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Pessoas praticando caminhada na Avenida Raul Lopes –

Essas considerações demonstram que o planejamento dos espaços públicos de lazer deve, necessariamente, envolver diversas secretarias municipais, tais como de Meio Ambiente, e de Trânsito, entre outras. O planejamento eficaz sobre este tema deve contemplar mecanismos de governança que sejam intersetoriais.

O trabalhador não foge do controle do capital nem quando está fora do trabalho, na moradia e no lazer também sofre implicações. O modo de vida urbano impõe limitações também no lazer, uma vez que a segregação residencial implica nas condições de lazer:

As práticas não se reduzem apenas a produção imediata, dentro da fábrica. E na vida cotidiana como um todo, que essas contradições se manifestam mais profundamente, nas diferenciações entre os modos de morar, o tempo de locomoção, o acesso à infraestrutura de lazer, à quantidade e tipos de produtos consumidos, etc. quanto mais a sociedade se desenvolve mas aprofunda as diferenças entre os indivíduos (fundamentalmente nos países subdesenvolvidos) (CARLOS, 2005, p. 79).

Outra alternativa bem-sucedida são as academias populares ao ar livre, porém, o número é muito reduzido para a demanda, pois são apenas onze na cidade. Estes equipamentos, geralmente, são localizados em praças e recebem significativo número de praticantes, conforme podemos observar através do trabalho de campo; tanto que moradores reclamam que há poucos aparelhos, uma vez que a necessidade é grande. Na academia localizada no Bairro Itararé (Sudeste), onde é preciso fazer matrícula para frequentar, existe fila de espera. É preciso, portanto, levar estes equipamentos para mais bairros.

O espaço interfere nas possibilidades de lazer do indivíduo, torna-se evidente diante deste contexto que a necessidade de espaços públicos para o lazer se torna mais urgente para as classes mais pobres, uma vez que estas não podem usufruir de espaços privados; assim, essas alternativas de lazer possibilitadas por meio dos espaços públicos são muito importantes.

Segundo Almeida e Gutierrez (2011), a globalização trouxe novas formas de lazer, pois aumentaram os espaços e possibilidades para este fim, como bares e restaurantes, academias, parques, escolinhas de esporte a também a ampliação do turismo. No entanto, estas novas formas são mais acessíveis às pessoas de maior poder aquisitivo. Enquanto para os mais pobres o lazer é um local de exclusão, em

razão das poucas possibilidades que têm de adquirir os novos produtos do lazer e os poucos espaços públicos adequados para esse fim.

Aquém das novas possibilidades de lazer trazidas com a globalização, aos excluídos restam as seguintes formas de lazer:

A grande massa de excluídos do lazer no Brasil possui poucas alternativas como a atividade física, a socialização em espaços públicos em geral deteriorados, a visita aos parentes e as festas populares. Os parques e espaços públicos são apropriados mas não contemplam a maior parte da população dos centros urbanos, quanto aos clubes, representam apenas setores das classes médias, bem como as viagens turísticas (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2011, p. 105).

O lazer, assim como outros aspectos da vida social refletem a exclusão social. Até mesmo as festas populares expressão da cultura do povo não fugiram à mercantilização. Um exemplo disso é o Carnaval que em muitos lugares perdeu sua identidade, passando a ser uma festa vendida como mercadoria, como os blocos de carnavais privados, dos quais só participa quem pode pagar. Este quadro gera mais uma contradição no acesso ao lazer.

4.3 Utilização dos espaços públicos de lazer

A prática do lazer envolve um conjunto de fatores já discutidos anteriormente, como, por exemplo, tempo, atitude, espaço disponível, a escolha individual em praticar ou não alguma atividade que existe, mesmo que imitada por modismos ou por impedimentos de ordem econômica, política e cultural. É no lazer que o sujeito tem maior liberdade. Desse modo, para entender a dinâmica dos espaços públicos de lazer na cidade de Teresina (PI), verificamos como a população frequenta os espaços disponíveis. Sobre esta questão, obtivemos os seguintes resultados dispostos na Tabela 6, a seguir.

Tabela 6 - Frequência dos moradores nos espaços públicos de lazer do seu bairro

Zona/Bairro Não Sim Total

Centro/ Mafuá 38 51% 37 49% 75 100% Centro/ Piçarra 52 69% 23 31% 75 100%

Leste/ São João 40

53%

35 47%

75 100%

Leste/ Vale Quem

Tem 36% 27 64% 48 100% 75 Norte/ Mocambinho 23 31% 52 69% 75 100%

Norte/ São Joaquim 24

32% 51 68% 75 100% Sudeste/ Itararé 21 28% 54 72% 75 100% Sudeste/ Renascença 45% 34 55% 41 100% 75

Sul/ Parque Piauí 42

56% 33 44% 75 100% Sul/Saci 23 31% 52 69% 75 100% Total 324 43% 57% 426 100% 750

Fonte: Pesquisa de Campo (ago. 2012).

A maioria dos sujeitos da pesquisa, ou seja 57% frequentam as áreas de lazer do bairro onde moram, na análise geral. Os bairros nos quais se verificaram a maior frequência foram: Itararé (72%), Saci e Mocambinho (69%) e São Joaquim (68%). Em quatro bairros, menos da metade da população afirma utilizar os equipamentos de lazer do seu bairro: Mafuá, Piçarra, São João e Parque Piauí.

Podemos relacionar estes dados com a presença de equipamentos nos bairros, os com maior percentual de utilização possuem mais equipamentos, são os mais privilegiados dentro da sua região. No caso dos bairros Mafuá e Piçarra, a baixa utilização pode ser explicada pela existência de poucos espaços no bairro. Entretanto, dois casos chamam a atenção. São João e Parque Piauí possuem equipamentos, porém, estes não são muito utilizados.

No primeiro caso, pode acontecer de a população ter acesso a outros tipos de lazer, por sua faixa de renda ser maior: “as classes sociais média e alta atribuem à cidade a função exclusiva de circulação, já que podem desfrutar de lazer em seus espaços privatizados. Porém, para as classes mais pobres, a cidade continua com a função de lazer, de morar, de trabalho e de circulação” (MARCELLINO, et al., 2008, p. 141). No segundo caso, podemos citar o abandono em que se encontram os espaços de lazer do bairro; um exemplo é o Centro Social Urbano (CSU) muito citado por seus moradores, mas que se encontra deteriorado (Foto 4) e sem condições para as práticas de lazer. Atualmente o local abriga oficinas, aulas de Capoeira e encontros da terceira idade, enquanto as atividades esportivas deixaram de ser realizadas e o local se tornou alvo de usuários de drogas – até assassinatos já ocorreram no local.

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