• Nenhum resultado encontrado

4.3 Análise química do solo

4.3.1 pH, matéria orgânica (M.O.), CTC e acidez potencial

Os valores de pH no solo para as três épocas estudadas estão apresentados na Tabela 26. Para a primeira e segunda épocas nota-se que o uso de efluente de esgoto tratado elevou estatisticamente a acidez do solo para a maioria dos tratamentos, discordando dos resultados de Medeiros et al. (2005) que observaram aumento nos valores de pH, em função da aplicação de água residuária (AR) no solo, e atribuíram esse aumento à característica de alcalinidade da AR (pH médio 7,23).

Na terceira época não foi observada variações significativas no pH com uso de EET. No entanto a diferença fica evidenciada somente na testemunha, posto que o efluente elevou em 6% o pH do solo em relação ao T0 irrigado com AP, o qual, por sua vez, apresentou acidez elevada (pH = 5,90).

Esse decréscimo nos valores de pH na parcela irrigada com efluente pode estar relacionada às reações de nitrificação do N amoniacal, que nesse processo libera H+ para o solo. No entanto, esse comportamento é mais fortemente observado com o uso de lodo de esgoto em trabalhos como os de Simonete et al. (2003), Galdos et al. (2004) e Lobo (2010) que observaram redução no pH em função do aumento de lodo de esgoto, e atribuíram esse comportamento à liberação de ácidos orgânicos no solo pela mineralização da matéria orgânica.

Tabela 26. Resultados médios de pH do solo para as três épocas de avaliação. Tipo de Água Tratamentos(1) T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6 pH – 1ª época AP 6,09 Ac 6,39 Ab 6,49 Ab 6,50 Bb 6,21 Ac 6,70 Aa 6,49 Ab EET 5,50 Bc 6,00 Bb 6,30 Ba 6,29 Ba 6,29 Aa 6,19 Ba 6,30 Ba CV1(%) = 1,48; CV2(%) = 1,30; DMS1 = 0,13; DMS2 = 0,18 pH – 2ª época AP 6,29 Aab 6,19 Abc 5,70 Ad 6,01 Ac 6,11 Bbc 6,49 Aa 6,00 Bc EET 6,00 Bb 5,20 Bc 6,30 Ba 6,00 Ab 6,41 Aa 6,20 Bab 6,29 Aa CV1(%) = 3,55; CV2(%) = 0,25; DMS1 = 0,26; DMS2 = 0,24 pH – 3ª época

AP 5,90 Bc 6,00 Abc 6,20 Aab 6,20 Aab 6,30 Aa 6,30 Aa 6,39 Aa

EET 6,29 Aa 6,20 Aab 6,00 Ab 6,00 Ab 6,30 Aa 6,31 Aa 6,30 Aa

CV1(%) = 3,50; CV2% = 0,16; DMS = 0,27; DMS = 0,24

(1) T0 = sem adubação nitrogenada; T1 = 100% de adubação nitrogenada mineral; T2 = 50% de adubação nitrogenada mineral + 50% de adubação nitrogenada proveniente do lodo de esgoto compostado - LEC; T3, T4, T5 e T6 refere-se à 100, 150, 200 e 250% da adubação nitrogenada proveniente do LEC, respectivamente. *AP = água potável; EET = efluente de esgoto tratado; CV1 = coeficiente de variação da parcela; CV2 = coeficiente de variação da subparcela; DMS1 = diferença mínima significativa da parcela dentro da subparcela; DMS2 = diferença mínima significativa da subparcela dentro da parcela. **Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Boeira et al. (2002) avaliaram a mineralização do N em solo tropical tratado com lodo anaeróbio de origem estritamente urbana (Franca, SP) e outro com presença de despejos industriais (Barueri, SP) e observaram acidificação no solo decorrente das aplicações de lodo. Betiol e Fernandes (2004) avaliando um solo cultivado com milho e adubado com lodo de esgoto de Barueri, SP, em doses de 2, 4 e 8 vezes da concentração de N mineral recomendada à cultura, observaram variação no pH do solo de 6,1 na testemunha a 5,2 na maior dose de lodo. Os autores atribuíram esta diminuição nos valores de pH do solo ao fato do não tratamento com cal durante seu processamento.

No presente trabalho não foi observado decréscimo no pH em função do incremento do composto orgânico no solo, contrariando os resultados encontrados por esses autores. Nesse sentido, a análise de regressão mostra (Figura 27) ajuste quadrático crescente nas médias de pH em função das doses crescentes de lodo de esgoto compostado no solo. Resultados semelhantes ao deste estudo foram obtidos por Berton et al. (1989) que estudaram a cultura do milho em resposta à adição de lodo de esgoto a cinco solos paulistas e constataram que o lodo incorporado ao solo agiu como corretivo de acidez, elevando o pH e reduzindo o teor de alumínio trocável no solo. Fia et al. (2005) observaram elevação do pH do solo de 4,7 a 6,8 com aplicação de 168,4 t ha-1 de

lodo de esgoto doméstico tratado com cal, assim como Rei et al. (2009), que verificaram elevação nas médias de pH em função das doses crescentes de lodo de esgoto.

Figura 27. Atributos químicos médios do solo: pH, CTC, matéria orgânica (M.O.) e acidez potencial (H+Al) em função do lodo de esgoto compostado (%).

O aumento do pH observado neste estudo pode estar associado ao tipo de composto orgânico utilizado, uma vez que Chiba et al. (2008) relatou que o lodo estabilizado pode elevar o pH do solo, resultando em aumento da CTC.

O teor de matéria orgânica no solo teve seus valores muito variáveis em função dos níveis de adubação e do uso de efluente na irrigação (Tabela 27).

Tabela 27. Resultados médios do teor de matéria orgânica (g dm-3) do solo.

Tipo de Água

Tratamentos(1)

T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6

Matéria Orgânica (g dm-3) - 1ª época

AP 19,11 Ab 19,99 Bb 20,06 Bb 19,99 Ab 25,03 Aa 24,90 Aa 19,90 Bb

EET 19,99 Ac 23,04 Aa 23,07 Aa 20,12 Abc 21,91 Bab 22,94 Ba 21,06 Abc

CV1(%) = 3,22; CV2(%) = 3,95; DMS1 = 1,13; DMS2 = 1,82

Matéria Orgânica (g dm-3) - 2ª época

AP 21,05 Ae 21,98 Ae 26,03 Acd 25,10 Ad 31,05 Aa 27,90 Abc 29,06 Aab

EET 20,96 Ac 21,08 Ac 22,93 Bc 21,95 Bc 29,03 Aa 26,09 Ab 26,94 Aab

CV1(%) = 8,62; CV2(%) = 0,53; DMS1 = 2,65; DMS2 = 2,44

Matéria Orgânica (g dm-3) - 3ª época

AP 18,12 Ba 19,89 Aa 18,99 Aa 18,90 Ba 20,06 Aa 20,00 Ba 20,09 Ba

EET 22,07 Abc 19,08 Ad 19,89 Acd 24,90 Aa 22,01 Abc 23,03 Aab 27,90 Aa

CV1(%) = 10,37; CV2(%) = 0,84; DMS1 = 2,65; DMS2 = 2,45

(1) T0 = sem adubação nitrogenada; T1 = 100% de adubação nitrogenada mineral; T2 = 50% de adubação nitrogenada mineral + 50% de adubação nitrogenada proveniente do lodo de esgoto compostado - LEC; T3, T4, T5 e T6 refere-se à 100, 150, 200 e 250% da adubação nitrogenada proveniente do LEC, respectivamente. *AP = água potável; EET = efluente de esgoto tratado; CV1 = coeficiente de variação da parcela; CV2 = coeficiente de variação da subparcela; DMS1 = diferença mínima significativa da parcela dentro da subparcela; DMS2 = diferença mínima significativa da subparcela dentro da parcela. **Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Para a primeira e segunda épocas, os maiores teores de M.O. foram obtidos nos T4 irrigados com AP, enquanto que na terceira época o maior teor foi proporcionado com a dose máxima de lodo associado ao uso de EET. Caovilla et al. (2010) verificaram aumento na matéria orgânica no solo decorrentes da aplicação de água residuária de suinocultura no solo. No entanto, no presente estudo, nota-se que o efluente pouco contribuiu para o incremento da MO no solo, talvez pela própria característica do efluente.

Em geral o lodo proporcionou incremento de M.O. no solo, como observa-se na Figura 27, posto que as médias apresentaram ajuste quadrático crescente em função das doses do composto orgânico. Em trabalhos desenvolvidos por Bataglia et al. (1983), Marques (1996), Fia et al. (2005), Rei et al. (2009) e Lobo (2010) foi observado

resultados semelhantes, onde o uso de lodo incrementou os teores de matéria orgânica no solo.

Quanto à CTC do solo (Tabela 28) observaram-se variações significativas.

Tabela 28. Resultados médios da CTC do solo.

Tipo de Água Tratamentos(1) T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6 CTC - 1ª época AP 73,07 Af 80,10 Ae 92,10 Bd 116,02 Aa 97,02 Bc 102,12 Ab 95,94 Ac EET 67,96 Bf 74,90 Be 95,07 Ab 92,90 Bc 100,90 Aa 93,91 Bbc 89,10 Bd CV1(%) = 1,72; CV2(%) = 0,70; DMS1 = 1,94; DMS2 = 1,93 CTC - 2ª época AP 71,95 Bf 77,04 Be 85,96 Bd 88,12 Bd 113,09 Bc 126,97 Aa 126,97 Ab EET 83,09 Ag 85,91 Af 95,00 Ad 90,91 Ae 130,12 Aa 124,93 Ab 124,93 Ac CV1(%) = 2,15; CV2(%) = 0,17; DMS1 = 2,65; DMS2 = 2,45 CTC - 3ª época AP 59,93 Bf 69,09 Ae 77,91 Ac 75,10 Ad 89,03 Aa 82,06 Ab 88,90 Aa EET 73,06 Ac 59,02 Bf 62,10 Be 66,92 Bd 78,08 Bb 75,10 Bc 84,05 Ba CV1(%) = 2,92; CV2(%) = 0,21; DMS1 = 2,66; DMS2 = 2,45

(1) T0 = sem adubação nitrogenada; T1 = 100% de adubação nitrogenada mineral; T2 = 50% de adubação nitrogenada mineral + 50% de adubação nitrogenada proveniente do lodo de esgoto compostado - LEC; T3, T4, T5 e T6 refere-se à 100, 150, 200 e 250% da adubação nitrogenada proveniente do LEC, respectivamente. *AP = água potável; EET = efluente de esgoto tratado; CV1 = coeficiente de variação da parcela; CV2 = coeficiente de variação da subparcela; DMS1 = diferença mínima significativa da parcela dentro da subparcela; DMS2 = diferença mínima significativa da subparcela dentro da parcela. **Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O lodo de esgoto proporcionou incrementos significativos nas médias em relação à testemunha, fato este que pode estar relacionado à M.O., uma vez que o lodo também contribuiu para o incremento desta variável no solo. Silva et al. (1995) avaliando teores de nutrientes e de metais pesados em cana de açúcar (soqueira), cultivada em solo adubado com lodo de esgoto, observaram aumento na CTC do solo em função dos teores de matéria orgânica. Também Silva et al. (2001) verificaram aumento linear na CTC do solo em função de doses crescentes de lodo de esgoto. O mesmo foi observado por Trannin (2004), Rei et al. (2009) e Lobo (2010).

Ao analisar somente os T0, nota-se que na primeira época o uso de AP fez com que se elevasse a CTC do solo, ocorrendo o inverso nas épocas seguintes. A análise de regressão (Figura 27) foi significativa tanto para o uso de AP quanto para o uso de EET, pois as médias para as três épocas ajustaram-se à equação quadrática crescente,

com exceção das médias da parcela irrigada com efluente na terceira época, que apresentaram ajuste cúbico.

A acidez potencial (H+Al) também apresentou variações significativas em função dos fatores estudados (Tabela 29). O EET elevou as médias de H+Al no solo para as duas primeiras épocas, enquanto que na terceira época o efluente pouco influenciou as médias dos tratamentos.

Tabela 29. Resultados médios da acidez potencial (H+Al) do solo.

Tipo de Água Tratamentos(1) T0 T1 T2 T3 T4 T5 T6 H+Al - 1ª época AP 15,10 Bab 16,01 Ba 13,93 Bbc 12,77 Bc 16,10 Aa 11,96 Bc 13,11 Bbc EET 27,05 Aa 19,05 Ab 19,05 Ab 18,95 Ab 13,89 Bd 16,10 Ac 16,10 Ac CV1(%) = 6,28; CV2(%) = 5,50; DMS1 = 1,44; DMS2 = 2,01 H+Al - 2ª época AP 13,07 Bd 15,93 Bc 25,06 Aa 24,24 Aab 21,95 Ab 13,07 Bd 22,06 Ab EET 22,99 Ab 38,97 Aa 17,12 Bcd 22,93 Ab 16,10 Bd 19,05 Ac 18,01 Bcd CV1(%) = 10,80; CV2(%) = 0,92; DMS1 = 2,75; DMS2 = 2,42 H+Al - 3ª época AP 21,95 Aa 21,89 Aa 19,05 Ab 19,00 Ab 18,10 Ab 18,95 Ab 16,89 Ab EET 17,91 Bb 17,00 Bb 21,08 Aa 18,00 Ab 17,91 Ab 16,89 Ab 18,10 Ab 11,52 0,87 2,65 2,45

(1) T0 = sem adubação nitrogenada; T1 = 100% de adubação nitrogenada mineral; T2 = 50% de adubação nitrogenada mineral + 50% de adubação nitrogenada proveniente do lodo de esgoto compostado - LEC; T3, T4, T5 e T6 refere-se à 100, 150, 200 e 250% da adubação nitrogenada proveniente do LEC, respectivamente. *AP = água potável; EET = efluente de esgoto tratado; CV1 = coeficiente de variação da parcela; CV2 = coeficiente de variação da subparcela; DMS1 = diferença mínima significativa da parcela dentro da subparcela; DMS2 = diferença mínima significativa da subparcela dentro da parcela. **Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Em geral é observado que o incremento de lodo de esgoto compostado (Figura 27) diminuiu a acidez potencial do solo. No entanto Lobo (2010) avaliando os parâmetros químicos do solo na camada de 0-20 cm de profundidade, após a aveia cultivada com lodo de esgoto, observou incremento linear na acidez potencial, justificado pelo aumento da CTC fornecida pela matéria orgânica do lodo.

O decréscimo da acidez potencial no presente estudo pode ser reflexo do pH, uma vez que o lodo de esgoto compostado promoveu aumento nesta variável. Resultados semelhantes foram constatados por Melo et al. (2001), que observaram aumento de pH e diminuição de H+Al em função do uso de lodo de esgoto.