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Pesquisas envolvendo florestas plantadas e recurso hídrico

4.4 Bacia hidrográfica

4.4.2 Pesquisas envolvendo florestas plantadas e recurso hídrico

Segundo Cossalter e Pye-Smith (2003) quando a plantação é estabelecida haverá inevitavelmente uma mudança no ciclo hidrológico. A natureza da mudança dependerá de qual tipo de ecossistema as plantações substituem. Quando a floresta natural é convertida em uma plantação, as maiores mudanças ocorrerão durante os primeiros poucos anos seguintes da derrubada e plantio. Em contraste, quando as plantações são desenvolvidas em pastagens, a mudança inicial na hidrologia será ligeira, mas tornará progressivamente mais pronunciada na medida em que a plantação aproxima-se da maturidade.

Neste aspecto, muitos foram os trabalhos desenvolvidos pelo mundo, que tentaram reduzir incertezas e elucidar o funcionamento hidrológico de bacias experimentais com eucalipto. Nesse sentido, organizou-se uma pequena síntese de alguns autores com seus respectivos resultados (Quadro 4.2)

Quadro 4.2– Pesquisas envolvendo produção de água em bacias florestais.

Autor (es) Local (is) Descrição do estudo

Hibbert (1967) - O implantação de florestas reduz o deflúvio na microbacia, bem como, o corte raso faz aumentar a produção de água.

Bosch e Hewlett (1982), -

A supressão total da floresta aumenta o deflúvio anual da bacia na média de 150 mm durante o primeiro ano após o corte da floresta (com variação de 34 a 450 mm)

Pilgrim et al (1982) Austrália A bacia com Eucalyptus foi responsável pela conversão de 14% da precipitação em deflúvio na Austrália.

Lima et al. (1990) Brasil

Os autores compararam o cultivo de E. grandis, Pinus caribea com o cerrado brasileiro, chegando no deflúvio gerado de 29%, 40% e 50% da precipitação incidente, respectivamente. No entanto a biomassa na área com eucalipto era 10 vezes maior que a do cerrado.

Calder et al. (1992) - Durante o ciclo anual do Eucalyptus existe uma necessidade entre 800 e 1200 mm de água disponível.

Sharda et. al. (1988) Índia No período seco (Janeiro a Abril) a plantação do Bluegum (Eucalyptus globulus) pode reduzir em 23 % o deflúvio da microbacia.

Samraj et al. (1988) Índia

Microbacias com cultivo de Eucalyptus globulus podem reduzir o deflúvio em média 16 % para uma rotação de 10 anos em relação ao ecossistema original.

Scott e Lesch (1997) África do Sul

Os autores observaram que o florestamento com Eucalyptus grandis causou um decréscimo significativo da descarga fluvial no terceiro ano após o plantio (30% de P) e no nono ano o rio secou completamente.

Lacey e Grayson (1998) Austrália Mostraram que não ficou evidente a redução de escoamento base com crescimento da floresta.

Zhang et al. (2001) - Em sua revisão de 250 microbacias, concluiram que bacias florestadas tendem a ter uma redução média de120 mm/ano.

Soares e Almeida (2001) Brasil

Em modelo de uso da água em plantações de (Eucalyptus grandis ) ficou evidenciado que nos anos em que chove em torno da média histórica da região do Estado do Espírito Santo, existe equilíbrio entre evapotranspiração e precipitação.

Almeida e Soares (2003) Brasil

Em estudo com E. grandis os autores detectaram que ao se considerar o ciclo de 7 anos, o eucalipto evapotranspira menos água em relação à mata atlântica nativa na costa leste do Brasil

Lane et al. (2004) China

Em duas bacias com E. urophyla , encontraram taxas de ETP entre 959 e 1150 mm e o deflúvio de 26% e 35% de P em ano seco e 52% e 49% em ano chuvoso, concluindo que o reflorestamento não constitui em problema aos recursos hídricos da região.

Sabará (2004) Brasil

Microbacias cobertas por pastagens no médio Rio Doce em MG sofrem a falta de recursos hídricos de superfície nos períodos críticos sem chuva em função da baixa taxa de infiltração dos solos. Por outro lado, o mesmo autor ressalta que em função da maior taxa de infiltração em microbacias florestadas pela silvicultura, a vazão superficial sofre menos oscilações em função da falta de chuva.

Farley et. al. (2005) Revisão

Concluiram pontualmente que a conversão de pastagens ou áreas de vegetação nativa arbustiva em reflorestamentos poderá resultar na diminuição do deflúvio médio anual com o aumento da idade das árvores. Em locais onde o deflúvio médio anual for menor que 10 % de P médio anual (PMA), o córrego poderá ter o fluxo de água superficial interrompido. Além disso, em locais onde o deflúvio médio anual for igual a 30 % da PMA, a redução esperada é de 50 %.

Dos vários estudos disponíveis na literatura nacional e mundial, constata-se que o eucalipto traz, com o devido tempo, uma regularização do deflúvio nas microbacias, acompanhado logicamente de uma redução na produção de água na ocasião de plantios realizados em áreas que nunca abrigaram floresta de tipo algum. No entanto, o que pode tornar esse fato um problema, diz respeito ao quanto e quando, essa diminuição na produção de água, afetará os usuários do recurso hídrico na bacia.

Na região pertencente ao Bioma Pampa, ao se analisar os usos do solo sob o ponto de vista hidrológico, a degradação é freqüente e crescente. A criação de gado é economicamente importante na metade sul do RS e preserva a biodiversidade da flora campestre, no entanto reduz a capacidade de infiltração de água no solo pelo efeito da compactação e impacta negativamente a vegetação ciliar contaminando o curso de água direta e indiretamente. A cultura do arroz, da mesma forma, é social e economicamente adequada, no entanto é cultivada na várzea dos rios, nas quais a supressão da vegetação é necessária e dessa forma alterando a sua função de efeito “esponja”, em favor da maior área de plantio. Além disso, esse tipo de cultivo contribui significativamente para a eutrofização do curso de água em bacias rurais.

Estes fatos deveriam também chamar a atenção daqueles que somente agora despertaram para a importância em se preservar a hidrologia desse singular bioma. Todas as questões recentemente levantadas, a respeito da função hidrológica do eucalipto, são pertinentes na atual conjectura. No entanto, as pesquisas realizadas, trazem respostas desencontradas, algumas tendenciosas e muito específicas aos locais nos quais foram aplicadas, não sendo aplicáveis ao Bioma Pampa.

Nesse sentido, a necessidade de se verificar as questões hidrológicas da silvicultura do eucalipto no Pampa, é urgente. Além disso, em função das grandes disparidades geomorfológicas que constituem o Pampa gaúcho, fica evidenciada a necessidade de instalação de uma rede de microbacias experimentais nas áreas com silvicultura.