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CAPÍTULO 4 – A PRÁXIS PETISTA PARA O SETOR DE SANEAMENTO DO

4.3 O Planejamento e as Ações Desenvolvidas

O planejamento das ações desenvolvidas nos governos do PT no Setor de Saneamento do Recife foi influenciado por contextos diferenciados. Basicamente, a primeira gestão petista no saneamento sofreu fortes influências do tipo ideal de democracia-participativa presente nas propostas iniciais, contrariando a tendência estrutural centralizadora mantida pela COMPESA e rechaçando a ideia de parceria com o setor privado, como ficou explicito na 1º Conferência Municipal de Saneamento (2002). A segunda, foi caracterizada por priorizar tão somente a implementação de obras em detrimento do padrão institucional preconizado anteriormente. Por sua vez, a terceira caracterizou-se por uma aproximação com o setor privado, diante do fracasso em se concretizar as ações pretendidas no plano institucional, e em expandir a oferta dos serviços.

Desde o início da gestão petista foi levantado um universo de 81 SES como eixo de intervenção, baseado no Diagnóstico Técnico (2003), prioritariamente em áreas de baixa renda onde a oferta do serviço era precária. Nesse Diagnóstico foi avaliado a qualidade dos SES existentes e o tipo de intervenção a ser realizada para tornar os sistemas operacionais adequados à exploração pela COMPESA. Por essa razão, o lema institucional de assumir a gestão dos serviços na cidade ainda era o eixo central da política de saneamento onde se pretendia evitar o abandono desses SES por parte da Companhia. No caso, o projeto piloto nas áreas de Mangueira e Mustardinha

representaram um marco da inserção municipal no Setor113, a partir do modelo de saneamento integrado.

Entretanto, em 2005, quando foi definida a relação institucional na gestão dos serviços de saneamento e o município não assumiu o papel inicialmente pensado para a gestão, a política de saneamento passou a ser delineada pela implantação de grandes obras que não chegaram a ser concluídos. A gestão petista mudou o foco de atuação para a execução de grandes projetos, visando expandir a oferta dos serviços na cidade. Com esse objetivo, em 2007 foi elaborada uma estimativa de aumento nos índices de atendimento nos serviços de esgotamento sanitário, apresentado na Tabela 7, a seguir, objetivando ampliar a cobertura dos serviços em um período de 5 anos, por meio dos programas indicados, através dos quais a PCR buscava ampliar os investimentos necessários:

Tabela 7 – Cobertura dos Serviços de Esgotos para 5 anos (2007-2012) Programa População Beneficiada (estimativa) % de Cobertura de Esgotamento Sanitário (estimativa)

SES Cabanga, Peixinhos, Convencionais, Isolados e

Condominiais

610.212 40% PROMETRÓPOLE

121.181 8% Bacia do Beberibe – PAC

Capibaribe Melhor* 45.809 3%

BNDES** 20.074 1%

Saneamento Para Todos - SES

Cordeiro 73.605 5%

Recuperação de 81 SES com ações

em Saneamento Integrado 105.746 7%

PROEST 154.576 10%

PROEST II COMPESA*** 62.926 4%

Ações em Comunidade Isoladas 31.480 2%

TOTAL 1.225.609 80%

FONTE: SESAN, 2008 *Capibaribe Melhor teve o componente saneamento excluído.

**Está associado à recuperação dos 81 SES baseados no Diagnostico Técnico(2003) ***Programa no âmbito de gestão estadual

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Nessa experiência do projeto piloto foi firmado um convênio entre COMPESA e SEHAB (posteriormente SESAN) para recuperar e ampliar os SES existentes com base no modelo do saneamento integrado. Nessa experiência também foi implantado um escritório local que manteve até 2004 uma equipe da COMPESA e outra da SESAN para realizarem em forma de parceria a operação dos sistemas implantados onde a Companhia estadual ficou submetida diretamente as demandas da SESAN e da comunidade. Todavia, esse processo foi único, existindo apenas no projeto piloto e não conseguiu se perpetuar, sendo desfeito ainda no primeiro governo do PT.

Com a obtenção de recursos, de acordo com a estimativa realizada por técnicos da SESAN/SANEAR, os índices de cobertura dos serviços de esgotamento sanitário seriam da ordem de 80% de atendimento à população. A espacialização dos SES no Recife cobriria as áreas de maior concentração urbana da cidade, conforme pode ser observada na figura 13:

FIGURA 13 – Mapa do Esgotamento Sanitário no Recife

Contudo, ao longo dos 12 anos da gestão do PT, efetivamente pouco do planejado chegou a ser executado. Na previsão de se alcançar índices de coleta de esgotos da ordem de 80%, verificou-se que até o ano de 2009 o município não tinha atingido nem metade do planejado, com índice de atendimento total com esgotamento sanitário da ordem de 38,60% (SNIS, 2009), como pode ser observado na Tabela 8, a seguir114.

Tabela 8 – Percentual de Atendimento com Esgotamento Sanitário no Recife por Ano, Durante a Gestão do PT

Ano Percentual de atendimento

2000 30% 2001 33,83% 2002 38,75% 2003 40,13% 2004 40,95% 2005 43,98% 2006 40,11% 2007 40,86% 2008 37,31% 2009 38,60%

FONTES: IBGE (2000), SNIS (2009)

De 2000 para 2009, foi observado um crescimento médio anual da ordem de 0,86% no incremento da oferta dos serviços de esgotamento sanitário. Nesse ritmo a pretendida universalização dos serviços levaria ao menos 70 anos, caso dependesse apenas da intervenção municipal, considerando o contingente populacional do censo de 2000. Se considerarmos a meta do atendimento pleno estabelecida pelo PDCR (2008) em um prazo de 20 anos, seria necessário mais que o triplo do prazo estipulado. Diante desses valores, a gestão petista se mostrou distante em alcançar sozinha a pretendida universalização do esgotamento sanitário, e consequentemente de reverter o quadro generalizado de insalubridade existente no Recife.

Até a presente data (2012), é possível afirmar que dificilmente o município alcançou índices superiores a 40%, pois numa estimativa apresentada pelos programas desenvolvidos, os SES cabanga, peixinhos, os sistemas isolados e os condominiais não

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Até o ano de 2009, as ações em esgotamento sanitário foram realizadas, basicamente, por parte da PCR, onde apenas no caso de Mangueira e Mustardinha houve parceria com a COMPESA. A partir de 2009, a COMPESA também começou a implantar obras nesse segmento através do PROEST.

totalizam 40% de atendimento. O PROMETRÓPOLE/PAC Beberibe ainda se encontra em fase de conclusão, e no programa Capibaribe Melhor foi excluído o componente saneamento. Por sua vez, os projetos financiados pelo BNDES estão parcialmente concluídos e se tratam principalmente de recuperação de sistemas já existentes que em tese não amplia a cobertura existente. O SES Cordeiro está paralisado, o PROEST se encontra sob gestão do governo estadual, ficando pequena parcela do Programa sob a gestão municipal, que ainda não iniciou as obras programadas. Por fim, dos 81 SES com ações de saneamento integrado somente 21 foram objeto de intervenção, ou seja, somente 25%115 do universo levantado pelo diagnóstico foi alvo de intervenção da PCR, tentado-se recuperar/ampliar esses SES, de acordo com o Quadro 08 no anexo C.

Dos 21 SES que foram alvo de intervenção, os 60 restantes ainda se encontram em fase de início de obras, de contratação ou na fase de elaboração de projetos. Devido à fragmentação dos dados existentes sobre a intervenção municipal em tais áreas, não foi possível apresentar detalhadamente o tipo de ação que se pretendia realizar em todas as áreas de intervenção da PCR.

Outro aspecto a ser destacado é que em conversa informal realizada com técnicos da PCR nas áreas de intervenção foi relatado que uma parcela da população atendida nas áreas de baixa renda está se desligando do SES existentes e realizando ligações clandestinas à rede de drenagem devido a problemas operacionais. Em depoimento tomado, essa prática se tornou comum devido à morosidade por parte da COMPESA e dos escritórios locais em executar a manutenção na rede de esgotamento sanitário, pois, o modelo de saneamento integrado inicialmente concebido foi incapaz de engajar a principal entidade envolvida com saneamento no município, a COMPESA.

Na melhor das hipóteses, o índice de cobertura atual (2012) é da ordem de 40% de atendimento, com serviços de coleta de esgotos sanitários que, por sua vez, não reflete a realidade sanitária no município. Pois, é comum a existência de ligações clandestinas de esgoto na rede pluvial, e além disso a operação dos sistemas existentes é muito precária. Na prática, o índice de esgotamento sanitário no Recife se torna superestimado, permanecendo o mesmo quadro geral de insalubridade e poluição dos cursos hídricos existentes na cidade.

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É importante salientar que o modelo de saneamento integrado empregado, destaque dos técnicos da SESAN, não se limita ao SES, tornando a intervenção mais onerosa e laboriosa do que o previsto inicialmente.

Em síntese, daquilo que foi planejado pela gestão petista, pouco chegou a ser efetivamente realizado e concluído. Ao todo, entre o que foi planejado e o executado em termos de obras, a gestão petista apresentou uma performance pífia, realizando pouco daquilo que se propôs. Considerando-se também que a proposta inicial da política de saneamento foi estabelecer uma definição institucional de papeis entre o município e o governo estadual na gestão dos serviços de saneamento , ocorreu um avanço pouco significativo, corroborando o modelo de gestão centralizado na COMPESA, com incipiente fiscalização da ARPE.

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