• Nenhum resultado encontrado

Esta parte da pesquisa foi desenvolvida para entender melhor a compreensão da mitologia de origem do povo Kaingang entre os próprios Kaingang, na tentativa de aprofundar as dimensões da oposição e complementaridade e poder fazer um diálogo com o mito descrito no trabalho.

O objetivo deste estudo é tentar entender as diferentes formas de compreensão sobre o tema, coletando e compilando informações necessárias que possam dar suporte à compreensão da temática abordada.

Destaco ainda que esta pesquisa foi aplicada especialmente aos indígenas do povo Kaingang, professores e acadêmicos de diferentes áreas do conhecimento.

A Figura 06 traz indicadores de quantas pessoas do sexo masculino e do feminino responderam à pesquisa do total de oito pessoas participantes.

Figura 06 - Indicador de gênero da pesquisa

Fonte: Autor

A pesquisa realizada teve como título: Pesquisa sobre o mito de origem Kaingang e conteve a seguinte descrição inicial: "Sou estudante do Mestrado em Educação da UNISC e estou fazendo esta pesquisa como parte das minhas investigações para a elaboração da dissertação de mestrado".

Após, foi explicada a finalidade da pesquisa: “Esta pesquisa tem por finalidade entender a sua compreensão sobre as dimensões de oposição e complementaridade que podem ser identificadas a partir das narrativas do Mito de Origem do povo Kaingang, conhecido por Kamé e Kanhru”. Nesta etapa, descrevi o trecho do mito de

origem do povo Kaingang, supracitado nesse trabalho, para que as pessoas que iriam responder a esta pesquisa pudessem saber a que mito de origem estamos nos referindo.

Dessa forma, desenvolvemos cinco perguntas que pudessem nos orientar na compreensão da temática, além da solicitação de alguns dados de identificação dos participantes para o controle da pesquisa, como: Nome (opcional), sexo, idade, e-mail (opcional), com as seguintes perguntas relacionadas ao tema: 1. A partir da narrativa mitológica de Kamé e Kanhru, o que você entendeu por oposição e complementaridade? 2. Pensando em humanização da educação, como as relações de oposição e complementaridade podem contribuir para esse processo?

Com relação à primeira pergunta, os entrevistados, em sua grande maioria, responderam que, segundo a mitologia, todos dependem um do outro para poder existir no mundo. A seguir, apresentamos algumas respostas dadas à primeira pergunta:

Pela narrativa fica clara a oposição a partir de um conflito: o soco que Rã deu em Kysã. Essa oposição, me parece, ter se originado de um domínio hierárquico de um (sol) sobre o outro (lua). Desse momento em diante a complementaridade impera. A lua fica responsável por algumas tarefas (a noite, o sereno, a calmaria etc) e o sol por outras (o dia, o calor etc). E suas características ficam mais evidentes quando são descritos os heróis - Kamé e Kanhru -, pois elas indicam precisamente o ponto de influência de sua metade e seu ser social (Diego Fernandes Dias Severo, 2020)

Como os dois criaram tudo, nesse contexto tem que haver uma oposição entre os dois, pois, eles são irmãos e cada qual pertence a uma metade a qual se complementa, sendo que os filhos de Kamé só podem se casar com os filhos de kainhrue vice e versa. No qual, segundo a mitologia Kaingang, tudo tem o seu complemento desde a sua criação (Michele de Carvalho dos Santos Borba, 2020).

Assim, podemos dizer que as respostas dadas à primeira pergunta vêm ao encontro dos diálogos que vínhamos desenvolvendo ao longo deste trabalho, na forma de compreender o sentido, e a forma como o povo vive a educação Kaingang a partir do mito de origem.

Com relação à segunda pergunta, os participantes responderam:

As relações de oposição kanhgág - que iniciam seu processo nas metades, mas que se alastram para uma série de outros elementos (as seções das metades, as classificações sociais, as posições políticas etc) - delineiam um "lugar" para todas as coisas do mundo nelas. Ou seja, não existe item, coisa, pessoa ou lugar que não seja classificado e, logo, englobado por sua complementaridade. Dessa forma, a "oposição" e a "complementaridade"

ajudam a pensar a educação - aqui estou pensando o processo de escolarização -- como um todo integral, ou seja, que não pressupõem a exclusão do outro. O sistema de ensino dos fóg - "nosso", dos brancos - tende a realizar exclusões (ou a normalizar elas) e não se colocar na tarefa de buscar a "posição" de todos nesse complexo sistema de relações que é a educação formal escolar (Diego Fernandes Dias Severo, 2020).

São fundamentos dos princípios de educar conscientes da importância para o aprendizado do outro. Nesse sentido, produz indivíduos coletivos e assim, uma sociedade humana dentro de outros conceitos de sociedade. Não no sentido de conceito de humanidade que é capaz de negar o outro, o caso dos conceitos dos brancos europeus, colonizadores (Sem identificação, 2020).

Na educação já pensamos que poderia contribuir como de início dentro de uma escola de se ter dois coordenadores/orientadores ambos de marcas contrárias (Kamé/kairu), pois assim, os dois poderiam fazer trabalhos, dar conselhos, dar atendimento ao pessoal da marca contrária, porque dessa forma se evitaria discussões indevida de sobre opiniões, até porque isso acontece na nossa organização social dentro das aldeias (Sueli Krengre Cândido, 2020).

Destacamos aqui as respostas dos entrevistados quanto ao fato de a oposição e a complementaridade ajudarem a pensar e a construir uma outra concepção de educação e uma nova forma de educar para a sociedade envolvente.

Eles também destacam os fundamentos e os princípios de educar consciente a partir da mitologia, trazendo a importância para a aprendizagem do outro, destacam ainda o conceito da sociedade humana, não no sentido do conceito da humanidade que é capaz de negar o outro, segundo o pensamento europeu.

Também foi salientada a contribuição desse pensamento dentro das escolas a partir do Kamé e Kanhru, trazendo essas marcas e suas características com os professores e coordenadores no sentido de dar conselhos, evitando discussões indevidas e de individualidade, egoístas, no sentido de ser ou tentar ser o dono da verdade, mas sim no sentido de complementar a ideia e o pensamento do outro. Todos se utilizando do pensamento de reciprocidade, oposição e complementariedade, respeitando o próximo, e o principal: o amor incondicional pelo seu oposto em todos os sentidos e em todas as formas.

15 - O CAMINHO INTERCULTURAL NA COMPOSIÇÃO DO VÃFY NA ESCRITA