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VOZES 143 REFERÊNCIAS

1 A LITERATURA: DA FORMAÇÃO, DO CANTAR À UNIDOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

1.2 UMA FORMAÇÃO MOBILIZADA PELA VOZ

1.3.2 Pesquisas sobre a formação continuada em música

A FCP em Música tem sido abordada por diversos autores, através de encontros regionais, tais como a ABEM Regional Sul, realizados nos anos de 2014 e 2016 (IVO; JOLY, 2016; WEBER; SOUZA; BELLOCHIO, 2016; DALLABRIDA; SPERB; BELLOCHIO, 2014), ou a partir de artigos publicados em revistas específicas das áreas de Música e/ou Educação (BELLOCHIO; GARBOSA, 2010; FIGUEIREDO, 2017a; MANZKE; FIGUEIREDO, 2017; BELLOCHIO; WEBER; SOUZA, 2017), além de dissertações (MANZKE, 2016; OLIVEIRA, 2016; ARAÚJO, 2012; TIAGO, 2007; TARGAS, 2003) e tese (FERNANDES, 2009).

Destaco, inicialmente, três escritos publicados nos anais do Encontro Regional Sul, da Abem, as quais abordam a FCP e que se aproximam do meu projeto de pesquisa, seja pelo contexto, abordagem e/ou pela metodologia de pesquisa. No relato de Ivo e Joly (2016), as autoras apresentaram uma pesquisa em andamento com professores egressos e licenciandos do curso de Música da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a partir de intervenções formativas através da flauta-doce, tendo como metodologia a pesquisa-ação. Essas intervenções foram realizadas de março a maio de 2016, com encontros semanais de duas (2) horas. Já o relato de Weber, Souza e Bellochio (2016) apresentou considerações acerca de um curso de FCP, realizado em três cidades do RS, localizadas na região da Quarta Colônia de Imigração Italiana, no ano de 2015.

As autoras destacaram a importância desse processo para a conscientização dos professores unidocentes, quanto ao seu papel no ensino de música, pois, nas práticas realizadas, elas desenvolveram ações pedagógico-musicais e discutiram sobre a Música na EB. É importante destacar, que o público envolvido nesse processo eram de professores da EI, do EF e EM. No terceiro relato, Dallabrida, Sperb e Bellochio (2014) apresentam uma pesquisa com professoras unidocentes egressas do curso de Pedagogia. Neste relato, as professoras entrevistadas, consideraram que os dois semestres de Educação Musical, ofertados em suas formações ainda não eram suficientes para que as educadoras se sentissem seguras/qualificadas para atuar com o ensino de música na escola.

Bellochio e Garbosa (2010, p.250) consideram que

[...] tanto a formação inicial como a formação continuada são partes do processo formativo profissional que constitui a formação docente, as quais objetivam o desenvolvimento e a ampliação de conhecimentos, a superação de limites e o atendimento às exigências, cada vez maiores e mais complexas, feitas à escola e ao professor, considerando-se os múltiplos grupos de aprendizes e a diversidade dos contextos de atuação.

Assim, a FCPS se torna um importante espaço para que os conhecimentos musicais e pedagógico-musicais sejam (re)visitados e (re)significados pelas professoras unidocentes. A FCPS assume um papel de ação permanente, de estudo contínuo para a qualificação de professores (MANZKE; FIGUEIREDO, 2017), "o que justifica de forma inequívoca a importância da formação continuada" em música, na formação das professoras unidocentes (Ibid., p.322).

[...] a Música é uma das áreas do conhecimento que compõe um conjunto de saberes e práticas importantes ao desenvolvimento dos seres humanos. Importante porque faz parte do dia a dia da vida dos estudantes. Importante, também, porque a música pode ser criada e inventada no contexto da educação básica (BELLOCHIO; WEBER; SOUZA, 2017, p.208).

Partindo do exposto, apresento algumas pesquisas de mestrado e doutorado que foram importantes na constituição desta pesquisa. Todas elas são realizadas com professoras referência/unidocentes, atuantes na EI e/ou AIEF e utilizam-se de abordagens metodológicas próximas à minha.

Em sua dissertação, Targas (2003) abordou a formação continuada com professores de AIEF com o objetivo de "investigar que contribuições esse programa de formação continuada pode oferecer ao professor e ao aluno ao permitir a vivência de atividades, envolvendo música no ambiente escolar. A pesquisa investigou de que maneira a formação continuada possibilita um contato com a música por parte do professor unidocente e o quanto isso pode ser importante no cotidiano da sala de aula em termos de um redirecionamento da prática pedagógica" (Ibid., s/n). A pesquisadora elaborou e desenvolveu, juntamente com sua orientadora, oficinas musicais com as professoras da rede municipal de ensino, com duração de vinte e três (23) semanas. Essas oficinas foram realizadas em dois momentos (2º semestre de 2001 e 1º semestre de 2002), sendo que, no segundo momento, o grupo foi constituído por seis professoras, durante quinze (15) encontros semanais. Como conclusão, a autora constatou que as professoras puderam construir novos

conhecimentos e desenvolver novas habilidades além de aprenderam a lidar com os conteúdos, adaptando-os e inovando-os às suas realidades escolares, e, refletindo sobre a própria atuação docente. Em relação aos alunos, a autora percebeu o desenvolvimento da percepção auditiva e rítmica, expressão vocal e corporal, além de melhor organização e interação no grupo.

Tiago (2007), em sua pesquisa, teve como objetivo conhecer e analisar saberes e práticas pedagógico-musicais de professores unidocentes, atuantes na Educação Infantil, a partir de uma pesquisa de caráter etnográfico, utilizando-se de entrevistas e observações participantes com três professoras de uma escola, na zona rural de Uberlândia, Minas Gerais além de análise documental. Apesar de não abordar diretamente a formação continuada de professores, ele defende que essa formação não seja meramente instrumental, ou seja, "deveria contemplar uma formação sólida na área que se pretende e não apenas como cursos esporádicos e sem continuidade como vem acontecendo na prática de professores unidocentes" (Ibid., p. 100). Esse estudo revelou que mesmo com pouca ou nenhuma formação musical, as professoras realizam ações musicais em sala de aula e a consideraram importante para o desenvolvimento de suas práticas pedagógicas.

Fernandes (2009), em sua tese, realizou uma pesquisa-ação colaborativa/comunicacional, trazendo para o contexto da formação continuada em música, professores da EI e dos AIEF. A pesquisadora construiu e implementou uma pesquisa longitudinal, cujo objetivo foi "propiciar ao professor em exercício na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, em processo de formação contínua, “saber música e saber ser educador que trabalha com música”" (Ibid., p. 90). A formação, realizada através da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes (SP), intitulada Tocando, cantando,... fazendo música com crianças, foi sendo ampliada, ao longo de 2002 a 2007, superou uma barreira imposta pelo ensino tradicional, contribuindo com o desenvolvimento de projetos de formação continuada e teve como consequência a organização e publicação de dois livros e um CD, junto aos professores participantes. A realização da pesquisa também se mostrou como importante produtora de conhecimentos sobre o ensino de música.

Em sua dissertação, Araújo (2012) buscou investigar como se constituem e se reconstroem os conhecimentos musicais e pedagógico-musicais de professores unidocentes, a partir de um espaço de formação continuada organizado e realizado na escola, durante as reuniões pedagógicas das professoras unidocentes, e em

parceria com a universidade. Esse grupo já vinha desenvolvendo atividades musicais na escola e estava interessado em ampliar suas práticas e conhecimentos, para a atuação em sala de aula. A pesquisadora apontou como resultados a tomada de consciência das professoras, com relação às funções que cada uma desenvolve em seu processo de aprendizagem, possibilitando a criação de uma comunidade de aprendizagem, mobilizada pelas trocas e aprendizagens compartilhadas. Ela destacou ainda que houve um avanço na compreensão da Música como área de conhecimento, promovendo o desenvolvimento de práticas musicais mais intencionais e seguras junto às crianças.

Oliveira (2016) apresenta sua pesquisa de mestrado, promovida em parceria com a Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, com base na formação continuada, a partir do curso "Vivências com a Musicalização". Ela teve por objetivo geral refletir sobre as possibilidades e os desafios do curso “Vivências com a Musicalização” para a aprendizagem musical dos professores em formação, considerando a sua proposta pedagógico-musical, suas atividades e a percepção dos professores sobre os saberes vivenciados durante o curso. Partindo da metodologia de pesquisa-ação, Oliveira (2016) utilizou as formações, as entrevistas e os diários de campo como instrumentos para a produção dos dados, além do aplicativo de conversas Whatsapp, o qual dinamizava a comunicação com as professoras. Ainda, durante a pesquisa, a autora procurou pensar o desenvolvimento profissional dos professores e a qualificação de suas ações pedagógico-musicais. Como resultados, ela ressaltou a experiência direta com a música, a autoconsciência vocal e a realização pessoal. A formação proposta possibilitou a aprendizagem colaborativa e a transformação das concepções sobre o ensino de música na escola, por meio de atividades práticas e teóricas equilibradas e acessíveis a todos os envolvidos.

Manzke (2016), em sua dissertação, buscou compreender as possíveis contribuições do processo de formação continuada na qualificação do trabalho musical desenvolvido por professoras generalistas na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, a partir das ações realizadas na Oficina de Repertório Musical para Professores – ORMP, ofertada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel – RS). A pesquisa, enquanto um estudo de caso foi realizada com professoras que concluíram os três módulos da oficina, entre os anos de 2013 a 2014. A produção dos dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas,

com professoras unidocentes que participaram do processo, com os monitores das oficinas e com a coordenadora do projeto. Como resultados, o autor aponta para a importância de se estabelecer uma vivência musical aliada a continuidade dos encontros na ORMP, com o intuito de fortalecer as reflexões coletivas e a (re)construção dessa oficina para outras edições.

Com base nas pesquisas apresentadas, acredito na potência formadora que a FCPS adquire no contexto educacional. É a partir dela que os entrelaçamentos entre Música, Unidocência, EI, professoras unidocentes e pesquisadora-formadora serão possibilitados. É nesse processo de pesquisa-formação, que as mobilizações (auto)formativas poderão emergir como estratégias para a ampliação de grupos de formação interessados em ampliar as discussões acerca da educação musical na escola, através de práticas e formações que considerem os conhecimentos musicais e pedagógico-musicais na unidocência.