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4 PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS PASTORIS

No documento Principiosbasicosnomanejodepastagens (páginas 34-40)

PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA OVINOS

4 PLANEJAMENTO FORRAGEIRO PARA DIAGNÓSTICO DE SISTEMAS PASTORIS

Para se fazer um planejamento ao longo prazo é importante que identificar tanto a oferta quanto a demanda numa escala anual. A FIGURA 3 ilustra essa recomendação através de um sistema de criação baseado em campo nativo com lotação de 4 ovelhas/ ha.

0 5 10 15 20 25 30 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 meses do ano K g de M S /h a/ di a

Demanda Taxas de crescimento

Figura 3. Perfil alimentar de um rebanho ovino em pastagem nativa no RS.

Note que as taxas de acúmulo do campo nativo são superiores à demanda do rebanho nos meses de verão e outono. Porém, no inverno a elevação da demanda do rebanho pela parição junto com a diminuição do crescimento do campo promove um acentuado déficit alimentar que ocorre justamente no final da gestação e todo período de lactação da ovelha. Para se atender a uma demanda próxima a 10 kg de MS/ha/dia neste período seria necessário uma pastagem que crescesse a uma taxa de 30 kg de MS/ha/dia, aproximadamente.

Através da concepção da FIGURA 3 consegue-se diagnosticar, localizar e quantificar os problemas alimentares de uma produção ovina corrente no RS. A Nova Zelândia é o país que melhor usa esses conceitos para o planejamento alimentar dos rebanhos. A sua experiência indica que a forma mais barata de produzir cordeiros é respeitando a curva de crescimento da pastagem, moldando a estação reprodutiva dos animais de modo a se encaixar da melhor forma os picos de demanda animal aos picos de crescimento da pastagem. O “deslocamento horizontal” da curva de demanda dos animais sempre é a alternativa mais barata e simples frente ao “deslocamento vertical” dela.

As taxas de acúmulo variam bastante para uma mesma pastagem em diferentes níveis de fertilização, épocas do ano, manejo, etc. Por exemplo, uma mesma pastagem de azevém

manejada com ovelhas com cria ao pé, com a mesma fertilização de base, mesmo custo fixo de estabelecimento, mas recebendo diferentes doses de nitrogênio, pode produzir 6.000 kg de MS/ha ou 12.000 kg de MS/ha se aplicarmos 25 ou 325 kg de N/ha. Isso é só para ilustrar a magnitude das diferenças de crescimento que podemos encontrar para uma mesma pastagem. A avaliação, econômica e biológica, de diferentes doses de nitrogênio, neste trabalho, demonstrou que quando o custo é pago com crescimento de cordeiro ao pé da mãe a dose ótima de nitrogênio é em torno de 150 kg/ha.

Um outro exemplo interessante com respeito a taxas de crescimento vem de um experimento de engorda de cordeiros em azevém usando-se pastejo contínuo ou rotacionado (FIGURA 4).

Figura 4. Taxas de acúmulo em azevém manejado em pastejo contínuo ou rotacionado com cordeiros (CAUDURO et al., 2004). Períodos 1= julho; 2=agosto; 3=setembro; 4=outubro

Pode-se observar que, embora a taxa de acúmulo média de todo o ciclo da pastagem tenha sida a mesma para ambos os métodos de pastejo (67 kg de MS/ha/dia), elas se comportam de forma diferente ao longo do ciclo de crescimento da pastagem. Se por um lado exista uma remoção de área foliar mais expressiva no pastejo rotacionado no início do uso do azevém, por outro lado isto

faz com que, no final da estação de crescimento, uma menor população de perfilhos exista em fase reprodutiva, o que faz com que os métodos venham a se equivaler no final.

A taxa de acúmulo é uma variável fundamental no planejamento, pois a magnitude dela é que define em nível de lotação que podemos trabalhar. Se você não puder medi-la a campo, procure valores aproximados fornecidos pela pesquisa. 5 PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ROTACIONADOS

Sistemas de utilização de pastagens que fazem uso de pastejo rotacionado têm algumas particularidades para o planejamento forrageiro. Longe de se pretender esgotar o assunto, pretendemos apenas fornecer elementos básicos para iniciar aqueles que, porventura, queiram utilizá-lo.

Antes de abordarmos esse assunto, é importante que se coloquem os métodos de pastejo, contínuo e rotacionado, nos seus devidos lugares, ou seja, eles são apenas ferramentas que escolhemos para fornecer forragem aos animais. Não se esqueça que o método não alimenta o animal. O método não “cria nutrientes”. Não é o fato de que o animal fique no mesmo potreiro toda a sua vida, ou que “rode pela direita, ou pela esquerda”, que fará com ele tenha desempenho adequado. O que é fundamental é a quantidade de alimento que disponibilizamos aos animais. O método, como diz a palavra, é apenas a forma com que fazemos chegar esse alimento até os animais. Portanto, não se baseie em discussões apaixonadas para se definir por um ou outro método, pois o “time do torcedor” é sempre o melhor. Se você quer uma dica, use aquele que considere ser o mais adaptado às características de sua propriedade, que você se sinta mais a vontade para manejar e, principalmente, aquele que lhe traga mais segurança para conseguir atingir as metas de oferta de forragem necessárias aos animais. Inúmeras informações de pesquisa, de vários locais do mundo, nas mais diferentes situações, demonstram que os métodos de pastejo são praticamente idênticos em desempenho animal, quando comparados em ofertas de forragem adequadas aos animais.

Para se planejar um sistema rotacionado, uma fórmula simples para se calcular o número de sub-potreiros necessários é:

NP = PD/PO + 1

Onde NP é o número de sub-potreiros, PD refere-se ao período de descanso da pastagem, e PO o período de ocupação dos animais no sub-potreiro. Um sistema que se planeje um PO de 4 dias e um PD de 28 dias tem que ser constituído de 8 sub-potreiros pois:

NP=28/4 + 1 NP=8

A particularidade do PO quando utilizamos ovinos é que ele não deve ser superior a 5 dias, caso contrário o risco de infecção parasitária é bastante elevado, pois as larvas depositadas nos primeiros dias do período de uso do potreiro atingem a forma infectante (L3) neste período. Por outro lado, quanto menor o período de ocupação, maior o número de divisões e maior o custo com cercas, etc. Informações de pesquisa informam que muito pouco benefício ocorre quando o número de potreiros for superior a 12. Do ponto de vista de flexibilidade, uma estrutura com 28-30 potreiros permite períodos de descanso de:

- 28 dias, com PO de 1 dia - 56 dias, com PO de 2 dias - 84 dias, com PO de 3 dias

Esta flexibilidade pode ser importante em sistemas de ciclo completo, pois os ventres em produção atravessam na pastagem por períodos de alta produção de forragem, e outros de pouca produção ao mesmo tempo em que seus requerimentos podem variar em até 3 vezes. Neste caso, pode ser interessante ter uma estrutura com maior número de potreiros,.pois o manejo é facilitado.

Com relação ao PD, normalmente usa-se períodos de descanso menores no período de crescimento da pastagem, e maiores no restante do ano. Assim como no pastejo contínuo, o segredo do bom uso do pastejo rotacionado é o acompanhamento da curva de crescimento da pastagem. Para isso, em pastejo rotacionado, é necessário algum tipo de flexibilidade no ciclo de pastejo.

Pastagens de alta produtividade, em situações climáticas favoráveis, podem requerer pastejo a cada 3 semanas!

Para ilustrar a possibilidade de definição do PD, tomemos um exemplo neo-zelandês de planejamento para ovelhas no início da gestação no período de menor crescimento da pastagem (MATTHEWS et al., 1999).

Perfil do sistema

Tamanho da propriedade: 100 ha Rebanho: 1200 ovelhas

Massa de forragem média na propriedade: 1200 kg de MS/ha em 01/04. Meta de se chegar com 1500 kg de MS/ha em 01/08.

Meta de consumo no período: 1 kg de MS/ovelha/dia

Taxa de acúmulo média no período de inverno: 10 kg de MS/ha/dia

No início de maio, a massa de forragem pré-pastejo é de 1600 kg de MS/ha, e a massa de forragem pós-pastejo é de 800 kg de MS/ha.

Cálculo

As ovelhas ingerem 800 kg/ha da massa de forragem, pois a massa de forragem pré-pastejo é de 1600 kg de MS/ha, e quando os animais deixam o sub-potreiro a massa de forragem pós-pastejo é de 800 kg de MS/ha. Há que se repor essa massa.

Além disso, a massa de forragem média na propriedade é de 1200 kg de MS/ha. Para adequada alimentação das ovelhas na parição é necessário que essa massa chegue a 1500 kg de MS/ha no início de agosto. Tem-se, portanto, a necessidade de um acúmulo de 800+300=1100 kg de MS/ha. Como a taxa de acúmulo no período é de 10 kg de MS/ha/dia, para se acumular os 1100 kg de MS/ha necessários requere-se um período de descanso de 1100/10=110 dias.

Pode-se usar o exemplo acima para se calcular o PD, sabendo- se que é necessário uma estimativa da taxa de acúmulo e das massas de forragem como acima demonstrado.

Uma dica importante em pastejo rotacionado é que o desempenho dos animais é diretamente relacionado à massa de forragem pós-pastejo. Quanto menor a massa de forragem pós- pastejo, menor o consumo de forragem dos animais e menor o desempenho animal. Portanto, se o sub-potreiro fica completamente rapado na saída dos animais, isto não é sinal de bom manejo.

Por último, prefira formato de potreiro circular e quadrado. Potreiros retangulares, triangulares e outros consomem mais cerca pela mesma unidade de área.

No documento Principiosbasicosnomanejodepastagens (páginas 34-40)

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