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CAPÍTULO 4. CNJ E ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA PENAL

4.4. Pesquisas

O Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) foi criado pela Lei n. 11.364 de 2006, tendo como principais atribuições “desenvolver pesquisas destinadas ao conhecimento da função jurisdicional brasileira; realizar análise e diagnóstico dos problemas estruturais e conjunturais dos diversos segmentos do Poder Judiciário; e fornecer subsídios técnicos para a formulação de políticas judiciárias”, com apoio de um Conselho Consultivo

formado por nove membros, entre magistrados e acadêmicos106, cujos trabalhos iniciaram

em 2009 por iniciativa do ministro Gilmar Mendes107.

É o DPJ que elabora e publica anualmente o Relatório Justiça em Números, principal compilado estatístico sobre o Poder Judiciário, o qual a partir de 2015 começou a apresentar um caderno com dados específicos referentes à justiça criminal. Os dados alusivos a 2016 mostram que 10% das ações que corriam no Poder Judiciário naquele ano eram relativas a processos criminais de conhecimento, constituindo um acervo de 6,5 milhões de casos (Gráfico 2). Já a fase de execução contava com 1,4 milhões de processos, dos quais 444 mil iniciados naquele ano, 61% destes relativos a penas

privativas de liberdade108. Das penas não privativas de liberdade iniciadas em 2016, 5,1%

(9 mil) foram executadas nos juizados especiais criminais (Gráfico 3).

Gráfico 2. Total de casos de conhecimento criminais do Poder Judiciário, 2016. Fonte: Justiça em Números 2017. Destaques. CNJ, 2017a, p. 138.

106 A primeira composição do Conselho Consultivo foi integrada por: o economista Armando Manuel da Rocha Castelar Pinheiros, a pesquisadora Elizabeth Sussekind, o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, o secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, ministro Roberto Mangabeira Unger, a cientista política Maria Tereza Aina Sadek, o cientista político Luiz Jorge Werneck Vianna, o professor Kazuo Watanabe, o desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo Yussef Said Cahali e o desembargador aposentado e ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Vladimir Passos de Freitas.

107 Nem todas as gestões do CNJ têm designado membros para o Conselho Consultivo, o que interrompeu suas atividades durante alguns períodos.

Gráfico 3. Total de casos de execuções criminais do Poder Judiciário, 2016. Fonte: Justiça em Números 2017. Destaques. CNJ, 2017a, p. 140.

O Gráfico 2 demonstra que o número de casos novos criminais caiu em 700 mil entre 2014 e 2016, o que poderia significar que os esforços para melhoria da persecução penal não estariam tendo a efetividade pretendida, que, apesar dos esforços em reforçar a legitimidade do sistema de justiça criminal, as pessoas estariam deixando registrar as ocorrências das quais são vítimas, ou que, ao contrário da sensação popular e da disseminação midiática, o quantitativo de delitos estaria em queda. Do Gráfico 3 podemos inferir que, se as execuções iniciadas têm sido reduzidas, as pessoas condenadas têm passado mais tempo cumprindo penas, seja de privação de liberdade sejam alternativas, já que as ações pendentes de ambos os tipos continuam em crescimento, ainda que considerados os esforços dos Mutirões Carcerários para terminar com as execuções penais já expiradas e para promover a progressão de regime dos apenados que fazem jus a esse direito.

De todas as ações criminais, 92,8% eram de competência da Justiça Estadual, porém, é importante notar que o Superior Tribunal de Justiça tinha em seu acervo mais de 150 mil casos de conhecimento, entre novos e pendentes, não julgados, o que não se viu considerado nos planejamentos do CNJ, quiçá por se tratar de um Tribunal Superior (Figura 6).

Figura 6. Total de casos novos e pendentes por tribunal, 2016. Fonte: Relatório Justiça em Números 2017. CNJ, 2017c, p. 137.

A apresentação da duração dos processos, seja no 1º. ou no 2º. grau, é feita no Relatório Justiça em Números pela média ponderada - de todos os processos para o Tribunal e de todos os tribunais para cada ramo da justiça. Sabe-se, entretanto, que esta não é o melhor parâmetro, vez que há muita discrepância no tempo de processamento entre os casos, seja em razão do tipo penal, seja em razão das estratégias de litigância das partes. Em que pesem estas considerações, os números mostram que os Tribunais de Justiça dos estados demoram, em média, um ano para decidir sobre um recurso em matéria penal, enquanto nos juizados de primeiro grau a duração média para a primeira decisão no processo é de três anos e dois meses. A diferença, porém, como alertado, é que enquanto a 1ª. instância do Distrito Federal indica uma demora de 11 meses, São Paulo leva 6 anos e 11 meses

para decidir um caso criminal em sua fase inicial (CNJ, 2017c). No segundo grau, por sua vez, um recurso demora uma média de 5 anos e 5 meses para ser apreciado no Pará e 5 meses nos Tribunais do Sergipe e de Rondônia.

Figura 7. Tempo médio de tramitação dos processos de conhecimento em primeiro grau de jurisdição dos Tribunais de Justiça Estaduais. Fonte CNJ, 2017c, p. 140

Figura 8. Tempo médio de tramitação dos processos de conhecimento em segundo grau de jurisdição dos Tribunais de Justiça Estaduais. Fonte CNJ, 2017c, p. 139

Mais do que o tempo de duração dos processos em cada um dos tribunais, o que estes dados demonstram é que há especificidades na tramitação local das causas que a simples constatação de demora não revela, como discutimos quando apresentamos as orientações para distinção entre a organização global e específica das ações de administração do Poder Judiciário. No mesmo sentido das considerações apresentadas para o primeiro grau, na segunda instância a tramitação pode se estender porque as causas são mais complexas, porque os litigantes podem utilizar mais estratégias recursais em suas causas, ou por inúmeras outros motivos que estão para além da competência do Poder Judiciário, ou do CNJ como seu órgão de administração, e que não podem ser resumidas no “tempo médio de tramitação dos processos”.

Em razão da falta de um sistema que possa desagregar os processos criminais por tipo de delito ou identificar os dados sociodemográficos dos apenados, permitindo qualificar as causas, os dados quantitativos apresentados no Relatório Justiça em Número ainda se limitam a oferecer um panorama da entrada e saída do sistema e, quando muito, da

variação do “congestionamento” dos tribunais em matéria penal. De extrema relevância, principalmente em razão da separação entre causas criminais e não criminais, que diferem enormemente em seu conteúdo processual e político, o movimento de especificação de coleta e análise das informações em âmbito penal, em especial se se destinam a fazer o planejamento da atuação do Judiciário nessa área, precisam avançar no entendimento de o que essa quantidade de processos ou sua demora significam para as pessoas envolvidas nas ações - “usuários do sistema” – e não só para os operadores do próprio sistema em

termos de carga de trabalho ou produtividade109.

Para avançar no aspecto qualitativo, podemos verificar ainda um esforço variado de produção de informações sobre o funcionamento do Poder Judiciário, alguns na forma de diagnóstico outros como avaliações ou monitoramento de projetos já estabelecidos pelo CNJ.

A pesquisa decorrente da parceria com o IBGE, por exemplo, buscou traçar um perfil socioeconômico das vítimas de roubos, furtos e agressões tentadas e consumadas, além da sensação de segurança e as atitudes em relação à prevenção de violência, bem como os métodos de resolução de conflitos e as razões que levam as pessoas a não procurar o Judiciário para resolvê-los, entre as pessoas entrevistadas pela PNAD no ano de 2009. Na gestão de Lewandoski apresentaram-se os resultados da pesquisa fruto do acordo de cooperação com o IPEA, “Reincidência e itinerários criminais no Brasil: um estudo de corte sobre a população egressa do sistema de justiça criminal no ano de 2006”. Segundo o relatório de gestão, entretanto, “considerados os limites metodológicos apontados e as críticas apresentadas pelos Conselheiros presentes, pelos representantes da Secretaria- Geral, do DMF e do DPJ, sugeriu-se que fosse avaliada a divulgação de um extrato dos

principais resultados para fins de lançamento da pesquisa” (CNJ, 2014e, p. 81)110.

109 A partir de 2017 o DPJ disponibilizou em sua página eletrônica painéis interativos para cruzamento e desagregação dos dados do Relatório Justiça em Números. Os dados da “Classe – Processo criminal”, entretanto, estão desagregados apenas pelo tipo de procedimento (ordinário, sumário, sumaríssimo, júri), porque os tribunais ainda não utilizam em seus sistemas de registro os códigos das Tabelas Processuais Unificadas criadas pelo CNJ.

110 Isto porque a pesquisa havia revelado que as taxas de reincidência não eram tão altas como se supunha inicialmente (trabalhava-se com a hipótese de que a reincidência fosse em torno de 70%), não sendo suficiente para justificar o discurso de carreira criminosa, que pretendia ser examinada em outra pesquisa proposta posteriormente (“Da esfera infracional para a criminal: quantos envolvidos em crime, condenados, são egressos do sistema socioeducativo?”), nem para apoiar as ações de desencarceramento na premissa de que a volta ao crime decorria da falta de oportunidades dos apenados. Ver no portal do CNJ “Um em cada quatro condenados reincide no crime, aponta estudo”, http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79883-um-em- cada-quatro-condenados-reincide-no-crime-aponta-pesquisa

Como decorrência da parceria firmada com a Capes para o desenvolvimento do projeto CNJ Acadêmico, no escopo dos projetos em matéria penal o CNJ apresentou como

resultado as seguintes pesquisas111:

PROJETO 1- ALTERNATIVAS PENAIS NA PERSPECTIVA DA VÍTIMA

1.1 Maternidade na Prisão: Instrumentos de proteção e defesa dos direitos humanos

1.2 Representações Sociais de Três Gerações Acerca da Ditadura Militar e da Comissão da Verdade

1.3 Condições de Trabalho do Setor Sucroalcooleiro no Estado da Paraíba no Contexto do Desenvolvimento Sustentável: Des/cumprimento das normas trabalhistas

Livro: Alternativas Penais na Perspectiva da Vítima: justiça restaurativa como um novo paradigma da vítima

PROJETO 2 - DESCARCERIZAÇÃO E SISTEMA PENAL

2.1 Por amor ou pela dor? um olhar feminista sobre o encarceramento de mulheres por tráfico de drogas

2.2 Criminologia e Transgressão: Um laço entre movimentos culturais contemporâneos

2.3 A Política Criminal Brasileira no Governo Lula (2003-2010): Diretrizes, reformas legais e impacto carcerário

2.4 O Monitoramento Eletrônico Como Medida Alternativa à Prisão Preventiva

2.5 Descarcerização e Sistema Penal: A construção de políticas públicas de racionalização do poder punitivo

Nesse mesmo projeto, porém em outras linhas investigativas, podemos encontrar ainda os seguintes trabalhos sobre a mesma temática:

Segurança Pública Cidadã: A experiência do projeto piloto do núcleo de mediação de conflitos na 30ª delegacia de polícia civil de Fortaleza

Dos Tribunais do Tráfico à Mediação de Conflitos: um Estudo das Representações Sobre a Administração Institucional de Conflitos em uma Unidade de Polícia Pacificadora no Rio De Janeiro.

Transação Penal e Penas Alternativas: Uma pesquisa empírica nos juizados especiais criminais do Rio de Janeiro

Novos Conflitos nas Cidades e Antigas Práticas Policiais: Análise dos mecanismos de mediação em favelas atendidas pelas Unidades de Polícia Pacificadora -UPPS

"Linhas de Investigação" Uma Etnografia das Técnicas e Moralidades sobre "Homicídios" na Polícia Civil da Região Metropolitana do Rio De Janeiro

A estas publicações se juntou a abertura de chamada pública para contratação de pesquisa na 2a. edição da série “Justiça Pesquisa”, que no eixo de “Direitos e Garantias Fundamentais” trazia os temas “Poder Judiciário e Superpopulação Prisional: Diagnóstico do Funcionamento do Sistema de Justiça Criminal” e “Audiência de Custódia, Prisão Provisória e Medidas Cautelares: Obstáculos Institucionais e Ideológicos

à Efetivação da Liberdade como Regra”112.