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2. DA INTENÇÃO AO PROCESSO DE ENSINO: EMPATIA HISTÓRICA,

2.1. Sobre pesquisar, ensinar e aprender

Para resolver a problemática da pesquisa, será colocada em prática uma sequência didática, que será exposta posteriormente, durante os períodos das aulas regulares de História, ou seja, não será oferecida uma oficina, ou aula extra, num turno inverso, para alunos que desejam participar. Um dos desafios da pesquisa é fazê-la com todos os alunos e alunas da turma e sua multiplicidade de interesses, formas de aprender e trabalhar em aula.

Como as atividades se deram dentro do andamento regular das aulas, além de servirem para a análise que essa pesquisa se propõe, elas fizeram parte da avaliação formal dos alunos, sendo atribuído uma nota para o resultado da atividade. Entretanto, foi esclarecido aos estudantes que a

participação deles para a pesquisa é facultativa, ou seja, mesmo eles e elas fazendo as atividades propostas, seu resultado só foi analisado se seu autor ou autora assim desejar.

Além disso, a realização das tarefas propostas para essa pesquisa não se configura constrangimento, uma vez que eles estarão aprendendo (e construindo conhecimento em) História durante as aulas de História, ou seja, não os afeta de qualquer maneira negativa.

Outra razão para fazer a prática durante as aulas de História é a crença na continuidade de ensinar o que Paulo Freire chama de “pensar certo”. Para Paulo Freire, “o professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo” (1996, p.28). Isto é, ensinar a Pensar Certo só é possível se o professor pensa certo, ou seja, não estar demasiado certo de nossas certezas, estar aberto a novos conhecimentos, não ser um repetidor/memorizador de ideias prontas.

Faz parte do Pensar Certo “A rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia” (FREIRE, 1996, p.36).

Paulo Freire ainda nos diz que:

Pensar, por exemplo, que o pensar certo a ser ensinado concomitantemente com o ensino dos conteúdos não é um pensar formalmente anterior ao e desgarrado do fazer certo. Nesse sentido é que ensinar a pensar certo não é uma experiência em que ele – o pensar certo – é tomado em si mesmo e dele se fala ou uma prática que puramente se descreve, mas algo que se faz e que se vive enquanto dele se fala com a força do testemunho (1996, p.37).

Isto é, Pensar Certo e ensinar a Pensar Certo estão intimamente ligados à crença em uma educação emancipadora, em um ensino colaborativo, em uma prática docente crítica. Nesse sentido, pode estar - mas não

necessariamente - conectado com o pensar historicamente e com a empatia histórica.

Por, isso, além do papel do professor, outro elemento que cabe uma reflexão nesse momento é do professor enquanto pesquisador. Sobre isso, podemos iniciar a reflexão ainda com Paulo Freire, que afirma que:

Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador (1996, p.29).

Freire argumenta que faz parte do ser professor o ser pesquisador, pois a pesquisa, a curiosidade, a busca pela inovação está presente no cotidiano do professor. A problemática dessa pesquisa nasceu de uma inquietação vivida na docência em anos anteriores (como exposto na Introdução) e incentivou a busca por conceitos que auxiliassem a melhor compreender o vivido e a contribuir para reflexões de colegas que tenham experiências parecidas.

Nesse mesmo sentido, Henry Giroux defende que o trabalho do professor é um trabalho intelectual. Giroux, embasado em Gramsci, vai além e afirma que, “ao se considerar os professores como intelectuais, torna-se possível esclarecer e recuperar a noção básica de que toda atividade humana envolve alguma forma de pensamento” (1988, p.21). Para ele, toda atividade, por mais rotineira, depende do funcionamento da inteligência.

Entretanto, Henry Giroux, apoiado na pedagogia crítica, problematiza o professor não só como intelectual, mas como Intelectual Transformador, ou seja, aquele professor comprometido com o processo de emancipação. Intelectuais no sentido que os professores assumam todo o seu potencial como estudiosos e profissionais ativos e reflexivos, diante dos interesses políticos e ideológicos que estruturam seu discurso, suas relações sociais. E

transformadores, no sentido de educarem os estudantes para serem cidadãos ativos e críticos.

Segundo Giroux, “a tarefa central, para a categoria de intelectuais transformadores, é tornar o pedagógico mais político e o político mais pedagógico” (1988, p.32).

Tornar o pedagógico mais político, para ele, significa inserir a educação efetivamente na esfera política, colocando a escolarização na disputa por significados e na luta a respeito das relações de poder. Por sua vez, tornar o político mais pedagógico significa

[…] utilizar formas de pedagogia que incorporem interesses políticos que tenham natureza emancipadora; isto é, utilizar formas de pedagogia que tratem os estudantes como agentes críticos; tornar o conhecimento problemático; utilizar o diálogo crítico e afirmativo; e argumentar em prol de um mundo qualitativamente melhor para todas as pessoas (GIROUX, 1997, p.163).

Dessa forma, segundo Giroux, o professor enquanto intelectual transformador, precisa desenvolver um discurso que una a linguagem da crítica à linguagem da possibilidade, ou seja, o trabalho do professor deve permitir e possibilitar ao estudante que ele se manifeste contra as injustiças econômicas, sociais e políticas e, ao mesmo tempo, que os estudantes tenham “[…] a oportunidade de tornarem-se cidadãos que tenham o conhecimento e coragem para lutar a fim de que o desespero não seja convincente e a esperança seja viável” (1997, p.163).

Portanto, ser professor, segundo Giroux e Freire, é ser um profissional curioso, disposto a aprender, pesquisador, mas também disposto a transformar a realidade em que atua, juntamente com os estudantes.