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Lopes (2008) realizou um estudo sobre a Estocástica, ou seja, ensino de Estatística e Probabilidade na educação básica brasileira, a partir do cenário das pesquisas realizadas na área. A autora aponta que existe um paradigma denominado de Linearidade, que seria um tipo de cultura que há no Brasil de ensinar conteúdos voltados para os seguintes pressupostos: Números e Operações, Grandezas e Medidas e a Geometria.

Dessa forma, seguindo um sentido diferente do paradigma da Linearidade, pode-se perceber que a Estatística e a Probabilidade são os eixos de conteúdos mais recentes na história do ensino da Matemática brasileira a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), no bloco de conteúdo denominado tratamento da informação, que contempla a Combinatória, a Estatística e a Probabilidade. A partir do final da década de 90, foram surgindo publicações mais frequentes em trabalhos e pesquisas na Estocástica, seguindo uma tendência mundial na temática.

Lopes (2008) afirma que o trabalho com a Estocástica contribui para uma ruptura do paradigma da linearidade e adiciona elementos para que estudantes possam aprender a tomar

decisões a partir de uma análise de aspectos da estatística e da probabilidade. Em particular, a autora destaca a importância do raciocínio hipotético-dedutivo, que precisa ser desenvolvido por crianças, jovens e adultos, como forma de emancipação do sujeito, para haver uma sociedade que saiba reivindicar os seus direitos e possa fazer a leitura correta do que está acontecendo ao seu redor.

Lopes (2008) aponta, na discussão teórica do seu artigo, que de acordo com Skovsmose (1994), é necessário matematizar os conceitos estudados em sala de aula, o que seria: formular, criticar e desenvolver modos de compreensão sobre qualquer assunto que lhe seja posto. Essa perspectiva do trabalho com a matematização encontra na Estocástica um vasto campo de atuação, porque a mídia utiliza diuturnamente dados estatísticos e probabilísticos em suas notícias. Não se pode deixar de mencionar que a Educação é um ato político, então requer que os seus cidadãos saibam manusear os conhecimentos necessários para viverem de forma integral e justa na sociedade. Essa perspectiva de reflexão crítica do sujeito é apontada no decorrer do artigo.

Lopes (2008) ainda menciona que os professores em formação e os já formados precisam refletir sobre os tipos de conhecimento com o qual lidam, por exemplo: conhecimento de conteúdo, psicopedagógico, didática do conteúdo e do contexto. Esses conhecimentos são adquiridos na universidade e fora dela no ambiente escolar e da formação continuada. A autora aponta nos seus resultados de pesquisa, que os professores de forma geral não sabem com clareza o que devem ensinar sobre estocástica e a quem vão ensinar. Isso faz com que haja grandes lacunas no desenvolvimento profissional do professor.

Assim, a pesquisa aponta que no Brasil existe uma demanda de formação inicial e continuada no que concerne ao ensino de Estatística e Probabilidade, para que haja um ensino de qualidade e que leve os estudantes a se tornarem pessoas críticas e que enfrentem os desafios de viver na sociedade da informação.

Costa e Nacarato (2011) realizaram uma pesquisa que investigou como professores de Matemática em pleno exercício entendem a inserção da Estocástica em sua formação e prática profissional e ainda como formadores de professores de Matemática percebem a Estocástica na formação dos professores. De acordo com as autoras, o ensino de Estatística e Probabilidade ganhou força no Brasil na década de 90, mais especificamente com a

publicação dos parâmetros curriculares nacionais. Em outros países, comumente é utilizado o termo estocástica para representar o ensino de Estatística e Probabilidade.

A pesquisa aponta que existem modificações curriculares nos mais diversos países, em consequência, os professores e as professoras terminam os seus cursos de graduação (licenciatura) e acabam não vendo conceitos relacionados ao que está sendo posto pelos documentos oficiais para a educação básica.

Pietropaolo et al (2014) desenvolveram uma pesquisa para investigar os conhecimentos de um grupo de professores dos anos finais do ensino fundamental do estado de São Paulo. A pesquisa foi realizada dentro do contexto do Observatório da Educação (OBEDUC), desenvolvida por professores pesquisadores e alunos do Mestrado e Doutorado do Programa de Pós-graduação em Educação Matemática da Universidade Anhanguera. Os autores apontam que os currículos de diferentes países da América Latina e do mundo estão defendendo o trabalho com a Probabilidade de forma longitudinal no decorrer do processo de escolarização e que a perspectiva desse conceito reflete a preparação de cidadãos para uma atuação crítica em uma sociedade cada vez mais exigente.

O estudo realizado buscou identificar os conhecimentos e as concepções de 23 professores dos anos finais do ensino fundamental, em relação ao ensino de conceitos e procedimentos concernentes à Probabilidade.

Os professores participantes da pesquisa fizeram parte de um processo de formação continuada sobre o ensino de Probabilidade e foram questionados sobre elementos conceituais, que tinham por base os seguintes questionamentos: o que sabem esses professores sobre probabilidade? Quais estratégias de ensino conhecem? Quais as razões e a importância que atribuem ao ensino desse tema? Eles foram questionados sobre o que seria Probabilidade, se conheciam outra definição de Probabilidade e quais seriam os usos sociais dessa temática. Dos 23 professores envolvidos na pesquisa, 17 deram uma resposta que se enquadra dentro da visão de Probabilidade clássica, que foi sistematizada pelo matemático Laplace no século XVIII. Dos 23 professores envolvidos no estudo, apenas um professor fez menção à abordagem axiomática da Probabilidade e que geralmente é vista na universidade, mas não soube argumentar sobre essa abordagem. Eles não fizeram menção a outra abordagem de Probabilidade.

Os professores ainda se saíram mal nas perguntas que retratavam o conceito de Probabilidade na abordagem clássica, que é o que os livros didáticos do ensino fundamental abordam, demonstrando em mais um momento as lacunas na formação inicial em relação ao ensino de Probabilidade. Por último, os professores foram questionados sobre quais seriam as principais dificuldades dos estudantes na aprendizagem do tema. A maioria dos professores apontaram que uma grande parcela da dificuldade na aprendizagem da Probabilidade viria da incompreensão da análise combinatória, porque em várias questões de Probabilidade, são requeridos conhecimentos combinatórios. Outros professores argumentaram que como os estudantes não veem de forma mais intensa esse conteúdo no ensino fundamental, apresentam muitas lacunas na compreensão do conceito na 2ª série do ensino médio e assim não desenvolvem os conhecimentos necessários para a temática.

Pietropaolo et al (2014) concluem que uma boa parte dos professores pesquisados não tem um domínio satisfatório sobre noções e procedimentos relacionados à Probabilidade. Os professores ainda apontaram que não tinham um arcabouço de estratégias para o processo de ensino da Probabilidade, sobretudo para os estudantes do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Nesse sentido, os pesquisadores apontam para a necessidade de processos de formação inicial e continuada para professores do ensino fundamental, no que concerne ao ensino de Probabilidade.

Estevam e Cyrino (2014) realizaram uma pesquisa traçando o perfil das pesquisas brasileiras envolvendo Educação Estatística e a formação de professores de Matemática. Essa análise foi realizada a partir do levantamento no banco de dados da CAPES, no período de 1998 a 2011. Os autores buscaram de forma interpretativa identificar quais eram os eixos temáticos estudados no contexto das pesquisas nacionais. O estudo aponta quatro eixos temáticos, a saber: (I) os objetivos para o ensino de Probabilidade e Estatística; (II) o nível de letramento estatístico de professores de Matemática da Educação Básica; (III) as impressões e práticas letivas de professores da Educação Básica quanto à Probabilidade e Estatística; e (IV) e a formação de professores de Matemática que ensinarão/ensinam Probabilidade e Estatística na Educação Básica.

De acordo com Estevam e Cyrino (2014), os resultados da pesquisa apontam, por um lado, a existência de poucos trabalhos se debruçando especificamente sobre Educação Estatística na formação de professores de Matemática e que existem muitos desafios a serem

enfrentados nesse campo de pesquisa. Por outro lado, contribui para colocar em evidência que a área de Educação Estatística tem crescido paulatinamente no Brasil e que vem se consolidando como uma área de investigação central nas pesquisas brasileiras.

Conforme se pôde evidenciar, as pesquisas nacionais levantam aspectos pertinentes sobre a temática da probabilidade. Lopes (2008), por exemplo, enfatiza a existência de lacunas no desenvolvimento profissional do professor sobre o ensino de estocástica. Costa e Nacarato (2011), assim como Pietropaolo et al (2014), destacam dificuldades de professores de Matemática na compreensão de conceitos e procedimentos relacionados à probabilidade. Para esses autores, fragilidades nos cursos de formação inicial de professores de matemática e carência de formações continuadas poderiam se constituir em possíveis explicações para esse fato. Além desses aspectos, Estevam e Cyrino (2014) também identificam carências de trabalhos sobre educação estatística na formação de professores de Matemática. Esses estudos, portanto, colocam em evidência a necessidade de um entendimento mais aprofundado do tema e apontam para a necessidade de pesquisas voltadas para a formação inicial e continuada de professores de matemática sobre o ensino de probabilidade.

Santos e Felisberto de Carvalho (2018) realizaram uma revisão sistemática da literatura para identificar e mapear pesquisas acadêmicas entre os anos de 2012 a 2017, que versassem sobre o ensino de Probabilidade na Educação Básica. Os autores chegaram a 16 artigos, depois de aplicarem os critérios de exclusão na Biblioteca de Teses e Dissertações (BDTD) e no site de periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A pesquisa mostrou que a produção voltada para o ensino de Probabilidade aponta para a importância de se utilizar recursos didáticos, metodologias diferenciadas no ambiente escolar. Ficou perceptível, na pesquisa realizada, que existem lacunas no ensino de Probabilidade na formação de professores. Esse artigo vem corroborar com os achados da presente pesquisa, uma vez que está sendo desenvolvido um estudo no campo da formação do professor de Matemática dos anos finais do ensino fundamental, na perspectiva do Letramento Probabilístico.

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