violência contra a mulher no bairro de Vila Terezinha?

17 – Qual o seu olhar sobre a mulher?

18 – Qual o olhar da comunidade sobre a mulher?

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