• Nenhum resultado encontrado

A indústria petroquímica surgiu no século XX com a consolidação do uso dos deri-vados de petróleo e gás natural na fabricação de produtos químicos orgânicos. É um caso típico de oligopólio concentrado, capital-intensivo e cada vez mais dependente de elevadíssimas escalas de produção, com investimentos realizados à frente da de-manda que respondem por comportamentos cíclicos de preços e margens de lucro e, por que não dizer, de movimentos resultantes de reestruturação e consolidação.

Compreende uma ampla cadeia produtiva que inclui o refino do petróleo e o

pro-cessamento do gás natural, dos quais parte a produção de petroquímicos básicos, intermediários e finais, alcançando indústrias mais próximas do consumidor final, como a transformação de plásticos.

GRÁFICO 13: PRODUçãO MUNDIAL DE PETROQUíMICOS BÁSICOS

América do Norte América Latina Europa Oriente Médio e África Ásia e Oceania PRODUÇÃO MUNDIAL (2006): 318,9 milhões de t

26%

5%

23% 7%

39%

Fonte: SRI apud Parolin(2008).

Atualmente, dois quintos da produção mundial de petroquímicos básicos per-tencem à ásia, seguida pela América do Norte e a Europa (Gráfico 13). A capacidade mundial de eteno, principal petroquímico básico e referência usual da indústria, foi de 130,8 milhões de t/a (2008), cabendo ainda aos Estados Unidos 22% desse total, seguido pela China, na segunda posição (8%), pelo Japão (6%) e pela Arábia Saudita (6%), que já desponta na quarta posição do

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

A tendência à ampliação da participação da ásia e do Oriente Médio deverá ser reforçada nos próximos anos em função dos expressivos investimentos de adição de capacidade na China, baseada na nafta, onde a representatividade do mercado doméstico tem estimulado a instalação de empresas nacionais em parceria com as líderes químicas mundiais. Os investimentos na petroquímica têm sido inseri-dos nos planos quinquenais de investimento que estabeleceu a meta de adição de 18 milhões de t/a de eteno, até 2013, em plantas com escalas de dois milhões de toneladas. Ainda assim, a manutenção do explosivo crescimento chinês deverá resultar na manutenção do país como importador líquido de petroquímicos. Da mesma forma, o Oriente Médio, que junto com a áfrica responde hoje por apenas 7% da produção global de petroquímicos básicos, deverá despontar como centro produtor em função dos expressivos investimentos em curso. Esses investimentos estão concentrados principalmente na produção de olefinas, em megacomplexos petroquímicos na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes Unidos, em função da ampla disponibilidade e dos bai-xos custos dos derivados do gás natural associado, além de unidades acessórias de propeno junto às refinarias de petróleo. Os novos projetos significarão a adição de nove milhões de t/a de eteno e também estão sendo conduzidos por meio de parcerias entre líderes químicas e petrolíferas mundiais junto com empresas nacionais de petróleo. Nos moldes da estratégia chinesa, que estimulou a produção local de produtos trans-formados plásticos (35 milhões de t/a, em 2007), o Oriente Médio está não apenas buscando a produção local de produtos petroquímicos, mas também empreendendo esforços agressivos com vistas a desenvolver uma indústria local de transformação plástica com base na grande disponibilidade de olefinas que emergirá dos investimen-tos petroquímicos. Essa indústria é geradora de empregos e permitirá diversificar a economia da região, orientada principalmente para exportação e dentro da meta de participação de 25% da oferta mundial de plásticos, em 2014, com produtos mais sofisticados, com maior agregação de valor e intensidade tecnológica que os chineses. Nesse sentido, além do fornecimento de resinas a preços competitivos, estão sendo concedidos incentivos fiscais e financeiros, como também disponibilidade de infraes-trutura, facilidades logísticas, terrenos e utilidade, com vistas à atração de investidores em transformados plásticos para parques industriais que estão sendo implantados.

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

Com isso, as previsões indicam a tendência ao deslocamento da oferta (da Europa e dos Estados Unidos) para a ásia e o Oriente Médio, abrindo perspectivas de trans-formação de antigas regiões líderes na produção petroquímica em importadores líquidos [Bastos (2009)]. Essa tendência foi reforçada com a crise de 2008-2009, concentrada nos países desenvolvidos e que afetou duramente a indústria química europeia, norte-americana e japonesa.

De fato, a crise agravou o quadro previsto de sobrecapacidade, com consequente ciclo de baixa de preços e margens, pelo forte impacto na demanda global por produ-tos petroquímicos, principalmente da construção civil e da indústria automobilística. As tendências em curso foram reforçadas mesmo com algum atraso na adição de capacidade e antecipação do fechamento de plantas menos eficientes na Europa e nos Estados Unidos (Tabela 5). Tais tendências tiveram efeitos amplos e aparente-mente irreversíveis no cenário petroquímico mundial e possivelaparente-mente darão origem a um novo ciclo de reestruturação global por meio de fusões e aquisições, haja vista os efeitos sobre os balanços de grandes empresas químicas mundiais, incluindo até mesmo Dow e Basf. Movimentos recentes de aquisição de empresas foram observa-dos em 2009, como o da canadense Nova Chemicals pela IPIC, empresa observa-dos Emi-rados árabes Unidos, além de negociações sobre eventual aquisição da Lyondell Basell (duramente atingida pela crise, tal como a Ineos) pela indiana Reliance, até a aquisição da americana Sunoco pela brasileira Braskem no início de 2010.

TABELA 5: ATRASOS NA ENTRADA DE NOVA CAPACIDADE E FECHAMENTO DE PLANTAS (2009)

Regiões Polietileno Polipropileno PVC

Atrasos de nova capacidade

Ásia 650 150 200 Índia 180 180 Europa 450 Oriente Médio 1.850 1.250 Total 2.950 1.580 380 Fechamento de plantas Europa 610 EUA 217 328 1.590 Total 827 328 1.590 Fonte: Braskem.

A petroquímica brasileira, em termos da capacidade de produção de eteno, representou 2,9% da produção mundial de 2008, mas algo superior a dois terços da produção total latino-americana, ocupando a primeira posição no ranking regional. Contudo, o porte

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

ainda relativamente reduzido e não integrado de suas empresas, herança do modelo da implantação da indústria, e a reduzida disponibilidade de matéria-prima petroquímica (nafta) foram os principais limitadores dos investimentos no período recente. A questão do porte das empresas foi enfrentada por meio de processos de reestrutu-ração e consolidação empresarial que resultaram na emergência da Nova Braskem, parceria da Odebrecht e da Petrobras, em uma empresa de porte comparável ao padrão internacional. A Nova Braskem passou da posição de maior empresa latino-americana para uma posição relevante em todo o continente americano, a

par-tir da aquisição da brasileira Quattor13 e da americana Sunoco,14 em 2010 (Tabela 6).

A Nova Braskem tem ainda outros projetos na América Latina (Venezuela, Peru e, mais recentemente, no México, por meio de parceria com a Idesa, para investi-mento de US$ 2,5 bilhões em complexo petroquímico com capacidade de produ-ção de 1 milhão de t/a de eteno e três unidades de polietileno).

TABELA 6: POSIçãO ESTIMADA DA BRASKEM EM RESINAS (2010)

Ranking das Américas (mil t/a) Ranking global (mil t/a)

Nova Braskem 5.506 Lyondell Basell 10.762

Dow 5,239 Exxon Mobil 9.212

Lyondell Basell 4.362 Dow 9.088

Chevron Phillips 2.311 Sinopec 8.304

Shin Etsu 2.190 Ineos 7.290

Oxy 1.920 Formosa 7.060

Nova 1.780 Sabic 6.181

Westlake 1.605 Nova Braskem 5.305

Georgia Gulf 1.404 Total 4.624

Formosa 1.201 IPIC 4.482 Sunoco 1.159 Total 1.130 Ineos 1.030 Mexichem 722 Fonte: Valor (2010b).

13 Com a aquisição da Quattor, a produção de petroquímicos básicos e resinas passa a estar concentrada em uma única empresa, que tem como acionistas o grupo Odebrecht (participação prevista de 53,8%) e a Petrobras (46,2%), no caso da não adesão dos acionistas minoritários ao aumento de capital a ser proposto. Cabe à Nova Braskem, hoje, a capacidade de produção de 3,7 milhões de t/a de eteno, 5,5 milhões de t/a de resinas, em 26 unidades industriais, com faturamento de R$ 26 bilhões. A estatal brasileira do petróleo parece seguir, assim, o padrão internacional de integração a jusante desde o petróleo, agregando valor e diversificando a produção.

14 O custo divulgado da aquisição teria sido de US$ 350 milhões, abrangendo três unidades de polipropileno

com capacidade de 950 mil t/a e contrato de fornecimento de eteno pela Sunoco. Com isso, a Braskem passa a ter acesso ao mercado americano (cujo consumo de plásticos, em 2008, foi de 24 milhões de toneladas) e a fontes de matéria-prima [Valor Econômico (2010a)].

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

A questão do equacionamento da oferta de matéria-prima, obstáculo recente à

ex-pansão dos investimentos petroquímicos, que resulta na importação de cerca de um

terço do consumo nacional (em 2007, a importação de nafta petroquímica foi de US$ 1,2 bilhão), vinha sendo enfrentada pela indústria por meio da busca de alterna-tivas fósseis (implantação de unidade petroquímica da Rio Polímeros com base no gás natural e expansão da petroquímica paulista pelo emprego de gás de refinaria), ou mesmo renováveis, como o etanol, até o surgimento do projeto do Comperj. O Comperj empregará parcela do petróleo pesado amplamente disponível no país (mais de 80% do petróleo brasileiro é composto por frações pesadas, com poucas frações leves, como a nafta), hoje exportado com deságio, como matéria-prima para produção de produtos petroquímicos de maior valor agregado, em unidade

integrada de refino-petroquímica.15 Com o início de sua operação e a adição

origi-nalmente projetada de 1,3 milhão de t/a de eteno, a capacidade total de produção do país será de 5,1 milhões de t/a, que, com a provável participação da Braskem no empreendimento, em função da parceria com a Petrobras na aquisição da Quattor, irá melhorar substancialmente sua posição no ranking de produção de eteno, sendo só superada pela Dow e pela ExxonMobil.

A partir de 2008, o cenário mudou. A Petrobras definiu novos investimentos (US$ 43 bilhões) para ampliação da capacidade de refino nacional, que passará de 1,8 milhão de barris de petróleo por dia (bpd), atualmente, para 3,2 milhões, até 2016 (2,5 milhões de bpd, em 2013). Mais importante foram as perspectivas auspiciosas que emergiram da descoberta de enormes reservas potenciais de petróleo (compostas predominantemente por frações leves) e gás natural na camada do pré-sal em águas ultraprofundas na Bacia de Santos. Cabe lembrar que estudo da Abiquim, do fim de 2007, apontava para déficit na produção de nafta no país de mais de 2 bilhões de t/a até 2010 (1,8 bilhão de t/a, em 2015; ou seja, mesmo após a entrada em operação prevista do Comperj) [Bastos (2009)]. O dinamismo da indústria petroquímica está cada vez mais atrelado ao con-trole de fontes de matérias-primas (disponibilidade e custo) e ao acesso a

15 O investimento total do Comperj, inicialmente previsto em US$ 8,5 bilhões, engloba entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões referentes à fase petroquímica (30% a 35% do total). Além de 1,3 milhão de t/a de eteno, contempla a produção de 850 mil t/a de polietilenos e igual capacidade de polipropileno [o Estado de s.

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

mercados, exigindo maiores escalas de planta e porte das empresas, bem como integração vertical. Essas forças parecem determinar a reestruturação em curso na indústria no plano mundial, inclusive das empresas brasilei-ras, como a Braskem, em que os esforços com vistas à internacionalização atrelam-se aos mesmos objetivos.

Contudo, o cenário internacional impõe grandes desafios à petroquímica brasi-leira, em termos do aumento dos investimentos e da competitividade de toda a cadeia, por meio do fortalecimento do seu segmento mais frágil (transformados

plásticos). Essa constatação esteve presente quando da inclusão dos plásticos entre

as prioridades da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), anunciada pelo governo federal em 2008.

Nesse sentido, a mobilização de diversos instrumentos de política industrial, tais como financiamentos do BNDES, estará orientada para a ampliação da competitividade da cadeia petroquímica por meio do apoio simultâneo a inves-timentos de modernização (substituição de máquinas, equipamentos e moldes obsoletos) e fortalecimento das empresas da indústria de transformados plás-ticos, com vistas a enfrentar os desafios das mudanças em curso no plano in-ternacional, ampliando exportações e a produção para o mercado interno, com produtos mais sofisticados que incorporem novas tecnologias desenvolvidas em parceria entre a segunda e a terceira gerações petroquímicas. Há um vasto campo para aperfeiçoamento de produtos e inovações em novas aplicações de produtos, por meio de mudanças nas suas características físico-químicas, mis-turas ou compostos para melhoria das propriedades dos polímeros. A agenda tecnológica do setor de plásticos considerada na PDP está voltada, nesse senti-do, para o desenvolvimento de tecnologias de polímeros de fontes renováveis (particularmente alcoolquímica), tecnologias de recuperação energética de re-síduos sólidos e materiais plásticos avançados.

Ainda que, desde a década de 1980, a petroquímica mundial, em meio ao seu próprio amadurecimento, apresente reduzido ritmo de inovações tecnológicas, questões ligadas às perspectivas de esgotamento e volatilidade nos preços do petróleo, preocupações ambientais e restrições de natureza regulatória

pare-In

DÚS

tRIA QU

íMICA

cem imprimir novo ímpeto à inovação. As iniciativas recaem em investimen-tos em “química verde”, que têm sido o foco de grandes empresas químicas e petrolíferas do Ocidente, no sentido da busca de fontes renováveis e redução das emissões de carbono.

As inovações na indústria petroquímica, particularmente no segmento de pe-troquímicos básicos, envolvem o desenvolvimento de novas rotas de processo químico, orientadas, sobretudo, para a obtenção de vantagens de custo, via ampliação de escalas (economia de escala) e/ou eficiência energética. Em momentos de crise e potencial mudança no padrão energético mundial, como ocorreu nas duas crises do petróleo, renascem as preocupações com a oferta

de matérias-primas, que ressurgem agora acompanhadas de apreensões com

o aquecimento global, dando lugar a um novo ciclo de inovações em uma indústria que parecia ter alcançado sua maturidade tecnológica. A insuficiên-cia mundial de matérias-primas petroquímicas vem imprimindo mudanças no cenário global e dando novo ímpeto à inovação, tendo como foco principal a flexibilidade de matérias-primas, inclusive da “química verde”.

Contudo, as descobertas do pré-sal, ao assegurar perspectivas de ampliação da oferta doméstica de matérias-primas derivadas de petróleo e gás natural, abrem um horizonte muito mais amplo para a petroquímica brasileira do que a condição de simples produtora de plásticos. É nesse segmento que promete ser intensa a competição com novos entrantes do Oriente Médio com incompará-veis vantagens de custos, cujos diminutos mercados domésticos significarão uma avalanche de exportações de poliolefinas e plásticos no mercado inter-nacional. Isso coloca na agenda da indústria química brasileira a necessidade de sua ampliação e diversificação de seu escopo, seja voltada para o mercado doméstico, seja para exportações.

Há um amplo campo, envolvendo cadeias inteiras de produção, como a de ácido acrílico e derivados, como o projeto de investimento de complexo integrado in-cluído no plano de investimentos da Petrobras, mas que ainda esbarra em limita-ções, como o acesso a tecnologias. Quanto mais se caminha no sentido contrário à produção de simples commodities, na direção de produtos de maior intensidade

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

tecnológica e agregação de valor (tendo como caso extremo a química fina), as dificuldades passarão a residir cada vez mais na questão do acesso a tecnologias, com maiores requisitos de capacitação em inovação, pois essas não estão, de fato, disponíveis para compra no mercado internacional.

Fertilizantes

Outro segmento da indústria química que merece atenção é o de fertilizantes, par-ticularmente os intermediários para fertilizantes, que vêm tendo peso crescente de importações no consumo aparente. Sua importância como insumo agrícola se mantém, afetando a produção doméstica e os preços dos alimentos e produtos relevantes na pauta de exportações brasileiras. A forte alta de preços dos fertilizan-tes em 2007 e 2008 e os riscos a médio prazo de insuficiência de oferta no plano mundial asseguram caráter ainda mais estratégico a esse segmento da química, principalmente porque o Brasil ocupa atualmente a quarta posição no consumo mundial, depois de China, Estados Unidos e índia.

Produzida de matérias-primas provenientes da mineração ou derivadas do petróleo, a extensa cadeia produtiva de fertilizantes estende-se da indústria extrativa (fornecedora de rocha fosfática, enxofre, gás natural e rochas po-tássicas) até o produtor agrícola, passando pela produção de matérias-primas intermediárias (ácido sulfúrico, ácido fosfórico e amônia anidra) e fertili-zantes simples e mistos [Saab e Paula (s/d)]. O Quadro 1 resume o fluxo de produção de fertilizantes.

Combinações dos elementos nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) dão origem aos fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos, em função das distintas ma-térias-primas. Esses produtos constituem, basicamente, commodities, cujos preços são definidos por cotação internacional, em que a competitividade está atrelada à disponibilidade de matérias-primas e ao desempenho da atividade extrativa. É

uma indústria capital-intensiva, que demanda elevados montantes de

investimen-tos, ligados à atividade extrativa (mineração), com prazos longos de maturação e alto risco pelo seu caráter cíclico.

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

QUADRO 1: FLUxO DE PRODUçãO DE FERTILIzANTES

Matéria-prima

básica Matéria-primaintermediária Fertilizantes básicos eintermediários Produto final

NPK Fertilizantes NitrogênioN P Fósforo K

Potássio Cloreto de potássio(KCl)

Mineral potássio Gás natural e nafta Rocha fosfática

S - Enxofre sulfúricoÁcido

Ácido fosfórico Amônia

Ácido

nítrico Nitrato de amônio

Ureia Sulfato de amônio Fosfato de monoamônio (MAP) Fosfato diamônio (DAP) Superfosfato triplo (TSP) Superfosfato simples (SSP)

As reservas e a produção mundial são concentradas em poucos países [Saab e Paula (s/d)]. Nos fertilizantes fosfatados, as matérias-primas básicas são a rocha fosfática (matéria-prima do ácido fosfórico) e o enxofre (matéria-prima do ácido sulfúrico). No caso do fosfato, cinco países detêm 85% das reservas, com destaque para Marrocos (42% do total), China (26%) e Estados Unidos (7%), que respon-dem por parcela relevante da produção mundial. A produção de enxofre é também bastante concentrada, pois Estados Unidos, Canadá e Rússia respondem por cerca de 50% do total. China, Estados Unidos, Marrocos e Rússia são os principais pro-dutores de ácido sulfúrico, com 51% da produção mundial.

No caso dos fertilizantes potássicos, dois países (Canadá e Rússia) detêm 74% das reservas mundiais e são os maiores produtores mundiais, seguidos por Bie-lorrússia, Alemanha, Israel e China – juntos, esses países representam quase 90% da produção mundial.

No caso dos fertilizantes nitrogenados, a amônia, principal matéria-prima, produ-zida de derivados do petróleo e do gás natural, também tem produção concentrada em poucos países – China (30%), Rússia, índia e Estados Unidos –, que respon-dem por mais da metade da produção mundial [Saab e Paula (s/d)].

In

DÚS

tRIA QU

íMICA

Impulsionada pela forte expansão da produção agrícola mundial, a indústria de fertilizantes apresentou crescimento vigoroso na década, atingindo níveis máximos de utilização de capacidade para os três nutrientes (97%, em 2007). Se fossem mantidas as taxas de crescimento da agricultura, as previsões indi-cavam oferta insuficiente de fertilizantes (ureia, potássio e fosfato) em 2008 [Heffer e Prud’homme (2009)].

Assim, o período recente foi marcado por grande desbalanceamento entre oferta e demanda de fertilizantes, decorrente da maior expansão relativa da demanda (exponencial em países exportadores, como China e Estados Unidos), redução da oferta em alguns países e aumento de custo das matérias-primas e fretes.

No mercado doméstico, os preços médios dos fertilizantes apresentam tendência ascendente desde 1998 (principalmente a partir de 2002), afetados pela cotação internacional dos produtos, além do câmbio, do frete marítimo e dos custos por-tuários – despesas portuárias propriamente ditas, além do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), taxas de demurrage, entre outros, que acrescem cerca de 20% aos preços dos produtos [Saab e Paula (s/d)].

No entanto, tal como outras commodities, os fertilizantes foram seriamente afetados pela crise econômica. O mercado global experimentou profunda con-tração em 2008 por meio do efeito da queda na demanda por produtos agríco-las, redução do crédito à agricultura e níveis elevadíssimos de estoques, que rapidamente deterioraram as condições do mercado de fertilizantes. Houve queda de preços, colapso das vendas e declínio das exportações a partir do último trimestre de 2008 e início de 2009.

A queda na demanda mundial foi expressiva (-5,1%, de 168,1 milhões de toneladas para 159,6 milhões de toneladas) em quase todas as regiões (principalmente Europa Ocidental e Central, América do Norte e América do Sul), afetando principalmente o

consumo de P (-7,3%) e K (-14,4%), embora menos no caso de N (-1,6%).16 O

resul-tado foi o adiamento das compras de fertilizantes, na expectativa de queda dos pre-ços, o que reduziu ao mínimo seu uso [Heffer e Prud’homme (2009)]. A produção de

16 Isso decorre da dificuldade de implementar cortes drásticos na taxa de aplicação desse tipo de fertilizante sem perda imediata de rendimento [Heffer e Prud’homme (2009)].

Documentos relacionados