• Nenhum resultado encontrado

2.5. Leitura e Interpretação de Gráficos

2.5.2. Pesquisas Recentes sobre Leitura e Interpretação de Gráficos

Essas representações gráficas chamam-se gráficos ou

diagramas. Assim, falamos de gráficos de barras, diagramas de

setores etc.

Pela definição de Spiegel (1993), é importante observarmos que o autor

não explicita a relação existente entre representação gráfica e outras

representações.

Em nosso estudo, entretanto, propomos atividades que proporcionem

ao aluno relacionar as informações apresentadas em forma de tabelas e seus

respectivos gráficos.

Na próxima seção, passamos a descrever as pesquisas relacionadas à

leitura e interpretação de gráficos que consideramos mais relevantes ao presente

estudo.

2.5.2. Pesquisas Recentes sobre Leitura e Interpretação de

Gráficos

Nesta seção, há uma breve apresentação dos resultados de algumas

pesquisas referentes à leitura e interpretação de gráficos que trouxeram

contribuições significativas para o desenvolvimento da presente pesquisa.

No estudo realizado por Santos e Gitirana (1999), com alunos de 12

anos, que apresentavam dificuldades quanto à leitura variacional, observou-se

que, apenas 5,9% dos sujeitos acertaram questões referentes à localização de

maior variação. Quando os autores solicitavam que os sujeitos extrapolassem os

dados argumentando o que ocorreria no período subseqüente (mês, ano), notou-

se que 68% das crianças justificaram suas respostas empregando abstrações

para a realidade ou para considerações pessoais.

Outro estudo que nos interessa, é o de Guimarães, Ferreira e Roazzi

(2001), envolvendo 107 alunos de quatro salas de 3ª série do Ensino

Fundamental de uma escola particular de Jaboatão dos Guararapes-PE, com

idade aproximada de nove anos. Os alunos não haviam recebido ainda uma

instrução formal sobre construção de gráficos, e na pesquisa, todos foram

solicitados pelo experimentador, a resolverem cinco atividades, envolvendo:

leitura e interpretação de gráficos e construção de gráfico com base nos dados

apresentados em tabela. O estudo demonstrou que, apesar dessas crianças não

apresentarem dificuldades para localizar pontos extremos de um gráfico, elas

encontravam dificuldade quando a leitura do gráfico exigia uma compreensão

variacional.

O trabalho mostra que apenas 54,2% dos alunos justificaram suas

respostas nas questões, em que foi solicitada a extrapolação na leitura dos

dados. Nesta pesquisa, foram encontradas as seguintes categorias para as

justificativas desses alunos: pelas informações contidas no gráfico de forma global

(24%), as informações de forma pontual (8%), abstraindo para a realidade (24%),

por considerações pessoais (44%).

Além disso, o estudo também aponta um baixo desempenho dos alunos

da 3ª série referente à localização de uma categoria em função de uma freqüência

dada. Neste aspecto, os autores concluem que a dificuldade dos alunos deve-se

ao fato do valor solicitado na freqüência não estar explícito na escala, o que

sugere uma complexidade para estimar valores.

Os estudos acima são de grande interesse para nossa investigação,

tendo em vista que Guimarães, Ferreira e Roazzi (2001) trabalharam com uma

população, cuja série escolar antecede a que será utilizada no presente estudo,

permitindo-nos usar suas conclusões em nossos referenciais práticos e teóricos

sobre leitura e interpretação de gráficos.

Guimarães (2002) em sua tese de doutorado investigou como alunos de

3ª série do Ensino Fundamental, representavam dados em tabelas e gráficos de

barras, empregando o software Tabletop.

Para isso, a autora construiu dois grupos de estudo. No primeiro, buscou

analisar a habilidade dos alunos para categorizar dados e representá-los em

tabelas. No segundo, sua investigação focou como os alunos interpretavam

gráficos e tabelas e como construíam os gráficos, usando diferentes variáveis. A

autora indica que as crianças dessa série encontraram dificuldades para lidar com

escalas, quando o valor solicitado não era explícito, e, embora tivessem facilidade

para localizar pontos extremos no gráfico, mostravam dificuldade quando a

questão exigia uma interpretação variacional, ou seja, a localização de

crescimento, decrescimento e estabilidade.

Os resultados da pesquisa de Guimarães (2002) indicam que o uso do

software foi importante na construção dos gráficos, tendo em vista que o trabalho

mecânico realizado pelo software liberava os alunos para interpretação. O

resultado é relevante no desenvolvimento de nosso trabalho, tendo em vista que

empregaremos o software Tabletop, na construção de gráficos e manipulação dos

dados, como um dos recursos no processo de aprendizagem de leitura e

interpretação de gráficos, assim como do conceito de média aritmética.

Outra pesquisa também relevante para nosso trabalho foi a de Santos

(2003) que, diferente das demais, se baseou na formação do professor. Em sua

pesquisa de mestrado, a autora faz um estudo de caso com uma professora das

séries iniciais do Ensino Fundamental de uma escola pública que trabalhava a

formação de conceitos elementares de Estatística, utilizando software Tabletop.

Como resultado, a autora aponta para a necessidade do professor vivenciar

várias situações, tais como: organizar, descrever, analisar e interpretar dados

provenientes de uma pesquisa para poder desenvolver os conceitos necessários

para o Bloco Tratamento da Informação.

No estudo, a pesquisadora concluiu que o computador, em especial, o

uso do software Tabletop pode contribuir para a compreensão de gráficos e

tabelas extraídos da manipulação de dados.

2.5.3. Níveis de Compreensão de Gráficos segundo Curcio

No presente estudo, foram usadas representações gráficas, para

introdução do conceito de média aritmética. Para isso, foram escolhidos os

gráficos de barras e de dupla entrada, visto a possibilidade de trabalhar com os

mesmos no Tabletop, além de que o gráfico de barras tem sido um dos mais

veiculados na mídia escrita e virtual (G

UIMARÃES

, 2002; S

ANTOS

, 2003).

Desta forma, é preciso conhecer o nível de compreensão

20

de gráficos

dos sujeitos do estudo para dar prosseguimento ao mesmo, ou seja, desenvolver

a intervenção de ensino em ambiente computacional.

20

Assim como Friel, Curcio e Bright (2001, p. 130), entendemos por compreensão gráfica as habilidades dos leitores de gráficos para deduzir o significado dos gráficos criados por outros ou por eles próprios.

Encontramos em Friel, Curcio e Bright (2001) um levantamento dos tipos

de questões que podem ser respondidas pelos gráficos sob o ponto de vista de

diversos autores. Houve consenso sobre a necessidade de considerar três tipos

de questões que podem fornecer insinuações que ativam o processo de

compreensão do gráfico e que se inserem em três níveis. A seguir, apresentamos

esses níveis com os exemplos extraídos de Curcio.

• Nível elementar – enfoca a extração de dados de um gráfico;

Ex.: Quantas caixas de uvas têm 30 uvas?

• Nível intermediário – caracteriza-se pela interpolação e

descoberta de relações existentes entre os dados

apresentados graficamente;

Ex.: Quantas caixas de uvas têm mais do que 34 uvas nelas?

• Nível avançado – sugere a extrapolação dos dados e análise

de relações implícitas em um gráfico.

Ex.: Se os estudantes abrissem uma ou mais caixas de uvas,

quantas uvas eles poderiam esperar encontrar?

No nível elementar, observamos que a compreensão do gráfico requer

praticamente uma troca na forma de comunicação, ao passo que no nível

intermediário o estudante deve fazer uma integração dos dados apresentados,

relacionando-os entre si. Este nível – o intermediário - parece exigir um pouco

mais de conhecimentos matemáticos que o anterior, pois a integração dos dados

e as suas relações partem de leitura de escalas, da leitura de eixos e, uma

posterior integração desses dados. Já no nível avançado, o estudante precisa ir

além das observações explícitas no gráfico e suas relações, deve ser capaz de

realizar inferências baseadas na representação como, por exemplo, identificar

uma tendência ou generalizar para uma população.

Os três níveis de compreensão de gráficos foram usados como

referência nas análises de nosso estudo; empregaremos a terminologia de Curcio

(1987), conforme apresentamos, a seguir:

a) “Ler os dados”: este nível de compreensão requer uma leitura literal do gráfico; não se realiza a interpretação da informação contida nela mesma.

b) “Ler entre os dados”: inclui a interpretação e integração dos dados do gráfico, requer habilidades para comparar quantidades e o uso de outros conceitos e destrezas matemáticas.

c) “Ler além dos dados”: requer que o leitor realize previsões e inferências a partir dos dados sobre informações que não estejam refletidas diretamente no gráfico.

Figura 2.9: Níveis de compreensão de gráficos (CURCIO, 1987)

Neste estudo, a introdução do conceito de média está relacionada à

leitura e interpretação de gráfico. No decorrer da segunda fase, serão

desenvolvidas atividades que visam a favorecer o processo de compreensão de

gráfico, para isso, é fundamental investigarmos, qual nível de compreensão de

gráficos é apresentado pelos alunos do presente estudo.

Assim, para a elaboração das atividades constituintes da pesquisa, que

serão apresentadas detalhadamente no Capítulo IV, utilizaremos os níveis

descritos na Figura 2.9 para fins de análise das mesmas. Os níveis I, II e III serão

usados para “ler os dados”, “ler entre os dados” e “ler além dos dados”,

respectivamente.

CAPÍTULO III

CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

3.1. Introdução

Neste capítulo, são apresentadas algumas discussões a respeito de

temas considerados essenciais ao desenvolvimento deste estudo,

fundamentando-se nos escritos de alguns teóricos da Psicologia Cognitiva e da

Educação Matemática. Para isso, julgamos pertinente dividir o capítulo em quatro

seções. Sendo esta a primeira, descrevemos a seguir as outras três seções que

constituem este capítulo.

Na segunda seção, buscaremos compreender a formação do conceito

na perspectiva de Gerard Vergnaud, apoiando-nos na Teoria dos Campos

Conceituais. Ainda, nesta seção, discutiremos dois aspectos da Teoria da

Instrução de Bruner: o currículo em espiral e o método da descoberta.

Na terceira seção, estudaremos a representação, também, sob o

enfoque da teoria dos Campos Conceituais proposta por Vergnaud, tendo em

vista nosso interesse no uso de distintas representações no estudo. Ao final desta

seção, delinearemos o Campo Conceitual que utilizaremos para a elaboração das

atividades que serão aplicadas na segunda fase do presente trabalho.

Por fim, a última seção contemplará algumas reflexões sobre o emprego

do computador em sala de aula, o contexto no qual será desenvolvida toda a

parte experimental deste trabalho, seguido de uma descrição dos recursos do

software Tabletop e sua finalidade ao presente estudo.