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PESQUISAS ATUAIS EM PSICODINÂMICA DO TRABALHO

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CAPÍTULO 2 A ABORDAGEM PSICODINÂMICA DO TRABALHO

2.3 PESQUISAS ATUAIS EM PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Com a finalidade de debater os rumos teóricos e metodológicos da pesquisa e da prática em psicodinâmica do trabalho, além de contribuir para a discussão dos paradigmas transformadores no campo do trabalho, da saúde e das políticas públicas, vários estudos tem sido realizados, vislumbrando os efeitos do trabalho na vida do trabalhador.

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A angústia resulta de um conflito intrapsíquico, isto é, de uma contradição entre dois impulsos inconciliáveis. Pode tratar-se de uma oposição entre duas pulsões, entre dois desejos, entre dois sistemas (p.ex. consciente, inconsciente), entre duas instâncias. Segundo Dejours (1992) a investigação da angústia só deve ser realizada pela psicanálise, uma vez que a angústia é uma produção individual, cujas características só podem ser esclarecidas pela referência contínua à história individual, à estrutura da personalidade e ao modo específico de relação objetal.

O eixo de análise dessas pesquisas é a temática trabalho, prazer e sofrimento, inspirada no objeto de estudo da psicodinâmica, que articula a organização do trabalho e os processos de subjetivação manifestos nas vivências de prazer-sofrimento, nas estratégias de ação para mediar contradições, nas patologias sociais e na saúde.

A Psicodinâmica do Trabalho vem sendo utilizada em pesquisas na Pontifícia Universidade Católica de Goiás - PUC, tendo por professora pesquisadora a Drª Kátia Barbosa Macêdo. Sua linha de pesquisa objetiva analisar as organizações e a influência da psicodinâmica na gestão das organizações, onde o bem estar dos indivíduos, grupos e organização constituem no objetivo final.

Dias (2007) objetivou estudar as vivências dos trabalhadores de uma organização de entretenimento. Em seu estudo detectou a busca constante por produtividade, ou seja, o resultado da organização atrelado à produtividade, o que significa a supremacia da razão sobre o imaginário, da acumulação ampliada do capital sobre as relações humanas.

Verificou-se, também, que a imagem projetada pela organização era valorizada pelos seus membros, e a aparência da organização era importante para os sujeitos nela inseridos. A pesquisa de Dias (2007) permitiu perceber a forma como a organização utiliza o discurso de autonomia e de liberdade dos trabalhadores nas decisões internas. Percebe-se que, na organização pesquisada não existia fim de expediente, fim de semana ou vida privada. O trabalho invadia a vida familiar e amorosa dos trabalhadores, lembrando-os que deveriam sempre estar disponíveis. Os trabalhadores sentiam cansaço, depressão, sofriam em decorrência de noites mal dormidas, de privação do sono, e a insuficiente compensação no plano privado não era suficiente para um trabalho eficaz e uma exigência crescente de resultado de metas de vendas. Assim, evidenciou-se que a organização pesquisada era um lugar permanente de representações, que possibilitava aos trabalhadores identificar-se com ela, contudo, essa unicidade não era percebida por eles, uma vez que sustentavam o discurso da participação, do reconhecimento do outro, da sedução e da adesão às normas e aos regulamentos internos. É importante salientar que os trabalhadores procuram compreender o que há por trás do discurso organizacional e que eles estão inseridos em uma teia de armadilha da estrutura estratégica para se trabalhar.

Araújo (2008) buscou analisar o trabalho dos professores de uma academia de ginástica, um trabalho dentre alguns outros, que teve como proposta apreender o sentido que o trabalho possui para trabalhadores que promovem o lazer. No estudo em referência, o autor concluiu que o diferencial em sua pesquisa com trabalhadores do lazer consiste no fato de que a alienação é inerente aos sujeitos de sua pesquisa, demonstrada na submissão do corpo numa relação alienante, onde o professor de ginástica com uma formação específica, não percebeu em nenhum momento da pesquisa a exploração vivenciada.

Assis (2008), pesquisando o trabalho em uma banda de blues, constatou que os músicos sofrem os efeitos de preconceitos e desfrutam de pouco reconhecimento do papel que representam na cultura e na sociedade, embora tenham a profissão reconhecida por um sindicato. Para a compreensão do reconhecimento do trabalho dos músicos, faz-se necessária a superação de um entendimento dualista entre inclusão e exclusão social e se busque uma compreensão que abarque a dialética inclusão/exclusão. Neste estudo, pôde-se perceber que os músicos relataram predominância de vivências de prazer ao desempenharem o trabalho, apesar do desgaste físico e emocional.

Santos (2008) pesquisou como os bailarinos de uma companhia de dança contemporânea vivenciavam seu trabalho, como era o sofrimento oriundo da organização do trabalho e quais estratégias defensivas utilizam para ressignificá-lo. A autora concluiu que, embora o trabalho ofereça sofrimento e desgaste com o excesso de ensaios, técnicas, exigência por performances rígidas, o reconhecimento do público, a realização de um trabalho que vai além da materialidade, dos vínculos empregatícios que visam somente lucro, em uma sociedade de prática econômica capitalista, a profissão sempre foi para eles um sonho, é um trabalho artístico diferenciado. As vivências de prazer oriundas de conteúdos simbólicos e ergonômicos satisfatórios compensam o sofrimento, e que para ressignificá-lo os bailarinos utilizam estratégias de enfrentamento como a auto-aceleração.

Brasileiro (2008) pesquisou as relações e sentidos da vida do trabalhador circense e os resultados encontrados indicam que, apesar de ser uma empresa de entretenimento/lazer, o circo proporciona aos trabalhadores experiências tanto de prazer como de sofrimento. As análises feitas evidenciam o circo como uma empresa que, em seu contexto, é caracterizada por organização, relações e condições de trabalho semelhantes a organizações de outras áreas. No circo, a organização do trabalho é relativamente livre, pois existe certa autonomia, apesar

de controlada pelas regras e normas da empresa. As relações de trabalho são mantidas de forma amigável, tanto com chefes e colegas, existindo também relações consideradas familiares (de família consangüínea ou não). As condições de trabalho mostram-se satisfatórias, proporcionando aos trabalhadores do circo segurança e estabilidade. Ao mesmo tempo, o risco de acidente e falhas, a pressão e sobrecarga geradas pelo nome da empresa, pela exigência do público e pelo avanço da idade, são considerados como fatores que levam ansiedade, insegurança e medo aos circenses. O reconhecimento é peça-chave para o prazer do circense e, por isso, se ele não existe, ocorre o sofrimento.

Tomazini (2009) pesquisou as vivências de prazer e sofrimento dos trabalhadores de Shopping Center. Segundo a autora, os dados encontrados indicam que, apesar de ser uma empresa que atua no ramo de lazer e entretenimento, o Shopping proporciona aos seus trabalhadores vivências tanto de prazer como de sofrimento.

Para atender ao objetivo desta pesquisa, que consistiu na investigação dos sentidos e vivências relacionadas ao trabalho das prostitutas que residem em casas noturnas à luz da psicodinâmica do trabalho, o próximo capítulo apresenta o delineamento metodológico do estudo empírico.

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