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1.2 S URDOCEGUEIRA : C ARACTERIZAÇÃO

1.2.4 Pesquisas sobre surdocegueira no Brasil

Para a revisão bibliográfica, buscamos pesquisas realizadas cujo enfoque fosse a surdocegueira. Para isso, priorizamos trabalhos disponíveis junto ao Banco de dissertações e teses do portal da Coordenadoria Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior/CAPES; desenvolvidos pelas universidades brasileiras; teses indicadas por Elcie Fortes Salzano Masini, em 2011, em seu livro: “Educação e Alteridade – deficiências sensoriais, surdocegueira, deficiências múltiplas”, e

literatura disponível em biblioteca digital das universidades UFSCAR, USP, MACKENZIE e UNB. Além dessas fontes, também foram utilizados contatos por e- mail com autores que gentilmente nos cederam cópias de seus trabalhos. Ao todo foram identificadas 22 dissertações e sete teses.

Dos assuntos tratados nas dissertações, foi possível verificar a existência de algumas semelhanças nos enfoques das temáticas abordadas pelos autores, a saber: o processo de linguagem e comunicação; as relações familiares, suas experiências, expectativas; a formação de profissionais; orientação e mobilidade; as atividades da vida autônoma e social/AVAS; currículos e programas de ensino; atendimentos clínicos; a atuação do profissional G-I; a acessibilidade. Quanto às teses identificadas que tratavam do tema surdocegueira, verificou-se que a maioria abordava as seguintes temáticas: o processo de comunicação; a implementação de programas e recursos pedagógicos; o processo de inclusão; a aquisição da linguagem. Considerando o tema da presente pesquisa, será comentado o único trabalho que teve como foco o processo educacional escolar de alunos com surdocegueira, encontrado em uma pesquisa de doutorado.

A pesquisa cuja abordagem escolhida foi o estudo de caso, autoria de Galvão (2010), com o título: “A comunicação do aluno surdocego no cotidiano da escola inclusiva” - da Universidade Federal da Bahia - relata os casos de quatro alunos com surdocegueira inseridos no Ensino Básico em escolas regulares da cidade de Salvador, sendo três do ensino Fundamental II e um do Ensino Médio. A autora teve como objetivo estudar, analisar e compreender as diferentes formas de comunicação características dos alunos com surdocegueira, relacionando-as ao processo de inclusão dos discentes nas unidades escolares regulares de Educação Básica, três públicas e uma particular na cidade de Salvador, bem como os tipos de

Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado como apoio pedagógico a esse público.

Para a escolha dos alunos participantes da pesquisa, considerou-se como critérios a assiduidade dos educandos ao ambiente escolar e a inserção deles na rede regular de ensino.

A pesquisa foi realizada em 2009, em quatro unidades escolares, sendo três em escolas públicas e uma particular. Utilizou-se como instrumentos para a coleta de dados da pesquisa uma entrevista aberta, complementada por observação assistemática e análise da documentação pedagógica e técnica dos educandos.

Para a análise e discussão dos dados coletados utilizou-se a técnica de “análise de conteúdos”, foram organizadas três categorias, a primeira discorreu sobre a dinâmica do AEE ofertado ao aluno com surdocegueira, cujo resultado constatou lacunas na infraestrutura e na ação dos profissionais bem como a fragmentação do atendimento ofertado ao aluno com surdocegueira, a segunda categoria versou sobre a identificação das formas de comunicação dos alunos com surdocegueira pesquisados, constatou-se que as maiores dificuldades foram quanto às formas de comunicação utilizadas pelos alunos para receber mensagens, na terceira categoria relacionou-se o AEE recebido pelo aluno com SC com relação as formas de comunicação dele e a implicação desta relação para a inclusão do aluno com SC no ambiente escolar, o que revelou o desconhecimento da comunidade escolar em relação as necessidades do aluno com SC nos espaços escolares públicos e privados de Salvador.

Para GALVÃO (2010, p.197), a comunicação é um dos principais, se não o principal, desafios da inclusão escolar de alunos com surdocegueira. Sobre essa inclusão a autora argumenta:

Com evidência, foi desvelado que pensar em inclusão de fato do aluno surdocego é entender e discutir as suas formas de comunicação. Não basta ter as informações gerais, é preciso conhecer as peculiaridades de cada aluno, buscar construir uma rede de apoio dinâmica que se refaça a cada avanço e que construa situações comunicativas que garantam o direito do surdocego à comunicabilidade. (GALVÃO, 2010, p.197)

Para construir esta rede de apoio é preciso interferir na realidade da escola, nos aspectos subjetivos individuais e sociais, desfazendo guetos e criando uma proposta pedagógica inclusiva que vá além do grupo de inclusão, e escolha a diversidade de qualquer aluno, tenha ele deficiência ou não. (GALVÃO, 2010, p.197)

De modo geral, constatamos uma carência de pesquisas na área da surdocegueira, principalmente em relação à escolarização de alunos com surdocegueira em classe comum, na rede regular de ensino. Concordamos com a sugestão de Galvão (2010, p.206) que “se deve fomentar um sentimento de urgência para que haja mais estudos na área”.

Verificamos também nas pesquisas que contemplam esse tema a inexistência de citações sobre a importância da formação do professor regente para atuação com o aluno com surdocegueira. Consta-se também a necessidade de haver a parceria entre o professor especialista e o regente na elaboração dos recursos pedagógicos.

Dessa forma, a escassa literatura e a relevância social e científica desta pesquisa acerca da formação do professor regente e da parceria com o professor especialista na elaboração dos recursos didáticos, como mapas e gráficos táteis, fomenta sobremaneira a importância dessa investigação.

Considerando esse fato e a experiência da pesquisadora especialista em educação especial também com a cartografia tátil e outros recursos, organizaram-se os objetivos deste trabalho que consistiu em: desenvolver um programa de intervenção por meio de uma pesquisa colaborativa junto à professora de Geografia e as professoras especialistas, visando à elaboração e utilização de mapas e gráficos táteis para favorecer o acesso dos conhecimentos de Geografia à ASC.

Sendo esta pesquisadora especialista na área da surdocegueira, IM e G-I, e contando com 10 anos de experiência de atuação com alunos com surdocegueira, foi possível nesta pesquisa exercer também ambas as funções, exemplificando a ação desses profissionais.

Para este trabalho, utilizamos a cartografia tátil na confecção de materiais didáticos acessíveis, contando com o suporte da metodologia desenvolvida pelo Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar/LabTATE5, da Universidade Federal de

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O Laboratório de Cartografia Tátil e Escolar (LabTATE) foi criado no ano de 2006 com o apoio das agências de fomento FINEP e CNPq para um projeto que tinha como objetivo estudar e propor padrões cartográficos para mapas táteis no Brasil

Santa Catarina/UFSC.Com intuito de explicitar o trabalho realizado junto às professoras, a seguir apresentamos a caracterização da cartografia tátil.

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