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5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PASTEJO MISTO

No documento Principiosbasicosnomanejodepastagens (páginas 40-46)

PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA OVINOS

5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS DE PASTEJO MISTO

A exploração integrada, ou pastejo misto, envolve mais de uma espécie de herbívoro pastejando um mesmo recurso forrageiro, podendo ocorrer simultaneamente ou em períodos sucessivos, dependendo dos objetivos do manejo e das espécies animais envolvidas (CARVALHO e RODRIGUES, 1997). Praticada em várias partes do mundo, a exploração integrada tem em sua fundamentação a maximização da utilização da forragem de modo a proporcionar um aumento de produção animal que ultrapasse a soma do ganho das espécies utilizadas de forma isolada.

CARVALHO et al. (2002) resumiram assim as benesses do pastejo misto para o manejo da pastagem e produção das espécies envolvidas:

- Vantagens sanitárias que resultam na menor incidência de parasitas de uma espécie sobre a outra e da maior limpeza da pastagem, conseqüência da remoção de larvas pelo pastoreio com animais resistentes a espécies distintas do hóspede normal.

- Aproveitamento de áreas inacessíveis, com base na tendência dos bovinos de utilizarem as áreas planas, enquanto que caprinos e ovinos se aproveitam de áreas acidentadas.

- Complementaridade potencial em pastejo.

- Utilização de ofertas de alto valor nutritivo aos animais em produção, sem prejuízo do uso correto da pastagem, quando o

rebanho é dividido em classes de produção, iniciando-se com o grupo mais produtivo.

- Aumento da capacidade de suporte em decorrência das diferentes preferências alimentares (aumento do número de itens vegetais que se constituem em forragem).

- Diversificação da produção.

- Melhor aproveitamento da forragem disponível. Em pastagem cultivada, apesar da menor heterogeneidade do recurso forrageiro, uma superioridade na eficiência de utilização da pastagem de no mínimo 10 % pode ser esperada em se utilizando pastejo misto, sendo que este efeito estaria principalmente associado à utilização da forragem rejeitada pelos bovinos.

- Manipulação da estrutura da vegetação. Nota-se uma menor porcentagem de material morto na forragem em oferta, e uma densidade maior dos perfilhos situados próximos a locais de dejeção no pastejo misto bovino/ovino. A melhoria no uso deste tipo de forragem facilita a penetração de luz na base da pastagem, favorecendo o aumento do perfilhamento, incrementando, portanto, a produção de forragem.

- Estabilidade em ecossistemas complexos. - Controle de espécies indesejáveis.

Portanto, o pastejo misto é uma técnica altamente desejável no manejo de pastagens, particularmente de pastagens naturais. No entanto, ela vem sendo cada vez menos usada pela diminuição do rebanho ovino, e pela “especialização” crescente dos sistemas de produção.

Se você quiser fazer uso do pastejo misto para melhorar o desempenho de seus ovinos, por exemplo, é importante que saiba como planejá-lo. Para calcularmos a lotação em pastejo misto é necessário esclarecermos os conceitos de unidade animal e taxa de substituição partindo de uma simples pergunta: Quantas ovelhas equivalem a uma vaca?

Embora existam diferenças entre indivíduos e espécies, o peso vivo elevado à potência 0,75 (PV0,75) define o tamanho metabólico

de um animal. Ele expressa o fato de que animais menores produzem mais calor e consomem mais alimento por unidade de

peso vivo que animais de porte maior. Por exemplo, uma vaca de 450 kg e uma ovelha de 50 kg têm tamanhos metabólicos da ordem de 97,7 e 18,8, respectivamente. A relação em peso vivo é de 9:1, mas a correta é, levando em consideração o tamanho metabólico, de aproximadamente 5:1. Utilizaremos a definição empregada pela

Society for Range Management, segundo a qual uma vaca adulta

de 454 kg , seca ou com cria de mais de 6 meses e com um consumo de 12 kg de matéria seca/dia equivale a uma unidade animal (U.A.). Esta definição é muito interessante porque define uma unidade de demanda animal de 12 kg de MS/dia que pode ser utilizada para se calcular qualquer taxa de substituição. Exemplificaremos este cálculo assumindo uma pastagem onde se utiliza uma lotação de 2 U.A./ha. Para simplificação do raciocínio assumiremos que esta pastagem vinha sendo manejada com duas vacas de 450 kg /ha. Pretende-se iniciar o emprego de exploração integrada e decide-se substituir uma das vacas por ovelhas. O cálculo é o seguinte:

1) fazer a equivalência do animal a ser substituído em unidade animal;

1 vaca de 450 kg = 1 unidade animal (U.A.)

2) transformar a quantidade de unidade animal a ser substituída pelo número de animais da espécie que fará a substituição;

1 (U.A.) = 5 ovelhas

3) utilizando os dados contidos em CARVALHO et al. (2002), considerar a taxa de sobreposição de dietas entre as espécies

No referido trabalho demonstra-se que, em pastagens naturais, o índice de sobreposição de dietas pode ser de apenas 50 %, ou seja, apenas 50 % do que ovinos e bovinos consomem constituem- se nas mesmas plantas. Neste caso:

n° de animais / taxa de sobreposição 5 ovelhas / 0.5 = 10 ovelhas

A taxa de substituição de vaca:ovelha nestas condições é de 1/10. A grande limitação para o emprego correto da taxa de substituição é que, embora a equivalência animal possa ser facilmente calculada ou mesmo encontrada em tabelas, a taxa de

sobreposição é extremamente variável em função da época do ano e do tipo, abundância e diversidade da forragem em oferta e esta informação é praticamente indisponível em nossas condições. Considerando uma pastagem mono-específica a taxa teórica de sobreposição passa a ser 100 %.

Um forte apelo do pastejo misto está no impacto sobre a sanidade dos ovinos. Vários trabalhos demonstram a diminuição da infestação parasitária como produto da redução da densidade de ovinos por unidade de área. Várias são as possibilidades de planejamento do pastejo misto. Aqui ilustramos uma delas onde se observam ovelhas e vacas em pastejo rotacionado “desencontrado” (FIGURA 5).

Figura 5. Pastejo misto em sistema rotacionado “desencontrado”. O número de potreiros e a posição dos lotes é

meramente ilustrativa.

Apesar de haver infestação cruzada, há menor infestação pela associação do descanso com a diminuição da densidade específica dos ovinos.

Erroneamente se afirma que em pastejo rotacionado a ovelha deve ir após os bovinos para “acertar o pasto”, como se ela fosse uma roçadeira qualquer. Deve-se saber que vai na frente (entra primeiro no potreiro) aquela categoria que, naquele momento, é a mais exigente.

PARA SABER MAIS

BARBOSA, C. M. P.; CARVALHO, P. C. F.; CAUDURO, G.F. et al. Produção de cordeiros em pastagem de azevém anual (Lolium

multiflorum Lam) manejada em diferentes intensidades e métodos

de pastejo. Anais da 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. p. 1-4.

CARVALHO, P. C. F.; PONTES, L. da S.; BARBOSA, C. M. P.; et al. Pastejo misto: alternativa para a utilização eficiente das pastagens.In: Ciclo de Palestras em Produção e Manejo de Bovinos. VII. ed. Porto Alegre, 2002, v. VII, p. 61-94.

CARVALHO, P. C. F., RODRIGUES, L. R. A. Potencial de exploração integrada de bovinos e outras espécies para utilização intensiva de pastagens. In: PEIXOTO, A. M., et al. (Eds.). SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DE PASTAGENS: PRODUÇÃO ANIMAL A PASTO, 13, Piracicaba-SP. Anais...1997. p. 275-301.

CAUDURO, G. F.; CARVALHO, P. C. F.; BARBOSA, C. M. P.; et al. Dinâmica da produção vegetal de pastagem de azevém anual (Lolium multiflorum Lam) submetida a intensidades e métodos de pastejo com cordeiros. Anais da 41ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2004. p. 1-5.

MATTHEWS, P.N.P.; HARRINGTON, K.C.; HAMPTON. J.G. Management of grazing Systems. In: New Zealand Pasture and Crop Science. 1999. pg 153-174.

NRC. Nutritional Requirements of Sheep. 1985. 99 pg.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Planejamento alimentar de animais: proposta de gerenciamento para sistema a base de

pasto. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre, v. 07, n. 01, p. 145-156, 2001.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Requerimentos nutricionais dos ovinos. In: OLIVEIRA, N. M. de. (Org.). Sistemas de criação de ovinos nos ambientes ecológicos do sul do Rio Grande do Sul. Bagé, 2003, p. 67-72.

POLI, C. H. E. C.; CARVALHO, P.C.F.. Sistemas de alimentação para os ovinos em pastagens cultivadas. In: OLIVEIRA, N. M. de. (Org.). Sistemas de criação de ovinos nos ambientes ecológicos do sul do Rio Grande do Sul. Bagé, 2003, p. 81-86.

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