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2.2 A Educação Para Um Meio Ambiente Equilibrado

3.1.5. Pesquisa Qualitativa e Quantitativa

Publicações feitas nas décadas de 1920 e 1930 na “Escola de Chicago”, apresentaram grandes contribuições às pesquisas sociológicas ao afirmarem a importância da pesquisa qualitativa. No mesmo período, o método qualitativo de trabalho foi largamente utilizado também em pesquisas antropológicas por diversos autores como Boas, Mead, Benedict, Baterson, Evans-Pritchard, Radcliffe-Brown e Malinowski (Denzin & Lincoln, 1994, p.1). No entanto, até os dias de hoje, não é fácil definir o que seria uma pesquisa qualitativa, isto porque, seu significado varia de acordo com o momento histórico, afirmam Denzin & Lincoln (1994, p.1). Na tentativa de apresentar uma definição genérica, os mesmos autores indicam que a pesquisa qualitativa “enfoca métodos variados, envolvendo uma interpretação e uma maneira naturalística de abordagem. Isto significa que pesquisadores qualitativos estudam as coisas em seu conjunto natural, num esforço de fazer sentido, ou interpretar fenômenos, de acordo com os significados que as pessoas atribuem a eles”. Existe

uma multiplicidade de metodologias para a pesquisa qualitativa, que pode ser vista como uma “bricolagem”, ou seja, um agrupamento de práticas utilizadas para solucionar um problema numa situação concreta7.

Com o intuito de diferenciar a pesquisa qualitativa da pesquisa quantitativa, os autores Denzin e Lincoln (1994, p.4) afirmam que a palavra "qualitativa" enfatiza processos e significados que não são rigorosamente examinados ou mensurados em termos de quantidade, soma, intensidade ou freqüência, enquanto que, estudos quantitativos priorizam a mensuração e análise de relações causais entre variáveis, e não entre processos.

Haguette (1992, p.63) afirma que o método qualitativo fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social face à configuração das estruturas societais, seja a incapacidade da estatística de dar conta dos fenômenos complexos e dos fenômenos únicos. Para a autora, os métodos quantitativos supõem uma população de objetos de observação comparável entre si e os métodos qualitativos enfatizam as especificidades de um fenômeno em termos de suas origens e de sua razão de ser.

Patton (1980, p.11), citado por Brito (2000), afirma que a metodologia de pesquisa qualitativa contribui para as comunidades desenvolverem programas que auxiliem no entendimento da realidade, no afloramento de conflitos e na busca de soluções para os problemas.

Para Minayo (1996, p. 28), freqüentemente, a dicotomia entre métodos qualitativos e quantitativos que se estabelece na prática, de um lado, deixa à margem relevâncias e dados que não podem ser contidos em números, e de outro lado, às vezes contempla apenas os significados subjetivos, omitindo a realidade estruturada. Neste sentido, a busca pelo equilíbrio entre os dois métodos pode trazer grandes contribuições para o ramo da pesquisa científica. A mesma autora cita Mannheim, considerado o fundador da sociologia do conhecimento, dizendo que o mesmo opõe-se ao positivismo que tenta tornar mensuráveis e discerníveis sem ambigüidade todos os

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A bricolagem muda e toma nova forma conforme novas ferramentas, métodos e técnicas são somadas ao ‘quebra-cabeças’. “A escolha das ferramentas a serrem usadas ou qual técnica de pesquisa utilizar, não é feita com antecedência. Esta escolha de práticas de pesquisa depende da pergunta feita, e esta questão depende do contexto”, afirma Nelson et al. (1992), citados por Denzin & Lincoln (1994, p.2).

fatos sociais, pois há certos termos tão carregados de valores que só um participante do sistema social estudado pode compreendê-lo. Mannheim chama atenção para a participação do sociólogo como observador da realidade que pesquisa e diz-nos que isso pode significar o sacrifício do que às vezes se considera como necessária “neutralidade e objetividade científica”. Para ele, “o desprezo pelos elementos qualitativos e a completa restrição da vontade não constitui objetividade e sim negação da qualidade essencial do objeto”.

Minayo (1996) acrescenta ainda que “a fenomenologia, defende a idéia de que as realidades sociais são construídas nos significados e através deles, e só podem ser identificadas na medida em que se mergulha na linguagem significativa da interação social. A linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis na abordagem fenomenológica. Ela enfatiza os significados gerados na interação social. (...) Esta abordagem, na medida em que acredita que a realidade vai mais além dos fenômenos percebidos pelos nossos sentidos, trabalha com dados qualitativos que trazem para o interior da análise, o subjetivo e o objetivo, os atores sociais e o próprio sistema de valores do cientista, os fatos e seus significados, a ordem e os conflitos. (...) A questão da objetividade é então colocada em outro nível. Dada a especificidade das ciências sociais, a objetividade não é realizável. Mas é possível a objetivação que inclui o rigor no uso de instrumental teórico e técnico adequado, num processo interminável e necessário de atingir a realidade. O que se pode ter dos fenômenos sociais, é menos um retrato e mais uma pintura conforme a imagem usada por Demo (1985, p.73)8. (...) Portanto, a objetivação, isto é, o processo de construção que reconhece a complexidade do objeto das ciências sociais, seus parâmetros e suas especificidades é o critério interno mais importante de cientificidade. É preciso aceitar que o sujeito das ciências sociais não é neutro ou então se elimina o sujeito no processo de conhecimento. Da mesma forma, o “objeto” dentro dessas ciências é também sujeito e interage permanentemente com o investigador. A “objetivação” nos leva a repudiar o discurso ingênuo ou malicioso da neutralidade, mas nos diz que é necessário buscar formas de reduzir a incursão excessiva dos juízos de valor na pesquisa. Os métodos e técnicas de preparação do objeto de estudo, de coleta e tratamento dos dados ajudam o pesquisador, de um lado a ter uma visão crítica de seu trabalho e, de outro, de agir

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com instrumentos que lhe indicam elaborações mais objetivadas. Conforme adverte Demo, no labor de investigação, a prática não substitui a teoria e vice-versa (1985, p. 75)" (Minayo, 1996, p.34).

Muitas são também as críticas que podem ser feitas à abordagem qualitativa. Vêm dos mais diferentes pontos e atacando flancos variados. As mais freqüentes seriam: a) o empirismo de que são acometidos muitos pesquisadores que passam a considerar ciência a própria descrição dos fatos que lhes são fornecidos pelos atores sociais. Dele estão imbuídos aqueles que consideram a versão das pessoas sobre os fatos como a própria verdade. Já Durkheim chamava atenção para este problema (1978, 27); b) a ênfase na descrição dos fenômenos em detrimento da análise dos fatos; c) o envolvimento do pesquisador com seus valores, emoções e visão de mundo na análise da realidade; d) a dificuldade em si de trabalhar com “estados mentais”. A críticas em relação à abordagem qualitativa na verdade são constatações das falhas e das dificuldades na construção do conhecimento. Mas as “ciências sociais não podem deixar de estar permanentemente engajadas num discurso com seu próprio objeto de estudo: um discurso, no qual tanto o investigador quanto o assunto compartilham dos mesmos recursos" (Giddens, 1978, p.234).