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1. PROCESSO DE DEMARCAÇÃO DO FENÔMENO

2.7 ESTILOS DE APRENDIZAGEM

2.7.3 Algumas aplicações dos modelos de estilos de aprendizagem

2.7.3.1 Planejamento educacional em engenharia

Tipos de personalidade de Myers-Briggs e estilos de aprendizagem de Kolb vêm sendo usados em planejamento de curso de engenharia, e foram referenciados em um curso de ensino a distância disponível na web33, relacionado à inovação no ensino de engenharia. Este curso foi formulado por Susan Montgomery (1997), na Universidade de Michigan.

Em geral, as pessoas pensam em uma variedade de modos, determinada pela sua constituição genética e experiência de vida. Montgomery (1997) salienta que embora certos tipos de personalidade e estilos de aprendizagem, naturalmente, adaptam-se às disciplinas de engenharia, pessoas com todos os tipos de personalidade são necessárias em áreas técnicas. Então, considera muito importante em cursos de engenharia incluir todos os estilos de aprendizagem e estar atento das necessidades especiais de estudantes cujos tipos de personalidade não correspondem aos que mais se identificam com estes cursos.

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Montgomery (1997) considera que o conhecimento de como as diferenças de personalidade afetam as visões entre os engenheiros e o mundo é necessário para encorajar os não-estereótipos em engenharia, e que se adequar aos estilos de aprendizagem pode ajudar a mantê-los no curso.

Atualmente, algumas companhias demonstram uma grande preocupação quanto a necessidade de contratar um engenheiro que também possa vender o seu produto. Este requisito pode muito bem ser preenchido por um indivíduo que apresenta a combinação de preferências NF (Quadro 10), pela habilidade de comunicar-se com outras pessoas. Esta preocupação também é evidenciada por Montgomery (1997) ao referir-se ao tipo de preferência na escala E-I (Extrovertido-Introvertido). Uma pessoa introvertida gosta de idéias e conceitos e tendem a focalizar na estrutura conceitual do problema, um engenheiro introvertido pode, então, sentir-se bem com o uso de tecnologias e na resolução de problemas. No entanto, eles acabam dedicando pouco tempo para comunicar-se com os outros, tendendo a evitar a interação social. Ao contrário, os extrovertidos preocupam-se com a perda da interação social. Montgomery sugere, então, que as atividades de grupo são importantes no curso de engenharia para encorajá-los a permanecer no curso.

Na combinação das escalas de julgamento (T/F) e da orientação para com o mundo exterior (J/P), Montgomery (1997) encontra nos engenheiros, uma preponderância para o tipo TJ. Também considera que os engenheiros tendem a ser um grupo bastante homogêneo. Eles se prestam, mais facilmente, para um estereótipo, do que muitos grupos profissionais. Isto é mostrado principalmente pela representatividade no tipo de personalidade “pensar” e “julgar” (TJ) entre os estudantes de engenharia. McCaulley apud Montgomery (1997), comparou os estudantes de engenharia aos de outros cursos através de tipos do MBTI e informou que os estudantes de engenharia são mais freqüentemente introvertidos, tipos “pensar” e “julgar”.

Segundo Montgomery (1997), a tomada de decisão (escala T/F) característica de engenheiros, “pensar” ao invés de “sentir”, é talvez, a maior dificuldade a ser superada ao tentar atrair os engenheiros não-tradicionais. Tipos “pensar” tendem a ser lógicos e analíticos, e diante de uma situação tomam uma decisão objetiva de forma impessoal, enquanto o tipo “sentir” traz valores pessoais e funções interpessoais na tomada de decisão. O tipo “sentir” vê o tipo “pensar” como frio e distante, e sente-se deslocado em um ambiente de engenharia, que acentua conclusões lógicas.

Tipos “pensar” compõem 77% de estudantes de engenharia na avaliação de McCaulley apud Montgomery (1997), com uma percentagem mais alta de “sentir” para mulheres. Tipos “sentir” em engenharia ou se adaptariam à atitude impessoal assumida

pelas suas contrapartes e instrutores ou deixariam o curso, porque eles se sentem negligenciados ou criticados. Manter estes estudantes é considerado uma grande barreira a ser superada, principalmente, porque os professores do tipo “pensar” (analíticos) não percebem que eles estão negligenciando seus estudantes tipo “sentir”. Pode nem mesmo ocorrer a eles, que há uma necessidade de interação entre as pessoas. O encorajamento destes estudantes pode se dar através de um estudo em grupo, fazendo com que os mesmos sintam-se mais integrados na classe.

A tomada de decisão “pensar”/”sentir” é considerada como o aspecto mais difícil para ser mudado em engenharia, enquanto o aspecto “julgar”/”perceber” é o mais salientado. Na apuração de McCaulley apud Montgomery (1997), 61% de engenheiros gostam da função de planejar e controlar suas vidas de uma forma ordenada. Estes tipos “julgar” são vistos pelo mundo como tediosos e rígidos. Os remanescentes (percebedores) são espontâneos, abertos e adaptam-se a novas situações. Por sua vez, estes “percebedores” são vistos pelo mundo como imprevisíveis. A educação em engenharia é atualmente lançada para encorajar os tipos “julgar”. Schurr e Ruble apud Montgomery (1997) afirmaram que a preferência “julgar” aumentou a retenção na faculdade. Porém, os tipos “perceber” tornam-se muito bons engenheiros se continuarem no ramo da engenharia. A sua espontaneidade para novas idéias é uma grande vantagem e junto com o modo “sentir”, “percebedores” tendem a ser muito práticos. Estes estudantes podem ser encorajados, permitindo-se que eles mesmos fixem o seu ritmo de aprendizagem.

Portanto, a maneira como um ambiente de ensino é concebido pode ter um grande impacto com relação aos tipos de personalidades nas classes. As atividades executadas para assimilar conhecimento, os tipos de perguntas solicitadas para que os estudantes pensem a respeito, até mesmo a formulação das perguntas, parece favorecer um estilo de personalidade com relação aos demais. Para Montgomery (1997), freqüentemente, o tipo de personalidade mais favorecido está mais próximo ao estilo de personalidade do professor. Então, para assegurar a diversidade de personalidades na sala de aula é necessária uma ampla variedade de atividades de aprendizagem.

Como relação ao modelo de Kolb este é facilmente aplicável à educação em engenharia, conforme salienta Montgomery (1997). Ao identificar os estudantes como convergentes, divergentes, assimiladores e conciliadores, o modelo identifica características dos diversos tipos de aprendizagem e técnicas de aprendizagem específicas que podem ser usadas de forma que o estudante possa aprender melhor o conteúdo. Colocando os estudantes em quatro quadrantes baseados em mecanismos de aprendizagem preferidos, Kolb fornece ao instrutor uma ferramenta por meio da qual a

pessoa pode planejar um curso, tal que os elementos do curso atrairão os estudantes de todos os quadrantes.

Segundo Montgomery (1997), de acordo com este modelo, é esperado que a maioria dos engenheiros se situe no quadrante de convergente, preferindo conceitualização abstrata como teoria de engenharia, e participação ativa com lições de casa e trabalho de laboratório. Geralmente, os métodos usados pelos instrutores de engenharia favorecem conceitualização abstrata e experimentação ativa. Assim, os estudantes que possuem estas preferências AC e AE têm sua decisão fortalecida de ingressar no campo de engenharia, enquanto que outros que não aprendem melhor com estes métodos, sentem-se inseguros quanto a esta decisão. A maior dissonância na educação de engenharia com relação aos estilos de aprendizagem dos estudantes acontece para pessoas que utilizam experiência concreta (CE): os divergentes e os conciliadores. Estes estilos parecem seguir os tipos de personalidades NF do MBTI, que preferem a interação pessoal e uma abordagem não- sistemática. Muitos destes tipos vêem a engenharia como muito abstrata e rígida. Porém engenheiros deste tipo estão em demanda na indústria. Os instrutores de engenharia poderiam reter os estudantes CE no curso, incorporando mais discussão, visualização, projetos não pré-selecionados, e interação pessoal nos seus métodos pedagógicos.

Embora os convergentes possam cumprir o estereótipo de engenharia, os assimiladores não se sentem tão deslocados no curso, quanto os conciliadores e os divergentes. Os assimiladores aprendem juntando informações e fatos, enquanto lêem, analisam e assistem às aulas. Isto, conforme salienta Montgomery (1997), também define os estudantes tradicionais, os tipos SJ do MBTI. Os tipos de personalidade que seriam atraídos para este estilo de aprendizagem são pessoas introvertidas e pensadoras. Geralmente, os assimiladores ajustam-se bem com um estereótipo de engenheiro, e não se sentiriam excluídos do curso, devido a conflitos ou disparidades de personalidade com estilo de aprendizagem.

Montgomery (1997) considera que, para manter no curso os estudantes com tipos de personalidade e estilos de aprendizagem diferentes do típico engenheiro ou de seu professor, seria necessário mudar o ensino em engenharia e o estilo de comunicação, ao invés de fazer com que estes estudantes se transfiram para outros cursos. Para estarem aptos a atingir os estudantes com todas as preferências de aprendizagem, os instrutores de engenharia devem aproximar o material de ensino usando todos os métodos: CE, AE, AC e RO, como previsto no ciclo de aprendizagem de Kolb.

Alguns exemplos de atividades orientadas segundo os estilos, extraídos de Montgomery (1997), podem ser:

• implementação de trabalho em grupo e discussão de classe altamente interativa podem ser usados para alcançar os extrovertidos e tipos “sentir”, correspondendo aos estudantes divergentes;

• sessões de laboratório e demonstrações regulares em classe são úteis para os convergentes e aqueles mais inclinados para a participação ativa;

• desenvolvimento de uma teoria de forma íntegra, ou explorar um assunto é necessário para os tipos “pensar” na classe;

• reuniões também podem ser boas para os assimiladores, assim eles podem discutir completamente conceitos abstratos, sem os constrangimentos de tempo do horário de aula.

Outras idéias apontadas por Montgomery (1997), para atender os estilos de aprendizagem não-típicos em engenharia são garantir seções de discussão que apresentam informações usando estilos de aprendizagem diferentes, e permitir que os estudantes escolham uma seção que melhor se adapte ao seu estilo. Embora isto possa ser difícil de implementar, seria um estudo interessante para fins de interpretação do estudante em aula.

A idéia final é que os cursos de engenharia poderiam manter um diverso arranjo de tipos de personalidade e estilos de aprendizagem, desde que os instrutores e estudantes estejam atentos que as diferenças existem, e podem ser superadas. Conforme Montgomery (1997) recomenda, implementando a extensão total dos estilos de aprendizagem de Kolb, podem ser prosperamente retidos os estudantes de todos os estilos de aprendizagem, nos cursos de engenharia. O conhecimento e reconhecimento das necessidades de tipos de personalidade diferentes dos engenheiros típicos permitem para os instrutores preencher estas necessidades.