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Pesquisas sobre a prática de profissionais de saúde em Oncologia Pediátrica

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.5. Pesquisas sobre a prática de profissionais de saúde em Oncologia Pediátrica

Da revisão de literatura realizada até o presente momento, foram encontrados apenas seis artigos que possuem relação mais direta com o tema desse projeto de doutorado, que são os de Melo e Valle (1998); Pedro e Funghetto (2005); Gargiulo, Melo, Salimena, Bara e Souza (2007); Ramalho e Nogueira-Martins (2007); Paro, Paro e Ferreira (2005) e Rodrigues e Chaves (2008).

Melo e Valle (1998) realizaram um trabalho sobre a experiência da equipe de enfermagem ao cuidarem de crianças com câncer em plantões noturnos. O objetivo das autoras foi compreender a experiência de cuidar de crianças com câncer em plantões noturnos de um hospital público de grande porte do interior paulista. Participaram dessa pesquisa onze profissionais de enfermagem (sendo 3 enfermeiras, 5 auxiliares e 3 atendentes), que trabalham em regime de plantão em uma Unidade de Pediatria de um hospital público de Ribeirão-Preto-SP. As pesquisadoras observaram o rigor ético-metodológico e entraram em contato com esses profissionais para solicitar a colaboração destes. O instrumento utilizado na pesquisa foi a entrevista semiestruturada, a qual foi aplicada e gravada conforme disponibilidade de tempo da equipe. A entrevista contou com a seguinte questão norteadora: ―Gostaria que escrevesse para mim a sua experiência de cuidar de

crianças com câncer nos plantões noturnos‖. Em seguida, transcreveram as

entrevistas (depoimentos) para fazer o levantamento das unidades de significado e a análise com base no método fenomenológico. Os resultados indicaram que os enfermeiros se sentiam emocionalmente envolvidos e despreparados para lidar com a criança com câncer, além de desmotivados por parte da instituição contratadora devido à falta de condições e incentivos para desenvolver um trabalho de maior qualidade. A equipe também mencionou sentir-se responsável em cuidar das crianças com câncer, preocupando-se com os procedimentos terapêuticos mais invasivos e com suas causas. Além disso, revelaram preocupação com a mãe da criança doente devido ao seu desgaste físico e emocional durante o processo de acompanhar o filho nesse contexto. Os

profissionais admitiram envolvimento emocional com a criança com câncer e com sua família, tendo dificuldades para impor limites e afastar-se das problemáticas do contexto de trabalho. As autoras concluíram haver a necessidade de um preparo desses profissionais desde o início de sua formação até a sua trajetória profissional, auxiliado por profissionais especializados a fim de motivar o crescimento pessoal e profissional desses. Além disso, a instituição precisaria garantir condições mínimas de trabalho a fim de motivar os profissionais a desempenharem seus papéis com qualidade, dedicação e respeito à dignidade humana.

O trabalho de Pedro e Funghetto (2005) é o que mais se aproxima de nossa perspectiva, pois buscou entender as concepções de cuidado para quinze cuidadores de crianças hospitalizadas com câncer no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Esses profissionais eram membros de uma equipe atuante em Oncologia Pediátrica, sendo 4 enfermeiras, 5 técnicos de Enfermagem, 1 médico; 1 nutricionista; 1 assistente social; 1 psicóloga; 1 pedagoga e 1 recreacionista. Os critérios de inclusão dos participantes foram o tempo de atuação dos profissionais de, no mínimo, um ano na Unidade, disponibilidade e manifestação espontânea de desejo de participar. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com informações coletadas por meio de uma entrevista semiestruturada e submetidas à análise de conteúdo, além de anotações de diários de campo dos pesquisadores. Os resultados indicaram que as concepções de cuidado foram de ação, vínculo, presença, sentimentos e promoção do desenvolvimento pessoal e espiritual. A experiência de atuar nessa área e os resultados do estudo indicaram que, para cuidar de crianças com câncer, é preciso conhecer como ocorre o seu processo de desenvolvimento e crescimento; além de uma concepção de cuidado mais abrangente e reflexivo (mais que técnica), ou seja, que envolva a dimensão emocional das crianças e de suas famílias.

Paro e colaboradores (2005) estudaram a respeito do enfermeiro e do cuidar em Oncologia Pediátrica ao buscar identificar o conhecimento e as reações de enfermeiros contratados no serviço de Pediatria do Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP, frente ao cuidar de crianças com câncer. Os participantes desta

pesquisa qualitativa exploratória foram 17 enfermeiros do setor de Pediatria deste referido hospital. O instrumento de pesquisa utilizado foi a entrevista com roteiro semiestruturado seguido pela transcrição integral, leitura exaustiva dos dados, classificação e análise dos dados através de três subtemas: 1) percepções e sentimentos relacionados à Oncologia Pediátrica; 2) direcionamento da equipe para prestar cuidados à criança oncológica e 3) atividades de cuidar/cuidados destinados às crianças oncológicas. Os resultados apontaram que esses cuidadores apresentam limitações para enfrentar situações de estresse (morte de crianças) e julgam precisar de suporte emocional para elaborar esse luto e lidar com a incompatibilidade do câncer na infância. Os autores sugeriram a necessidade de uma estrutura hospitalar que ofereça recursos de apoio e segurança; revisão de conhecimentos técnicos e atividades de enfermagem oncológica; e informações sobre a evolução de crianças atendidas, afim de que sentimentos negativos e incertezas sobre a efetividade do tratamento sejam reduzidos em prol de um cuidado eficaz, humanizado. (Paro et al, 2005, p.151). Os dados sugeriram que o conjunto de experiências de vida, valores, crenças e estigma cultural também fazem parte da prática dessas 17 enfermeiras, ou seja, elas utilizaram um conhecimento que vai além dos aspectos anatômicos e fisiológicos. Para elas, o câncer infantil associa-se a ideias antecipadas de sofrimento, complicações e morte, e também à incompatibilidade do tema com a infância. Além disso, as entrevistadas relataram a importância da sensibilidade da equipe e o uso de linguagem simples para facilitar o tratamento e desenvolver a confiança dos pacientes. Destacaram-se o relato de desgaste emocional, a carência de maior preparo técnico e os preconceitos como fonte de sofrimento desses profissionais.

Gargíulo e colaboradores (2007) discutiram sobre as vivências do cotidiano

do cuidado na percepção de enfermeiras oncológicas. Nessa pesquisa o objetivo

foi analisar a percepção de enfermeiras sobre o significado do processo do cuidar dispensado ao paciente portador de câncer na cidade de Juiz de Fora-MG. Os participantes foram dez enfermeiras de duas instituições hospitalares desse município por meio de entrevistas individuais com roteiro semiestruturado, gravação e transcrição. Os dados foram analisados a partir das seguintes

unidades de significado: 1) significados do cuidar: a dimensão emocional, a terminalidade e a fé; 2) sistematização da assistência: uma estratégia de aplicação do conhecimento no cotidiano do cuidar. Os resultados indicaram a presença de um cuidar holístico e humanizado, o sofrimento e a sensação de impotência das enfermeiras diante da morte, a presença da fé como suporte de seu agir e o interesse em atualizar-se científica e tecnologicamente. As vivências do cotidiano profissional foram perpassadas por características essencialmente femininas na relação estabelecida com a clientela das duas instituições. Os profissionais relataram a importância do toque e dos gestos de carinho para ajudar o cliente em seu bem-estar, gerar melhor qualidade de vida durante o tempo de vida que ele tiver.

Ramalho e Nogueira-Martins (2007) investigaram as vivências de profissionais de saúde da área de Oncologia mediante uma investigação do discurso psicoocupacional de trabalhadores da Oncologia Pediátrica de uma clínica de Oncologia Pediátrica de um hospital público de São Paulo. Eles entrevistaram nove trabalhadores dessa clínica por meio de amostra proposital e entrevistas semiestruturadas. Os entrevistados foram 2 médicos, 1 secretário 1 psicólogo, 1 farmacêutico, 1 enfermeiro e 3 auxiliares de enfermagem. Os resultados indicaram que as principais fontes de estresse desse tipo de trabalho são as dificuldades de organização do trabalho, a falta de reconhecimento do trabalho, as falhas na coordenação do grupo de trabalho, as características da doença e de seu tratamento e a morte de crianças, dentre outros. Concluíram que é indispensável criar intervenções institucionais de capacitação voltadas para todos os profissionais envolvidos na Oncologia Pediátrica a fim de que estes possam lidar com os aspectos subjetivos de sua atividade assistencial, prevenindo-se contra o burnout (síndrome de exaustão generalizada). E, quando isso não for possível, caberia aos gestores providenciar suporte e supervisão adequados para o cuidador interno realizar sua tarefa. Tais sugestões, apesar de não se restringirem aos psicólogos da área, apontam uma lacuna merecedora de atenção, que se traduz pela ausência de aprofundamento de estudos específicos, que levem em conta o psicólogo, que representa o profissional legalmente habilitado para lidar/trabalhar com os aspectos subjetivos da prática assistencial.

E, por último, no ano de 2008, Rodrigues e Chaves (2008) estudaram os fatores geradores de estresse e estratégias de coping em 77 enfermeiros oncológicos de cinco enfermarias de hospitais localizados em São Paulo. Esse estudo foi de caráter descritivo-exploratório quantitativo e contou com os seguintes procedimentos: inventário de dados demográficos e inventário de estratégias de coping de Lazarus e Folkman, os quais foram processados/analisados no programa excel 2002. Os dados apontaram que os fatores geradores de estresse nos enfermeiros da Oncologia eram: a morte dos pacientes (28,6%), as situações de emergência (16,9%), os problemas de relacionamento dentro da equipe de enfermagem (15,5%) e as situações ligadas ao processo de trabalho (15,5%). A estratégia de coping mais utilizada foi a de reavaliação positiva. Os autores concluíram que os resultados sugerem a necessidade de realizar novos estudos com enfermeiros, que trabalham em Oncologia para avaliar as correlações entre estratégias de coping e variáveis como personalidade, experiências anteriores, apoio social, além dos fatores implícitos no uso das estratégias de coping. O mais estressante foi a morte dos pacientes (28,6%), situações de emergência (16,9%), problemas de relacionamento com a equipe de enfermagem (15,5%), situações no processo de trabalho (15,5%). Vale salientar, contudo, que esse estudo não foi realizado com profissionais específicos da Oncologia Pediátrica.

Diante do exposto, propomos como problema de pesquisa investigar e compreender a seguinte questão: como ocorre a prática de psicólogos em Oncologia Pediátrica na cidade do Recife-PE? Como concebem o cuidado em suas práticas? Quais as implicações/repercussões dessas concepções de cuidado em suas práticas? Como essas concepções de cuidado podem contribuir para a tematização do saber-fazer no setor de alta complexidade em saúde? Que avaliações podem ser realizadas com base na prática desenvolvida?