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VOZES 143 REFERÊNCIAS

3 A PRODUÇÃO E A ANÁLISE: DAS EXPERIÊNCIAS VIVIDAS

3.1 TEMPO I: SOBRE AS EXPERIÊNCIAS ANTERIORES À FORMAÇÃO

O grupo que participou da pesquisa-formação em educação musical foi constituído por doze professoras, que se dividiam entre os três níveis da EI (berçário, maternal e pré-escola), além de duas auxiliares. Contamos, também, com a presença, em alguns encontros, da diretora e da coordenadora pedagógica da EMEI20, além da minha presença como pesquisadora-formadora, perfazendo um total de dezessete pessoas envolvidas na pesquisa.

A tabela apresentada (tabela 2) refere-se às professoras da EI e auxiliares que aceitaram participar da pesquisa e, assinaram ao TCLE, permitindo o uso de suas narrativas, gravações e imagens, na construção da escrita. Ressalto que as informações aqui apresentadas são condizentes ao que as professoras relataram em suas narrativas de formação - orais e escritas.

Tabela 2 – Dados das professoras participantes da pesquisa

Fonte: Produzida pela autora (2018). *Auxiliares; **Não informado.

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Na Tabela 2, os dados da diretora e da coordenadora pedagógica não são destacados, pois elas não puderam participar de alguns momentos importantes da formação.

Das doze professoras e duas auxiliares, seis realizaram sua formação acadêmico-profissional na Pedagogia - UFSM – DS, Anatel, Maíra, Jane, Isabela e Beta. Todas comentaram ter vivenciado experiências musicais durante a graduação e algumas delas também puderam participar de outros espaços formativos, promovidos por entidades particulares que atuam junto às prefeituras municipais da Região da Quarta Colônia, na realização de cursos e formações em música.

Anatel comenta ter vivenciado a música durante a infância, por intermédio de seu pai que "[...] cantava e tocava música antiga" e através desse contato desenvolveu seu "apreço pelo gosto musical" (D.E. da professora Anatel, 3ªformação). DS, Jane e Isabela, narraram sobre as experiências vividas na Instituição de Ensino Superior (IES), durante as disciplinas de Educação Musical I e II.

Para Jane, as aulas no curso de Pedagogia da UFSM "foram momentos enriquecedores e de muitas aprendizagens, pois a professora sempre procurou desenvolver práticas musicais que contemplassem aspectos relacionados ao canto, percussão corporal, e ritmo" (D.E. da professora Jane, 3ª formação). Isabela, por sua vez, comenta que durante as aulas "trabalhávamos com diferentes músicas e tínhamos contato com diferentes instrumentos musicais, inclusive, boa parte deles era feita com material reciclado" (D.E. da professora Isabela, 3ª formação).

Essas narrativas condizem com o que expressa Corrêa (2014, p.194-195), "a formação é potencializada nas ações de quem vivenciou e internalizou tais experiências formativas". Nesse sentido, são perceptíveis as mobilizações produzidas durante a formação acadêmico-profissional, para essas professoras que demonstraram a importância da educação musical para suas formações, o que possivelmente tenha impulsionado a participação delas na pesquisa-formação em educação musical, realizada no espaço da escola.

Retomando a apresentação do grupo, por outro, lado temos sete professoras – Eduarda, Nelga, Leila, Marta, Eliane, Gigi, Maria, incluindo a diretora – que realizaram sua graduação em IES particulares ou estaduais. Destas, Eduarda e Nelga não tiveram experiências musicais durante a graduação, mas narraram que cantavam cantigas de roda, na infância. Eduarda ainda acrescenta: "as minhas primeiras experiências com música foi através da minha mãe, que cantava para nós. Na adolescência, fiz aulas de piano [...]" (D.E. da professora Eduarda, 3ª formação). A partir dessa narrativa, percebo que apesar dessa professora não ter experienciado

a música durante a formação acadêmico-profissional, ela teve uma noção importante na infância e adolescência que a cativou e permitiu que procurasse, por outros meios, aprofundar os conhecimentos musicais que trazia consigo.

Eduarda completa que o não contato com a música na graduação fez "muita falta na formação [...], entendendo que educação infantil sem música não pode existir" (D.E. da professora Eduarda, 3ª formação). E acrescenta: "depois que me tornei professora sempre fui em busca, através de pesquisas e trocas com outras colegas, de músicas para oferecer às crianças, porque entendo que a música alegra, desenvolve, sensibiliza, integra, expressa sentimentos e envolve" (D.E. da professora Eduarda, 3ª formação).

As exposições da professora denotam que a formação musical é carregada de significados para ela e que sua presença na escola tem se mostrado necessária. Bellochio e Figueiredo (2009, p.37) comentam que "[...] não basta a música estar presente, de alguma forma na escola, e não possuir valor formativo reconhecido e enfatizado nos planejamentos escolares". Assim, sua fala demonstra que a presença da educação musical na escola de EI é um elemento constitutivo do trabalho unidocente desenvolvido junto à infância.

Leila e Maria comentaram que a Música/Educação Musical não compôs o currículo de suas formações, mas, mesmo assim, tiveram a experiência em cursos oferecidos por empresas vinculadas às prefeituras municipais, por meio de 'cursos básicos'. Marta, Eliane e Gigi, e também a diretora, vivenciaram a Educação Musical durante a graduação, através de falas, conversas e algumas experiências pontuais com música.

Marta narra um pouco de suas experiências musicais:

[...] tive poucas experiências musicais, para não dizer que não tive nenhuma, poucas falas sobre o assunto na faculdade e outras falas na pós- graduação, mas foram somente falas, conversas. Nada muito específico como nós estamos tendo agora, tudo muito teórico (D.E. da professora

Marta, 3ª formação).

Por outro lado, Eliane narra sobre uma experiência musical, vivida durante uma disciplina, que ressoa em sua memória até hoje.

Tenho lembrança que na graduação tivemos uma disciplina onde a turma foi dividida em grupos e cada grupo tinha que apresentar uma música, criando os instrumentos musicais, usando vários tipos de materiais para construir os

mesmos. Lembro que o grupo que fiz parte cantou a música 'É preciso saber viver' [...]. Gostei muito daquela disciplina, que lembro até hoje (D.E.

da professora Eliane, 3ª formação).

Apesar de essa experiência ter impactado, de algum modo, a formação da professora, ela comenta que quase nunca canta com os alunos, pois tem dificuldade em memorizar as letras e o ritmo das músicas. Eliane refere-se somente aos elementos rítmico e poético da música (letra). Mas e a melodia? Será que a melodia tem sido compreendida como um sinônimo de ritmo? E o cantar, dentro dessa expressão 'quase nunca', como é realizado e quando acontece?

A formação proposta não esteve vinculada ao trabalho de memorização das letras das músicas estudadas, mas, durante os encontros, eu e as professoras, falávamos as letras das músicas, observando a prosódia, as rítmicas e outros elementos textuais. As práticas musicais desenvolvidas buscaram, principalmente, estar centradas mais nas sonoridades, na afinação, na colocação e na tessitura vocal e, nas possibilidades de cantar sem, necessariamente, utilizar a letra da música.

Gigi acrescenta que, durante a graduação foi ofertada uma disciplina optativa de música. No entanto, ela decidiu realizar outras matérias eletivas, que eram de seu interesse à época. Comenta que, apesar de ter participado de uma oficina de música, durante a pós-graduação, essa não se constituiu em uma experiência significativa.

Mesmo assim, a professora pondera que

O pouco de experiência musical que tive foi quando trabalhei como monitora de uma professora da Educação Infantil, apaixonada por música. [...] O que eu faço de música hoje, as experiências musicais e o que trabalho com as crianças em sala de aula, eu aprendi com esta professora (D.E. da

professora Gigi, 3ª formação).

A partir do exposto por Gigi, é possível entender que os modos de ser professor na EI, nossas escolhas, os "[...] espaços emoldurados da sala de aula, jeitos de ensinar e aprender, conhecimentos não são porque assim tem que ser. São escolhas que se transformam no dia-a-dia, ou seja, cotidianamente" (BELLOCHIO, 2014, p.48). Assim, as experiências vividas, refletem muito do que somos e do que mobilizamos em nossos espaços de atuação. Esses espaços também nos modificam

enquanto profissionais e seres humanos, principalmente pelas interações com os pares e com as crianças.

É importante ressaltar que as professoras participantes da pesquisa trabalham 20 (vinte) horas na EI, em Nova Palma, e, muitas delas trabalham as demais vinte horas em outras escolas de outros municípios da Quarta Colônia de Imigração Italiana, como Faxinal do Soturno e São João do Polêsine. Dessa forma, essas professoras acabavam revezando 'seus tempos' entre o planejamento e a ação educacional em diferentes espaços de ensino, o que pode ser rico em aprendizados, mas "pesado" em demandas pessoais e de trabalho profissional.