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E PISÓDIO 3 – T RABALHO EM GRUPO SEM INTERVENÇÃO : C ONHECIMENTO CIENTÍFICO COMPARTILHADO

No documento E DUCAÇÃO :P SICOLOGIA (páginas 158-163)

Esse episódio ocorreu na segunda parte da aula e havia catorze alunos em sala. Todos eles, como já estavam sentados em grupo porque tinham acabado de concluir uma atividade [descrita no episódio 2], continuaram divididos em três grupos. A professora mostrou aos seus alunos o texto “Problemas na Clamba” em português [nesse momento, ela fez questão de ressaltar que sabia que alguns já

conheciam bem esse texto], utilizando uma projeção em data show. O texto segue descrito abaixo:

Problemas na Clamba

(Adaptação feita a partir da adaptação de Mike Scott)

Naquele dia, depois de plomar, fui ver drão o Zé queria ou não ir comigo na clamba. Pensei melhor grulhar-lhe, mas na hora de grulhar, vi-o passando com a golipesta, então me dei conta que ele já tinha outro programa. Então resolvi ir ao tode. Até chegar na clamba, tudo bem. Estacionei o zulpinho bem nacinho, pus a chave no bolso e desci correndo para aproveitar ao chinta aquele sol gostoso o mar pli sulapente.

Não parecia haver em glapo na clamba. Tirei os grispes e pus a bangoula. Estava pli quieto ali que até me salpitou. Mas esqueci logo das saltipações no prazer de nadar no tode, inclusive tirei a bangoula para ficar mais à vontade. Não sei quanto tempo fiquei nadando, siltando, corristando e até estopando no mar.

Fui ao tode depois, na hora de voltar na clamba, que nem vi os grispes nem a bangoula não estavam mais onde eu tinha deixado.

Que fazer...?

Após a leitura do texto, a professora explicitou como, mesmo desconhecendo uma parte do vocabulário do texto, era possível compreender a mensagem. Ao dizer isso, ela se levantou e foi até a projeção do texto. Por meio de perguntas, foi desvelando com os alunos o significado de algumas palavras. Em seguida, pediu aos alunos que identificassem, dentre seus conhecimentos prévios, aqueles que lhes tinham propiciado o entendimento do vocabulário desconhecido. Junto com a professora, concluíram que essa compreensão se

dava em função do conhecimento de aspectos morfológicos, sintáticos e semânticos acerca da língua materna, que acabam por se transferir para o aprendizado de uma língua estrangeira. Durante essa discussão, a professora, além de ficar ao lado da projeção, circulou entre os alunos, fez perguntas ora voltadas para a sala como um todo, ora para um grupo específico, ora ainda, para um aluno em particular.

Alcançada essa conclusão, a professora enfatizou que o esforço que haviam acabado de fazer, junto com ela, para explicar teoricamente como era possível compreender a mensagem de um texto com vocabulário desconhecido, nada mais era, na verdade, de mais um exemplo do que deveriam fazer em suas monografias; ou seja, a intenção, ao escrever a monografia, era a de basear-se em um exemplo prático e explicá-lo teoricamente.

A partir dessas conclusões, a professora propôs uma atividade com o objetivo de verificar se seus alunos conseguiriam, em grupo e sem a ajuda dela, selecionar duas palavras (que não tinham conseguido compreender por ser um vocabulário novo) do texto “Problemas na Clamba” e elaborar uma explicação em que a teoria, ou seja, o conhecimento das relações morfológicas, sintáticas e semânticas das palavras, fosse capaz de auxiliar a leitura desse texto. Vejamos como a atividade se passou:

PROFESSORA (ÉRIKA): Ok. Vamos lá. O que vocês vão fazer? Vamos ver a hora: são duas e meia, agora. Vocês querem fazer antes do lanchinho ou depois do lanchinho? Vamos só ver o que é, tá? [começa a leitura do que deve ser feito, projetada pelo data show34]:

34 Trabalho em grupo. Em grupo de seis, decidam: (1) o significado das palavras que

vocês não entendem; (2) como vocês podem explicar esses significados baseando-se em suas leituras (e seu conhecimento) sobre: morfologia (pp. 45-48), sintaxe (pp. 48-52),

Group work

In groups of 6, decide:

(1) the meanings of the words you do not understand

(2) how you might explain these meanings according to your readings (and your

knowledge) on:

* Morphology (pp. 45-48) * Syntax (pp. 48-52)

* Other aspects of Grammar

* Semantic components (pp. 55-60)

Remember to use your words as well as the author's words (i.e., to quote the author) when making your case to the class.

Ou seja, o que eu falei para vocês? Citem o autor e, depois, expliquem com as palavras de vocês, tá? Ok? Então, nós fizemos ali [apontando para o quadro] algumas, tá? “pli”, “plomar” [palavras tiradas do texto “Problemas na Clamba” que haviam acabado de ter seus significados desvendados na discussão entre professora e alunos] etc. Vocês vão fazer mais umas quatro [explicitar o significado de mais quatro palavras, como foi feito anteriormente na discussão com a sala]. Pode ser? Quatro? Talvez quatro seja muito, né? Porque senão, eu não vou conseguir fazer o resto que eu quero fazer hoje. Duas [palavras, ao invés de quatro], tá bom assim? Duas, tá bom?

ALUNOS: Tá.

outros aspectos gramaticais e componentes semânticos (pp. 55-60). Lembrem-se de usar suas palavras assim como as do autor (i.e., citar o autor) quando estiverem apresentando o resultado para a sala.

ALUNA: [faz uma pergunta a respeito da tarefa, pois não havia entendido bem a proposta]

PROFESSORA: Vocês vão escolher. Escolham duas palavras do texto “Problemas na Clamba”. Escolham duas palavras, tá? E, aí, vocês explicam o que elas significam em grupos, no grupo de vocês. Explicaram o que significam, vocês vão escolher como é que vocês explicaram, se é pela morfologia, se é pela sintaxe ou se é por outras relações, outros aspectos gramaticais, ou se é pela relação semântica, tá? Aí, vocês vão citar o Widdowson nessas páginas aí. Ou seja, se você escolheu “plomar”, você fala assim: “- Ah, eu posso explicar pela morfologia. Então eu vou lá, da página 45 a 48 e cito o Widdowson, para explicar porque eu usei a morfologia para explicar isso aqui”. Entenderam? Tudo bem? Ok? Querem voltar para “Problemas na Clamba”? Talvez seja melhor vocês anotarem só isso [a descrição do que deveriam fazer nessa tarefa]. Pode ser? Aí eu volto [para a projeção texto “Problemas na Clamba”] para vocês fazerem [a tarefa].

Após a introdução da tarefa, a professora observou o trabalho dos alunos sem fazer intervenção. No entanto, ela se sentou ao lado de um dos alunos e iniciou um diálogo com ele (o qual durou cerca de cinco minutos), que não se tratava da atividade que estava sendo desenvolvida. O diálogo não pôde ser transcrito devido à interferência do barulho na sala, por causa da discussão dos grupos a respeito da tarefa. No entanto, foi possível perceber, pela gravação e pelo registro cursivo feito durante a gravação das aulas, que se tratava de um diálogo a respeito da monografia do aluno.

Quando os alunos terminaram a tarefa, a professora pediu que cada um dos grupos apresentasse o resultado de suas discussões.

No documento E DUCAÇÃO :P SICOLOGIA (páginas 158-163)