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5. Balança comercial e potencial de investimento na indústria química brasileira:

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5. Balança comercial

e potencial de investimento

na indústria química brasileira:

2010-2013

Valéria Delgado Bastos

Letícia Magalhães Costa

*

Introdução

O intenso crescimento econômico mundial no período 2000-2009, a uma taxa média anual de 3,52%, esteve fortemente atrelado à expansão das economias emergentes (cuja taxa média do período foi de 5,93% a.a., com destaque para China e Índia, com taxas médias anuais de 10% e 7,2%, respectivamente), à aceleração dos preços das

commodities (+8,9% a.a.) e à ampliação do comércio internacional (+5,26% a.a.).

No caso da economia brasileira, esse padrão de crescimento beneficiou particu-larmente setores com forte viés exportador, em que o país apresenta vantagens comparativas, tais como celulose e siderurgia, cujas taxas de crescimento médio anual foram de 3,1% e 1,4%, respectivamente. Essa expansão baseia-se, entretan-to, em atividades extrativas ou na produção de manufaturas simples, com reduzida agregação de valor, o que condiciona a pauta de exportações brasileiras a produtos de baixa intensidade tecnológica.

* Respectivamente, gerente e economista da Gerência de Estudos Setoriais do Departamento de Indústria

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A indústria química, cuja produção está voltada quase inteiramente para atendimen-to do mercado doméstico, com vendas externas apenas residuais, tem apresentado taxas de crescimento bem mais modestas, de 0,14 % a.a., em média, no período, em decorrência da menor expansão da economia brasileira vis-à-vis o comércio mun-dial. De fato, o motor do crescimento da indústria química brasileira tem sido o mercado interno, à exceção dos períodos em que a retração doméstica é compensada pelo aumento das exportações, ainda que à custa de preços mais baixos.

Apesar do crescimento relativamente menos expressivo, é importante assinalar a maior agregação de valor na produção química, cujos segmentos são de média-alta ou alta intensidade tecnológica, como no caso da farmacêutica, comparativamen-te ao padrão de média-baixa e baixa incomparativamen-tensidade comparativamen-tecnológica das indústrias com

maiores taxas de crescimento recente, orientadas para o mercado externo.1

Apesar disso, a produção química brasileira não tem sido suficiente para atender completamente à demanda interna, crescentemente suprida por importações, o que resulta em déficits crescentes da balança comercial nos momentos de expansão da economia. Contribui, dessa forma, de modo intenso e potencialmente preocu-pante, para o desequilíbrio das contas externas, intensificando a vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira. No caso de alguns segmentos da indús-tria química, a crescente dependência das importações tem levado ao aumento sem precedentes da sua participação no consumo aparente nacional.

A insuficiência da produção química brasileira tem sido determinada por diversos fatores, ligados à instabilidade na expansão da demanda doméstica (por razões macroeconômicas vinculadas a câmbio e juros), à escassez de matérias-primas que limitaram a expansão dos investimentos e ao deslocamento de plantas pela reorientação global da produção de empresas multinacionais, entre outros. Em alguns casos, a participação da produção doméstica foi progressivamente reduzida em termos absolutos (desativação de plantas) ou relativos (investimentos insufi-cientes para acompanhar a demanda), enquanto em outros nunca houve produ-ção local significativa. De fato, historicamente, a expansão da indústria química

1 Sobre o desempenho da indústria brasileira segundo a intensidade tecnológica, pela metodologia da OECD,

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brasileira foi marcada por assimetrias e idiossincrasias e, ainda que ocupe posição representativa no ranking mundial, tem amplitude reduzida e abrange um leque re-lativamente reduzido de produtos e subcadeias químicas frente ao padrão altamente diversificado da indústria mundial, principalmente nas economias desenvolvidas. A maior parte da produção química brasileira está centrada em produtos petroquí-micos (básicos e de segunda geração, principalmente resinas termoplásticas), fruto de um intenso conjunto de políticas públicas mobilizadas para sua implantação no país. Mas mesmo a sua expansão esteve limitada, nos últimos anos, por entraves societários e insuficiência na oferta de matérias-primas que postergaram investi-mentos, pela consolidação natural e amadurecimento da indústria.

No entanto, o novo cenário vislumbrado para a indústria química brasileira apre-senta perspectivas inteiramente distintas e inéditas. O crescimento projetado para a economia brasileira para os próximos anos, considerando a alta elasticida-de da indústria, cria granelasticida-des possibilidaelasticida-des elasticida-de expansão para a produção quími-ca loquími-cal, que dependerá, contudo, tanto da ampliação sem precedentes dos níveis de investimentos para aumento da competitividade e expansão de capacidade dos produtos já existentes, quanto da implantação de unidades industriais com vistas à diversificação do parque fabril do país. Isso se refere particularmente a segmentos instalados, mas também a outros a serem implantados, objetivando o alargamento e a diversificação do parque químico. As mudanças em curso no panorama mundial impõem tal reconfiguração com vistas à inserção da indústria química brasileira, a qual poderá ser viabilizada por meio da nova estratégia de investimentos da Petrobras em refino e, principalmente, a partir do pré-sal, que criará um potencial inimaginável de ampliação da oferta de matérias-primas para a petroquímica, para fertilizantes (no caso, nitrogenados) e para diversos outros produtos químicos orgânicos.

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Esses desafios e oportunidades emergem, entretanto, em meio a incertezas no ce-nário internacional, com a presença de novos players e as novas condições de competição global, como ocorre na petroquímica, e ainda pelo provável fecha-mento das economias desenvolvidas por meio de barreiras regulatórias não tarifá-rias, além dos riscos de um crescente déficit em transações correntes da economia brasileira [US$ 50 bilhões, em 2010, podendo atingir US$ 80 bilhões no próximo ano segundo as projeções de Nakano (2011)].

Este artigo objetiva avaliar as perspectivas de investimentos na indústria quími-ca brasileira, particularmente entre 2010 e 2013, tomando como foco principal a balança comercial, com vistas a avaliar o potencial e os obstáculos à expansão da indústria. O artigo compreende cinco seções, incluindo esta introdução e as con-siderações finais. Na segunda seção, é traçado um breve panorama da indústria quí-mica brasileira, com destaque para a trajetória recente da balança comercial quíquí-mica. Na terceira seção, são apontados os principais desafios e oportunidades no segmen-to petroquímico e no de fertilizantes. A quarta seção apresenta as perspectivas de investimentos na indústria química identificados pelo BNDES e pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

A IndúStrIA QuímICA BrASILEIrA – SEGmEntoS,

AtorES E mErCAdoS

A importância da indústria química brasileira

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A indústria química brasileira tem posição internacional não desprezível, pois ocupa a oitava posição no ranking mundial em faturamento. Em 2008, o faturamento da indústria química brasileira foi de US$ 122,0 bilhões, equivalente a 3,3% do fatura-mento mundial estimado de US$ 3,697 trilhões. Em 2009, o faturafatura-mento total da in-dústria no país foi estimado em R$ 206,7 bilhões (-7,0% frente a 2008) ou US$ 103,3 bilhões (-15,5%), contrariando a tendência ascendente iniciada em 2003 (Gráfico 1). Os produtos químicos de uso industrial, categoria acompanhada de modo mais deta-lhado pela Abiquim, correspondem aos produtos químicos empregados como maté-rias-primas da própria indústria química e são seu principal segmento, respondendo por quase metade do faturamento global (Gráfico 2). Compreendem, assim, produ-tos petroquímicos (básicos, ou de segunda geração, como as resinas termoplásticas, termofixas e elastômeros), outros produtos orgânicos, além de produtos inorgânicos, como cloro e álcalis, gases industriais e intermediários para fertilizantes (Gráfico 3). A queda de faturamento ocorreu em todos os segmentos, exceto higiene pessoal, per-fumaria e cosméticos. As principais quedas foram em produtos químicos de uso indus-trial (-21,1%), adubos e fertilizantes (-31,1%) e fibras artificiais e sintéticas (-15,9%). A Abiquim (2009a) contabiliza 1.056 fábricas de produtos químicos de uso industrial re-gistradas no Guia da Indústria Química Brasileira, a maioria (71%) localizada na região Sudeste, principalmente São Paulo (57%), seguida pelas regiões Sul (16%) e Nordeste (11%), em função da localização dos polos petroquímicos brasileiros nessas regiões.

GRÁFICO 1: FATURAMENTO LíQUIDO DA INDúSTRIA QUíMICA BRASILEIRA (1995-2009)*

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 38 43 49,8 50,8 65,9 79,8 91,3 108,9 140,0 176,4 176,1 179,6 200,9 222,3 206,7 41,4 42,8 46,2 43,8 36,3 43,6 38,8 37,3 45,5 60,3 72,3 82,6 103,5 122,2 103,3

R$ bilhões US$ bilhões

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GRÁFICO 2: FATURAMENTO LíQUIDO DA INDúSTRIA QUíMICA BRASILEIRA, POR SEGMENTO (2009)*

Higiene pessoal, perfumaria e cosmédicos Adubos e fertilizantes Defensivos agrícolas Produtos químicos de uso industrial Produtos farmacêuticos

Sabões e detergentes Tintas, esmaltes e vernizes Fibras Outros

48,3 15,9 11 9,8 6,3 6,1 2,8 1,0 1,5 E m U S$ b il h õ e s

TOTAL US$ 103,3 bilhões

Fonte: Abiquim (2009a). *Estimativa.

Entre os produtos químicos de uso industrial, destacam-se os petroquímicos bá-sicos e resinas termoplásticas (responsáveis por 33% do faturamento total do segmento em 2009), por produtos e preparados químicos diversos (17%), outros produtos químicos orgânicos (15%), intermediários para fertilizantes (9%), inter-mediários para resinas e fibras (7%) e outros inorgânicos (6%).

GRÁFICO 3: FATURAMENTO LíQUIDO POR GRUPOS DE PRODUTOS QUíMICOS DE USO INDUSTRIAL (2009)*

Elastômeros Intermediários para resinas e fibras Outros inorgânicos Outros produtos químicos orgânicos Petroquímicos básicos e resinas termoplásticas Produtos e preparados químicos diversos Resinas termofixas

Intermediários para fertilizantes Gases industriais Cloro e álcalis

15,9 8,0 1,2 1,2 3,6 3,0 7,2 4,3 2,4 1,5 E m U S$ b il h õ e s

TOTAL US$ 48,3 bilhões

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De fato, a petroquímica como um todo2 corresponde ao principal segmento

da indústria química brasileira, com cerca de 65% do faturamento total de US$ 48,3 bilhões estimado para o conjunto dos produtos químicos de uso industrial, em 2009, os quais representam, por seu turno, quase metade do fa-turamento total da indústria química brasileira. Assim, a petroquímica, com quase um terço do faturamento global da indústria, é o principal segmento da indústria química no país.

Além disso, a indústria química participa ativamente de quase todas as cadeias produtivas da indústria, da agricultura e de serviços e está presente em setores produtivos estratégicos. Nesse sentido, sua importância transcende os limites do próprio escopo, em função dos elevados encadeamentos na economia, tanto a mon-tante quanto a jusante. As tabelas a seguir apresentam os índices de

Rasmussen-Hirschman3 para os vários segmentos da indústria química e suas posições no

ranking da indústria geral. Na indústria química, destacam-se os segmentos de pro-dutos químicos (quarta posição no ranking de encadeamentos para frente e sexta nos

encadeamentos para trás), resinas e elastômeros e produtos e preparados químicos diversos, resultando em importantes efeitos multiplicadores de produção e emprego. No caso do índice de ligação para trás (Tabela 1), apenas um dos segmentos da in-dústria química – produtos farmacêuticos – apresenta índice ILT inferior à unidade. Os demais apresentam índices superiores, indicando que, quando a demanda final varia em uma unidade, produzem impactos diretos e indiretos, na forma de aquisição

de insumos, em nível superior à média dos demais setores da economia.

2 Além dos petroquímicos básicos e resinas termoplásticas, a petroquímica engloba resinas termofixas,

elas-tômeros, intermediários para resinas e fibras, outros produtos químicos orgânicos e parte dos produtos e preparados químicos diversos.

3 O grau de encadeamento na economia é analisado com base no índice de ligação de Rasmussen-Hirschman,

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No caso dos índices de ligação para frente (ILF), o segmento de produtos

quími-cos ocupa a quarta posição geral e a primeira posição entre todos os setores da

indústria, destacando-se como um dos setores-chave para a economia, seguido pela produção de resinas e elastômeros (16ª posição geral). Ambos apresentaram valores superiores à unidade: 2,087 e 1,131, respectivamente.

TABELA 1: ÍNDICES DE LIGAçõES (ILT E ILF) – 2005

Atividades ILT Posição no ranking

geral ILF Posição no ranking geral Resinas e elastômeros 1,218 5 1,131 16ª Defensivos agrícolas 1,143 11 0,749 29ª

Perfumaria, higiene e limpeza 1,114 14 0,608 42ª

Produtos químicos 1,084 19 2,087 4ª

Produtos e preparados químicos diversos 1,065 20 0,822 24ª

Tintas, vernizes, esmaltes e lacas 1,062 21 0,608 41ª

Produtos farmacêuticos 0,877 43 0,613 40ª

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do IBGE-MIP 2005.

O multiplicador de produção (Tabela 2) capta o impacto de variações na demanda final de determinado setor sobre o volume de produção total – ou seja, quanto de-verá ser produzido na economia como um todo para aumento de uma unidade na demanda final do setor analisado. Os segmentos da indústria química apresentam elevados multiplicadores, com destaque para o segmento de fabricação de resinas

e elastômeros, ocupando o quinto lugar no ranking geral. Nesse caso, para cada

aumento de uma unidade monetária na demanda final do setor, a produção da economia aumentará em 2,37. Entre os demais, o pior resultado (43ª posição no

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TABELA 2: MULTIPLICADORES DE PRODUçãO E EMPREGO (2005)

Atividade Produção Posição no ranking geral Emprego direto e indireto Posição no ranking geral Emprego direto Posição no ranking geral Resinas e elastômeros 2,370 5 13,753 8 1,137 52ª Defensivos agrícolas 2,225 11 14,754 5 1,392 50ª Perfumaria, higiene e limpeza 2,168 14 4,850 18 6,077 31ª Produtos químicos 2,109 19 8,515 12 1,852 46ª Produtos e preparados químicos diversos 2,073 20 3,227 25 6,911 29ª

Tintas, vernizes, esmaltes

e lacas 2,067 21 5,326 17 3,579 40ª

Produtos farmacêuticos 1,707 43 4,270 20 4,074 39ª

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do IBGE-MIP 2005.

O multiplicador de emprego identifica o quanto é gerado de emprego na econo-mia, direta e indiretamente, a partir de uma alteração da demanda final. Apesar de a indústria química (capital-intensivo) não se caracterizar por significativa gera-ção de empregos diretos, tem importância na geragera-ção de empregos indiretos, em decorrência de seus altos efeitos de encadeamento, com destaque para defensivos

agrícolas e resinas e elastômeros, que ocupam a quinta e a oitava posições,

res-pectivamente. O primeiro apresentou um multiplicador de emprego de 14,75, o que indica que o aumento de uma unidade monetária na demanda final desse setor levaria a um acréscimo de 14,75 unidades de emprego gerado.

Os principais segmentos da indústria

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Para uma análise detalhada e completa dos dados nos diferentes segmentos da indús-tria química, com base no desempenho recente da produção, na balança comercial e no consumo aparente, as informações são apresentadas de acordo com a Classifica-ção Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), inclusive com rearranjo dos da-dos de importação e exportação, que originalmente seguem a classificação baseada em produtos da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM), convertendo-as na sua correspondência na CNAE a partir da tabela de compatibilidade do IBGE.

Mesmo no caso de existir informação mais recente, optou-se em alguns casos pelos dados de 2007 em virtude da existência de um conjunto mais completo de informa-ções, inclusive o último dado disponível da Pesquisa Industrial Anual (PIA-IBGE), que permitiu o cálculo detalhado do consumo aparente nacional, além de evitar eventuais distorções, em virtude da crise econômica recente, de 2008 e 2009. Desse modo, foram consideradas as informações correspondentes às divisões 20 e 21 da CNAE-2.0, válida a partir de janeiro de 2007, que correspondem à divisão 24 da CNAE-1.0, englobando, assim, toda a indústria química, in-clusive a fabricação de produtos farmacêuticos.

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Na indústria química brasileira, boa parte da produção doméstica desse segmento são petroquímicos básicos (subdivididos em olefinas, tais como eteno, propeno e

os derivados do C4, como o butadieno, e em aromáticos, como benzeno, tolueno

e xilenos). Existe um único produtor, depois de diversos movimentos de conso-lidação que resultaram na Braskem, com unidades na Bahia, no Rio Grande do Sul, em São Paulo e no Rio de Janeiro. No caso do eteno, principal petroquímico básico, a capacidade instalada é de 3,8 milhões de t/a (produção de 3,2 milhões de toneladas, em 2007, e 2,9 milhões de toneladas, em 2008).

Outros grupos importantes do segmento de químicos orgânicos são os interme-diários para resinas termofixas, cuja produção é realizada por grupos privados nacionais de menor porte, mas com posições relevantes ou mesmo monopolistas no mercado, além de empresas multinacionais multidivisionais que atuam em di-versos outros segmentos. Nos intermediários para fibras sintéticas, segmento que passou por forte desindustrialização e desarticulação da cadeia produtiva, que tem na ponta próxima do mercado tradicionais empresas multinacionais, o panorama empresarial é semelhante, mas em uns poucos casos conta também com a atua-ção da Braskem (como a caprolactama e o ciclohexanol), que também atua em intermediários para plásticos (como o dicloroetano e o MVC, matéria-prima do termoplástico PVC), além de empresas de menor porte que atuam na fabricação de diversos outros produtos, tais como intermediários para plastificantes. De todo modo, à exceção dos petroquímicos básicos, cuja estrutura é mais concentrada, nos demais grupos dos químicos orgânicos a estrutura é, em geral, mais pulveriza-da e a produção brasileira fica muito aquém do padrão dos países desenvolvidos. No segmento de produtos químicos inorgânicos, estão abrangidos elementos quí-micos e substâncias que não possuem carbono em suas cadeias, englobando a fa-bricação de cloro e álcalis, intermediários para fertilizantes e seus produtos finais, gases industriais e diversos outros produtos inorgânicos.

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poucos produtores, com destaque para a Fosfértil,4 fabricante de amônia (que detém

40% da capacidade instalada de 1,6 milhão de t/a, com o restante produzido pela Petro- bras/Fafen-BA, com 32% do total, e a Petrobras/Fafen-SE, com 27%) e ureia (com 37% da capacidade total de 1,7 milhão de t/a e a Petrobras-Fafen com o restante), além de ácido nítrico (85% da capacidade de 630 mil t/a), ácido sulfúrico (31% da capacida-de total capacida-de 7,4 milhões capacida-de t/a, seguida pela Bunge, com 21%, e Copebras, com 16%), ácido fosfórico (62% da capacidade de 1,3 milhão de t/a, seguida pela Copebras, com 22%, e pela Bunge, com 16%), nitrato de amônio (100%), fosfato de diamônio (95%)

e fosfato de monoamônio (88%). A Fosfértil não atua, contudo, no segmento de sulfato

de amônio, produzido por Unigel (57%), Braskem (29%) e Bunge (11%).

No caso dos demais produtos inorgânicos, como gases industriais, a produção é realizada por poucas empresas internacionais, como a White Martins. O consumo de carbonato neutro de sódio vem sendo totalmente suprido por importação, em função da paralisação da unidade da estatal Companhia Nacional de Álcalis. Na produção de cloro, a Braskem está mais uma vez presente, com unidades acopladas à produção de soda, na Bahia e em Alagoas, com 31% da capacidade instalada do produto de 1,5 mi-lhão de t/a, além da Dow (28%) e da Carbocloro (24%). Há, ainda, um conjunto amplo e pulverizado de outros produtos inorgânicos de difícil identificação e mapeamento. O grupo de resinas e elastômeros engloba os principais petroquímicos de segunda gera-ção, subdividindo-se em resinas termoplásticas (ou plásticos passíveis de moldagem), tais como polietilenos, polipropilenos, copolímero de etileno, acetato de vinila (EVA) e PVC; resinas termofixas (que, após tratamento, não podem ser novamente moldadas), tais como resinas alquídicas, cresólicas e fenólicas; e elastômeros, englobando a fabri-cação de borrachas sintéticas (acrílicas, cloradas, de silicone e nitrílicas) ou misturadas com borracha natural, além da borracha de butadieno-estireno (SBR), entre outras. É nes-se nes-segmento, particularmente nas resinas termoplásticas, que a Braskem tem posição de destaque, já que, depois da aquisição recente da Quattor, alcançou posição monopolista

em polietilenos e polipropileno, com exceção do PVC (onde possui 67% da capacidade

instalada), além de não atuar em poliestireno (dominado por empresas globais), PET e policarbonato, fabricados por empresa nacional de menor porte.

4 Empresa originalmente estatal, adquirida por empresas estrangeiras após a privatização e que agora passa

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A maior parte da produção brasileira do grupo corresponde às resinas termoplásticas, integradas à produção dos petroquímicos básicos, enquanto a produção de resinas ter-mofixas é relativamente modesta, da mesma forma que os elastômeros. A produção de várias resinas termofixas conta com diversos fabricantes – mais de 20 empresas, no caso de resinas melamínicas, fenólicas, ureicas e alquídicas –, embora algumas empre-sas estrangeiras tenham market share importante. O mercado de elastômeros é mais concentrado entre players multinacionais, com poucas empresas nacionais atuando.

O segmento de fibras artificiais e sintéticas compreende a fabricação de fios, cabos

e filamentos, fibras artificiais (acetatos, raiom e viscose) ou sintéticas (acrílicas, de poliéster, de poliamida, de polietileno, de polipropileno, de poliuretano etc.). Com uma produção doméstica reduzida, passou por amplo processo de desindustriali-zação e desestruturação de cadeias produtivas a partir da década de 1990, com o deslocamento de plantas dos grandes produtores mundiais para a China.

O segmento de produtos farmacêuticos compreende a produção dos farmoquímicos,

que são os princípios ativos5 (matérias-primas), e de produtos farmacêuticos

(medica-mentos6 de uso humano ou veterinário),7 além da fabricação de preparações

farmacêu-ticas.8 O segmento é dominado (globalmente) por empresas multinacionais, que, em

geral, não fabricam no país princípios ativos, mas apenas o produto final (medicamen-to), e umas poucas empresas nacionais, com destaque, contudo, para os fabricantes de medicamentos genéricos (não protegidos por direitos de propriedade intelectual). O segmento de defensivos agrícolas e desinfetantes domissanitários engloba a fabrica-ção de defensivos propriamente ditos com uso na agricultura e desinfetantes domissani-tários (formulações químicas para o controle de pragas para uso doméstico, comercial e/ou industrial, incluindo jardinagem e até mesmo espirais mata-mosquito). O mercado, também controlado por empresas multinacionais, assemelha-se bastante ao dos produtos farmacêuticos pelo padrão de competição e pela diferenciação de produtos.

5 Substâncias químicas farmacologicamente ativas (obtidas por síntese química, extração de produtos de

origem vegetal ou animal ou ainda por via biotecnológica), utilizadas na preparação de medicamentos.

6 Especialidades farmacêuticas (ou medicamentos, no senso comum) de uso humano, soros e vacinas etc.

7 Especialidades farmacêuticas de uso veterinário, vacinas veterinárias e antiparasitários.

8 Kits e preparações para diagnósticos, curativos, bandagens e outros, impregnados com qualquer substância

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O segmento de sabões, detergentes, produtos de limpeza, cosméticos, produtos de

perfumaria e higiene pessoal subdivide-se em diversos grupos, como os

seguin-tes: sabões e detergentes sintéticos; produtos de limpeza e polimento; e cosméticos, produtos de perfumaria e higiene pessoal. O segmento de tintas, vernizes,

esmal-tes, lacas e produtos afins engloba, além de tintas, vernizes e outros produtos para

imóveis, automóveis e móveis, tintas de impressão (gráficas), impermeabilizantes, solventes e produtos afins. O mercado desses segmentos é próximo do consumidor final e a fabricação no país envolve frequentemente a “finalização” de produtos com baixa sofisticação e intensidade tecnológica (mais mercadológica) com base em matérias-primas importadas, com algumas exceções importantes, como cosméticos. O segmento de produtos e preparados químicos diversos engloba um número grande de produtos, como adesivos e selantes (colas), explosivos, aditivos de uso industrial (compostos químicos utilizados como auxiliares de processo ou de performance do produto final em diversas indústrias), extratos de produtos aromáticos naturais, resinoi-des, óleos essenciais, catalisadores (para a indústria química, em geral, para aceleração das reações químicas), além de muitos outros produtos (fotográficos, tintas de escre-ver, tratamento de óleos por processos químicos etc.). O segmento contempla uma in-finidade de produtos, com mercados muitas vezes pulverizados, mas alguns com forte presença de multinacionais, como nos aditivos de uso industrial (caso da Ajinomoto), da mesma forma que em adesivos e selantes, embora casos como o dos plastificantes contem com a presença de empresas nacionais tradicionais, como Elekeiroz, que pro-duz ftalato de dibutila, ftalato de octila etc., em nichos quase monopolistas, e empresas como a Petrom, fabricante de anidrido ftálico e plastificantes.

Produção química brasileira

O valor bruto da produção industrial de químicos no Brasil chegou ao valor de R$ 162 bilhões no ano de 2007 [PIA-IBGE (2008)]. Entre os segmentos da indús-tria química, destaca-se a produção em valor dos produtos químicos orgânicos, resinas e elastômeros, produtos químicos inorgânicos e farmacêuticos, conforme

pode ser observado na Tabela 1 do Anexo.9

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A partir da década de 1990, quando da abertura da economia brasileira, a indústria química passou por importante mudança na composição da produção. O Gráfico 4 evidencia a participação relativa dos segmentos que compõem a indústria química, com aumento da participação relativa dos segmentos de resinas e elastômeros, produtos inorgânicos, orgânicos e defensivos, em detrimento da participação das fibras artificiais e sintéticas, detergentes e perfumaria e diversos. Cabe observar que a expansão recente da agricultura brasileira tem impulsionado a produção de defensivos e fertilizantes, importantes insumos agrícolas, embora sem produção local de suas matérias-primas, que permanece em níveis relativamente modestos.

GRÁFICO 4: PRODUçãO QUíMICA BRASILEIRA, POR SEGMENTO (1996 E 2007 )

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1996 2007

Diversos Tintas e afins Detergentes e perfumaria Defensivos agrícolas Farmacêutica Fibras art. e sint. Resinas e elastômeros

Produtos orgânicos Produtos inorgânicos 9 R$ 161,7 bilhões 6 5 10 10 15 1 18 16 19 R$ 41,0 bilhões 5 15 7 20 2 13 14 16 E m %

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da PIA/IBGE.

Em nível mais desagregado, é possível visualizar os grupos mais representati-vos de cada segmento. No segmento de resinas e elastômeros, a produção de resinas termoplásticas (83% da produção do segmento, em 2007) tem tido cres-cente destaque na produção doméstica de produtos químicos, o que elevou sua

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participação de 11% do total produzido pela indústria como um todo, em 1996, para 12%, em 2002, e 15%, em 2007 (Tabela 1 do Anexo), tornando-o líder na produção da indústria química. Situação inversa é verificada no caso do seg-mento de produtos farmacêuticos, que perdeu participação ao longo das duas décadas, embora ainda se situe entre os quatro principais. O principal grupo, de medicamentos de uso humano, destacava-se como o mais importante em 1996, representando 18% da produção total química, mas sua participação reduziu-se para 14% em 2007 (Tabela 1 do Anexo).

Por fim, no segmento de produtos inorgânicos, a participação dos fertilizantes fosfa-tados, nitrogenados e potássicos passou de 7% para 12% (Tabela 1 do Anexo). A am-pliação da produção doméstica de fertilizantes é decorrente da expansão da produção agrícola, mas ainda em níveis bastante inferiores ao crescimento da demanda, confor-me será visto adiante. Cabe destacar, ainda, o segconfor-mento de produtos orgânicos (14%, em 1996; 16%, em 2007), embora sem destaque para nenhum grupo em especial.

Desempenho recente e impactos da crise econômica

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No caso da economia brasileira, o contágio se deu por duas vias. De um lado, ao afetar seriamente empresas de setores com forte viés exportador, produziu impactos pelo efeito multiplicador da retração do comércio mundial sobre a economia doméstica. No entanto, esse impacto foi moderado em face da me-nor importância relativa das exportações no PIB. De outro lado, a redução do financiamento às atividades produtivas pela perda das linhas de crédito externas atingiu de forma imediata setores e empresas fortemente dependentes de crédito externo, o que foi compensado pela reação rápida do governo federal, com corte de juros, medidas de natureza tributária e, particularmente, pelo ativo e estrutu-rado setor financeiro público.

De fato, os canais de contágio explicam em grande medida o impacto moderado da crise econômica internacional sobre a indústria química brasileira. Predo-minantemente voltada para o mercado doméstico, com participação reduzida de vendas externas, a produção química brasileira manteve-se relativamente resguardada dos maiores impactos da crise global. Diferenciou-se, nesse sen-tido, de outras indústrias, inclusive do grupo de insumos básicos, orientadas para exportação. O impacto foi também menos intenso do que o percebido pela indústria química mundial, sobretudo a europeia, a norte-americana e a japone-sa, onde atingiu empresas seculares, resultando em cortes de produção, fecha-mento de unidades e problemas de solvência, mormente no caso da produção de

commodities (químicos orgânicos, plásticos e fibras sintéticas), em face dos altos

níveis dos estoques quando da eclosão da crise, da queda brusca de preços e do declínio das vendas nos setores da construção, bens duráveis (inclusive automó-veis) e eletrônicos.

Na indústria química brasileira, os piores resultados estiveram concentrados entre dezembro de 2008 e o primeiro trimestre de 2009 (Gráfico 5). Isso fica evidenciado pela forte queda do nível de utilização de capacidade do segmento de produtos químicos de uso industrial, que chegou ao ponto mais baixo em janeiro de 2009, com 64% (em novembro e dezembro de 2008 foram de 80% e

65%, respectivamente). No caso dos índices de produção física e vendas

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de preços da indústria química. Cabe destacar a inversão desse índice a partir do mês de julho de 2009, que reflete a retomada ascendente do preço da nafta, iniciada em março de 2009, mas que apenas a partir da metade do ano foi capaz de permitir a recomposição de margens.

GRÁFICO 5: PRODUçãO INDUSTRIAL (DEz. 1998-DEz.2009) Nº íNDICE – PRODUçãO FíSICA (2002=100)

3.14 Perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza 3.15 Outros produtos químicos 1. Indústria geral 3. Indústria de transformação 3.13 Farmacêutica

160 150 140 130 120 110 100 90 80 70 abr/05

dez/98 abr/99 ago/99 dez/99 abr/00 ago/00 dez/00 abr/01 ago/01 dez/01 abr/02 ago/02 dez/02 abr/03 ago/03 dez/03 abr/04 ago/04 dez/04 ago/05 dez/05 abr/06 ago/06 dez/06 abr/07 ago/07 dez/07 abr/08 ago/08 dez/08 abr/09 ago/09 dez/09

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da PIM/IBGE.

No caso da petroquímica, principal segmento da indústria química brasileira, a emergência da crise ocorreu no momento em que a indústria se encontrava com

elevados níveis de estoques,10 o que levou à queda subsequente do nível de

utiliza-ção a 55% da capacidade instalada (dezembro de 2008), ao lado da forte queda de preços (realinhamento seguindo a referência internacional). O aumento das vendas

externas (que passaram a 40%-50% das vendas totais),11 favorecido pelo câmbio,

possibilitou a regularização dos estoques em janeiro e fevereiro de 2009, com a recuperação do mercado interno apenas no segundo trimestre de 2009. No entanto, a continuidade da queda de preços dos produtos petroquímicos implicou a redução da receita líquida das empresas no primeiro semestre do ano (frente a 2008).

10 O alto nível de estoques foi decorrência do acelerado crescimento da demanda e da alta de preços das commodities,

em um cenário de ampla disponibilidade de financiamentos.

11 De acordo com os dados da Abiquim (2009b), a participação das exportações no consumo aparente nacional

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Em 2009, a produção brasileira de produtos químicos registrou pequena

amplia-ção (+3,5%) em relaamplia-ção a 2008, embora com queda das vendas ao mercado in-terno (-9,0%) e grau de utilização de capacidade de 81%, similar ao ano anterior. O período crítico correspondeu ao fim de 2008 e início de 2009, mas já no início do último trimestre de 2009 praticamente havia retornado ao patamar pré-crise [Abiquim (2009b)]. A retomada econômica esteve fortemente atrelada às medi-das anticíclicas de política econômica para setores altamente demandantes de produtos químicos, como automobilístico, eletrodomésticos e construção, além da destinação de maior parcela da produção para vendas externas, com vistas à redução de estoques e compensação da queda nas vendas internas.

Balança comercial e consumo aparente nacional: o desafio da indústria química brasileira

A indústria química é uma das principais responsáveis pelos desequilíbrios da balança comercial, pois o setor apresenta déficits crescentes e persistentes. O elevado e crescente déficit comercial de produtos químicos do país concentra-se nos segmentos de produtos químicos orgânicos, farmacêuticos e inorgânicos, que responderam, em média, por 85% do déficit químico nos últimos três anos. Em 2009, o déficit da balança comercial de produtos químicos foi de US$ 15,7 bilhões (-32,3%, comparado com 2008), resultado de US$ 26,1 bilhões em im-portações (20,5% das imim-portações totais do país) e US$ 10,4 bilhões em

expor-tações (6,8% das exporexpor-tações totais do país), segundo Abiquim (2010).12 No

entanto, 2009 foi um ano atípico em função da crise econômica, com redução do déficit em função dos efeitos sobre a demanda e preços no mercado interna-cional. Historicamente, a tendência tem sido de déficits crescentes (Gráfico 6), fruto de importações ascendentes que apresentam elevada elasticidade com o PIB (industrial ou agrícola), além da influência de preços e do câmbio.

12 Foram importadas 21,9 milhões de toneladas de produtos químicos (-21,5% frente a 2008) e exportadas

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GRÁFICO 6: BALANçA COMERCIAL DA INDúSTRIA QUíMICA BRASILEIRA (1991-2009)

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 E xp -I m p D é fi ci t

Exportações Importações Déficit

40 35 30 25 20 15 10 5 0 25 15 10 5 20 0 1,5 1,3 2,0 2,9 4,6 5,4 5,8 6,5 6,3 6,3 6,2 8,6 8,5 13,2 23,2 15,7 7,9 6,6 7,2

Défict 1991: US$ 1,5 bilhões Défict 2009: US$ 15,7 bilhões

Fonte: Abiquim (2010).

Os dados indicam queda expressiva do déficit em 2009, puxado pelos fertilizantes (em virtude do forte impacto da crise sobre o setor agrícola, em face da situação de elevadíssimos estoques quando da eclosão da crise, do encurtamento do crédito, da queda da cotação de diversas commodities agrícolas e consequente retração do produto agrícola, além das cotações internacionais de fertilizantes), bem como pelos produtos químicos orgânicos (em grande medida, pela redução conjuntural de preços para desova dos elevados estoques de ofertantes internacionais, mais duramente atingidos pela crise do que as próprias empresas químicas brasileiras).

Um caso particular, entretanto, é o dos produtos farmacêuticos, mais inelásticos

em relação ao PIB, tendo em vista a inelasticidade relativa de sua demanda frente à renda (Gráfico 7).

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dos produtos. O segundo item de exportação foi o segmento de aditivos de uso industrial, que somou US$ 690 milhões e 473 mil toneladas [Abiquim (2010a)]. Para uma análise mais completa da balança comercial química, foi conside-rada a composição das exportações e importações em 2007 e 2008, em valor (Gráficos 8 e 9).

GRÁFICO 7: DÉFICT COMERCIAL DA INDúSTRIA QUíMICA BRASILEIRA POR SEGMENTO (2007-2009)*

2007 2008 2009

Produtos inorgânicos Produtos orgânicos Resinas e elastômeros Fibras art. e sint. Farmacêutica Defensivos agrícolas Detergentes e perfumaria Tintas e afins Diversos

10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 E m U S$ m il

Fonte: Elaboração própria, com base em dados de Abiquim (2008a e 2009c). * Janeiro a outubro de 2009.

GRÁFICO 8: BALANçA COMERCIAL QUíMICA BRASILEIRA POR SEGMENTO (2007)

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Exp Imp

Diversos Tintas e afins Detergentes e perfumaria Defensivos agrícolas Farmacêutica Fibras art. e sint. Resinas e elastômeros

Produtos orgânicos Produtos inorgânicos

E m % 10 2 5 4 9 2 21 25 22 7 1 1 6 21 3 13 22 26 R$ 10,7 bilhões R$ 23,9 bilhões

Déficit US$ 13,3 bilhões

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GRÁFICO 9: BALANçA COMERCIAL QUíMICA BRASILEIRA POR SEGMENTO (2008)

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Exp Imp

Diversos Tintas e afins Detergentes e perfumaria Defensivos agrícolas Farmacêutica Fibras art. e sint. Resinas e elastômeros

Produtos orgânicos Produtos inorgânicos

E m % R$ 11,9 bilhões R$ 35,1 bilhões 11 5 1 1 6 18 2 12 20 35 2 5 4 11 1 17 23 35

Déficit US$ 23,2 bilhões

Fonte: Elaboração própria, com base em dados de Abiquim (2008a e 2009c).

A conclusão é de que exportamos resinas e elastômeros (resinas termoplásticas), com 12% do total em 2008, produtos e preparados químicos diversos, particular-mente aditivos de uso industrial (8% do total em 2008), e alguns produtos orgâni-cos (8% em 2008) e inorgâniorgâni-cos (22% em 2008), classificados como “outros”, não passíveis, portanto, de identificação clara. Por outro lado, importamos interme-diários para fertilizantes (26% do total, em 2008), além de medicamentos de uso humano (9% do total), outros produtos orgânicos (8%) e resinas termoplásticas (8%), possivelmente por déficit de oferta de algum tipo específico e, mais prova-velmente, por questão de cotação de preço e taxa de câmbio. A importância das importações de fertilizantes é ainda mais clara se forem consideradas em volume. Quase 80% do volume importado em 2007 e 2008 foi relativo a produtos inorgâ-nicos, sobressaindo os intermediários para fertilizantes, produtos de baixo valor unitário importados em grandes quantidades.

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como os petroquímicos, pela insuficiência de disponibilidade de matérias-primas ou obstáculos decorrentes de entraves societários que limitaram os investimentos de expansão de capacidade até os esforços recentes de consolidação do segmen-to [Bassegmen-tos (2009)]. Por fim, cabe agregar aspecsegmen-tos de preços e câmbio, no caso de commodities, como as resinas termoplásticas, que afetaram tanto importações quanto exportações em diversos momentos.

Consumo aparente nacional da indústria química brasileira

O aumento das importações brasileiras de produtos químicos, particularmente nos segmentos mencionados, tem resultado em participação crescente das importações no consumo aparente nacional da indústria química, conforme evidenciado por um conjunto de produtos selecionados acompanhados pela Abiquim (Tabela 3). Destacam-se os intermediários para fibras sintéticas, para plásticos, elastômeros e fertilizantes e até mesmo as resinas termoplásticas.

TABELA 3: PARTICIPAçãO PERCENTUAL DAS IMPORTAçõES NO CONSUMO APARENTE NACIONAL* DE PRODUTOS QUíMICOS DE USO INDUSTRIAL

1990 1994 1998 2002 2006 2007 2008

Cloro e álcalis 6 3 7 17 19 22 25

Intermediários para fertilizantes 12 25 30 33 33 40 37

Produtos petroquímicos básicos 1 0 2 3 1 1 1

Intermediários para plásticos 3 7 10 10 11 13 19

Intermediários para resinas termofixas 6 6 6 7 4 3 4

Intermediários para fibras sintéticas 6 11 10 8 8 45 52

Solventes industriais 15 15 19 24 22 24 26

Resinas termoplásticas 4 9 18 17 16 16 22

Resinas termofixas 3 4 3 1 2 2 2

Elastômeros 5 13 18 15 27 28 n.d.

Fonte: Abiquim (2008c).

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Os investimentos insuficientes na petroquímica, juntamente com questões conjunturais, ligadas a preços internacionais e ao câmbio, em momentos de expansão da demanda interna, explicam a necessidade de complementação da produção doméstica por impor-tações, resultando no aumento de sua participação no consumo aparente nacional. No conjunto de 10 segmentos analisados pela Abiquim, houve aumento expressivo da participação percentual das importações no consumo aparente nacional em sete segmentos, com destaque para intermediários para fibras sintéticas, intermediários para plásticos, intermediários para fertilizantes, cloro e álcalis e até mesmo resinas termoplásticas, em que o país conta com importante parque industrial instalado. A exceção ficou por conta dos segmentos de petroquímicos básicos, resinas termofi-xas e intermediários para produção dessas resinas.

Importantes segmentos da indústria química brasileira não tiveram a mesma sorte da petroquímica no enfrentamento dos desafios impostos pela abertura e pela privatiza-ção a partir da década de 1990, o que resultou em processos de desnacionalizaprivatiza-ção, desindustrialização e desintegração das cadeias produtivas. Em segmentos como inter-mediários para fertilizantes e matérias-primas para fibras sintéticas, a produção local acabou remanejada para outras partes do mundo dentro da lógica global de atuação das empresas multinacionais que dominam importantes segmentos da química. Em outros casos, como química fina, matérias-primas fundamentais na produção de medicamen-tos e defensivos agrícolas, nunca chegou a ser montada no país uma base produtiva expressiva, e a que existia também passou por um processo de desindustrialização. Por fim, produtos químicos derivados de matérias-primas alternativas aos derivados do petróleo e gás natural, como os produtos de alcoolquímica, que no passado tive-ram relevância, acabative-ram tendo unidades industriais locais desativadas em função da

predominância da rota petroquímica (diante da ampla disponibilidade mundial das

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A participação percentual das importações sobre o consumo aparente nacional da fabricação de intermediários para fertilizantes elevou-se no período, passando de 53%, em 1996, para 71%, em 2007 (Gráfico 11). Da mesma forma, as importações de produtos farmoquímicos também ampliaram sua participação no CAN, passando de 86%, em 1996, para praticamente 100%, em 2007 (Gráfico12). Outros segmen-tos que também apresentam elevada participação das importações no CAN são os seguintes: fabricação de inseticidas (58%) e fungicidas (62%) e fabricação de fibras, fios, cabos e filamentos contínuos artificiais e sintéticos (59%, em 2007).

GRáFICO 10: PARTICIPAçãO PERCENTUAL DAS IMPORTAçõES QUÍMICAS BRASILEIRAS NO CONSUMO APARENTE NACIONAL (1996, 2002 E 2007)

1996 2002 2007

Produtos inorgânicos Produtos orgânicos Resinas e elastômeros Fibras art. e sint. Farmacêutica Defensivos agrícolas Detergentes e perfumaria Tintas e afins Diversos

70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 E m %

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Aliceweb e PIA-IBGE 2008.

GRÁFICO 11: QUíMICOS INORGâNICOS – % IMPORTAçõES/CAN (1996, 2002 E 2007)

1996 2002 2007

Produtos inorgânicos Cloro e álcalis Intermediários para fertilizantes Fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos Gases industriais Outros inorgânicos

100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 E m %

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GRÁFICO 12: FARMACêUTICA – % IMPORTAçõES/CAN (1996, 2002, 2007)

1996 2002 2007

Farmacêutica Farmoquímicos Medicamentos de uso humano Medicamentos de uso veterinário Materiais de usos médico, hosp. e odont.

100,0 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 E m %

Fonte: Elaboração própria, com base em dados do Sistema Alice-MDIC/Secex e PIA-IBGE 2008.

oS PrInCIPAIS dESAFIoS E oPortunIdAdES no

SEGmEnto PEtroQuímICo E no dE FErtILIzAntES

A petroquímica é o principal segmento da indústria química no país em termos de participação na produção e no faturamento total da indústria, além de ser aquele em que o país tem posição mais confortável na balança comercial – salvo em situa-ções conjunturais nas quais déficits eventuais decorrem de questões como preços e câmbio –, também pela capacidade exportadora adquirida.

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TABELA 4: PRINCIPAIS SEGMENTOS RESPONSÁVEIS PELO DÉFICIT COMERCIAL DA INDúSTRIA QUíMICA (2008)

Segmentos/grupos Déficit em valor (2008) Déficit em volume (2008) (US$ milhão) % do déficit em valor (mil t) % do déficit em volume

Produtos inorgânicos 9.014,5 39 15.336 87

Intermediários para fertilizantes 9.156,1 39 15.605 89

Produtos orgânicos 4.170,2 18 1.392 8

Outros produtos químicos orgânicos 1.914,6 8 56 0

Resinas e elastômeros 2.210,1 10 843 5

Resinas termoplásticas 1.480,5 6 655 4

Farmacêutica 5.109,1 22 56 0

Princípios ativos 1.602,5 7 49 0

Medicamentos para uso humano 2.818,9 12 8 0

Defensivos agrícolas 1.637,7 7 207 1

Déficit total da balança comercial de

produtos químicos 23.196,3 100 17.612 100

Fonte: Elaboração própria, com base em dados de Abiquim (2008a; 2009c).

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Petroquímica

A indústria petroquímica surgiu no século XX com a consolidação do uso dos deri-vados de petróleo e gás natural na fabricação de produtos químicos orgânicos. É um caso típico de oligopólio concentrado, capital-intensivo e cada vez mais dependente de elevadíssimas escalas de produção, com investimentos realizados à frente da de-manda que respondem por comportamentos cíclicos de preços e margens de lucro e, por que não dizer, de movimentos resultantes de reestruturação e consolidação.

Compreende uma ampla cadeia produtiva que inclui o refino do petróleo e o

pro-cessamento do gás natural, dos quais parte a produção de petroquímicos básicos, intermediários e finais, alcançando indústrias mais próximas do consumidor final, como a transformação de plásticos.

GRÁFICO 13: PRODUçãO MUNDIAL DE PETROQUíMICOS BÁSICOS

América do Norte América Latina Europa Oriente Médio e África Ásia e Oceania PRODUÇÃO MUNDIAL (2006): 318,9 milhões de t

26%

5%

23% 7%

39%

Fonte: SRI apud Parolin(2008).

Atualmente, dois quintos da produção mundial de petroquímicos básicos per-tencem à ásia, seguida pela América do Norte e a Europa (Gráfico 13). A capacidade mundial de eteno, principal petroquímico básico e referência usual da indústria, foi de 130,8 milhões de t/a (2008), cabendo ainda aos Estados Unidos 22% desse total, seguido pela China, na segunda posição (8%), pelo Japão (6%) e pela Arábia Saudita (6%), que já desponta na quarta posição do

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Com isso, as previsões indicam a tendência ao deslocamento da oferta (da Europa e dos Estados Unidos) para a ásia e o Oriente Médio, abrindo perspectivas de trans-formação de antigas regiões líderes na produção petroquímica em importadores líquidos [Bastos (2009)]. Essa tendência foi reforçada com a crise de 2008-2009, concentrada nos países desenvolvidos e que afetou duramente a indústria química europeia, norte-americana e japonesa.

De fato, a crise agravou o quadro previsto de sobrecapacidade, com consequente ciclo de baixa de preços e margens, pelo forte impacto na demanda global por produ-tos petroquímicos, principalmente da construção civil e da indústria automobilística. As tendências em curso foram reforçadas mesmo com algum atraso na adição de capacidade e antecipação do fechamento de plantas menos eficientes na Europa e nos Estados Unidos (Tabela 5). Tais tendências tiveram efeitos amplos e aparente-mente irreversíveis no cenário petroquímico mundial e possivelaparente-mente darão origem a um novo ciclo de reestruturação global por meio de fusões e aquisições, haja vista os efeitos sobre os balanços de grandes empresas químicas mundiais, incluindo até mesmo Dow e Basf. Movimentos recentes de aquisição de empresas foram observa-dos em 2009, como o da canadense Nova Chemicals pela IPIC, empresa observa-dos Emi-rados árabes Unidos, além de negociações sobre eventual aquisição da Lyondell Basell (duramente atingida pela crise, tal como a Ineos) pela indiana Reliance, até a aquisição da americana Sunoco pela brasileira Braskem no início de 2010.

TABELA 5: ATRASOS NA ENTRADA DE NOVA CAPACIDADE E FECHAMENTO DE PLANTAS (2009)

Regiões Polietileno Polipropileno PVC

Atrasos de nova capacidade

Ásia 650 150 200 Índia 180 180 Europa 450 Oriente Médio 1.850 1.250 Total 2.950 1.580 380 Fechamento de plantas Europa 610 EUA 217 328 1.590 Total 827 328 1.590 Fonte: Braskem.

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ainda relativamente reduzido e não integrado de suas empresas, herança do modelo da implantação da indústria, e a reduzida disponibilidade de matéria-prima petroquímica (nafta) foram os principais limitadores dos investimentos no período recente. A questão do porte das empresas foi enfrentada por meio de processos de reestrutu-ração e consolidação empresarial que resultaram na emergência da Nova Braskem, parceria da Odebrecht e da Petrobras, em uma empresa de porte comparável ao padrão internacional. A Nova Braskem passou da posição de maior empresa latino-americana para uma posição relevante em todo o continente americano, a

par-tir da aquisição da brasileira Quattor13 e da americana Sunoco,14 em 2010 (Tabela 6).

A Nova Braskem tem ainda outros projetos na América Latina (Venezuela, Peru e, mais recentemente, no México, por meio de parceria com a Idesa, para investi-mento de US$ 2,5 bilhões em complexo petroquímico com capacidade de produ-ção de 1 milhão de t/a de eteno e três unidades de polietileno).

TABELA 6: POSIçãO ESTIMADA DA BRASKEM EM RESINAS (2010)

Ranking das Américas (mil t/a) Ranking global (mil t/a)

Nova Braskem 5.506 Lyondell Basell 10.762

Dow 5,239 Exxon Mobil 9.212

Lyondell Basell 4.362 Dow 9.088

Chevron Phillips 2.311 Sinopec 8.304

Shin Etsu 2.190 Ineos 7.290

Oxy 1.920 Formosa 7.060

Nova 1.780 Sabic 6.181

Westlake 1.605 Nova Braskem 5.305

Georgia Gulf 1.404 Total 4.624

Formosa 1.201 IPIC 4.482 Sunoco 1.159 Total 1.130 Ineos 1.030 Mexichem 722 Fonte: Valor (2010b).

13 Com a aquisição da Quattor, a produção de petroquímicos básicos e resinas passa a estar concentrada em uma

única empresa, que tem como acionistas o grupo Odebrecht (participação prevista de 53,8%) e a Petrobras (46,2%), no caso da não adesão dos acionistas minoritários ao aumento de capital a ser proposto. Cabe à Nova Braskem, hoje, a capacidade de produção de 3,7 milhões de t/a de eteno, 5,5 milhões de t/a de resinas, em 26 unidades industriais, com faturamento de R$ 26 bilhões. A estatal brasileira do petróleo parece seguir, assim, o padrão internacional de integração a jusante desde o petróleo, agregando valor e diversificando a produção.

14 O custo divulgado da aquisição teria sido de US$ 350 milhões, abrangendo três unidades de polipropileno

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A questão do equacionamento da oferta de matéria-prima, obstáculo recente à

ex-pansão dos investimentos petroquímicos, que resulta na importação de cerca de um

terço do consumo nacional (em 2007, a importação de nafta petroquímica foi de US$ 1,2 bilhão), vinha sendo enfrentada pela indústria por meio da busca de alterna-tivas fósseis (implantação de unidade petroquímica da Rio Polímeros com base no gás natural e expansão da petroquímica paulista pelo emprego de gás de refinaria), ou mesmo renováveis, como o etanol, até o surgimento do projeto do Comperj. O Comperj empregará parcela do petróleo pesado amplamente disponível no país (mais de 80% do petróleo brasileiro é composto por frações pesadas, com poucas frações leves, como a nafta), hoje exportado com deságio, como matéria-prima para produção de produtos petroquímicos de maior valor agregado, em unidade

integrada de refino-petroquímica.15 Com o início de sua operação e a adição

origi-nalmente projetada de 1,3 milhão de t/a de eteno, a capacidade total de produção do país será de 5,1 milhões de t/a, que, com a provável participação da Braskem no empreendimento, em função da parceria com a Petrobras na aquisição da Quattor, irá melhorar substancialmente sua posição no ranking de produção de eteno, sendo só superada pela Dow e pela ExxonMobil.

A partir de 2008, o cenário mudou. A Petrobras definiu novos investimentos (US$ 43 bilhões) para ampliação da capacidade de refino nacional, que passará de 1,8 milhão de barris de petróleo por dia (bpd), atualmente, para 3,2 milhões, até 2016 (2,5 milhões de bpd, em 2013). Mais importante foram as perspectivas auspiciosas que emergiram da descoberta de enormes reservas potenciais de petróleo (compostas predominantemente por frações leves) e gás natural na camada do pré-sal em águas ultraprofundas na Bacia de Santos. Cabe lembrar que estudo da Abiquim, do fim de 2007, apontava para déficit na produção de nafta no país de mais de 2 bilhões de t/a até 2010 (1,8 bilhão de t/a, em 2015; ou seja, mesmo após a entrada em operação prevista do Comperj) [Bastos (2009)]. O dinamismo da indústria petroquímica está cada vez mais atrelado ao con-trole de fontes de matérias-primas (disponibilidade e custo) e ao acesso a

15 O investimento total do Comperj, inicialmente previsto em US$ 8,5 bilhões, engloba entre US$ 2,5 bilhões

e US$ 3 bilhões referentes à fase petroquímica (30% a 35% do total). Além de 1,3 milhão de t/a de eteno, contempla a produção de 850 mil t/a de polietilenos e igual capacidade de polipropileno [o Estado de s.

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mercados, exigindo maiores escalas de planta e porte das empresas, bem como integração vertical. Essas forças parecem determinar a reestruturação em curso na indústria no plano mundial, inclusive das empresas brasilei-ras, como a Braskem, em que os esforços com vistas à internacionalização atrelam-se aos mesmos objetivos.

Contudo, o cenário internacional impõe grandes desafios à petroquímica brasi-leira, em termos do aumento dos investimentos e da competitividade de toda a cadeia, por meio do fortalecimento do seu segmento mais frágil (transformados

plásticos). Essa constatação esteve presente quando da inclusão dos plásticos entre

as prioridades da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), anunciada pelo governo federal em 2008.

Nesse sentido, a mobilização de diversos instrumentos de política industrial, tais como financiamentos do BNDES, estará orientada para a ampliação da competitividade da cadeia petroquímica por meio do apoio simultâneo a inves-timentos de modernização (substituição de máquinas, equipamentos e moldes obsoletos) e fortalecimento das empresas da indústria de transformados plás-ticos, com vistas a enfrentar os desafios das mudanças em curso no plano in-ternacional, ampliando exportações e a produção para o mercado interno, com produtos mais sofisticados que incorporem novas tecnologias desenvolvidas em parceria entre a segunda e a terceira gerações petroquímicas. Há um vasto campo para aperfeiçoamento de produtos e inovações em novas aplicações de produtos, por meio de mudanças nas suas características físico-químicas, mis-turas ou compostos para melhoria das propriedades dos polímeros. A agenda tecnológica do setor de plásticos considerada na PDP está voltada, nesse senti-do, para o desenvolvimento de tecnologias de polímeros de fontes renováveis (particularmente alcoolquímica), tecnologias de recuperação energética de re-síduos sólidos e materiais plásticos avançados.

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cem imprimir novo ímpeto à inovação. As iniciativas recaem em investimen-tos em “química verde”, que têm sido o foco de grandes empresas químicas e petrolíferas do Ocidente, no sentido da busca de fontes renováveis e redução das emissões de carbono.

As inovações na indústria petroquímica, particularmente no segmento de pe-troquímicos básicos, envolvem o desenvolvimento de novas rotas de processo químico, orientadas, sobretudo, para a obtenção de vantagens de custo, via ampliação de escalas (economia de escala) e/ou eficiência energética. Em momentos de crise e potencial mudança no padrão energético mundial, como ocorreu nas duas crises do petróleo, renascem as preocupações com a oferta

de matérias-primas, que ressurgem agora acompanhadas de apreensões com

o aquecimento global, dando lugar a um novo ciclo de inovações em uma indústria que parecia ter alcançado sua maturidade tecnológica. A insuficiên-cia mundial de matérias-primas petroquímicas vem imprimindo mudanças no cenário global e dando novo ímpeto à inovação, tendo como foco principal a flexibilidade de matérias-primas, inclusive da “química verde”.

Contudo, as descobertas do pré-sal, ao assegurar perspectivas de ampliação da oferta doméstica de matérias-primas derivadas de petróleo e gás natural, abrem um horizonte muito mais amplo para a petroquímica brasileira do que a condição de simples produtora de plásticos. É nesse segmento que promete ser intensa a competição com novos entrantes do Oriente Médio com incompará-veis vantagens de custos, cujos diminutos mercados domésticos significarão uma avalanche de exportações de poliolefinas e plásticos no mercado inter-nacional. Isso coloca na agenda da indústria química brasileira a necessidade de sua ampliação e diversificação de seu escopo, seja voltada para o mercado doméstico, seja para exportações.

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tecnológica e agregação de valor (tendo como caso extremo a química fina), as dificuldades passarão a residir cada vez mais na questão do acesso a tecnologias, com maiores requisitos de capacitação em inovação, pois essas não estão, de fato, disponíveis para compra no mercado internacional.

Fertilizantes

Outro segmento da indústria química que merece atenção é o de fertilizantes, par-ticularmente os intermediários para fertilizantes, que vêm tendo peso crescente de importações no consumo aparente. Sua importância como insumo agrícola se mantém, afetando a produção doméstica e os preços dos alimentos e produtos relevantes na pauta de exportações brasileiras. A forte alta de preços dos fertilizan-tes em 2007 e 2008 e os riscos a médio prazo de insuficiência de oferta no plano mundial asseguram caráter ainda mais estratégico a esse segmento da química, principalmente porque o Brasil ocupa atualmente a quarta posição no consumo mundial, depois de China, Estados Unidos e índia.

Produzida de matérias-primas provenientes da mineração ou derivadas do petróleo, a extensa cadeia produtiva de fertilizantes estende-se da indústria extrativa (fornecedora de rocha fosfática, enxofre, gás natural e rochas po-tássicas) até o produtor agrícola, passando pela produção de matérias-primas intermediárias (ácido sulfúrico, ácido fosfórico e amônia anidra) e fertili-zantes simples e mistos [Saab e Paula (s/d)]. O Quadro 1 resume o fluxo de produção de fertilizantes.

Combinações dos elementos nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) dão origem aos fertilizantes fosfatados, nitrogenados e potássicos, em função das distintas ma-térias-primas. Esses produtos constituem, basicamente, commodities, cujos preços são definidos por cotação internacional, em que a competitividade está atrelada à disponibilidade de matérias-primas e ao desempenho da atividade extrativa. É

uma indústria capital-intensiva, que demanda elevados montantes de

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QUADRO 1: FLUxO DE PRODUçãO DE FERTILIzANTES

Matéria-prima

básica Matéria-primaintermediária Fertilizantes básicos eintermediários Produto final

NPK Fertilizantes NitrogênioN P Fósforo K

Potássio Cloreto de potássio(KCl)

Mineral potássio Gás natural e nafta Rocha fosfática

S - Enxofre sulfúricoÁcido

Ácido fosfórico Amônia

Ácido

nítrico Nitrato de amônio

Ureia Sulfato de amônio Fosfato de monoamônio (MAP) Fosfato diamônio (DAP) Superfosfato triplo (TSP) Superfosfato simples (SSP)

As reservas e a produção mundial são concentradas em poucos países [Saab e Paula (s/d)]. Nos fertilizantes fosfatados, as matérias-primas básicas são a rocha fosfática (matéria-prima do ácido fosfórico) e o enxofre (matéria-prima do ácido sulfúrico). No caso do fosfato, cinco países detêm 85% das reservas, com destaque para Marrocos (42% do total), China (26%) e Estados Unidos (7%), que respon-dem por parcela relevante da produção mundial. A produção de enxofre é também bastante concentrada, pois Estados Unidos, Canadá e Rússia respondem por cerca de 50% do total. China, Estados Unidos, Marrocos e Rússia são os principais pro-dutores de ácido sulfúrico, com 51% da produção mundial.

No caso dos fertilizantes potássicos, dois países (Canadá e Rússia) detêm 74% das reservas mundiais e são os maiores produtores mundiais, seguidos por Bie-lorrússia, Alemanha, Israel e China – juntos, esses países representam quase 90% da produção mundial.

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Impulsionada pela forte expansão da produção agrícola mundial, a indústria de fertilizantes apresentou crescimento vigoroso na década, atingindo níveis máximos de utilização de capacidade para os três nutrientes (97%, em 2007). Se fossem mantidas as taxas de crescimento da agricultura, as previsões indi-cavam oferta insuficiente de fertilizantes (ureia, potássio e fosfato) em 2008 [Heffer e Prud’homme (2009)].

Assim, o período recente foi marcado por grande desbalanceamento entre oferta e demanda de fertilizantes, decorrente da maior expansão relativa da demanda (exponencial em países exportadores, como China e Estados Unidos), redução da oferta em alguns países e aumento de custo das matérias-primas e fretes.

No mercado doméstico, os preços médios dos fertilizantes apresentam tendência ascendente desde 1998 (principalmente a partir de 2002), afetados pela cotação internacional dos produtos, além do câmbio, do frete marítimo e dos custos por-tuários – despesas portuárias propriamente ditas, além do Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), taxas de demurrage, entre outros, que acrescem cerca de 20% aos preços dos produtos [Saab e Paula (s/d)].

No entanto, tal como outras commodities, os fertilizantes foram seriamente afetados pela crise econômica. O mercado global experimentou profunda con-tração em 2008 por meio do efeito da queda na demanda por produtos agríco-las, redução do crédito à agricultura e níveis elevadíssimos de estoques, que rapidamente deterioraram as condições do mercado de fertilizantes. Houve queda de preços, colapso das vendas e declínio das exportações a partir do último trimestre de 2008 e início de 2009.

A queda na demanda mundial foi expressiva (-5,1%, de 168,1 milhões de toneladas para 159,6 milhões de toneladas) em quase todas as regiões (principalmente Europa Ocidental e Central, América do Norte e América do Sul), afetando principalmente o

consumo de P (-7,3%) e K (-14,4%), embora menos no caso de N (-1,6%).16 O

resul-tado foi o adiamento das compras de fertilizantes, na expectativa de queda dos pre-ços, o que reduziu ao mínimo seu uso [Heffer e Prud’homme (2009)]. A produção de

16 Isso decorre da dificuldade de implementar cortes drásticos na taxa de aplicação desse tipo de fertilizante

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fosfatados e potássicos sofreu queda, respectivamente, de 7,5% e 2,8%, com pequeno incremento apenas na produção de ureia (+1,7%), em 2008.

No entanto, apesar da intensidade da crise, as previsões do mercado agrícola apon-tam, a médio prazo, para a necessidade de expansão significativa da produção, a fim de atender à demanda global por alimentos e bioenergia e, a longo prazo, para a retomada das preocupações dos últimos anos com a inflação de alimentos, segu-rança alimentar e questões ambientais [Heffer e Prud’homme (2009)].

As projeções da International Fertilizer Association (IFA) indicam recuperação progressiva da demanda global de fertilizantes a partir de 2010, prevista para al-cançar 186,8 milhões de toneladas até 2013 (crescimento médio anual de 2,3%), impulsionada pela ásia e, em menor medida, pela América Latina, à semelhança dos últimos cinco anos [Heffer e Prud’homme (2009)].

Portanto, é projetada a necessidade de investimentos expressivos de ampliação de

capa-cidade mundial de fertilizantes, da ordem de US$ 90 bilhões, até 2013. Embora alguns projetos tenham sofrido adiamento (de um ano ou mais) em função da crise, com as perspectivas promissoras de crescimento, começaram a ser anunciados novos projetos. No caso do nitrogênio, a previsão indica aumento de 20% na capacidade global de amônia (em média, 7 milhões de toneladas por ano), principalmente na ásia, na

Amé-rica Latina e na ÁfAmé-rica, devendo alcançar 217,8 milhões de toneladas, em 2013,

levan-do à redução levan-do nível de utilização de capacidade para 91%. Embora tenham ocorrilevan-do atrasos (mas não cancelamentos) nos projetos de ureia, 50 novas plantas (20 localiza-das no leste asiático) são estimalocaliza-das. Também é previsto equilíbrio no balanço entre oferta e demanda em 2009-2011 e oferta crescente em 2012, embora com persistência de grandes déficits em diversas regiões, inclusive na América Latina – sem as exporta-ções chinesas, faltaria ureia em 2010 [Heffer e Prud’homme (2009)].

Referências

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